tag:blogger.com,1999:blog-31243807799227488582024-02-02T14:02:36.854-08:00blogguiarANOTAÇÕES, PONTOS DE VISTA...Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.comBlogger499125tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-1032911814985545662023-09-27T16:39:00.002-07:002023-09-27T16:39:53.291-07:00QUESTÕES DE GÉNERO NAS POLÍTICAS DE EMIGRAÇÃO
Manuela Aguiar1
INTRODUÇÃO
As primeiras medidas políticas de diferenciação de sexo no domínio da emigração vão, como regra
geral, no sentido de proibir ou limitar mais fortemente a expatriação das mulheres, mesmo para fins
de reunificação familiar. Só após 1974 as mulheres viram reconhecido o direito de emigrar
livremente, e o de conservar a nacionalidade em caso de casamento com um estrangeiro.
A igualdade perante a lei converte-se, porém, em pretexto para desvalorizar ou ignorar as
especificidades da sua situação, padronizando-se neste quadro jurídico e fático, a emigração
portuguesa no masculino.
A convocação do primeiro encontro mundial de mulheres emigrantes, em 1985, e a realização
de novos congressos e encontros, ainda que com periodicidade espaçada, através de parcerias entre
o Estado e o movimento associativo (sobretudo o feminino), tem contribuído para uma maior
consciência da questão de género, ancorada na audição e na crescente visibilidade dada às cidadãs
do estrangeiro. A aplicação da "regra da paridade”, em 2007 às eleições para o Conselho das
Comunidades Portuguesas, constituiu uma primeira medida jurídica concreta de promoção da
participação das migrantes na vida coletiva das comunidades.
A aprovação da Resolução n.º 32/2010, pela Assembleia da República, na linha de muitas das
propostas dos referidos congressos e encontros de mulheres da "Diáspora", é reveladora de uma
nova perceção da importância da componente de género nas políticas da emigração.
I- AFLORAMENTOS DA "QUESTÃO DE GÉNERO" NAS POLÍTICAS DE EMIGRAÇÃO.
Medidas discriminatórias, proibitivas ou limitativas.
Tradicionalmente, emigrar era uma "aventura masculina". As Portuguesas viram-se, desde os
séculos XVI e XVII, especialmente limitadas no que hoje diríamos o seu direito à emigração ou à
reunificação familiar. E se até ao regime nascido no 25 de Abril de 1974 nunca foi verdadeiramente
livre para todos a saída do país, o certo é que os obstáculos foram sempre maiores para as mulheres.
No período da "expansão", nem para acompanhar os maridos isso lhes era, em princípio,
permitido, só a título excecional e por favor régio. Política diametralmente oposta foi, por exemplo,
Jurista, foi docente da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica e da Faculdade de Direito da 1
Universidade de Coimbra. Árdua defensora dos direitos das Mulheres e das Políticas da Emigração, atividades que
desempenhou nos anos em que esteve à frente da Secretaria de Estado para a Emigração e Comunidades Portuguesas,
na qualidade de deputada na Assembléia da República, e na presidência da Comissão Parlamentar das Mulheres. _____________________________
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seguida em Castela, que sempre privilegiou a emigração de casais para as colónias da América do
Sul. (Boxer, 1977, p. 34). No nosso caso, houve sim algumas exceções determinadas pela vontade
de promover o enraizamento de populações europeias em determinadas regiões do Império. Com
essa finalidade, saíram para a África e o Oriente as chamadas "Órfãs d’El-Rei”, jovens recolhidas
em orfanatos que eram dadas em casamento a soldados e outros potenciais povoadores, mediante
um determinado dote, nomeadamente terras de cultivo ou empregos públicos. Também o
povoamento por casais foi promovido em casos contados, ao longo de diferentes épocas, mas nunca
de forma generalizada e sistemática. (Boxer, 1977, pp. 78-84)
Mais tarde, no século XIX, em contexto puramente migratório, poderemos apontar um caso
particularmente bem documentado de emigração familiar para as antigas Ilhas Sandwich,
enquadrada num acordo bilateral entre os reinos de Portugal e do Havai. A partir da Madeira e dos
Açores aportaram nessas ilhas do Pacífico, muitas mulheres e homens, que quase sempre levavam
consigo uma prole numerosa e deixavam a terra sem esperança de voltar. (Felix, 1978, pp. 28-30)
Porém, à margem de qualquer incitamento ou facilitação do processo, grande número de
mulheres iam juntar-se a maridos e familiares por sua vontade, contrariando estratégias, leis e
determinações das autoridades. Em oitocentos e no início do século seguinte, acentuou-se a
tendência para o aumento das que assim reagiam à solidão em que se viam, partindo ao encontro
dos homens, em regra, depois de eles estarem integrados na nova sociedade, o que era causa de
desmedida preocupação dos especialistas neste domínio, tanto de académicos como de decisores e
responsáveis pela execução das políticas de emigração . 2
São representativas do pensamento da época as opiniões de investigadores como Afonso
Costa e Emygdio da Silva. Para o primeiro, a emigração feminina é mesmo considerada uma
"depreciação do fenómeno migratório", o que tem de se compreender na lógica de considerar o
emigrante essencialmente como fonte de divisas. Nas suas próprias palavras: "[...] é quando a
família fica na Pátria que ele envia mais regularmente as suas economias". (Costa, 1913, p. 182).
Para o segundo, o êxodo das portuguesas era "uma constatação tremenda". Reportando-se a este
fenómeno no início do século XX, entre 1906 e 1913, um período em que se regista um crescimento
de 127% das saídas de mulheres, os perigos para que aponta são, antes de mais, a
"desnacionalização" e a "cessação de remessas". (Silva, 1917, p.132).
Não surpreende, assim, que a discriminação entre os sexos fosse evidenciada na própria
definição de emigrante: o passageiro homem que viajava na 3ª classe dos navios e a mulher que
seguisse desacompanhada, qualquer que fosse a classe escolhida para o transporte, ficando sujeita a
O Estado, de um modo geral, privilegiou, de jure e de facto, a emigração de homens sós, assim como a miscigenação 2
consentida ou encorajada nas colónias a fim de reter no Reino as mulheres. E terá sido à atitude de desafio destas
“viúvas” de maridos vivos, que decidiram partir ao encontro dos ausentes, que se ficou, fundamentalmente a dever a
matriz cultural portuguesa dessas colónias de povoamento. Segundo Boxer, a Coroa Portuguesa terá sido, geralmente,
mais permissiva no que respeita à saída de mulheres para o Brasil do que para África ou o Oriente. _____________________________
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todas as restrições que a qualificação implicava. Essa diferença de tratamento denunciava a clara
consciência da "questão de género", a constatação da influência da presença da mulher no curso do
projeto migratório, no seu destino final, com maior probabilidade de uma opção pela integração e
pelo não retorno a suscitar a intervenção autoritária, vertida em medidas jurídicas e práticas
administrativas. De facto, a emigração familiar reforçava, como ainda hoje indubitavelmente
reforça, a tendência para a fixação definitiva no país de acolhimento. E não se perspetivava outro
tipo de ganho que pode ser maior e mais duradouro do que a entrada de divisas para equilibrar as
contas com o exterior. Por exemplo, a criação de comunidades portuguesas pela cultura e pelo afeto,
(indissociáveis de uma forte componente feminina), que eram, então, pouco mais do que ignoradas
ou depreciadas como meros “guetos” transitórios onde se enclausurava, por escolha própria, a
primeira geração de emigrantes.
Haveria também, já, o assomo de alguma preocupação com a situação de especial
vulnerabilidade das mulheres, pelo receio de que sós, em terra estranha, pudessem ser vítimas de
exploração no trabalho. O que obviamente não havia ainda, era a ideia de que as mulheres, tal como
os homens, têm direitos, e muito menos a aceitação de que pudessem ter, neste como noutros
domínios, direitos absolutamente iguais.
II- DA IGUALDADE NA LEI ÀS DESIGUALDADES DE FACTO
Em 1974, depois da revolução do 25 de Abril, a liberdade de circulação dentro e para fora do
território nacional é restabelecida (ou melhor, estabelecida) e vem a ser consagrada na Constituição
de 1976. Esse foi um tempo de tão assertiva afirmação de princípios, que levou a uma natural
sobrevalorização do plano puramente jurídico, como se as leis vanguardistas tivessem, de per si, o
poder de transformar ditames em factos do quotidiano. Assistimos, por isso, a uma diluição da
problemática feminina perante leis que as não discriminavam, com o que isso representava de
positivo face ao passado, mas também com a faceta negativa de ser "padronizado” no masculino
todo e qualquer trajeto migratório, assim se tornando opaco e permanecendo desconhecido o que
especificamente dizia respeito às mulheres migrantes.
No "país do território" sentiu-se a necessidade de ir abrindo caminho à igualdade efetiva entre
os sexos para além da mera proclamação de princípios, dando às políticas uma base operacional
própria em serviços ou departamentos com competências genéricas ou sectoriais (a "Comissão para
a Igualdade", cuja designação foi variando sem verdadeiras ruturas na sua atuação, exemplifica
aquela primeira categoria; a Comissão para a Igualdade no Trabalho e Emprego - CITE - a
segunda). Pelo contrário, no "Portugal da Diáspora" a atitude foi de descaso das autoridades
nacionais no respeitante à situação das portuguesas no estrangeiro e às eventuais singularidades da
sua integração no mercado de trabalho e na comunidade de destino, não obstante a Constituição, no
art.º 9.º/h, a partir da revisão de 1997, e também no art.º 109.º, impor ao Estado a tarefa de
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promover a igualdade entre os sexos no que respeita à participação cívica e política, sem restringir
essa incumbência ao território nacional. Descaso tanto mais criticável quando se receava que as
emigrantes fossem, na sociedade de acolhimento, duplamente discriminadas, como mulheres e
como estrangeiras, ainda por cima, numa conjuntura em que se acentuava a “feminização” da
emigração devido à crise económica que viera interromper a chamada de trabalhadores ativos e
apenas tolerava movimentos migratórios para efeito de reagrupamento familiar.
A partir da meia década de 70, a percentagem de mulheres nas comunidades do estrangeiro
aproximava-se da dos homens. E, apesar das restrições que inicialmente, um pouco por todo o lado,
se colocavam à sua atividade profissional, a maioria acabou por aceder, como os homens, ao
mercado de trabalho, ainda que não normalmente no mesmo tipo de emprego. Em qualquer caso, a
possibilidade de profissionalização, logo aproveitada maciçamente, converteu-se numa autêntica via
de emancipação dessas mulheres dando-lhes importância do ponto de vista económico, social e
cultural, e, do mesmo passo, independência e igualdade, quando não supremacia dentro da família.
Face às mulheres não emigrantes, as que tinham saído do país gozavam, em regra, não só de maior
prosperidade económica como de um estatuto profissional e familiar privilegiado (Leandro, 1995, p.
51). E mesmo em relação aos homens emigrados nem sempre perdiam no confronto .3
A tese da "dupla discriminação" perdeu o seu carácter de evidência. Se existe, sob diversas
formas, acaba sendo frequentemente superada. Conclusão a que se chega quando se perspetiva a
vida das emigrantes ao longo de décadas, como realidade complexa e dinâmica, e quando se entra
em linha de conta com a sua provável situação em caso de não emigração. (Aguiar, 2008, p.1257).
Em boa verdade, o sucesso no longo prazo da geração de 60 e 70, a do "salto" para a Europa, não é
só da metade masculina, mas também da feminina (Leandro, 1998, p. 22). E às próprias mulheres se
fica a dever, não ao sustentáculo moral e material ou a quaisquer formas de ajuda do seu país . 4
No aspeto legislativo, é de salientar que na década de 80, subsistia ainda contra a letra e o
espírito da Constituição de 1976, uma capitis diminutio das mulheres portuguesas, na maioria
mulheres emigrantes, embora não pelo facto de o serem, mas sim pelo de residirem num lugar
geográfico mais propício ao convívio com não nacionais: refiro-me à lei que retirava a
nacionalidade portuguesa automaticamente às cidadãs que casassem com estrangeiros. A Lei n.º
37/81 veio permitir-lhes não só conservarem a nacionalidade, independentemente da do cônjuge,
como transmiti-la em igualdade de condições à sua descendência, e recuperar o estatuto de
cidadania portuguesa perdido "ex lege". No entanto, note-se que a reaquisição desse estatuto
Maria Engrácia Leandro foi uma das primeiras investigadoras a evidenciar formas desta insuspeitada realidade, tendo 3
centrando os seus estudos nas comunidades portuguesas da região parisiense
É certo que algumas medidas pontuais se podem destacar. Um exemplo: aquando da adesão de Portugal à CEE, no 4
âmbito das comparticipações comunitárias, a SECP organizou diversas ações no domínio da formação profissional
destinadas a mulheres, o que constituiu uma diligência pioneira, ainda que desenvolvida num universo limitado, e, por
isso, sem decisivo impacte na vida da generalidade das portuguesas. _____________________________
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facilitada e com eficácia retroativa só viria a ser assegurada pela Lei n.º 1/2004 de 15 de Janeiro, ou
seja, cerca de trinta anos depois da revolução do 25 de Abril . 5
Olhámos a emigração do passado, mas tratando-se de um movimento que nunca cessou, e
reassumiu, sobretudo na última década, uma desmesurada dimensão, convém igualmente consideralo no presente. Embora isso não tenha ainda reconhecimento bastante, há de facto um
recrudescimento das vagas migratórias, no conjunto menos dramáticas, menos visíveis do que as
das décadas de 60 e 70, e, também, mais difíceis de quantificar na sua exata extensão, porque se
dirigem em larga medida a um espaço europeu de liberdade de circulação. As mulheres estão
envolvidas no processo por vontade e direito próprio, autonomamente, e tal como os homens, são
cada vez mais qualificadas. Segundo o sociólogo Eduardo Victor Rodrigues "[...] já não
correspondem ao paradigma da mulher da aldeia que sai para acompanhar o marido; são bastante
escolarizadas e procuram melhores condições de vida" . É um êxodo, também no feminino, que 6
escapa ao paradigma tradicional e que é necessário conhecer melhor e apoiar, como reivindica a
Assembleia da República numa Resolução aprovada no primeiro trimestre deste ano que irei expor
adiante.
Alguns estudos têm sido desenvolvidos nesta área por cientistas, a título individual, em
projetos de centros de investigação, e também em comunicações e debates de congressos,
encontros, seminários, como é o caso do que aqui nos reúne. Fala-se em “congressismo”, para
englobar este último tipo de iniciativas. É uma palavra que não encontraremos em muitos
dicionários, mas que permite classificar expressivamente um instrumento que tem tido influência
basilar na elucidação e na procura de respostas para a "questão de género” em Portugal, no nosso
século, tal como noutros países e noutros tempos, pelo menos desde que Elizabeth Cady Stanton fez
história do feminismo nos lendários encontros de Seneca Falls.
Nos anais da luta feminista, como nos da luta pela valorização do papel da Mulher no
universo da emigração, o “congressismo", assim entendido, tem podido concertar a vertente
académica com a da partilha de experiências vivenciais visando a ação concreta e a mudança. Em
Portugal, no presente, através dele se tem vindo a executar uma parte do programa de governo para
as comunidades portuguesas do estrangeiro, em matéria de género. (Aguiar, 2009, p. 41). Os
A Lei n.º37/81 de 3 de Outubro foi, a meu ver, descaracterizada pela via da regulamentação que admitia inclusive a 5
oposição do Estado em processo de reaquisição da nacionalidade pela mulher casada com estrangeiro. A Lei Orgânica
n.º1/2004 de 15 de janeiro, no art. 30.º veio permitir a recuperação da nacionalidade, por mera declaração. Na parte final
do n.º 2.º do mesmo artigo estipula-se que a reaquisição "[…] produz efeitos desde a data do casamento".
Afirmações do sociólogo Eduardo Victor Rodrigues, proferidas no encerramento do Encontro “Cidadãs da Diáspora”, 6
em Espinho, tiveram eco nos media das comunidades, nomeadamente no Canadá. Citamos um artigo de 9 de março de
2009 do jornal "Voice", intitulado justamente "Mudanças nos Hábitos dos Emigrantes Portugueses". _____________________________
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“Encontros para a Cidadania foram anunciados e efetuados nesse preciso enquadramento, a partir de
2005 .7
Um parêntesis, para salientar a absoluta necessidade de recorrer ao conhecimento científico a
fim de fundamentar novas políticas de emigração. É uma evidência nem sempre vista como tal. Em
largos períodos do passado recente, governo e universidades viveram dissociados, com os efeitos
que se conhecem, em particular a tardia reação das autoridades perante inesperados reinícios de
surtos migratórios e, muitas vezes, também perante casos graves de exploração dos expatriados, dos
quais a opinião pública e o governo tomam conhecimento, em simultâneo, pela imprensa. Por isso
se regista como positiva a retoma de colaboração que, previsivelmente, permitirá inspirar e delinear
decisões e medidas de pronto e atento acompanhamento de movimentos emergentes. Exemplo de
uma relação mais estreita entre estes dois mundos, o académico e o político, é o estabelecimento da
parceria entre a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas e um centro de investigação
universitário (do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa - ISCTE), para levar a
cabo um projeto de análise e caracterização do fenómeno migratório, através do "Observatório da
Emigração” . 8
Resta saber em que medida se preocupará o “Observatório” com a problemática de género, e
tornará mais ou menos dispensável a recomendação, repetidamente feita ao governo, de criar um
observatório das migrações femininas . 9
III- AS PRIMEIRAS INICIATIVAS DE AUDIÇÃO DE MULHERES EMIGRADAS
Como vemos, foi regra geral até data recente a indiferença dos Governos por tudo o que respeita às
particularidades da integração das emigrantes no sector profissional e no universo associativo, este,
dirigido e representado, nunca é demais salientá-lo, quase em exclusivo por homens, no período que
se seguiu à proclamação jurídica da igualdade plena entre os sexos, nomeadamente no Conselho das
Comunidades Portuguesas (CCP), desde 1981.
Dos grupos que tradicionalmente viam, pela especificidade das suas situações, supostamente
no seu próprio interesse, dificultada a saída do país, de mulheres e jovens, só estes últimos têm
estado no centro da atenção dos políticos, antes de mais, através da organização de programas de
No primeiro comunicado de imprensa sobre os "Encontros para a Cidadania" dizia-se, expressamente, que um dos 7
seus objetivos era "o cumprimento do programa do XVII Governo (capítulo V, ponto 7) "
Não é nova a preocupação de estimar e analisar, de forma sistemática, os movimentos migratórios nacionais. Portugal 8
participou, ativamente, desde os tempos do "Secretariado Nacional da Emigração", no Serviço de Observação
Permanente das Migrações - SOPEMI - da OCDE – colaboração a que, na década de 80, era ainda dada uma grande
importância.
Nos "Encontros Para A Cidadania", sobretudo nos de Buenos Aires e de Estocolmo, foi insistentemente avançada essa 9
recomendação. Tendo sido em data posterior criado o Observatório da Emigração para evitar dispersão de esforços, o
mais razoável parece ser agora uma insistência para que nele se venha a incluir o estudo das particularidades das
migrações femininas. Objetivo necessário para desocultar de disparidades e injustiças, se poderá desencadear a
alteração de mentalidades e atitudes. _____________________________
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ensino da língua e cultura portuguesas, mas também de ações de intercâmbio, estágios de formação
profissional, encontros, debates, do que designamos por "congressismo".
Na última reestruturação do CCP – Lei n.º 66-A/2007 de 11 de dezembro – o legislador foi
mais longe com a instituição de um “Conselho Consultivo da Juventude”, com competência “nas
questões relativas à política da juventude para as comunidades portuguesas”, e nas “questões
relacionadas com a participação cívica e integração social e económica dos jovens emigrantes e
luso-descendentes nos países de acolhimento”. Nada de comparável está previsto para o
associativismo feminino. Alguns responsáveis políticos justificarão esta diferença com a opção pela
"paridade" de género no CCP, nos termos que adiante explicitaremos, em alternativa a esta outra
forma de dar representação específica a determinados segmentos ou grupos das comunidades. Julgo
porém válido contra-argumentar que a verdadeira paridade é um objetivo a prazo incerto,
provavelmente a longo prazo, pelo que, no imediato, a metade feminina da emigração ficará longe
de ter a metade dos assentos do Conselho.
Por outro lado, a vertente de "género" não tem sequer sido valorada, e deveria sê-lo, nos
critérios de concessão de apoios do Estado às iniciativas de instituições da "Diáspora", parecendo
contar pouco o facto de o crescimento da rede de clubes e centros culturais em que se estruturam as
comunidades se dever, em muito, à participação de famílias inteiras, com as mulheres a assumirem
funções simétricas no círculo estreito do lar e no círculo alargado na coletividade, neste
permanecendo quase sempre uma discreta "dona da casa" que se encarrega da arte da culinária, da
decoração, da organização dos bastidores da festa e do convívio quotidiano, fatores insubstituíveis
de agregação e de desenvolvimento. Um papel vital, mas redutor, de que se vai libertando, para
exercer, alternativa ou cumulativamente, quaisquer outros, para já, mais em determinados países do
que na generalidade do universo da Diáspora portuguesa.
Estamos num domínio da vida em sociedade em que, segundo a opinião dos que defendem em
absoluto o princípio da não interferência, o Estado não deve intrometer-se. Todavia, não é disso que
se trata, trata-se não de condicionar ilegitimamente a independência das instituições, mas de velar
pela aplicação de direitos fundamentais que nenhuma tradição ou costume que invoque pode
subverter. Há que incentivar boas práticas dentro de cada associação portuguesa do estrangeiro,
apelando à vivência igualitária da cidadania, como de resto quer o próprio legislador constitucional.
A verdade é que, com recurso aos mais variados pretextos, sucessivos governos no pós 25 de Abril
de 1974 descuraram a prossecução do objetivo da igualdade de acesso a atividades cívicas e
políticas no espaço da emigração.
A vontade de romper este quadro de inércia foi divulgada, logo no início de funções, pelo
Secretário de Estado António Braga no 1º Encontro da Cidadania, em novembro de 2005, ao falar
do “desígnio”, que presidia a essa reunião de " [...] retomar da questão de género, que tem andado
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esquecida ao longo dos anos […]", e ao admitir que "Portugal não tem tratado do papel da mulher
nas comunidades de acolhimento à luz dos seus direitos de participação cívica, cultural e política" . 10
Era, de facto, um "retomar" a questão de género que havia tido apenas um momento breve de
afirmação na meia década de 80. No arranque desta primeira fase está uma recomendação do CCP,
que se fica a dever à visão e sensibilidade de uma das raras mulheres que nele tinha voz. O
Conselho, criado pelo Decreto-lei n.º 373/80 de 12 de setembro, órgão consultivo do governo, era
eleito de entre os líderes das associações e formado, como disse, na sua quase totalidade, por
homens, à imagem do próprio dirigismo associativo de então. Maria Alice Ribeiro, "mulherexceção", na qualidade de representante dos media do Canadá no CCP, obteve, em fins de 1984, na
reunião regional desse órgão, realizada em Danbury, Connecticut, consenso para a sua proposta de
convocação de um congresso mundial de portuguesas emigradas . 11
A Secretaria de Estado da Emigração aceitou o desafio e o “1.º Encontro de Mulheres no
Associativismo e no Jornalismo" aconteceu no ano seguinte. Trinta e seis portuguesas dos cinco
continentes foram convidadas, através das embaixadas e consulados de Portugal, a apresentar
comunicações: jornalistas, professoras, investigadoras, sindicalistas, empresárias, estudantes,
dirigentes de coletividade. Mulheres de formação muito diversa, todas elas ativas das suas
comunidades, no ensino, na ação social, no teatro, na dança, na música, no desporto . A seleção 12
desse grupo de personalidades convidadas não teve tanto a preocupação de assegurar um equilíbrio
regional entre as grandes concentrações de emigrantes, como de refletir a participação das
mulheres, tal como à época se verificava, em comunidades com origem, idade e tradições de
organização e ação femininas muito diversas. Assim, com uma representação mais em qualidade do
que em quantidade, tendo como interlocutores vários membros do governo da República e dos
governos regionais dos Açores e da Madeira e também, da sociedade civil, se realizou, em junho de
1985, em Viana do Castelo, a reunião matricial.
1985 era o ano de encerramento da "Década" das Nações Unidas dedicada à Mulher, facto que
não havia sido determinante na recomendação do CCP, embora a coincidência tenha contribuído, a
par do carácter inédito da iniciativa portuguesa, para que o "Encontro" tivesse o alto patrocínio da
UNESCO. Não havia, realmente, memória de organização, por parte do governo de um país de
Declarações de António Braga em entrevista transcrita na publicação sobre o "Congresso online", promovido em 10
2009 pela “Mulher Migrante”. Um quarto de século antes, eu própria, encerrei o Encontro de Viana com um discurso
semelhante, notando, no que às mulheres respeita, "[...] ausência de participação, de voz, de reconhecimento, de poder,
ao menos de poder formal, nas instituições [...]" Posições concordantes, separadas por um longo hiato de duas décadas
de inação política, neste campo.
A génese dos Encontros para a Igualdade vem sumariada num artigo com esse título, na edição sobre "O Congresso 11
on line".
"Jornalismo" considerado no seu sentido mais amplo, incluindo profissionais, correspondentes de meios de 12
comunicação de âmbito europeu, (“BBC”, “Radio France Internacional”, quotidianos parisienses), ou americano
(“CBS”), a par de produtoras ou diretoras e colaboradoras de programas "étnicos". As trinta e seis participantes - das
quais 14 jornalistas - procediam de dez países, dos cinco continentes, com predominância das do norte da América,
Canadá e EUA, sobretudo, da Califórnia, onde o associativismo feminino tem uma existência quase centenária. _____________________________
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diáspora, de um fórum semelhante, apesar de, na altura, alguns, poucos, já disporem de mecanismos
para audição geral dos seus expatriados.
A menção do Conselho das Comunidades torna-se incontornável no historial deste congresso,
não só por lhe pertencer a autoria da proposta da convocatória, mas também porque o desenrolar
dos trabalhos se inspirou nos seus moldes de debate e decisão, contou com parceiros oficiais do
mesmo nível e fez apelo ao envolvimento do associativismo e dos media (precisamente como
sucedia no próprio "Conselho"). Assim, as "conselheiras", a título informal, puderam dialogar com
os mais altos responsáveis pelas políticas para a emigração, transmitir-lhes os seus pontos de vista
e, seguidamente, deliberar, entre si, conclusões e recomendações. Nas conclusões gerais, realçaram,
como António Braga haveria de fazer duas décadas depois, sinal da longa paragem do processo
então encetado, " […] a pouca audição que tem sido dada às mulheres portuguesas no estrangeiro".
E, naturalmente, no final dos trabalhos quiseram enfatizar " […] o entusiasmo e a expectativa
gerada pelo Encontro" . Para audição futura, e para a chamada das mulheres à intervenção cívica, 13
propunham a criação de uma associação internacional própria.
Na escolha de temas para debate, no modo de historiar o passado e olhar o presente, e nas
recomendações para a mudança de um "estado de coisas", colocaram a tónica em dois grandes
objetivos indissociáveis: o de serem consultadas sobre a realidade global das comunidades e o seu
futuro, tal como o viam e queriam legitimamente influenciar; o de repensarem o seu próprio papel
na família, na vida coletiva, no trabalho profissional e no associativismo, a fim de passarem à
execução de projetos de mudança.
Nos anos que se seguiram, a estrutura internacional autónoma para que apontavam não viria a
formar-se por falta de assunção da liderança, decerto por causa da dispersão, da distância, das
dificuldades de contacto. Mais pragmática e fácil de implementar teria sido a proposta de inclusão
da problemática feminina na agenda do CCP para convocatória de novas reuniões. Em 1987,
perante o impasse em que se caíra, a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas enveredou
por essa via, no contexto de uma reestruturação do CCP. Previa-se a organização, não na orgânica,
mas na órbita do “Conselho”, por simples despacho do presidente do CCP que era, então, um
membro do Governo, de várias "conferências" temáticas em áreas prioritárias, entre elas, uma
"Conferência para a Promoção e Participação de Mulheres Portuguesas do Estrangeiro” . 14
Nas conclusões, in fine as participantes quiseram marcar esse carácter pioneiro, ao destacarem o seguinte: " […] Não 13
se tem conhecimento que algum país de emigração tenha alguma vez organizado um Encontro deste tipo. As mulheres
portuguesas no estrangeiro tiveram voz, usaram-na e partiram animadas por uma nova vontade de fazer. Em Portugal
ficou o eco do que disseram". Na verdade, nem governo nem as convidadas para o "Encontro" tinham modelo
estrangeiro em que pudessem inspirar-se - salvo em iniciativas padronizadas no homem migrante.
Uma breve referência às conferências é feita na publicação "Mulher Migrante - O Congresso on line" (p.8). 14
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A queda e substituição desse Executivo, no verão de 87, implicaram a marginalização
imediata do CCP, enquanto organismo de consulta, e as "conferências" não foram nunca
convocadas, tal como os plenários do “Conselho".
Cerca de uma década depois, a memória das expectativas geradas em 1985 e a convicção de
que seria ainda necessário e possível satisfaze-las, levou um pequeno número de participantes do
"Encontro" de Viana, a constituir uma associação que reclamou a herança desse projeto em
demorada hibernação: a "Mulher Migrante - Associação de Estudo, Solidariedade e Cooperação".
(Gomes, 2007, p. 99).
A "Mulher Migrante" manifestou, desde logo, uma vontade de cooperação com governo e
com ONG’s interessadas na promoção de estudos e de reuniões ou Congressos periódicos, a fim de
fazer o ponto da situação das mulheres migrantes e de abrir caminhos para a igualdade. De algum
modo, ainda que sem uma base institucional no seu modo de funcionamento, inspira-se no modelo
do CCP originário, que tinha raízes na comunidade (em sentido orgânico) e se inseria numa
estratégia de cooperação "Estado-Sociedade Civil". Não será de todo excessivo ver, não na "Mulher
Migrante" em si, mas na "plataforma de diálogo" que com o governo e instituições ou
personalidades das comunidades do estrangeiro foi sendo mantida, essa vocação de se converter
numa espécie de "Conselho" no feminino, pelo menos no período em que decorreram os "Encontros
Para a Cidadania - a Igualdade entre Mulheres e Homens" . 15
IV- OS "ENCONTROS PARA A CIDADANIA", PARADIGMA DE MOBILIZAÇÃO PARA
A IGUALDADE ENTRE MULHERES E HOMENS" (2005-2009)
Em 2005, por altura do 20º aniversário do "Encontro" de Viana, a "Mulher Migrante" apresentou ao
Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas uma proposta de comemoração da efeméride,
através da retoma de audições sistemáticas das emigrantes, inseridas numa estratégia de
mobilização para a intervenção cívica. Proposta que ele aceitou, patrocinando de uma forma
sistemática campanhas com esse escopo nas maiores comunidades da Diáspora, numa acção
conjunta com ONG´s de Portugal e das comunidades que foram levadas a cabo nos referidos
"Encontros" realizados, sucessivamente, na América do Sul, em Buenos Aires (2005), na Europa,
em Estocolmo (2006), no Canadá, em Toronto (2006), na África do Sul, em Joanesburgo (2008) e
nos EUA, Berkeley (2008).
A "Associação Mulher Migrante", converteu-se, desde a meia década de 90, num parceiro preferencial de vários 15
departamentos governamentais, nomeadamente da "comissão para igualdade", a da SECP. _____________________________
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O Governo fez-se representar em todas essas reuniões, a alto nível político - pelo Secretário
de Estado das Comunidades, António Braga, ou pelo Secretário de Estado, que tutelava a
"Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género" Jorge Lacão . 16
A Jorge Lacão coube, na "Conferência para a Igualdade" em Toronto, fazer uma ampla
explanação doutrinal sobre as novas "políticas de género" para a emigração. Na abertura dessa
Conferência, assegurou, com meridiana clareza, que “[…] as tarefas fundamentais do Estado
Português" para a promoção da igualdade se não podem limitar à ação junto das portuguesas e dos
portugueses residentes no território […]. Segundo ele, a letra da Constituição não deixa margem
para dúvidas ao não excepcionar o campo de atuação além-fronteiras, como é, aliás, esclarecido no
Programa do XVII Governo Constitucional. O Governo compromete-se a "[…] estimular a
participação cívica dos membros das comunidades portuguesas, tendo como princípio orientador a
Igualdade de Oportunidades entre todos os portugueses e todas as portuguesas, nomeadamente a
Igualdade de Género, independentemente de serem ou não residentes em Portugal”. Mais longe foi
ainda ao trazer à luz do dia o papel, sempre tão envolto na sombra do anonimato, das mulheres
migrantes, admitindo que as políticas que as chamam a uma linha da frente " [...] configuram uma
dinâmica de valorização destas comunidades e de proximidade entre o Estado e as comunidades
portuguesas espalhadas pelo mundo". Proximidade que o governo certamente buscava, marcando
presença e tomando a palavra naquele "Encontro" com um discurso muito assertivo. Em perfeita
consonância com o programa do XVII Governo, que assinalava " […] a importância das políticas de
igualdade não só para as próprias mulheres, mas para as comunidades e para o aprofundamento da
estratégia de aproximação entre estas e o país". Todavia, para que o seu texto não ficasse letra
morta, era imprescindível o esforço de comunicação com as pessoas, para que os destinatários do
chamamento soubessem ao que eram solicitados, e tivessem a oportunidade real de aderir a uma
bem urdida estratégia.
Lacão foi ao cerne da questão ao lembrar que, aquém dos objetivos programáticos do
governo, " [...] as mulheres se encontram sub-representadas nas instâncias de decisão dos
movimentos associativos, pelo que os seus pontos de vista e necessidade se arriscam a não ser tidos
em conta". E, de seguida, alistou o equilíbrio das componentes feminina e masculina na vida
associativa e na das comunidades, ideia chave para a “paridade", como essencial aos objetivos do
próprio programa do governo: “ [...] a participação equilibrada de mulheres e homens no
movimento associativo e nos seus órgãos de tomada de decisão, bem como nas suas comunidades, é
Na organização dos “Encontros”, a par da "Mulher Migrante" estiveram a Fundação Pro Dignitate, através da 16
Doutora Maria Barroso, Presidente de Honra dos "Encontros", a Universidade Aberta, o "CEMRI", a "Rede Jovem para
a Igualdade" e, em cada comunidade, uma ou várias ONG's responsáveis pela implementação do projecto: na América
do Sul, a Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina; na Europa, a federação "PIKO", com sede na Suécia:
no Canadá, a "Working Women" e outras, com particular envolvimento da Cônsul Geral de Portugal; na África, a "Liga
da Mulher Portuguesa"; nos EUA, o departamento de português da Universidade de Berkeley. _____________________________
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condição essencial para a defesa dos direitos, bem como para uma tomada de consciência das suas
necessidades". (Lacão, 2009, p.11)
A palavra ganhou, ali, de facto, força num ato de diálogo no interior de uma das maiores
comunidades do estrangeiro, com mulheres e homens representativos do movimento associativo,
onde estas teses praticamente nunca haviam sido afloradas, nem de uma forma espontânea, nem por
parte do governo. Foi bem sublinhado o significado que se atribuía à ação das mulheres para
garantia de preservação das instituições, tanto quanto para alcançar melhores condições de defesa
dos direitos e interesses individuais e coletivos.
Neste e nos demais "Encontros " se pretendeu levar a efeito um levantamento o mais
abrangente possível do posicionamento e da atuação cívica das portuguesas no mundo, com um
propósito de estimular a mudança. Isto é, não apenas de constatar, mas de agir, ou interagir. O
Secretário de Estado das Comunidades acentuaria, em Joanesburgo, ao anunciar a preparação de um
novo congresso mundial de mulheres emigradas, que "[...] estas iniciativas são um claro sinal da
firme disposição do Governo de Lisboa em promover encontros mundiais [...] pela importância que
atribui à necessidade de reforçar os laços com Portugal". (Braga, 2009, p.132)
A partir desse Congresso terão, ou não, continuidade estas formas de audição, regionais ou
mundiais, ensaiadas entre 2005 a 2009? E passarão pelo movimento associativo, pela colaboração
com as ONG's, como se viu neste quadriénio? Não é de modo algum seguro antecipar que sim. O
programa do atual Governo, no ponto referente a Negócios Estrangeiros, Comunidades Portuguesas
e Cooperação, ao contrário do que acontecia com o anterior, é omisso no que respeita à
problemática da igualdade de género e às iniciativas, havidas ou a haver, na área das
"Comunidades" e na relevância genérica de parcerias com as ONG's, neste domínio . Ou será antes 17
pelo CCP, que passará o eixo central das políticas com a componente de género?
Só a resposta a estas perguntas, a obter dentro dos próximos anos, permitirá concluir se
estamos, ou não, no limiar de uma estratégia para as comunidades portuguesas do estrangeiro,
assente na chamada das mulheres à participação cívica igualitária.
V - MEDIDAS JURÍDICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE NO SÈCULO XXI
A norma que determina a aplicação do princípio da paridade, imposto nas eleições legislativa e
autárquicas, à eleição do CCP (o n.º 4 do art.º 11.º e a alínea a) do n.º 1 do art.º 37.º da Lei n.º 66-A/
207) é, no plano jurídico-político, uma medida excecional de promoção da igualdade de género na
história da emigração portuguesa, dando cumprimento da letra e do espírito da Constituição da
República. O anúncio da sua (então) próxima entrada em vigor foi feito na Conferência de Toronto
A omissão contrasta com a relevância que é dada a parcerias com as ONG's em sede de Cooperação, (Programa 17
do XXVIII Governo, p. 127). _____________________________
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por Jorge Lacão, como prova da vontade do governo de garantir a audição efetiva das mulheres
num órgão onde sempre haviam sido uma pequeníssima minoria, e, na prática, sem acesso à sua
instância de cúpula, o "Conselho Permanente". As listas para o CCP viriam, de facto, no ano de
2008, a assegurar, em observância da lei, a inclusão de um terço de mulheres. E como os atos
eleitorais para a Assembleia da República e para as autarquias ocorreram no ano seguinte, acabou
por constituir como que um "ensaio geral" do sistema de quotas bem-sucedido, pois redundou no
aumento, que era previsível, do número e percentagem de conselheiras e, também, na sua ascensão
ao Conselho Permanente. A presença feminina, globalmente, no CCP, nas diversas Comissões e na
instância de coordenação, é quantificável, com todo o rigor (sabendo-se que está ainda longe de
uma verdadeira igualdade), mas a importância real que terá no maior equilíbrio de participação de
ambos os sexos na vida das comunidades do estrangeiro vai depender, diretamente, do uso que as
eleitas farão da sua capacidade de influenciar os processos de funcionamento e de decisão do
"Conselho", e, indiretamente, do papel que venha a ser o desta instituição que tem tido, como
afirmei, um percurso acidentado e irregular, enquanto fórum de consulta do Governo e de
representação dos emigrantes.
Posterior à legislação que impõe a recomposição mais igualitária do CCP, bem como ao termo
dos "Encontros para a cidadania", é uma tomada de posição da Assembleia da República sobre a
"problemática da mulher emigrante", em forma de resolução - a Resolução n.º 32/2010, de 19 de
Março - que visa os mesmos resultados das referidas estratégias e ações governamentais. Muito
embora não lhes faça qualquer alusão, parece querer dar-lhes seguimento, no futuro imediato, ao
definir um conjunto de medidas “destinadas ao desenvolvimento da cidadania das mulheres
portuguesas do estrangeiro" e ao prever a utilização de instrumentos e metodologias idênticas,
apontando para a efetivação de "seminários, campanhas de sensibilização, ações formativas e
informativas junto das comunidades, incentivos a estudos e investigações. Na Resolução n.º
31/2010, aprovada na mesma data, os parlamentares recomendam ao Governo que " […] proceda ao
estudo quantitativo e qualitativo da nova diáspora portuguesa do mundo.” E fazem sua uma ideia
chave do Programa do XVII Governo: preparar as medidas da sua política externa, em concertação
com outros ministérios, “[…] no sentido de revelar uma mudança de paradigma face a esta nova
diáspora portuguesa, colocando-a no centro das suas ações, fazendo dela uma verdadeira linha
avançada da nossa diplomacia um pouco por todo o mundo”.
Por seu lado, a Resolução destina-se a contribuir para “o desenvolvimento da cidadania das
mulheres portuguesas residentes no estrangeiro”, visando “Promover a igualdade efetiva entre
homens e mulheres no universo das comunidades portuguesas no Mundo; Combater situações de
violência de género; Desenvolver modalidades de inserção profissional das mulheres portuguesas
no estrangeiro”. (Ponto 2, alíneas a), b) e c). Objetivos, todos eles, traçados no programa do atual
governo, no capítulo respeitante às políticas sociais de igualdade de género, porém, sem qualquer
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referência expressa ao caso das mulheres expatriadas, pelo que não será desapropriado concluir que
a "Resolução" procura transpor o conteúdo das medidas ali delineadas, em termos gerais, para a
situação particular das emigrantes. A Resolução não é, evidentemente, muito inovadora pelo que
recomenda. É-o pelo facto de ser a primeira vez que os Deputados chamam a atenção para os
deveres do Estado na consecução da igualdade de mulheres e homens, para além das fronteiras
territoriais, como manda o art.º 109.º da Constituição. Se a resposta do Executivo for o
relançamento, de uma forma constante e consistente, do trajeto de diálogo e cooperação já
empreendido sem que tenha ainda atingido a generalização e a eficácia plenas, a exigir esforço
incessante, sem fim à vista, estaremos no limiar de efetivação de políticas de emigração com a
componente de género.
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Espinho nasceu, enraizou-se, evoluiu, fazendo história com uma mescla de extraordinárias particularidades, num todo singular. Uma pequena comunidade piscatória conviveu, desde o início, com a indústria conserveira e o turismo balnear vanguardista, no mágico enclave entre Gaia e a Feira, onde crescia em finais de oitocentos, a moderníssima urbe de traçado geométrico. Uma originalidade face aos cânones tradicionais de um país antiquíssimo! A sua vertiginosa ascensão à fama nacional e internacional muito deve, por um lado, ao comboio, que a tornou acessível a visitantes do interior de Portugal e Espanha, e, por outro, à visão de ilustres fundadores, que souberam pragmaticamente realizar a "utopia" de rivalizar com as maiores estâncias de veraneio da Europa.
Espinho tornara-se uma verdadeira cidade cosmopolita, muito antes de ser reconhecida como tal, pelo que oferecia a residentes e a forasteiros: mar de grandes vagas e praias de barracas coloridas, cafés, esplanadas e avenidas, comércio florescente, hotelaria, recintos desportivos, a maior piscina da península, casinos, casas de
espetáculos, concertos, cinema, teatro... o ambiente cosmopolita do seu dia e da sua noite, a sua vivência internacional!
A minha memória de Espinho (nestes 50 anos)?
Nas minhas memórias deste último meio século, já não havia o Café Chinês, nem a presença alegre e trepidante de “nuestros hermanos”. E, depois, deixou de haver o vaivém da Avenida, entre palmeiras gigantes e as esplanadas de vários cafés, o magnífico Cine Teatro São Pedro, o bonito cinema do Casino, (de cujas varandas, nos intervalos do filme, olhávamos o oceano) e o comboio a cruzar a cidade e a mostrá-la, ao vivo,
aos viajantes, um incomparável cartaz turístico.
A proximidade de toda a cidade com o mar perdeu-se, exceto nas centenas de metros de enterramento da linha férrea, e também um Hospital próprio, de reconhecida qualidade, em múltiplas valências. Com tudo isso, que se chamou Progresso - com consequências boas e algumas menos boas - a terra mantém intacta a identidade e o encanto!
Somos, o que é cada vez mais raro, em simultâneo, cidade e comunidade:
- Somos cidade de dimensão perfeita, onde podemos passear a pé, pelo centro, encontrando amigos, e tudo o que precisamos, num comércio local, que é costume comparar a um “centro comercial ao ar livre”, e onde, à distância de poucos minutos, temos a Biblioteca, o jardim, o Centro Multimeios, a Câmara, os CTT,
farmácias, consultórios médicos, bancos, restaurantes e cafés, o mar, a estação de comboio. Um pouco mais a sul, o grandioso Fórum de Arte e Cultura de Espinho, com as elegantes galerias de Arte e o Museu, situado a uns escassos 15 minutos, a pé, da Rua 19, neste contexto já é por muitos considerado relativamente distante…
- Somos comunidade autêntica, feita tanto de reencontros quotidianos de amigos, de tertúlias de café, como das realizações coletivas de um poderoso associativismo, que anima a vida cultural de Espinho e lhe dá
projeção (nas Artes, música, dança, cinema, com acento nos aspetos da formação, e visibilidade em concertos e festivais), o mesmo acontecendo no campo social e desportivo, com muitas agremiações, clubes e jovens campeões. Os “media”, a imprensa, o ensino, a Escola Profissional, os Liceus (como ainda gosto de os designar…), a Universidade Sénior, as instituições de solidariedade e de beneficência são outras tantas manifestações de cidadania, com que a sua gente individualiza e engrandece a terra.
As cidades deviam ser todas assim. Viver aqui é um privilégio!
Como vê Espinho nos próximos 50 anos?
Espinho, pela dimensão humana e pela coesão comunitária, é, a meu ver, um paradigma da cidade de amanhã
a preservar face à vertigem de progresso que aí vem.
Autoridades e sociedade civil souberam, em tempo matricial, pensar um projeto de futuro, ajustado às características do lugar, e dar-lhe corpo e alma. Em tempo de prodigiosos avanços tecnológicos, é preciso reconfigurar o legado, com um novo "élan" de criatividade.
Sem fazer futurologia, direi que gostaria que Espinho se tornasse uma sociedade mais igualitária, mais aberta à participação das mulheres, mais intergeracional. Há que fixar os jovens com melhores oportunidades profissionais e atividades lúdicas. E, num país demograficamente tão envelhecido, há que apostar no turismo, hotelaria e residências seniores, (para portugueses, para estrangeiros) - aposta estratégica numa cidade/praia, geométrica, quase plana, tão agradável e naturalmente convivial.
Esta comemoração simbólica do cinquentenário de Espinho/ cidade acontece num momento em que à frente dos destinos da Câmara Municipal está, pela primeira vez, um Executivo de maioria feminina e presidido por uma Mulher. É mais um motivo para acreditar que os próximos 50 anos começam bem!
Qual a sua memória do Dia da Elevação a Cidade?
Por coincidência, passeava com a minha mãe, na altura em que o cortejo oficial, encabeçado pelo Presidente do Conselho Marcelo Caetano, atravessava a Rua 19, com a sua comitiva de notáveis, e acompanhado por multidão festiva. Guardo imagens de uma espécie de “procissão laica”, sem andores, e com ostensiva predominância de homens de chapéu e fato escuro. Fiquei encostada a uma montra, a vê-los passar, e perdi de vista a mãe, que se foi juntar ao desfile.
Mais tarde, presenciei novo ocasional encontro, quando o ditador seguia no seu carro preto, pela marginal, em marcha lenta, acenando ao povo. Minha mãe, com uma das sobrinhas ao colo, rompeu a barreira de populares, aproximou a menina da janela do automóvel e um sorridente Prof. Marcelo deu-lhe o beijinho da praxe,Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-61050497559876994182023-05-03T04:21:00.000-07:002023-05-03T04:21:14.390-07:00CCP 10 PERGUNTAS) Comecemos por uma pergunta mais íntima, mais pessoal: qual é o seu sentimento de estar aqui hoje para falar do CCP, do “seu” CCP, que festeja hoje 40 anos de existência, um órgão que foi criado no sexto ano da era democrática portuguesa? 2) Sabemos que a criação do CCP era uma promessa que constava no programa eleitoral da Aliança Democrática, aquando das eleições intercalares de 1979. Mas quem foram os impulsionadores deste órgão? De quem veio a ideia e porquê? Ou terá sido o CCP um órgão criado em resposta à iniciativa do então Presidente da República Ramalho Eanes de formar o Congresso das Comunidades Portuguesas? 3) Eleições intercalares em dezembro de 1979... Tomada de posse do Governo em janeiro de 1980… E a MMA ficou com a missão urgente de criar o CCP. Um mês depois, a elaboração da legislação do CCP já era enviada para o Conselho de Ministros, e essa mesma legislação foi aprovada a 1 de abril de 1980, apenas três meses após a tomada de posse. E em setembro do mesmo ano, o diploma já estava publicado, com um veto Presidencial pelo meio! Foi há exatamente 40 anos. A MMA considera que o mês de janeiro de 1980 foi o mais intenso da sua vida? Pode explicar-nos um pouco mais essa maratona? 4) Quais são as grandes diferenças entre o CCP de 1980 e o CCP de hoje em termos de funcionamento? A frequência de plenários mundiais? A assessoria técnica? A publicação dos trabalhos pelo gabinete da SECP? A forma como os membros são eleitos? 5) O primeiro CCP parece ter funcionado melhor com a MMA. A única vez que o plenário do CCP não foi convocado, entre 1981 e 1987, foi em 1982 quando a MMA foi substituída pelo Sr. José Vitorino. Cito a MMA: “Ficou, assim, por demais, evidenciada a dependência do funcionamento do CCP mundial da vontade dos titulares da pasta da emigração, ou seja, a sua fragilidade institucional - consequência da falta de tradição do órgão e, porventura, também da falta de tradição democrática de um país saído de cinco décadas de ditadura".O que podia então ser feito para evitar essa dependência? Quais seriam as pistas para um melhor funcionamento do CCP sem ter que se depender da boa vontade do titular da pasta das comunidades portuguesas? 6) Como explicar que o CCP tenha passado por tantas reformas profundas nas últimas 4 décadas e que ainda estejamos tão longe de um contentamento geral? 7) Reparei numa proposta feita pelo CCP em 1981 que continua a ser um tema atual: o alargamento do número de deputados da emigração. Qual é a sua opinião sobre isso? 8) Os resultados da primeira reunião do CCP de 1981 foram publicados num boletim promovido pela SECP. Faria sentido, no seu entender, voltar a ter esse tipo de práticas? 9) Em 1990, houve uma reforma do CCP, promovida pelo então SECP Correia de Jesus. Pode explicar-nos o que aconteceu com esse CCP? O CCP “versão II” (Decreto-Lei 101/90)? 10) E para finalizarmos esta entrevista, se tivesse que escolher um acontecimento caricato que viveu com o CCP, qual seria? Aquela reunião entre alguns Conselheiros da Europa e o então Primeiro-Ministro Mário Soares?Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-64631704474547964262023-04-26T07:58:00.001-07:002023-05-03T04:18:49.642-07:00MARIA ARCHER NO SEU TEMPO FUTURO
Por ocasião dos 40 anos da sua morte
1 - No dia 23 de janeiro, completam-se 40 anos sobre a morte de Maria Archer, grande escritora e jornalista, para quem a escrita começou por ser narrativa acutilante de experiências de vida em muitas partes do mundo da lusofonia e tornou-se, crescentemente, ato de cidadania, denúncia de um modelo opressivo e misógino de família e sociedade.
O regime ditatorial não só a perseguiu e forçou ao exílio no Brasil, como, deliberadamente procurou apaga-la da história, no dizer de Maria Teresa Horta, prefaciadora da reedição de um dos seus mais lidos romances (“Ela era apenas mulher”). No ocaso de uma trajetória literário, que a doença encurtou, Maria Archer estava consciente disso e não encontrava em si o ânimo para contrariar o esquecimento a que fora sentenciada, mas sempre acreditou que o futuro lhe faria justiça.
Numa quase total invisibilidade voltou a Lisboa, em 1979, e veio a morrer três anos depois. Parecia ter deixado, de uma obra vastísssima obra, apenas um ou outro livro sobrante nas prateleiras de alfarrabistas, e de um imenso talento a recordação prestes a extinguir-se juntamente com os derradeiros leitores da sua geração.
2 – A segunda vida da Maria Archer começou no Brasil (mais do que em Portugal), com o renovado interesse de um pequeno grupo de académicos na sua obra tão polifacetada, que vem sendo objeto de estudo e de divulgação em artigos, publicações, conferências, teses de mestrado e doutoramento. A esperança de Maria Archer num reencontro com o futuro estará em vias de se cumprir! E só pela via do reconhecimento de um indiscutível valor literário, mas também pela via do seu pioneirismo de surpreendentes textos de natureza etnográfica sobre os povos e culturas de África colonial lusófona ou sobre a condição das mulheres portuguesas durante o Estado Novo e pela sua corajosa luta pela liberdade
As comemorações do cinquentenário do 25 de Abril, vão, com certeza, lançar em simultâneo, um olhar sobre a evolução de cinco décadas de democracia e de cinco décadas de resistência à ditadura e aqui Maria Archer não pode ser esquecida! Não o é num projeto que está em investigação na Universidade Nova, como não foi numa iniciativa com que, nesta linha, o jornal Público se antecipou, homenageando, há alguns meses, mulheres cujos livros foram proibidos pela Censura. Nessa seleção, entre dez publicações, duas são de Maria Archer. Está em formação uma vaga de fundo que trará a público a memória da sua vida, como a comemoração do centenário da República trouxe a de Carolina Ângela ou Ana de Castro Osório. E nem terá de esperar até então. A efeméride que neste mês de janeiro celebramos vai coloca-la em foco nos meios académicos. O Porto receberá o ato inaugural, como ela, por certo, gostaria. Tinha orgulho na sua ascendência irlandesa, e, afinal, esta foi a cidade para onde imigrou, no ano de 1720, o seu primeiro ascendente, um aristocrata oriundo de Kilkeny, Lancaster.
Entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, o Circulo de Culturas Lusófonas Maria Archer , esperamos levar a bom termo uma agenda em que abordaremos, sucessivamente, as temáticas da criação literária e artística das mulheres portuguesas, das migrações, da cidadania e da Diáspora, do diálogo no universo da lusofonia. A 22 de janeiro no Porto, pelas 16.00, abrimos a programação, inaugurando na Galeria da Biodiversidade, a exposição “Vivências”, comissariada por Ester de Sousa e Sá, antecedida por uma mesa redonda com os pintores que, na tela, procuraram deixar a sua interpretação da personalidade, do espírito, do mundo de Maria Archer. Seguir-se-á, em fevereiro e março, um colóquio sobre “Maria Archer e outras Mulheres de referência e de (Ir) reverência”, e um ciclo de conferências com periodicidade quinzenal.
40 anos depois da sua partida, Maria Archer, regressa, intemporal para ficar na História das Letras e do Jornalismo, da Literatura Colonial, do Feminismo e da Democracia
Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-85041245004860003592023-03-05T12:12:00.000-08:002023-03-05T12:12:02.987-08:00Grande entrevista - Maria Manuela Aguiar OBSERVA Magazine 2
>
> Quem é Manuela Aguiar? Uma Senhora ainda recordada como exemplo de vida na notoriedade que conferiu à Diáspora portuguesa. Assumiu a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, no VII Governo Constitucional liderado por Pinto Balsemão, em 1981. Encontrava-se a assumir a pasta do Ministério dos negócios estrangeiros, André Gonçalves Pereira.
>
> OM: Muito agradecidos por nos conceder a honra desta entrevista
>
> M A: Eu é que tenho de agradecer a possibilidade de partilhar com todos os leitores de Observa Magazine recordações de tempos e acontecimentos que que vivi, há tantos anos.
>
> Assumi a SEECP, a convite do Dr Francisco Sá Carneiro, nos primeiros dias de janeiro de 1980. Era Ministro dos Negócios Estrangeiros o Prof Freitas do Amaral. Não os conhecia pessoalmente até esse dia em que que com eles reuni, na Rua Gomes Teixeira, na altura em que preparavam a formação do VI Governo Constitucional. Conversámos como amigos de longa data, de um modo informal e descontraído. Foi o início de uma caminhada vertiginosa, em que Sá Carneiro impunha o ritmo e todos dávamos o máximo, num ambiente de coesão de equipa e de solidariedade, que nunca mais reencontrei no cumprimento de um projeto de intervenção na vida pública. Até 4 de dezembro, 1980 seria o meu melhor ano de sempre, até então - e até hoje!
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> Intervir na política, não estava no meu horizonte. Sentia-me bem em trabalho de gabinete, como assessora do Provedor de Justiça. Antes tinha sido assistente de um Centro de Estudo e de várias Universidades. E fizera, em 1978/79 uma passagem por um governo de independentes presidido pelo Prof Mota Pinto - na pasta do Trabalho. Tinha quadrante ideológico - era "social-democrata à sueca" - mas não filiação partidária. Não fui pressionada a inscrever-me no partido, mas fi-lo, impulsivamente, e devido à minha entusiástica sintonia com as posições de Sá Carneiro . E com isso, me tornei a primeira mulher do PSD a ocupar um cargo governamental. Depois, acabei por perfazer o total de 5 governos, e por ficar na Assembleia da República quase duas décadas e na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa cerca de 14 anos.
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> OM: Estando interessados em tentar escrever a história e as histórias desta importante e nobre função de quem assume uma secretaria que permite e fomenta o contacto com as comunidades portuguesas espalhadas pela Diáspora portuguesa, conte-nos qual o primeiro impacto com essa realidade.
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> M A - Foi, antes de mais, a verdadeira descoberta de um "outro Portugal", que os portugueses recriam no estrangeiro e que é largamente ignorado, dentro do País. Tive, a preocupação de fazer viagens em que circulava, de cidade em cidade, entre comunidades, com o objetivo de conseguir, mais depressa e melhor, uma perspetiva ampla do universo da emigração, estabelecendo comparações, e podendo transmitir experiências de umas para as outras. Queria encontrar as constantes, no que respeitava a realizações e a carências, e à definição de prioridades, e de de apoios e parcerias viáveis .
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> Na primeira visita, em 20 dias, corri os EUA e o Canadá, de costa a costa. Na segunda, o Brasil - da Amazónia, do Pará e de Pernambuco ao Rio Grande do Sul. E, depois, os muitos países onde está a nossa emigração. Como os programa de visitas se centravam nas associações, igrejas, escolas portuguesas - no movimento associativo que atravessava um período aureo , quase não via o mundo circundante, e voltava com a espantosa sensação de não ter saído da minha terra, apesar de ter feito tantos milhares de quilómetros. Era como se Portugal fosse imenso! E, de facto, é - se olharmos não o seu território, mas a sua gente.
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> O M : o que mais a comoveu nesse contacto direto?
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> M A: O genuíno portuguesismo das pessoas! A paixão por manter tudo o que consideram identitário, que lhes permite unirem-se e criarem espaços culturais de presença portuguesa, com os seus modos de estar, as suas tradições de convivialidade.
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> Encantou-me, desde esses primeiros contactos, a hospitalidade com que era recebida, quer em salas modestas, quer em grandes salões, que pareciam. todas, todos, transplantados das várias regiões de Portugal - com o seu ambiente de tertúlia, a sua gastronomia, dança, música, celebrações religiosas... Ver isto com os meus próprios olhos foi uma revelação poderosa, inspiradora. O que eles fazem pelo país é infinitamente mais do que o que País jamais fez por eles, como JF Kennedy quereria. Assim pensei e, décadas depois, assim continuo a pensar.
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> OM: Como definiria um traço ou uma característica inerente (de todas as comunidades espalhadas por todos os continentes) à vontade/ necessidade de emigrar no período em que exerceu funções?
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> MA: Julgo que mais a necessidade do que a vontade. O êxodo migratório do século XX deveu-se, sobretudo, à pobreza, ao desemprego, aos baixos salários. Foi, em percentagens muito elevadas, clandestino - sobretudo na segunda metade do século, quando de dirigiu para a Europa mais do que para destinos longínquos. (a emigração "ilegal" passou a média de um terço, que vinha já de épocas recuadas e chegou a ultrapassar os 50%) A melhoria das condições de vida dos que haviam partido contribuía poderosamente para familiares e vizinhos verem na fuga para o estrangeiro a única solução de futuro. Como hoje, os que atravessam o mediterrâneo, arriscando a vida! A situação não é tão diferente como poderá parecer. É apenas ainda mais difícil, porque, no pós guerra mundial, o ciclo de desenvolvimento económico permitia melhor integração. Os Portugueses, depois de um início difícil, ganharam, quase todos, a aposta na aventura da emigração. Eduardo Lourenço disse dos protagonistas do "salto", nas décadas de 50 e 60, que foram "uma geração de triunfadores". É uma citação que uso, muitas vezes, porque, globalmente, é verdadeira e, além disso, tem uma faceta de homenagem, que o país se esquece frequentemente de lhes prestar .
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> OM: Qual a faixa etária que emigrava? Quais as suas qualificações académicas e profissionais?
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> M A: Jovens do sexo masculino, pouco qualificados. É esse o perfil da nossa emigração tradicional. Mas não a dos governos a que pertenci. Quando, a partir de 1974, as leis e a Constituição Portuguesas vieram, enfim, consagrar plenamente o direito à emigrar, os outros países fecharam as fronteiras, após a crise petrolífera.... Na década de oitenta, registámos os mais baixos números de saídas de todo o século XX. Os países desenvolvidos praticamente só permitiam a entrada para reunificação familiar às mulheres e filhos dos trabalhadores. Falava-se, e bem, de "feminização da emigração". Foi, por sinal, um movimento da maior importante, porque quase todas as portuguesas conseguiram aceder ao mercado de trabalho, ganharam uma autonomia profissional, que não tinham nos meios rurais de onde provinham, e deram um impulso fundamental aos projetos migratórios, do ponto de vista económico (pois contribuíam com um segundo salário) e social, (porque se converteram, de facto, com inesperado êxito, em mediadoras da inserção do núcleo familiar. Estavam, maioritariamente, integradas, no setor dos serviços, com contactos mais próximos na sociedade local e isso deu-lhes a compreensão da necessidade de darem aos filhos as vantagens da educação e formação, que os pais não tinham. A emigração feminina influenciou, assim, decisivamente,a reconversão cultural e o sucesso económico dos projetos migratórios. Na altura, ninguém o podia prever. Hoje essa avaliação está cientificamente demonstrado (veja-se os trabalhos pioneiros da ProFª Engrácia Leandro, na década de noventa, na região de Paris.
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> OM : quais eram os países eleitos pelos portugueses para se emigrar?
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> MA: A Suiça foi, a partir de 80/81, uma exceção no panorama europeu. Nesses e nos anos seguintes, recrutou dezenas de milhares de trabalhadores portugueses ,maioritariamente, homens, para a agricultura, construção civil, a hotelaria... Novos destinos, que criaram expetativas, (depois não confirmadas), foram alguns países do sul do Mediterrâneo e do Médio Oriente. Os números nunca seriam muito elevados e corresponderam a contratos bem remunerados, mas temporários.
>
> Outra situação inesperada, com que me vi confrontada, e a que foi preciso responder com novas políticas, foi o enorme afluxo de regressos, em média 30.000 a 40.000 por ano. O retorno dramático dos portugueses de Angola e de outras colónias estava ainda bem presente na memória coletiva e este segundo retorno provocava nos "media",na opinião pública, e até na classe política um temor indisfarçável. Vi-me muitas vezes isolada, e mal compreendida, ao explicar que se tratava de um processo radicalmente diferente, um movimento voluntário, planeado pelos próprios emigrantes, dirigido, sobretudo, para as regiões de origem e, por isso, desejável, essencial mesmo, para o repovoamento e progresso do interior (desertificado pelo êxodo migratório das décadas anteriores). Os apoios à reinserção foram bem aproveitados, (medidas fiscais, isenções, empréstimos a juro bonificado), e o País ganhou muito com os que vieram (mais de meio milhão só nessa década de que tratámos) e, também ganhou com os que fixaram lá fora, formando as comunidades extra-territoriais, que constituem a nossa "Diáspora".
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> um O M: No seu entender quais foram os países que mais se esforçaram por justamente atribuírem a lusodescendentes cargos decisores, nomeadamente de responsabilidade política?
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> MA: O Brasil, sem dúvida. É um país tão próximo, que os portugueses, integrados na sociedade brasileira são tratados como nacionais. Desde 1971, o Tratado de Igualdade de Direitos e Deveres entre Portuguese e Brasileiros dá direitos políticos aos imigrantes do outro País. a nível nacional, enquanto, por exemplo, o estatuto de cidadania europeia, ainda hoje, se limita ao nível local. Em 1989, os Constituintes brasileiros foram ainda mais longe, concedendo aos portugueses, sob condição dereciprocidade, todos os direitos da nacionalidade brasileira, equiparando-os a brasileiros por naturalização. A luta pela dação da reciprocidade por parte de Portugal foi a minha " causa maior", enquanto deputada e prolongou-se por cerca de 13 anos. Foi conseguida numa revisão extraordinária da Constituição em 2001 - e graças ao apoio de Políticos sensíveis às singularidades do universo da lusofonia, como Durão Barroso e, sobretudo, Mário Soares. Desde essa data, o estatuto de cidadania luso-brasileira consolidou-se como o mais avançado, atualmente, nível universal! E, se, entre nós, ainda não vemos os imigrantes brasileiros em lugares políticos de destaque, no Brasil são muitos os Portugueses que ocupam altos cargos na Magistratura judicial e na política, a todos os níveis, local, estadual e nacional. Uma ascensão que vem de trás e em que as mulheres fizeram história. No século XX, a médica Manuela Santos foi a primeira Secretária de Estado no Rio de Janeiro e a atriz Ruth Escobar a primeira mulher eleita à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e a primeira representante do Brasil nas Nações Unidas para o acompanhamento de Convenção contra todas as formas de discriminação das Mulheres. Uma e outra, ao abrigo do "Tratado". Isto é, apenas com a nacionalidade portuguesa.
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> OM: Que actividades económicas e que tipos de trabalho procuravam os portugueses que emigravam?
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> Com o mesmo (baixo) nível de formação, os portugueses que emigravam para países economicamente desenvolvidos encontravam trabalho não qualificado em setores como a construção civil, a agricultura , os serviços (nomeadamente, no caso das mulheres), enquanto nos países "em desenvolvimento" muitos se transformavam, rapidamente, em pequenos empresários, quando não, no fim do percurso, em investidores de topo. No século XX, são inúmeros os que atingiram esse estatuto- no Brasil, obviamente, mas também na Venezuela ou em diversos países de África. Nos EUA, no começo do século passado, foi muito mais rápido o enriquecimento dos nossos imigrantes no Hawai ou na Califórnia do que na costa leste, então com índices de industrialização bem mais elevados. Neste contexto, a ascensão é sempre mais lenta, mas não impossível. Veja-se o que aconteceu na França, onde a partir da adesão de Portugal à CCE, com o direito de estabelecimento, se multiplicou, de forma impressionante, o acesso dos nossos compatriotas a segmento do pequeno comércio e da restauração. E, em casos mais invulgares, a grandes negócios e grandes fortunas.
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> MA: eram defraudadas relativamente ao que esperavam do país de acolhimento?
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> M A: De início, em muitos casos, sim. Eram enganados por redes de engajadores, explorados como trabalhadores indocumentados. moravam nos tristemente célebres bairros dos arredores de Paris. Um quadro assustador. Mas, progressivamente, a sua situação foi mudando. A legalização era facilitada (penso em primeira linha na França, que representava mais de 80% do total), e empregos não faltavam. Eduardo Lourenço, testemunha presencial desse período negro fez, como disse, lapidarmente, balanço final. Nenhuma outra imigração foi tão bem sucedida, em França, como a nossa.
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> Desde a crise de 2008 e, mais ainda, nos anos de intervenção externa (da "troyka") , a emigração em massa não só recomeçou, como bateu todos os recordes. Cerca de meio milhão abandonou o País só nesses quatro anos. Fala-se de uma "nova emigração", de jovens altamente qualificados, quadros, cientistas, mulheres e homens. Nunca tal acontecera na nossa história, em números tão significativos, mas, na verdade, no total, são ainda uma minoria (nem por isso a situação de "braindrain" imparável, deixa de ser uma constatação termenda!) Contudo, maioria da nossa emigração continua a ser predominantemente masculina, pouco qualificada e envolvida em contratos temporários.
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> Uma questão que agora se coloca é a de saber se haverá mais riscos de insucesso relativo para a "nova emigração"? Creio que em algumas profissões - engenheiros, médicos, enfermeiros - o êxito estará, quase sempre, garantido, em termos de promoção na carreira, de vencimentos. O risco maior, a meu ver, é o de não regressarem. Mas, em outros setores, podem não ver reconhecidos e aproveitados os seus títulos académicos, e acabarem acantonados a empregos precários e mal pagos. Face a expetativas mais ambiciosas, podem ver-se num percurso descendente - o contrário da geração de 60. Espero que não . que sejam poucos os perdedores. E espero, também que sejam muitos os que decidam voltar. Isso, de facto, depende muito do País, das condições que saiba criar para o regresso e para pôr fim às partidas em massa. Até hoje, como tenho dito muitas vezes, Portugal já conseguiu garantir aos cidadãos o direito de emigrar, mas não ainda o "direito de não emigrar"...
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> OM: Qual a sua experiência no contacto com associações ou outro tipo de organizações em que os portugueses se uniam e reuniam?
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> MA: Há pouco, ao referir primeiro contacto com emigrantes, logo o centrei nas associações, porque foi aí que encontrei os portugueses. Quer se chamem assim, ou não, são verdadeiras "Casas de Portugal". Foram criadas, algumas há mais de 150 anos, para preservação da língua e da cultura e para defesa e proteção dos compatriotas, que se viam completamente abandonados pelo Estado, mal transpunham as fronteiras do país. A única política de emigração portuguesa, ao longo de séculos, foi a regulação dos fluxos de saída, quase sempre no sentido de os limitar! Os próprios emigrantes colmataram as omissões do Estado, por todo o lado, unindo-se em coletividades para a entreajuda (sociedades fraternais, caixas de socorros mútuos, hospitais), para a valorização cultural (Gabinetes de Leitura, grémios literários, centros culturais) e para o convívio (clubes recreativos e desportivos). Até aos fins do século passado, em todos os ciclos migratórios, em todas as latitudes, deparámos com formas de organização semelhantes para atingir os mesmos objetivos (beneficência, cultura, recreio), com notável eficácia, em diferentes contextos e com meios maiores ou menores. O governo de 1980 não foi, certamente, o primeiro a ter em atenção os méritos do associativismo, mas foi pioneiro no enfoque que deu ao desenvolvimento sistemático de novas formas de parceria, de co-participação na definição e execução de medidas e programas para a emigração e as comunidades. O principal instrumento dessa política foi uma assembleia consultiva, formada por representantes eleitos no universo associativo, o Conselho das Comunidades Portuguesas. Entre 1981 e 1987 (data em que deixei definitivamente o governo), o Conselho funcionava a nível de cada país e em reuniões mundiais regiões e regionais. O Conselho procurava ser também um grande "forum" do movimento associativo português, que era muito forte dentro de cada sociedade de acolhimento, mas não tinha uma estrutura internacional, ao contrário de todos os outros países europeus. E ainda hoje não tem! O CCP é atualmente eleito por sufrágio direto, tendo perdido, assim, a sua faceta interassociativa.
>
> A minha ligação afetiva ao associativismo que dá corpo e alma às comunidades, enquanto comunidades orgânicas, vem dum tempo em que era extraordinariamente pujante. Sempre vi nele a generosa marca do "percurso coletivo" dos portugueses, tão importante para o País como o sucesso individual, a que costuma dar muito mais atenção. E por isso me preocupa o seu futuro num mundo em mudança vertiginosa.
>
> OM: Existe um número, ainda que aproximado, que nos possa adiantar de portugueses emigrados em 1981?
>
> M A: As médias de saídas eram baixíssimas, em comparação com as do passado recente e com as do presente. Talvez, uns 8000, (não sei exatamente os números, mas são dessa ordem de grandeza). Atualmente estão acima dos 100.000. Uma diferença abissal, um autêntico recomeço de ciclo, de èxodo.
>
> OM: A Língua portuguesa significava um entrave à integração dos portugueses nas diferentes comunidades?
>
> MA: O conhecimento de um idioma, nunca é entrave à aprendizagem de outro. Pelo contrário! Esse é um erro em que caíram alguns pais portugueses, que consideravam necessário que os filhos falassem apenas a língua local, que eles tinham dificuldade em aprender. Não compreendiam que o bilinguismo, para além de manter os laços à cultura pátria é sempre um enriquecimento, e mais ainda numa das línguas mais espalhadas no mundo. Mas esta visão nunca foi predominante. Mesmo os nacionais com baixa escolarização, sabem, em regra, valorizar a preservação da sua fala, ensiná-la aos filhos, em casa, na escola pública, ou a partir do movimento associativo..
>
> OM: Quais as medidas que foram implementadas para que os emigrantes e os lusodescendentes, nomeadamente de segunda geração tivessem acesso em contexto escolar ao idioma de Camões?
>
> MA: Perante a multi-secular indiferença do Estado Português foram as associções e as paróquias católicas que criarem escolas ou cursos de português, com os seus´próprios meios, como acabo de dizer. De facto, a preocupação dos governos com a aprendizagem do português só se manifestou, quando a emigração se passou a dirigir para o nosso continente. Por largas décadas, se manteve a dualidade - uma rede oficial de professores na Europa, com ou sem acordos, com mais ou menos parcerias de governos dos países europeus, em contraste com não concessão de quaisquer apoios às escolas comunitárias da emigração transoceânica. Nunca aceitei esta discriminação, mas tive dificuldade em a combater, porque, nessa época a política do ensino para as comunidades estava sediada no Ministério da Educação e não no MNE, Ministério dos Negócios Estrangeiros. Durante os governo a que pertenci. só na África do Sul foi possível estender, de algum modo, a rede oficial, com aulas extra - curriculares, gratuitas e dadas por professores do ensino oficial
>
> A transição do Instituto Camões para o MNE é coisa relativamente recente. Hoje há mais equilíbrio, mais rateio de meios entre as comunidades, de "àquém e além mar", mas a situação está longe do ideal e as escolas associativas continuam a desempenhar, em muitos lugares, um papel de primeiro plano. Criar e manter os cursos de língua e cultura, continua a ser o obetivo de um sem número de organizações (e o que mais atrai as mulheres à intervenção na vida coletiva!). É de realçar que em muitos casos tem resultado o esforço do nosso governo junto de outros, para conseguir a integração curricular do português. A meu ver, a multiplicação e a conjugação de várias ofertas de ensino é excelente - e nunca será demais...
>
> OM: Quais as dificuldades da Lei eleitoral à data se refletiam no voto por parte das comunidades, nas diversas eleições portuguesas?
>
> M A: Tudo hoje é mais fácil e mais consensual entre partidos da direita à esquerda. Em 80, não. Até a dilatação do período de recenseamento de um para dois meses foi polémica e inviabilizada no parlamento! A votação era limitada à eleição de 4 deputados para a Assembleia da República e o voto por correspondência perdia-se, frequentemente, sobretudo em países onde os correios eram lentos e pouco fiáveis, ao contrário dos nossos. Infelizmente o número de deputados não se alterou, mas o voto alargou-se às eleições presidencial e europeias e a alguns "referenda". E o universo eleitoral, independentemente de recenseamento, passou a abranger todos os emigrantes que possuem cartão de eleitor.
>
> OM: Tem algum episódio que nos queira contar do contacto com alguma «Mãe ou Pai da Saudade»?
>
> M A: São tantos os que já partiram! Mulheres e homens com quem aprendi tudo o que sei sobre a emigração, com quem fiz tudo o que me foi possível fazer no terreno da ação política. Verdadeiros amigos! O mundo das comunidades era, então, a nível de dirigentes, de interlocutores, quase 100% masculino, e, por isso , o meu círculo dos amigos e aliados homens é imenso. Mas já havia, entre eles, as "mulheres-exceção" ´É mais fácil falar delas, porque eram raríssimas as que lideravam comunidades ou movimentos cívicos. Matriarcas como a mítica Dona Benvinda Maria, diretora do jornal "Portugal em Foco" do Rio de Janeiro, a Maria Alice Ribeiro, fundadora e diretora do "Correio Português" de Toronto (aí, o mais antigo jornal na nossa língua), a Mary Giglitto, presidente do Festival Cabrilho em São Diego (sem ela, o descobridor da Califórnia, seria hoje considerado castelhano, exemplo de mais uma deturpação histórica), a Fernanda Ramos , de Minas Gerais, a primeira presidente do Elos Clube Internacional, a Manuela da Luz Chaplin, advogada dos indefesos, em Newark... Todas tinham em comum serem vozes fortes, dominantes, arrebatadoras, que mobilizaram os compatriotas e tornaram as comunidades maiores e melhores. Contar episódios passados com elas ou com eles, dava outra grande entrevista...
>
> OM: Deseja fazer alguma saudação especial dirigida aos milhões que a vão ler?
>
> MA: Sim, com muito prazer, aproveito para mandar um abraço a todos os emigrantes que deixaram o seu país , mas o levaram consigo, em espírito e , assim, apesar da ausência física, são uma presença cultural.
>
> OM: A OBSERVA Magazine agradece-lhe novamente a honra desta entrevistaMaria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-34853604439912963502023-02-21T06:04:00.002-08:002023-02-21T06:04:19.236-08:00«Excecional Embaixador da Cultura Portuguesa»
Ângelo Viegas é um dos nomes mais ilustres da
nossa Diáspora, no século XX.
Ao dedicar uma publicação à sua memória, ao
seu percurso de vida, estaremos, em simultâneo, a fazer
a história da construção e afirmação da presença lusa no
sul do Brasil, no progressivo Estado do Paraná, na jovem
e moderna cidade de Maringá.
Já o conhecia pela fama, pela qualidade da sua
intervenção comunitária, antes de o encontrar
pessoalmente. E foi por seu intermédio que aceitei o
convite para incluir o Estado Paranaense no roteiro de
uma deslocação ao Brasil. com a primeira visita a uma
cidade, que tinha de idade, menos anos do que eu, e a
um novo Centro Cultural, cujo dinamismo revelava a
existência de forte liderança.
Muitos terão dado importante contributo para a
concretização desse ousado projeto, mas não me ficaram
dúvidas quanto ao papel fundamental de Ângelo Viegas,
apesar da sua postura sempre tão discreta e
diplomática. Na verdade, não procurou nunca o
reconhecimento individual, mas o coletivo, fazendo sua a
missão tão tradicionalmente portuguesa de
convivialidade, de partilha de experiências e de afetos
46
com outros povos, de vontade de integração, norteada
pelos valores da cultura de origem.
Foi essa sua vontade de pertença a duas nações,
a realidades culturais que quis e conseguiu tornar mais
próximas, mais interativas, através de uma ação notável
e constante, que o tornou, ou torna, um exemplo para as
gerações futuras, um exemplo intemporal.
A Ângelo Viegas não faltava ideias e sonhos
fantásticos, e não faltava, sobretudo a capacidade de os
levar a bom termo, com entusiasmo e alegria, com
esforçado trabalho e brilho inexcedível.
Maringá deve-lhe a "época de ouro", em que
esteve na vanguarda de todas as comunidades
portuguesas de então!
Entre as inúmeras iniciativas, que pude
acompanhar de perto, estão o esplêndido paradigma que
constituiu a geminação de Maringá com Leiria, e a
reunião do Conselho das Comunidades Portuguesas
(CCP), que organizou em 1986. As cimeiras do CCP, em
diferentes regiões do mundo, eram bienais e convocadas
para cidades com núcleos dinâmicos de portugueses, que
se viam convertidas, durante o período da reunião, em
autênticas "capitais" da emigração portuguesa. Foi o caso
de Toronto, Fortaleza, Capetown, Danbury / Connecticut,
Estugarda e Maringá.
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De todas, a maior foi a de Maringá!
Primou pela cooperação das autoridades
brasileiras, pela excelente cobertura dos "media", pelo
envolvimento comunitário, e culminou num espetacular
jantar de despedida, com a participação de mais de um
milhar de portugueses e brasileiros.
Só alguém como Ele conseguiria tanto.
Pelo empenho e competência, naturalmente,
mas também pela a facilidade com que fazia aliados, com
que abria todas as portas, graças à simpatia, à
sua invariável disponibilidade para colaborar, para ajudar
quem quer que precisasse do seu apoio.
Por isso, aqui deixo o testemunho da minha
imensa admiração pelo cidadão, pelo incansável defensor
dos direitos dos compatriotas, pelo excecional
Embaixador da Cultura Portuguesa, e, igualmente, do
sentimento de perda, de saudade por um Amigo
verdadeiro, leal e generoso.
MARIA MANUELA AGUIAR
Ex-Secretária de Estado da Emigração e
Comunidades PortuguesaMaria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-60923557001499591922023-02-15T12:44:00.003-08:002023-02-15T12:44:29.817-08:00
1ª Reunião Mundial do CCP Representantes
África
Afonso Henriques Ferreira (S Tomé e Príncipe), Álvaro do Nascimento Chaves (Zaire),
Comendador Álvaro, de Campo Amorim, C D Barbosa, Comendador José Bernardo, Gaspar da Silva Cardoso, Comendador Santos Gomes, Dr. Luís Leal, Jaime Margarido, Filipe Marques, Jorge de Sousa (República da África do Sul)
América do Norte
- Dr. Fernando da Silva, Padre José Alves Cachadinha, Eng.º Lourenço Aguiar, Sebastião Tavares da Silva, Eng.º Victor Cardoso (Estados Unidos da América), Alexandre da Silva, Padre António Pires, Arlindo Frazão Vieira, Fernando Cruz Gomes (Canadá)
América do Sul
Armando Antunes, Paulino Lopes (Argentina), Dr. Amadeu Pinto da Rocha, Ângelo Viegas, António de Andrade e Moura, Dr. António Gomes da Costa, Carlos Carvalho, Germano Augusto Tomé, Comendador Henrique Dias Ferreira, Dr. Joaquim de Matos Pinheiro. Joaquim Marques dos Reis, João Pereira da Silva, Júlio Portugal Nave Bizarro, Dr. Manuel António Mónica, Manuel Romão dos Santos, Paulino Romeira de Sá Ferreira, Rui Lopes dos Santos (Brasil) J Carlos de Sousa Correia, Dr. Mário Gonçalves Bento, José Costa Castanho (Venezuela) Luís Viriato Caetano Panasco, observador (Uruguai)
Europa
Luís Peres Ferreira (Bélgica), Fernando Veloso Rodrigues (Espanha), António Manuel Garcia, António Mota Ribeiro, Belmiro Ramos, Carlos Duarte de Morais, Dr. Francisco Ribeirinho, João Paulo da Fonseca, José Bernardino, José Coutinho da Silva, Padre Luís Filipe Rios, Manuel da Silva Fernandes, Manuel Vaz Dias (França), Padre José Salgueiro da Costa (Inglaterra), Carlos Moura Bernardino (Luxemburgo), António Cláudio, José Mendes (República Federal da Alemanha)
Oceânia
Padre Artur Sardo (Austrália)
Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-84496500675005067672023-01-07T08:45:00.003-08:002023-01-07T08:45:22.781-08:00 CINEMA - o paradigma do Trindade - in ETC e TALCINEMA EM SALA DE ESPETÁCULO
COMO RESISTIR À SUA MORTE ANUNCIADA?
1 - Vivo numa cidade sem cinema. Ou que para lá caminha, a passos largos. Falo de Espinho, terra onde não faltam as tradições cinéfilas, nem os equipamentos. Falta-lhe, não só agora, mas desde há anos, visão e vontade política. É um caso de estudo... Esteve entre as primeiras urbes portuguesas, onde o cinema se exibiu em salas que fizeram história.
Quando eu era menina, no final da década de 40 e nas décadas seguintes, o cinema era uma das grandes atrações de Espinho, a par do casino, da maior piscina da península, das esplanadas e cafés- tertúlia, (abertos a senhoras!), da movida da Avenida 8, com o vaivém de gente elegante sob as palmeiras, e, naturalmente, o mar, o seu mar de ondas altas. Nem o Porto, com tantas e tão boas salas de espetáculos, a suplantava, ao menos quantitativamente. O Teatro São Pedro e o Cine Teatro do Grande Casino de Espinho ofereciam-nos sessenta filmes por mês, com renovação quotidiana de um cartaz destinado a todos os gostos, e em instalações de luxo. No início do mês, cumpria-se o ritual de ir às bilheteiras do São Pedro e do Casino pedir o programa (quinzenal ou mensal). Muitas vezes, dois bons filmes coincidiam no mesmo dia e nós, as meninas, passávamos tarde e noite diante do grande ecrã. À noite com os pais, sempre disponíveis para nos acompanharem. Éramos uma família de cinéfilos. Foi com meu avô Manuel que me “viciei”, desde cedo, na sétima arte. Lembro-me de ir pela sua mão, com cinco ou seis anos, ao Batalha recém-inaugurado. Via e apreciava tudo – comédias, dramas, operetas, “westerns” … Tudo exceto filmes infantis!
2 - Guardei, como recordação, alguns desses "Programas" espinhenses, em papel colorido (azul ou rosa pálido, verde, laranja…) - com as suas sintéticas notas sobre cada sessão. Do São Pedro folheei, à sorte, um programa de agosto de 1962 e outro de setembro de 1981. Duas décadas de intervalo, sem alteração do estilo da sinopse de propaganda, ou do horário das sessões (3,30 da tarde e 9,45 da noite)! Porém, talvez por mero acaso, difere bastante o nível da programação. 1962 fica a ganhar com filmes memoráveis como “Esplendor na relva”, “Rocco e os seus irmãos”, “O Desconhecido do Norte Expresso” (do “genial Hitchcock”, diz a propaganda), “O Rosto” (do “mestre Ingmar Bergman”, segundo a nota), “A quimera do Ouro” (“com o incomparável e genial Charlot”) e, em cinemascope, “A Colina da Saudade, “Topaze”, “Austerlitz”.
Os realizadores, com a exceção de Hitchcock e de Bergman são omitidos. Até Chaplin é apenas destacado como ator! Na primeira linha estão os intérpretes (Audrey Hepburn, a encantadora “Boneca de luxo”, Vittorio de Sica em “O inimigo de minha mulher” e “O mundo dos milagres”). Compreensível, pois eram, sobretudo, as grandes estrelas que enchiam plateias e balcões. Naquele agosto, a minha assiduidade no S. Pedro terá sido enorme. Não assim em setembro de 81, com “Django”, “Mais forte que Bruce Lee” e similares… Na muito musculosa seleção, terei visto, embora não me recorde, Stuart Granger em “O grande atirador”, Sean Connery em “007 Só se vive duas vezes” e Steve Mc Queen em “Tom Horn”. No Casino, de 1 a 10 de setembro de 1968, talvez não tenha perdido o anunciado “filme dos três óscares”, "Grande Prémio", assim como o Mr Solo “, adjetivado com uma série de pontos de exclamação: Implacável! Atrevido! Eletrizante”.
3 - Hoje, o São Pedro já só existe na nossa memória - foi demolido, barbaramente, na meia década de oitenta - e o Casino, que possui ainda uma das mais belas e confortáveis salas de cinema do país, fechou portas, aparentemente, sem protestos de ninguém. Ergueu-se, entretanto, o “Centro Multimeios”, que, na melhor das hipóteses, propicia à população um filme por semana - quatro por mês. E nem isso, em regra, assegura, porque os hiatos na programação são frequentes e vistos como coisa normal. O interesse dos poderes públicos pelo cinema parece esgotar-se nos festivais – Cinanima, FEST - e no cineclube, que utiliza o magnífico Auditório do Casino. É de saudar e louvar, sem sombra de dúvida, esse esforço de entidades privadas, que mantêm Espinho no mapa cinematográfico . Todavia, isso não substitui, nem compensa a falta de regularidade e de diversidade da oferta, que são os fatores fundamentais de uma política cultural capaz de fomentar o gosto pela frequência das salas de espetáculos, a resistência ao declínio, para muitos fatal, das audiências. Estou entre os que não acreditam nessa fatalidade! Vou bem perto, ao Porto,ao centro da cidade, buscar exemplos que provem o contrário; o do Cinema Trindade e neste final de 2022, o do mítico Cinema Batalha renascido. O futuro do Batalha está apenas a começar, mas não o do Cinema Trindade, que, com duas excelentes salas, de dimensão média, vem apresentando, há anos, uma programação variada e de qualidade. Tomo, para exemplificar, a 5ª feira, 29 de dezembro, com sete filmes em exibição, nas duas salas, em diferentes horários: “Os Fabelmans” de Spielberg, os filmes portugueses “O Natal de Bruno Aleixo”, e “Lobo e cão”, uma longa metragem premiada em Veneza (“Ossos e tudo”), a comédia “Ruído branco”, a evocação da Imperatriz Sissi em “Corsage” e o thriller sul-coreano “Decisão de partir”.
Agora que a pandemia o vai permitindo, tenho imenso prazer em voltar ao Trindade, descer a rua do Almada, em direção a Campanhã, e beber um chocolate quente no Guarani. Mas, como munícipe de Espinho, gostaria de alternar as visitas ao Porto com a ida, a pé, aos cinemas da terra. Um terço da programação cotidiana do Trindade já faria de Espinho cidade de cinema com futuro...Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-39750773636830422202022-08-10T06:52:00.003-07:002023-05-03T04:20:03.933-07:00CCP PREFÁCIO POSFÁCIOCONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS
ESPAÇO DE UTOPIA E EXPERIMENTAÇÃO
ÍNDICE
Prefácio - Daniel Bastos
Mensagem –José Cesário
Nota Introdutória
Origens e Evolução do 1º Conselho das Comunidades Portuguesas
O Conselho e o Congresso das Comunidades Portuguesas por caminhos paralelos
As minhas memórias do Conselho das Comunidades
Posfácio - Carlos Gonçalves
PREFÁCIO
Em Portugal, desde o início da década de 1980, as políticas da emigração estão acometidas ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, que, hoje, através da Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas (DGACCP) assegura a coordenação e execução da política de apoio a portugueses no estrangeiro e às comunidades portuguesas.
Ainda nessa época, durante o VI Governo Constitucional, surgiu a Secretaria de Estado das Comunidades, que atuando em princípio por delegação de competências do Ministro dos Negócios Estrangeiros tem procurado ao longo dos anos um reforço dos laços entre as comunidades portuguesas e a pátria de origem.
Este esforço e tomada de consciência sobre o papel dos emigrantes portugueses no desenvolvimento do país, impulsionou ainda no alvorecer dos anos 80, a formação do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Um órgão consultivo do Governo para as políticas relativas às comunidades portuguesas no estrangeiro, a quem está acometido, em geral, a emissão de pareceres, a produção de informações, a formulação de propostas e recomendações sobre as matérias que respeitem aos portugueses residentes no estrangeiro e ao desenvolvimento da presença portuguesa no mundo.
Nesse sentido, e enquanto estrutura que ao longo das quatro décadas de democracia, tem funcionado como um elo relevante de ligação entre o Governo e a Diáspora, em boa hora, que uma das grandes obreiras dos direitos dos emigrantes portugueses, Maria Manuela Aguiar, papel que desempenhou de modo dedicado tanto como Secretária do Estado das Comunidades Portuguesas, como deputada pela Emigração, decidiu dar à estampa esta obra sobre a fase primordial do Conselho das Comunidades Portuguesas.
Até porque, como já ressaltava a autora num artigo da primeira década do séc. XXI, intitulado “O Conselho das Comunidades e a Representação dos Emigrantes”, publicado na Revista Migrações, o CCP «tem um historial interessante, sobretudo no período em que vamos considerá-lo: o momento do seu nascimento, visto como acto de criação colectiva de uma instituição inteiramente nova, num diálogo entre parceiros, o Governo e os porta-vozes do movimento associativo. Um percurso, aliás, acidentado por bloqueios e hiatos de funcionamento, afrontamentos com o Governo, ou entre os seus próprios membros, processos e recursos judiciais...Em boa verdade, não deverá falar-se de um único “Conselho”, mas de vários, ou de várias “vidas” de uma mesma instituição».
É este percurso originário, com as suas vicissitudes e protagonistas, dos quais Maria Manuela Aguiar ocupa um lugar de destaque, que é revisitado nas páginas desta obra que constitui um exemplo de cidadania e de serviço público. Um livro reflexivo assente na noção do dever de memória, porquanto contribui amplamente para um conhecimento mais aprofundado sobre a génese, as etapas, os momentos e os contributos de um órgão que nas palavras abalizadas da autora tem como «vocação originária: ser uma "assembleia" verdadeiramente representativa e influente, o grande fórum da Diáspora e da emigração portuguesas».
Um livro que é igualmente um testemunho de compromisso incondicional com os emigrantes portugueses, os mais genuínos embaixadores da pátria de Camões, e concomitantemente de respeito pelo passado, de crença no presente e de esperança no futuro das Comunidades Portuguesas, a mais autêntica e consistente manifestação lusa além-fonteiras.
Neste ensejo, uma nota também de reconhecimento à Alma Letra, editora que empresta a sua chancela ao livro, e que ao longo dos anos mais recentes tem sido um espaço privilegiado para a publicação de obras de autores da Diáspora ou sobre temáticas ligadas às Comunidades Portuguesas.
E que no caso concreto deste novo livro, tem no mesmo, seguramente, um dos mais importantes contributos literários no campo da linha editorial que tem dinamizado com audácia.
Comungando do pensamento do escritor argentino Jorge Luís Borges, “o livro é a grande memória dos séculos... se os livros desaparecessem, desapareceria a história e, seguramente, o homem”, podemos assegurar que a memória e a história do Conselho das Comunidades Portuguesas ficam assim prodigamente enriquecidas e salvaguardas.
Fafe, 10 de agosto de 2022
Daniel Bastos
MENSAGEM
CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS, UM ÓRGÃO ESSENCIAL PARA O PODER POLÍTICO
Ao longo das minhas passagens pelo Governo da República e pelo próprio Parlamento, durante os últimos 22 anos, fui consolidando a ideia da imprescindibilidade do Conselho das Comunidades.
Não tenho hoje qualquer dúvida acerca da sua importância para quem desempenha funções legislativas ou executivas ligadas à definição das políticas de ligação às nossas numerosas Comunidades.
Independentemente de sermos governantes ou deputados, é fundamental dispormos de opiniões objetivas e diversificadas acerca do modo como são executadas as políticas dirigidas aos portugueses no estrangeiro, dos seus resultados e da própria definição prévia das mesmas.
A informação que circula através da nossa rede diplomática, sendo indispensável e, normalmente de grande qualidade, está longe de ser suficiente, devendo ser complementada dor outras fontes, tanto quanto possível ligadas diretamente às comunidades, às suas organizações, ao movimento associativo, às escolas, ao universo político local, aos meios culturais, em suma, a toda a constelação em que os portugueses se movem.
Claro que dispor de um órgão eleito, o CCP, constituído por dezenas de representantes diretos das mais diversas comunidades, é um privilégio que não podemos desperdiçar.
Poder-se-á discutir a essência deste órgão, a sua composição, o seu caráter mais representativo ou meramente consultivo, mas é difícil prescindir do seu papel e da sua ajuda.
Aliás, a propósito, não posso esquecer os contactos que tive, enquanto Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, com governantes de vários países, como a Alemanha, França, Cabo Verde, Canadá, entre outros, que sempre procuraram beber na experiência portuguesa os ensinamentos indispensáveis para porem de pé organismos mais ou menos idênticos.
Ao fim de todas estas últimas décadas, acho que o CCP ganhou o seu espaço próprio, sendo muito difícil prescindir da sua existência sempre que se pretende desenvolver políticas sérias e com resultados.
Claro que a sua organização poderá sempre ser repensada e melhorada, mas isso não deverá pôr em causa o próprio órgão.
O nosso desafio futuro é melhorá-lo e, para isso, cumpre discutir o seu caráter consultivo ou representativo, a sua relação com o governo e o parlamento, o estatuto dos seus membros, a sua articulação com a rede diplomática e com os conselhos consultivos das áreas consulares, a sua ligação ao movimento associativo e às redes de cultura, educação, solidariedade social e empresariais.
Será esse debate que se segue, num momento em que os níveis de participação política e cívica das nossas Comunidades aumentam de forma bem evidente.
José Cesário
NOTA INTRODUTÓRIA
1 -Para olhar o nascimento do “Conselho” à distância de 40 anos, privilegiarei a data da sua primeira reunião mundial, realizada em Lisboa, de 6 a 10 de abril de 1981, e não a da promulgação do diploma jurídico pelo qual foi criado (DL 373/80 de 12 de setembro), porque, na minha perspetiva, a lei se pode considerar uma declaração de intenções, uma esperançosa expetativa com futuro incerto, entregue ao poder fático da reunião constituinte. Crucial é o momento de passagem da esfera normativa do Direito à realidade da vida das pessoas ou das instituições, e no caso do CCP, esse trânsito foi muito além da boa aplicação diligente da lei.
Singularidade constituiu o facto de ser, à partida, uma lei a rever, para melhor se ajustar à vontade dos destinatários, um convite a que eles próprios a reformulassem, nela vertendo, porventura, outros conteúdos. É nessa procura de reconfiguração, no ponto de equilíbrio de vontades e estratégias que se corporiza o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Este segundo tempo foi, assim, o que contou mais. O Governo, na sua primeira consulta, convidou-os Conselheiros a uma livre ponderação de alternativas às linhas do modelo institucional para que apontava originariamente. Não colocou obstáculos a deslocar o seu centro de gravidade da interlocução da Diáspora para a da emigração recente, dando espaço ao debate dos problemas prementes do quotidiano da emigração mais recente. E com isso entrou o Conselho num domínio que, continuando a ser do reencontro pelo diálogo, não mais escaparia à turbulência e à confrontação, ao menos verbalmente violenta, que marcou, em Portugal, a segunda década de setenta e os primeiros anos de oitenta. Tempos ainda próximos da dinâmica e das contradições da revolução de 1974, que, já então, fazia numa via reformista, apoiada por larga maioria constitucional e popular, mas entre profundos conflitos sociais e choques político-partidários. Saindo da área da dominante cultural (com a sua facilidade de consensos naturais, já que a Cultura é sempre o máximo denominador comum), o CCP avançava em terreno aberto às arrebatadas pulsões, que agitavam a sociedade portuguesa, dentro e fora de fronteiras, por igual - quando não mais ainda em algumas das comunidades do estrangeiro do que no País. Naqueles poucos dias da Reunião Mundial do Palácio Foz, o Conselho mudaria de natureza, de vocação, de estilo, e consequentemente, de destino.
2 – O manifesto eleitoral da Aliança Democrática, em 1979, tratava com o mesmo relevo, mas em rubricas autónomas, a “Emigração”, com referência a políticas públicas de apoio social e jurídico aos emigrantes e seus descendentes, e as "Comunidades Portuguesas no Mundo", com ênfase colocada na preservação dos laços históricos e culturais ao País e na criação de um” Conselho das Comunidades Portuguesas no Mundo, onde estas se farão representar, e conceder-lhe-á um apoio amplo e constante".
No que concerne às políticas públicas para as migrações de saída e regresso apostava-se na continuação de esforços iniciados em 1974, visando, sobretudo, a melhoria de meios e a sua eficiência. No que respeita às "Comunidades" a principal promessa eleitoral era inovadora, encarava de frente uma das falhas ou lacunas mais extraordinárias que, bem vistas as coisas, a sociedades civil partilhava com o Estado (este na sua função supletiva): a inexistência de uma plataforma internacional de união entre os Portugueses do estrangeiro.
No panorama europeu, note-se, esta constatação convertia-nos em caso raror entre países de emigração, mesmo entre aqueles cuja tradição migratória se não pode, quantitativa e qualitativamente, comparar com o peso e significado da nossa. Em todos esses países encontramos, desde fins do século XIX, ou inícios do século passado, movimentos federativos das associações atuantes nas diversas regiões do mundo da sua imigração, maioritariamente oriundos da iniciativa privada, nalguns casos apoiados ou enquadrados num organismo de cúpula governamental. A lacuna é tanto mais de estranhar, quanto se sabe que a propensão associativa dos emigrantes portugueses é grande, nas várias latitudes e nas diversas épocas. Da parte do Estado, o descaso não poderá surpreender-nos, sabido que as primeiras medidas de apoio aos emigrantes datavam de meados do século passado e se limitavam ao acompanhamento da viagem de ida, em travessias transoceânicas realizadas em condições de grande risco, ficando, depois, os portugueses entregues a si próprios. Face a essa total e multissecular "ausência do Estado" nas comunidades da emigração, nasceu e cresceu, enraizado em fortes laços de entreajuda e solidariedades, um impressionante associativismo, no domínio social e cultural, que reflete formas de relação afetiva com a terra originária, de integração no país de acolhimento. Poucos foram, no passado, os governantes ou os académicos que se aperceberam da dimensão do fenómeno associativo, gerador de comunidades perenes. Os que se apontam como exceção (é o caso de Afonso Costa), atribuem-lhe um caráter fugaz ou transitório, identificando-o como forma de combater o sentimento de isolamento, a saudade por parte de uma emigração temporária. Porém, ao contrário do que previa (e queria) o Estado, grande número de indivíduos e famílias escolheram o não retorno, mantendo, de formas variáveis e tantas vezes duradouras, a vontade de pertença coletivamente expressa, dentro e no exterior do grupo nacional. Neste contexto, que apresenta traços comuns a outras emigrações, cumpre indagar quais os motivos, as circunstâncias, as eventuais especificidades que contiveram, então e ainda hoje, o nosso associativismo dentro dos limites de cada um dos países de destino, como que desconhecedores ou desinteressados da existência dos demais.
Poderemos, certamente, esperar de futuras investigações o aprofundamento da compreensão das caraterísticas do associativismo português fechado dentro de fronteiras, e das causas que porventura o condicionaram ou acantonaram. A larga predominância, ao longo de séculos, da emigração para o Brasil, (país imenso, um mundo em si, uma sociedade aberta e acolhedora, onde a língua e a cultura tornavam mais fácil as relações sociais e o enraizamento), surge como hipótese de trabalho. No Brasil se situam as mais grandiosas manifestações do espírito associativo português, em número e em dimensão sem paralelo em quaisquer outras comunidades - os "Gabinetes de Leitura", os Hospitais e os Lares das "Beneficências", os clubes sociais, as agremiações desportivas... Aí existe uma importante Federação das Associações Portuguesas e Luso-brasileiras, que representa as maiores instituições portuguesas no mundo. Todavia, nunca terá pretendido transpor as fronteiras do Brasil.
3 – Ao longo dos últimos dois séculos, registamos somente um conseguido ensaio de agregação das comunidades de língua e cultura portuguesas, promovido pela Sociedade de Geografia, sob a presidência do Prof Adriano Moreira, na década de sessenta do século passado. Com a exata compreensão da importância dos laços que a História tecera (não apenas a História do Império, em declínio, mas a do êxodo sem fim dos portugueses que consigo levaram e expandiram a fala e a Cultura em todo o planeta), tornou-se a única personalidade nacional que quis e soube pôr em andamento o ambicioso projeto de reunir em Congresso os representantes das comunidades de língua, cultura e afeto.
O primeiro Congresso teve Lisboa como palco, o segundo, Moçambique, o terceiro estava projetado para o Brasil. Seria, porém, adiado "sine die", porque o regime, que, de uma forma mais ou menos neutral, aceitara o avanço deste movimento da sociedade civil, se fechou, em definitivo, após a ascensão de Marcelo Caetano ao poder.
As atas, do 1º e do 2º Congresso, publicados pela Sociedade de Geografia, em seis volumes, documentam o espantoso e pioneiro trabalho levado a cabo. Ao lê-los, mais de meio século depois, fica a certeza de que não foram as últimas manifestações de saudosismo colonial, na sua 25ª hora, mas o prenúncio de uma CPLP ainda informe e distante - e não a que mornamente subsiste, no novo século, mas sim a que sonhou José Aparecido de Oliveira. Ao grande político brasileiro, como a Adriano Moreira, os meandros da Política e da História, não deram tempo de levar a obra por diante. E não houve, até hoje, quem a soubesse retomar com a mesma visão da lusofonia policêntrica e universalista.
4 - A revolução de 1974 tardou sete anos a convocar os expatriados ao diálogo e à cooperação global no Conselho da Comunidades Portuguesas. Desta feita, a iniciativa pertenceu ao Estado, e os representantes de organizações da “sociedade civil” foram chamados ao encontro com o Governo, num exercício de democracia, que revestiu a forma de proposta à coparticipação da definição das políticas para as comunidades do estrangeiro.
O Conselho foi, desde o início, concebido como instância consultiva do Governo da República e dos Governos Regionais, e como órgão representativo dos seus eleitores, dotado, consequentemente, do direito de iniciativa.
Comparando as iniciativas da Sociedade de Geografia e o CCP instituído pelo Governo da Aliança Democrática, poderemos concluir que coincidiam no objetivo fundamental de federalizar o movimento associativo das comunidades do estrangeiro, igualmente se aproximando no propósito de colocar o foco na área da Cultura e nos laços afetivos. Todavia, o momento político em que o diploma jurídico foi trabalhado, durante o VI Governo Constitucional, exigiu atenção a outros aspetos, que viriam a determinar o alargamento do Conselho à vertente sócio laboral das migrações. O facto de o Governo anterior, no último mês do seu mandato, ter posto em marcha a organização de um Congresso das Comunidades Portuguesas (ao abrigo do DL nº 462/79 de 30 de novembro), colocou o Governo da AD perante o dilema de cumprir o seu próprio programa ou de o compatibilizar com os objetivos de projeto alheio. Não foi, pois, surpreendente a decisão de propor à Assembleia da República a ratificação do diploma de 30 de novembro, com o propósito de deslocar o evento da esfera de influência presidencial para a do Executivo. O cancelamento dos preparativos do Congresso das Comunidades provocou fortes reações nas comunidades em áreas onde a oposição partidária ao Governo era mais forte. (caso, sobretudo, da França, onde o movimento associativo estava mais politizado) e terá tido no ambiente conturbado em que se gerou o CCP, e, de algum modo, também no modelo adotado, numa tentativa de conciliar o "Conselho de Diáspora", previsto no Programa Eleitoral da AD, e um "Conselho de Emigrantes" O articulado do Decreto-Lei nº 373/80 de 12 de setembro era suficientemente flexível para abarcar a problemática das migrações antigas e recentes, e o CCP encontraria a sua identidade, servindo ambas as vertentes.
O pedido de retificação da legislação do Congresso das Comunidades pelo Governo da AD e o atraso na publicação do diploma, que criava o CCP, por decisão do Presidente da República, implicaram o adiamento de ambos os eventos, no ano de 1980.
Seria, assim, VII Governo Constitucional, que, no começo do ano seguinte, dinamizou o processo de constituição das "Comissões de País", por áreas consulares, e, através delas, da eleição dos seus representantes à 1ª Reunião Mundial do CCP. Com base nas suas prioridades foram determinadas as reuniões temáticas (ou Secções, na terminologia adotada pelo CCP), onde seriam debatidos, em profundidade, os pareceres ou recomendações ao Governo, seguidamente submetidos a plenário em votação final. À lista de Secções resultantes dessa consulta, o Governo acrescentou uma Secção destinada à análise do articulado do Decreto-Lei nº 373/80, um espaço de diálogo em que as suas disposições podiam ser repensadas e reajustadas - como foram, e não de uma só vez, mas por consensos alcançados nas sucessivas etapas, em que se foi moldando a instituição.
5 - Houve, pois, a preocupação de delinear um diploma jurídico abrangente e flexível, que pudesse ser a plataforma jurídica onde os representantes das comunidades iriam protagonizar a aventura irrepetível de criar a instituição. Foi complexo e exigente o processo de procura e de consecução de consenso bastantes para a alicerçar, lançando pontes entre posições políticas extremadas e entre geografias e tipos de emigrações muito diversas, que se desconheciam e, por se ignorarem, se antagonizavam - a Europa contra o resto do mundo, migrações recentes contra Diáspora... mais os descontentes com o adiamento do 1º Congresso do Governo Pintasilgo e os simpatizantes do novo Governo Sá Carneiro. Por fim, numa mútua aceitação de opostos se sedimentou uma instituição abrangente e original.
O grupo de trabalho que preparou a legislação foi buscar inspiração a um modelo estrangeiro do único país onde funcionava, já com largos anos de existência, um órgão governamental de audição de emigrantes - a França, com o seu "Conseil Supérieur des Français de l' Étranger" (CSFE). Comparemos o CSFE com o CCP: um e o outro estavam sediados no Ministério dos Negócios Estrangeiro e eram presididos pelo Ministro. Neles tinham assente membros natos, membros eleitos por um colégio eleitoral associativo, e membros nomeados, em significativo número. No caso do CCP, estes últimos escolhidos numa lógica bastante mais restritiva dos poderes discricionários do Ministro, visto que os representantes sindicais e patronais eram os indicados pelas respetivas centrais e os peritos escolhidos pelo Governo constituíam um reduzido núcleo.
O Decreto-Lei nº 373/80, era, como disse, um documento sintético, assente numa arquitetura minimalista. Não especificava, por exemplo, os diferentes papéis de cada uma das três categorias referidas. Todavia, a sua prática foi invariável e não deu margem a dúvidas: os membros natos - Governo da República, Governos das Regiões Autónomas, Deputados - promoviam a audição dos eleitos. Face a face, em diálogo, estavam os detentores do poder público e os eleitos da “sociedade civil”, os delegados das Associações e os "Observadores" da Comunicação Social", (aceites como iguais, na sua veste representativa e consultiva).
Mais difícil de definir, antes de tudo por ser menos óbvia, numa leitura literal do diploma, era a função dos "membros nomeados" - representantes dos sindicatos e do patronato e especialistas convidados pelo governo. A chamada de centrais sindicais e associações patronais de cúpula, tanto podia significar a aposta numa instância tripartida de concertação, porventura inspirada na CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e Emprego, criada no ano anterior), ou num segundo patamar interno de auscultação, somando-se à vertente exterior e principal (a da Emigração e Diáspora), como remeter-se a uma função coadjuvante no debate (de suporte técnico e jurídico à formulação de Recomendações e Pareceres). Na realidade, foi este último perfil. mais discreto, o que prevaleceu. Os "delegados" dos parceiros sociais, (que o eram, na realidade, apesar do despacho de nomeação caber ao MNE), fizeram-se ouvir mais a esse nível, nos bastidores e nos "media" que lhes eram afetos - caso da CGTP/Intersindical, perante a mais discreta atuação da UGT e a invisibilidade quase total dos representantes das associações patronais.
"Conselheiros" eram, pois, os dirigentes associativos que integravam as "Comissões de País", e os "Observadores" da Comunicação Social. A presença dos "membros natos", não só nas sessões solenes de abertura e de encerramento, como em muitas das reuniões de trabalho, foi garantia de acessibilidade a parceiros de diálogo. E, por isso, paradoxalmente, o primeiro Conselho, seria, mais do que o segundo (1996/2021) um espaço de interlocução direta entre os Conselheiros e os responsáveis políticos. E quer o CCP "associativo", quer o "CCP refundado em 1996 se erguem sobre uma legitimidade democrática - naquele alicerçada no voto de um colégio eleitoral, formado por representantes do movimento associativo, neste em processo de sufrágio direto, secreto e universal dos portugueses pertencentes a um determinado universo, cuja dimensão foi variando - de princípio, coincidia com os cadernos de inscrição consular (mais de 2.000.000 de cidadãos nacionais), depois, viu-se circunscrito aos cadernos eleitorais dos círculos de emigração (então com pouco mais de 170.000 recenseados), e, em data mais recente, cresceu, de novo, enormemente, pela via do recenseamento automático dos expatriados detentores do cartão de cidadão (para cerca de 1.500.000 eleitores).
6 - Do ponto de vista de funcionamento do Conselho, comparando os dois modelos que se sucederam - o que constituía um fórum presidido pelo Ministro dos Negócios e o que atualmente forma um coletivo com presidência eletiva - constatamos que nas sessões em que o Governo está presente, continua a assumir protocolarmente a sua direção. A diferença reside no facto de essa presença quase se limitar às solenidades de abertura e encerramento dos trabalhos. A presença do Governo no 1º CCP responsabilizava-o na dação de respostas e justificações. No Conselho atual, converteu-se em ritual de boas-vindas e de despedida, libertando os governantes da pressão exercida numa relação direta, e, como temos visto, em alguns casos, até da necessidade de abordar a problemática contida nas Recomendações, que caem em semi- esquecimento. Para isso, também terá contribuído outro fator importante: uma menor mediatização, face àquela de que gozou o Conselho associativo. Nos meios de comunicação social, são menos as notícias sobre as reuniões, as propostas, a vida do CCP. Não se sabe se isso obedeceu, ao menos inicialmente, a uma estratégia governamental de acantonar o Conselho no mundo mediático da emigração, (menos incómoda, porque mais distante para o Poder), ou se é simples consequência do descaso dos próprios “media”.
Certo é que o CCP há muito deixou de ser um cenário privilegiado de confrontação, imagem de marca dos seus primeiros anos, que o prejudicou a ponto de ser a causa mais provável da sua extinção em 1990. Na sua segunda vida, o “Conselho” resultante da Lei nº 101/90 funcionou, essencialmente, a nível local. Seis anos depois, o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas José Lello relançou o Conselho, dando continuidade ao que tinham sido as suas formas de cooperação iniciais. Embora eleito por sufrágio direto e universal, o atual CCP acolhe uma plêiade de dirigentes associativos – e estranho seria que assim não fosse, pois é, em regra, através da atividade cívica e do voluntariado no interior das comunidades que os cidadãos ganham prestígio e notoriedade entre os seus pares. Esse é um dos fatores, que lhe permite manter o seu perfil e espírito original.
7 - No balanço de 40 anos de vida desta instituição, tão sólida na vontade coletiva de existir e nas solidariedades que dela emergiram, avulta, no lado mais negativo, uma certa desvalorização do seu trabalho pela falta de resposta, assaz frequente, das Recomendações, assim como a frequente omissão da consulta do Órgão nas matérias de relevo para os cidadãos emigrados e o futuro da Diáspora. Matérias que transcendem. largamente, o âmbito de uma Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas hoje, desprovida dos meios de que dispunha até à década de noventa do século passado: o Instituto de Apoio à Emigração e às Comunidades Portuguesas, (organismo dotado de autonomia administrativa e financeira, e de um escol de técnicos e especialistas, de dirigentes) e a Comissão Interministerial para a Emigração. à qual eram levadas as Recomendações dirigidas pelo Conselho a cada um dos departamentos da Administração Pública competentes na matéria.
Que futuro para o CCP? Autonomia face ao Executivo, e ligação preferencial ao Parlamento? Constitucionalização?
O poder discricionário do Governo no relacionamento com uma instituição dele dependente, marcou várias fases do seu percurso, chegando a impor-lhe uma quase “neutralização” entre 1988 e 1996, nos quase dez anos decorridos entre a última reunião do "Conselho associativo", em fins de 1987, e a primeira reunião do Conselho renascido no ano de 1997. Este longo hiato de constante invisibilidade, a nível global, não correspondeu, é certo, a inexistência jurídica da instituição, mas a incumprimento da legislação em vigor, (caso da não convocação das reuniões anuais, entre 1988 e 1991), ou uma nova arquitetura (a da Lei nº 101 /90), que se revelou, em larga medida, inexequível, num organismo fragmentado em colégios eleitorais.
No 40º ano da acidentada vida do Conselho das Comunidades Portuguesas, é hora de repensar as condições jurídicas e fáticas para o pleno aproveitamento do seu imenso potencial e de o reconhecer como a instituição que levou a democracia, ressurgida em 1974, às comunidades portuguesas no estrangeiro.
Nesta coletânea de alguns escritos sobre estes temas, deixamos factos e reflexões sobre a origem e a evolução dos mecanismos de representação de emigrantes em espaços transnacionais, o nosso e o de outros países, a par de uma visão pessoal ancorada no acompanhamento das suas vivências e metamorfoses, (como Presidente do CCP, na sua primeira fase e como Deputada da emigração, entre 1997 e 2005), à qual subjaz sempre a crença nas virtualidades da instituição, a par de algum ceticismo, que o passado justifica, quanto à capacidade de as projetar inteiramente no atual quadro da dependência governamental.
Foi esse moderado ceticismo que me levou a dar, na Assembleia da República um último contributo para a valorização do CCP, através da convocação pela Subcomissão das Comunidades Portuguesas, a que presidia, de uma audição em que foi aventada, por alguns dos mais prestigiados juristas portugueses, a consagração constitucional do CCP, a fim de garantir a sua autonomia, (com ou sem uma eventual transição para o órbita da Assembleia da República ou, em alternativa, para a Presidência do Conselho de Ministros).
Um passo em frente no trajeto para cumprir a sua vocação originária: ser uma assembleia verdadeiramente representativa e influente, o grande fórum da Diáspora e da emigração portuguesas
Maria Manuela Aguiar
Abril de 2021
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textos sem alteração:
Origens e Evolução do 1º Conselho das Comunidades Portuguesas
1981 Conselho e Congresso das Comunidades Portuguesas
As minhas memórias do Conselho das Comunidades Portuguesas
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POSFÁCIO
É, para todos, inquestionável que as Comunidades Portuguesas têm assumido um papel relevantíssimo na afirmação externa de Portugal tendo o seu contributo sido decisivo para a economia do país e dos seus territórios ao longo das últimas décadas.
De facto, é perfeitamente claro que as nossas comunidades residentes no estrangeiro, representam um capital humano, político, económico, social e cultural que importa, face aos enormes desafios da mundialização, valorizar, preservar e potenciar para bem de Portugal e dos portugueses.
Para isso, é determinante que estas assumam um papel mais ativo no plano dos direitos de cidadania e da participação política em Portugal, ganhando mais peso político na defesa daqueles que são os seus direitos legítimos.
Ou seja, as Comunidades Portuguesas precisam de ter voz. Mas, uma voz audível e influente, que consiga fazer-se ouvir nos diversos órgãos de soberania em Portugal, com tradução na definição de verdadeiras políticas para as Comunidades.
Ora, uma das vozes mais importantes desta parte de Portugal que se encontra repartida pelo Mundo, tem sido ao longo de várias décadas, o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP).
Como sabemos, o CCP é o órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à emigração e às comunidades portuguesas no estrangeiro e, ao longo da sua história, demonstrou ser fundamental na representação e na defesa das nossas comunidades, na definição de políticas para o sector e, no fundo, na relação entre Portugal e as suas gentes da diáspora.
Trata-se igualmente de um parceiro essencial para a identificação de problemas locais que afetam os portugueses no estrangeiro, fruto da proximidade dos nossos conselheiros às comunidades, completando, de forma perfeita, a informação que chega aos diversos organismos oficiais e ao Governo.
Contudo, ao longo das suas quatro décadas de existência, o CCP, apesar de ter já conhecido vários modelos de organização e de representação, aspira ainda que seja aprovada uma formulação legislativa que o torne mais atuante e ainda mais próximo das comunidades.
Mesmo assim, temos de concordar que a legislação que regula o seu funcionamento foi até evoluindo de forma positiva. Neste contexto, é importante lembrar que a base da sua representação passou do âmbito associativo para uma eleição por sufrágio universal e, hoje o CCP, no seguimento das propostas por mim apresentadas na Assembleia da República, indica para o Conselho Económico e Social, para o Conselho Nacional de Educação e para o Conselho de Opinião da RTP, os representantes das Comunidades Portuguesas.
Ao mesmo tempo, penso ser também oportuno relevar que, nas sucessivas alterações da legislação discutidas na Assembleia da República, houve sempre a necessidade de acrescentar propostas no sentido de reforçar a dignidade e a representatividade do órgão.
Infelizmente, apesar destas alterações, o CCP tem ainda um evidente défice de reconhecimento por parte das instituições políticas que com ele devem colaborar, tal como previsto pela própria legislação.
Face a esta realidade, o CCP tem, dentro daquilo que lhe tem sido possível realizar, desempenhado um papel muito importante junto das Comunidades Portuguesas, trabalho que nem sempre tem sido convenientemente aproveitado por quem governa o nosso país.
Todavia, não posso deixar de afirmar que as opiniões e sugestões expressas pelo CCP, sempre foram muito relevantes para todos aqueles que se interessam verdadeiramente pelos temas da emigração.
Na verdade, o caracter consultivo deste órgão, não o impediu, sempre que foi chamado a colaborar, de ganhar um espaço próprio sem chocar com as competências dos órgãos de soberania e com o Governo a quem compete decidir em última instância sobre as políticas de emigração.
Tenho acompanhado desde a sua criação o CCP. Ao longo da sua existência tive a oportunidade de ser eleitor, de apoiar candidaturas, de contribuir para programas eleitorais e, mais tarde, já como Deputado à Assembleia da República ter subscrito várias propostas legislativas relativas ao CCP. Tive também oportunidade na qualidade de Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas de trabalhar muito de perto com os Conselheiros.
Por esta razão, entendo que tenho alguma legitimidade para afirmar que o balanço do trabalho realizado é muito positivo.
Esta minha opinião é, naturalmente, sustentada pelo facto do CCP ter assumido um papel determinante na discussão de temas cruciais para os portugueses que vivem no estrangeiro, como é o caso do ensino de português, a participação cívica e política ou as questões relativas à qualidade e funcionamento da nossa rede Consular.
Convém também referir que os Conselheiros das Comunidades Portuguesas são os eleitos de proximidade desse Portugal espalhado pelo mundo. Eles são a voz de muitas das nossas comunidades e lideram muitas das iniciativas de expressão local quer seja por país ou por área Consular.
São eles, através do conhecimento que possuem da realidade de vida destes portugueses, que dão consequência ao que entendo ser o principal propósito da ação política, que é o de resolver os problemas das pessoas.
Num momento histórico para o CCP, que está a celebrar quatro décadas de trabalho, importa agora pensar no futuro e garantir que, este órgão essencial para Portugal, possa ter condições para melhorar a sua organização, para garantir a prossecução dos seus objetivos e para que seja devidamente reconhecido pelos organismos com os quais deve articular a sua ação.
É para mim claro que devemos todos trabalhar para que este órgão possa assumir em Portugal, o mesmo plano de intervenção que órgãos similares já conquistaram noutros países.
A criação do CCP foi no fundo o reconhecimento oficial de que havia um outro Portugal composto por gentes que emigraram para as várias regiões do mundo.
O reconhecimento também que era necessário dar voz a essas comunidades no sentido de acolher sugestões, propostas ou reivindicações e permitir-lhes assim a sua participação na definição das políticas para esta área da governação.
Na minha opinião, foi o reconhecimento da verdadeira realidade do país.
Uma realidade que o Conselho das Comunidades Portuguesas representa.
Paris, 1 de agosto de 2022
Carlos Gonçalves
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O lançamento do Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer se deu, efetivamente, na sessão de apresentação do livro: “Sem o Direito Fundamental de Voltar pra casa” – MARIA ARCHER Uma Jornalista Portuguesa no Exílio, de autoria de Elisabeth Battista, dia 11 de outubro de 2019. O anúncio da sua criação se deu durante nas comemorações Luso Brasileiras, no tradicional Clube dos Fenianos Portuenses, a 10 de maio de 2019.
O CÍRCULO DE CULTURAS LUSÓFONAS MARIA ARCHER
A MODERNIDADE DE MARIA ARCHER
Maria Manuela Aguiar
O “Círculo Maria Archer” participa, juntamente com a Associação Mulher Migrante - AMM, numa primeira jornada de homenagem à Drª Rita Gomes, neste mês de outubro, mês do seu nascimento, em que, todos os anos, procuraremos lembrá-la, de forma especial.
Faz todo o sentido associá-la à evocação de Maria Emília Archer Eyrolles Baltazar Moreira, de quem era prima, com quem conviveu desde a infância, e a quem tanto admirava. Temos a certeza de que, se hoje estivesse entre nós, participaria, ativamente, com o maior entusiasmo, no lançamento deste Círculo e, tal como outros membros da família, veria na sua expansão uma caminhada para o futuro em que as crenças e as causas, o nome e a memória de Maria Archer estarão sempre presentes. Nos últimos anos da presidência de Rita Gomes na AMM, foram diversas as iniciativas focadas em Maria Archer. Gostaria de as recordar como acções que lhe foram, ou, se me permitem falar no plural, nos foram, especialmente gratas: uma primeira no contexto do Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas da Diáspora, em Novembro de 2011, congresso em que pretendemos reavaliar a realidade da emigração no feminino, traçando, por um lado, as linhas de evolução de mais de um século de êxodo migratório, com significativa
componente feminina, e particular enfoque numa área em que têm estado, pelo menos, tão atuantes como os homens: o domínio da Cultura e do ensino da Língua. Maria Archer foi, então, homenageada, a par de Maria Lamas, em intervenções do Reitor Salvato Trigo, da Dr.ª Olga Archer Moreira, da Dra. Dina Botelho e da Profa. Elisabeth Battista. Voltou a ser figura de cartaz na comemoração do Dia Internacional da Mulher, em março de 2012, na Biblioteca José Marmelo e Silva, em Espinho, onde a principal oradora foi Olga Archer Moreira, sua sobrinha neta. O programa incluiu uma “entrevista imaginária” com a grande escritora e cidadã, representada por jovens das Escolas da cidade, que deu ao evento um toque afetivo e pedagógico. A “entrevista imaginária” seria posteriormente encenada em diversas escolas, para levar a públicos jovens o exemplo de vida de uma grande Mulher de Letras, capaz, igualmente, de ação concreta.
Nesse ano, em Lisboa, no Teatro Nacional da Trindade, a força das suas convicções e ideais foi, novamente, saudada em sucessivas intervenções sobre o seu trajeto e a sua obra, por muitas pessoas que com ela conviveram de perto, como seu sobrinho dileto, o Prof. Fernando de Pádua, que encerrou a sessão, prestando-lhe um vibrante tributo, e o Presidente Mário Soares, símbolo da luta vitoriosa pelo Portugal em liberdade, em que ela se empenhou, de alma e coração.
Os múltiplos contributos estão publicados, numa das mais belas edições da AMM, coordenada por Rita Gomes e Olga Archer Moreira.
Em 2013, foi relembrada, numa apresentação das publicações da “Mulher Migrante”, realizada no Palácio das Necessidades e, em 2014, a Associação organizou juntamente com a Fundação Prof. Fernando de Pádua, um colóquio, a anteceder o lançamento da publicação de Elisabeth Battista “O legado de uma escritora viajante”. E tem permanecido, nos últimos anos, na agenda da “Mulher Migrante” - no Dia Internacional da Mulher, nos colóquios de Monção, (com repetidas encenações da “Entrevista Imaginária”, sempre protagonizadas por estudantes das Escolas locais), e no Dia da Comunidade Luso-brasileira, desde 2017, tendo este ano sido o Círculo Maria Archer apresentado formalmente, no âmbito dessas comemorações.
Hoje, para o lançamento do último livro de Elisabeth Battista: “Sem o direito de voltar a casa” Maria Archer - uma jornalista portuguesa no exílio”, estamos reunidos, na esplêndida da Casa da Beira Alta, nossa muito acolhedora anfitriã, na pessoa do seu presidente, Dr. Afonso Costa. É uma segunda parceria da AMM e do “Círculo”, que, esperamos, se repita muitas vezes, na prossecução dos objetivos comuns, em torno da personalidade inspiradora de Maria Archer, cuja vasta e multifacetada obra convida a estudo e a debate e cujo exemplo de inconformismo convoca à militância cidadã.
Temos, entre nós, e devemos sublinhar o facto, a maior especialista no seu percurso literário, a Professora Doutora Elisabeth Battista, que todos queremos ouvir, quanto antes, pelo que direi, agora, apenas umas breves palavras. Primeiramente, para lhe agradecer a esplêndida oportunidade que oferece ao Circulo Maria Archer de dar o melhor dos inícios a um roteiro de reflexão e debate, ao escolhê-lo, para organizar, no Porto, a divulgação de mais um notável trabalho científico sobre a insigne Autora, nomeadamente sobre o seu trilho jornalístico no exílio brasileiro, que, ao contrário dos livros, (ainda que na quase totalidade esgotados) é praticamente desconhecido.
A esse agradecimento juntamos um convite, que, sabemos, será aceite, para se tornar associada do Círculo, alargando o seu espaço às fronteiras do Brasil.
Limitar-me-ei, pois, a sumariar as principais razões que nos levam a fazer de Maria Archer uma companheira de jornadas, de diálogos sobre as temáticas de género, de valorização da vivência democrática, de defesa da Igualdade e aproximação dos povos, muito em particular os do universo da lusofonia e suas Diásporas. Da Diáspora Portuguesa e do mundo plural da Lusofonia ela é um nome maior, como intelectual, jornalista e romancista, e como precursora na observação e registo, em preciosos textos,
sobre os usos e costumes das gentes com as quais, por largas décadas, tanto gostou de conviver, em Moçambique, na Guiné-Bissau, em Angola, (nos anos de juventude acompanhando os pais Anexos 192 e, depois, o marido), e, já sexagenária, no solitário exílio brasileiro de mais de duas décadas. Mulher de imensa cultura e inteligência, sempre atenta ao que acontecia em seu redor, fora como dentro do próprio país, com inteira compreensão das pessoas, dos ambientes, dos meios sociais, traduziu a experiência vivida em inúmeros escritos de incomensurável valor literário e de enorme interesse etnológico, sociológico e político. Assim se converteu em testemunha rara, em memória crítica de um tempo português, opressivo e cinzento, pautado por preconceitos e discriminações, por regras de jogo viciadas, que ela pôs a nu, frontalmente, sem contemplações e sem temor. Ninguém, como ela, retratou o quotidiano desse Portugal do “Estado Novo”, estagnado e anacrónico, avesso a qualquer forma de progresso social, em que as mulheres, em particular, se encontravam dominadas pela força das leis, pelo cerco das mentalidades, pela censura dos costumes, depois de terem sido deformadas pela educação, pela entronização rígida dos papéis de género dentro da famílias, numa sociedade fechada ao curso da História, que ia acontecendo na Europa e por esse mundo fora.
A mais feminista das escritoras portuguesas, nascida no último ano de oitocentos, era demasiado jovem para poder ter feito parte dos movimentos revolucionários e feministas do princípio do século XX, mas viria a ser uma das poucas que, no período de declínio desses movimentos (com o desaparecimento de uma geração memorável), prosseguiu a seu jeito, incessante e solitariamente, a mesma luta contra o obscurantismo, que condenava a metade feminina de Portugal à subserviência, ao enclausuramento doméstico e à incultura... A escrita foi para ela uma arma de combate político. Segundo Artur Portela, “a sua pena parece por vezes uma metralhadora de fogo rasante”. Mulher livre num país ainda sem liberdade, pagou pela coragem de ser assim um preço muito alto. Viu os seus livros, que atingiam, recordes de popularidade e de vendas, apreendidos, os jornais onde trabalhava ameaçados de encerramento. Foi obrigada a partir, mas a sanha vingativa da Ditadura não se satisfez com o seu desterro - ela foi “deliberadamente apagada da História”, como escreve Maria Teresa Horta no prefácio da reedição de “Ela era apenas Mulher”.
O Círculo Maria Archer surge, em pleno século XXI, para combater esse ato persecutório, consumado há décadas, Tem por assumida finalidade recolocar o nome de Maria Archer no lugar vazio que é seu na história da nossa Literatura e do feminismo português, e, também, na história do pioneirismo na construção de pontes entre as culturas lusófonas. Revisitar a obra desta Mulher de Letras, através da divulgação e do debate dos seus escritos, visa desocultar o passado, lançar luz sobre a realidade insuficientemente analisada e realçada da sociedade portuguesa de 40 e 50, e fazer futuro com a modernidade do seu pensamento e das prioridades da sua luta cívica e cultural. O CMA pretende, afinal, sobretudo, assegurar uma segunda vida a Maria Archer, projecto perfeitamente possível, porque, como dizia Pascoaes, existir não é pensar, é ser lembrado”. Neste projeto todos os presentes estão convidados a participar!
1º CICLO DE COLÓQUIOS
MIGRAÇÕES - DO VAIVÉM DE VIDAS FICARAM HISTÓRIAS
O “Círculo Maria Archer”, em parceria com a “Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade” (AMM), promove um ciclo de três colóquios sobre a temática das migrações portuguesas, vistas através da Literatura. É um convite à leitura coletiva da obra ímpar de Júlia Nery e à reflexão sobre questões que foram, igualmente, centrais no percurso e na escrita de Maria Archer, na sua visão do mundo lusófono e do espaço que as mulheres nele ocupam, ou devem e podem ocupar. No ciclo de colóquios, por zoom, sobre os livros “Ei-los que partem”, “Pouca terra... pouca terra” e “Da Índia, com Amor”, se começa por abordar a problemática da chamada “nova emigração” – a partida de jovens profissionais altamente qualificados, a perda de “talentos” –, para lançar, seguidamente, um olhar retrospetivo sobre a emigração tradicional –
que, ao longo de séculos, despovoou o mundo rural, no continente e nas ilhas do Atlântico – e sobre o fenómeno da Expansão, determinante do êxodo sem fim, que deu origem às comunidades de cultura portuguesa e à “Diáspora”. Todas as sessões contam com a participação da Autora Júlia Néry e constituem, assim, momentos privilegiados de diálogo com ela. Programa do 1º Ciclo de Colóquios Migrações - do Vaivém de Vidas Ficaram Histórias
Sábado, 24 de abril, 2021 17.00 -18.00
“EI-LOS QUE PARTEM”
Apresentação de Aida Baptista, seguida de debate moderado por Maria Manuela Aguiar
Sábado, 22 de maio, 2020 às 17.00-18.00
“POUCA TERRA... POUCA TERRA”
Apresentação de José Manuel da Costa Esteves, seguida de debate moderado por Graça Guedes, moderado por Graça Sousa Guedes.
Sábado, 12 de junho de 2021, às 17.00 - 18.00
“DA ÍNDIA COM AMOR”
Apresentação de Aida Baptista, seguida de debate moderado por Ivone Ferreira Com esta iniciativa, o “Círculo Maria Archer”, coordenado por Maria Manuela Aguiar, se associa às comemorações do 25º aniversário de vida ativa da AMM, presidida por Graça Guedes, e presta homenagem à sua fundadora, Rita Gomes.
2º CICLO DE COLÓQUIOS ERA UMA VEZ...
O Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer vai organizar, dentro da temática “Literatura e Migrações”, um ciclo de colóquios sobre o conto infantil, em que procura divulgar obras de autores da Lusofonia, de dentro e de fora de Portugal. É uma forma de homenagear Maria Archer, na sua faceta de grande contadora de histórias, oralmente, com sabemos pelo testemunha de sobrinhos e primos, e, também, através de uma ou outra incursão na literatura infantil e juvenil – como tantos outros escritores, Anexos 196 jornalistas e professores, em que se incluem Ana de Castro Osório, Natália Correia, Sophia de Mello Breyner, Érico Veríssimo, Luís Sepúlveda, Rosa Montero ou Vargas Llosa. Em Julho de 2021 realizam-se dois colóquios, no dia 17, a partir da Galiza, com Adela Figueiroa Panisse, professora universitária, escritora e poetisa, e no dia 26 de julho, do Canadá, com Manuela Marujo, Professora da Universidade de Toronto, celebrando “O Dia dos Avós”.
‘ERA UMA VEZ...’ - Ciclo de Colóquios sobre o Conto Infantil
Segunda feira, dia 26 de julho
2º Colóquio sobre o Conto Infantil, no dia dedicado aos Avós. Manuela Marujo apresenta o seu livro “A primeira vez que eu vi neve” – um retorno ao mundo das crianças inspirada na sua própria infância.
Manuela Marujo é professora emérita da Universidade de Toronto, onde, durante muito anos, dirigiu o Departamento de Espanhol e Português. Para além da sua faceta académica, é uma personalidade marcante na comunidade portuguesa de Toronto e no universo da nossa Diáspora, Co-fundadora dos movimentos internacionais designados
por “A vez e a voz das Mulheres” e “A voz dos Avós”, com ela poderemos abordar o significado da sua narrativa, o que a levou a escreve-la, e, também, a sua visão e experiência de diálogo intergeracional num contexto migratório.
ERA UMA VEZ...
3º Colóquio sobre o conto infantil., 3 de dezembro, 18.00 19.00
O AVENTUREIRO GANSO-PATOLA DO CABO AFRICANO”.de Ester de Sousa e Sá.
A apresentação será feita pelo Dr. José Vaz, historiador, cronista e autor de contos infantis, com muitos dos seus livros incluídos no Plano Nacional de Leitura.
. 3º CICLO DE COLÓQUIOS AS LETRAS NA DIÁSPORA
10 de julho de 2021, 18-00-19.00
Homenagem d' Álém mar ao Prof. Mayonne Dias
Promovidos pelo CCLMA, com o título As Letras na Diáspora, realizou-se uma 1ª sessão de homenagem a um grande escritor e professor português da Califórnia e um gentleman – o mais britânico dos portugueses. O 1º homem a ser homenageado pelo Círculo...
Homenagem ao Professor Eduardo Mayonne Dias (1927-2021), que recentemente nos deixou, silenciando-se uma das mais importantes vozes da Língua Portuguesa na Diáspora Americana. Será oradora a Professora Doutora Rosa Simas, da Universidade dos Açores, cuja vida académica ficou indelevelmente marcada por este docente, quando teve o privilégio de ser sua aluna na Universidade da Califórnia, Los Angeles e Santa Bárbara.
COLÓQUIO INTERNACIONAL – MARIA ARCHER: REFLEXOS E REFLEXÕES
Biblioteca Nacional, 24 de Janeiro - 09:30 - 17:30
Homenagem a Maria Archer nos 40 anos de sua morte
A escritora portuguesa Maria Archer (1899-1982) é homenageada neste Colóquio Internacional que conta com reputadas/os estudiosas/os da sua vida e obra, investigadores de universidades portuguesas, brasileiras, espanholas, francesas e norte-americanas. O encontro com entrada livre, pode ser assistido presencialmente no Auditório da Biblioteca Nacional de Portugal em Lisboa ou via online através da plataforma Zoom. Inscreve-se no projeto internacional Escritoras portuguesas no tempo da Ditadura Militar e do Estado Novo em Portugal, África, Ásia e países de emigração, uma parceria entre o IELT - Instituto de Estudos de Literatura e Tradição, as Faces de Eva (CICS.NOVA) e o Centre de Recherches Interdisciplinaires sur le Monde Lusophone (CRILUS - Études Romanes) da Université Paris Nanterre.
SESSÃO DE ABERTURA
(09h15 - 10h30)
• Inês Cordeiro (Diretora-Geral Biblioteca Nacional – a confirmar) • Teresa Araújo (IELT) • Graça Dos Santos (CRILUS) Anexos 201 • José Manuel da Costa Esteves (Cátedra Lindley Cintra) • Dalila Cerejo (CICS NOVA) • Isabel Henriques de Jesus (FACES DE EVA) • Teresa Sousa de Almeida (IELT) • Maria Manuela Aguiar (CCLMA)
PAUSA
(10h30 - 10h50)
CONFERÊNCIA 1 (10h50 - 11h50) - Moderadora Zamira Assis
.Olga Archer Moreira (presencial) Só quero um futuro
2. (11:05/11:20) Márcio Matiassi Cantarin (UTF-PR) (online) Maria Archer: autora e personagens em busca de um quarto só para si
3. (11:20/11:35) Gemma Nadal (I. E.C. Barcelona) (presencial) Estratégias de subversão das personagens femininas de ‘Ela é apenas mulher’ de Maria Archer
4. (11:35/11:50) Maria Izilda Matos (PUC-SP) (presencial/online?) Maria Archer e seus escritos: lutas e resistências no exílio em São Paulo
DEBATE (12:05/12:20)
ALMOÇO (12h20 - 14h00)
CONFERÊNCIA 2 (14h00 - 15h00) Moderadora Zília Osório de Castro
5. (14:00/14:15) Ana Paula Ferreira (UMN) (online) As razões anti-coloniais de Maria Archer (1935-1963)
6. (14:15/14:30) Elisabeth Battista (UNEMAT) (online) Musa entre medusas. Maria Archer e a partilha do sensível.
7. (14:30/14:45) Sílvia Espírito Santo (UAL) (presencial) A paisagem colonial na vida e obra de Maria Archer (1899- 1982)
8. (14:45/15:00) Inocência Mata (FLUL) (presencial) “A pena a serviço da sensibilidade” imperial: o lugar de Maria Archer na literatura colonial (provisório
) DEBATE (15h00/15h20)
CONFERÊNCIA 3 (15h20 - 15h50) Moderadora Ana Rosa Mota
9. (15:50/16:05) Helena Pereira de Melo (NOVA.FD) (presencial) A tentativa de alteração do direito civil desigualitário através da literatura em Maria Archer
10.(16:05/16:20) Zamira Assis (NOVA.FCSH) (presencial) (a confirmar)
DEBATE (16h20/16h30)
INTERVALO (16h30/16h40)
APRESENTAÇÃO DO PROJETO “Escritoras portuguesas no tempo da Ditadura Militar e do Estado Novo em Portugal, África, Ásia e países de emigração“ (16h40/17h30) • Teresa Almeida/ Isabel Henriques de Jesus/ Raquel Sabino APRESENTAÇÃO DO LIVRO Women writing portuguese colonialism in Africa, de Ana Paula Ferreira (17H30/18h00)
COMISSÃO ORGANIZADORA
• Ana Mota • Isabel Henriques de Jesus • Maria do Céu Borrêcho • Mariana Oliveira Rodrigues • Patrícia Anzini • Raquel Sabino • Teresa Sousa de Almeida • Zamira de Assis COMISSÃO CIENTÍFICA
• Ana Paiva Morais • Gonçalo Plácido Cordeiro • Graça Dos Santos • Helena Pereira de Melo • Isabel Freire • Isabel Henriques de Jesus • José Manuel da Costa Esteves • Maria Manuela Aguiar • Patrícia Anzini • Teresa Araújo • Teresa Sousa de Almeida • Zamira de Assis • Zília Osório de Castro Promotores: Biblioteca Nacional de Portugal/ Lisboa/ Projeto internacional Escritoras Portuguesas no Tempo da Ditadura e do Estado Novo em Portugal, Brasil, África, Ásia e países de emigração/ IELT - Instituto de Estudos de Literatura e Tradição/ Faces de Eva (CICS.NOVA)/ Centre de Recherches Interdisciplinaires sur le Monde Lusophone (CRILUS - Études Romanes) da Université Paris Nanterre
COLÓQUIO INTERNACIONAL, 22 de fevereiro de 2022
MARIA ARCHER E OUTRAS MULHERES DE REFERÊNCIA E DE iRREVERÊNCIA Maria Archer e Outras Mulheres de Referência e (Ir)reverência O Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer & Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa Universidade do Porto Comissão Organizadora Manuela Aguiar Nassalete Miranda Marinela
Freitas Lurdes Gonçalves
COMEMORAÇÕES DE HOMENAGEM A MARIA ARCHER NO PORTO 2022
SESSÃO DE ABERTURA
Conferência da Profª DEOLINDA ADÃO "Sussurro de vozes no silêncio - o caso de Maria Archer.", seguida de debate, moderado por Maria Manuela Aguiar
Inauguração da Exposição de pintura em homenagem a Maria Archer, comissariada por ESTER DE SOUSA E SÁ
CICLO DE COLÓQUIOS
MARIA ARCHER EU E ELAS – MULHERES QUE IRROMPERAM NO MUNDO DOS HOMENS
O Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer organizou quinzenalmente, de 2 de fevereiro a 31 de março, um ciclo de colóquios, no Museu de História Natural e da Ciência, da Universidade do Porto - UP, Galeria da Biodiversidade - Centro Ciência Viva Abertura
2 de fevereiro
GRAÇA GUEDES - A primeira Mulher Portuguesa doutora e Ciência do Desporto e professora catedrática neste domínio
16 de fevereiro
AGUSTINA NA 1ª PESSOA - Agustina Bessa Luís, na veste de primeira Diretora de um grande jornal diário nacional, comunicação de NASSALETE MIRANDA
9 de março
Dia Internacional da Mulher, em parceria com a Associação de Antigos Alunos do Liceu Rainha Santa Isabel.
AMÉLIA CAVALEIRO DE AZEVEDO – UMA DEMOCRATA ANTES E DEPOIS DE ABRIL
Apresentação de NASSALETE MIRANDA e MAXIMINA GIRÃO: Testemunhos AURORA PEREIRA, LEVI GUERRA, RUI AMARAL, AMÂNDIO DE AZEVEDO
16 de março,
Em dois colóquios sucessivos, foram lembradas mulheres portuguesas que, no século XX, se destacaram no combate pela liberdade, em tempo de ditadura: Maria Archer e Maria Lamas, e, seguidamente, Ruth Escobar.
16h00 – 17h00 | MARIA ARCHER E MARIA LAMAS, O PERCURSO DE DUAS MULHERES LUTADORAS
Maria Archer e Maria Lamas, nascidas em fins do século XIX, eram muito jovens quando a “Liga Republicana das Mulheres Portuguesas” foi criada, nas vésperas da Revolução de 1910, e o movimento feminista português atingiu o seu ponto alto, no período histórico da 1.ª República, mas estavam destinadas a continuá-lo, defendendo os mesmo ideais durante o chamado “Estado Novo”, com sacrifício das suas carreiras e da sua segurança. Eram mulheres independentes, que viviam do jornalismo, da escrita, e da escrita faziam arma de combate pela Liberdade. Ambas se viram forçadas a partir para o exílio, deixando-nos o seu exemplo de coerência e coragem e, também, obras intemporais de enorme valor literário, etnográfico e político. Será oradora a Presidente da Direção do Conselho Português para a Paz e Cooperação, ILDA FIGUEIREDO. 17h00 – 18h00 | TRIBUTO A RUTH ESCOBAR, A PORTUENSE QUE AJUDOU A MUDAR O BRASIL
A vida, a obra, a memória da atriz portuense RUTH ESCOBAR serão evocadas em comunicações de JOSÉ CALDAS, encenador/diretor teatral, de DANYEL GUERRA, crítico de cinema e MARIA AMNUELA AGUIAR, antiga Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas.
Nascida no Porto (Campanhã), Ruth Escobar (1935-2017) emigrou ainda adolescente para o Brasil, país onde se tornaria uma das grandes referências e protagonistas do teatro brasileiro, no último meio século. Seja como atriz, produtora, empresária, animadora sóciocultural, cidadã civicamente empenhada, Ruth Escobar recolhe o reconhecimento dos meios artísticos, culturais e políticos do Brasil. A realização deste tributo afetivo e afetuoso tem, assim, plena justificação, na sua cidade natal.
31 de março, 17-0019-00
SESSÃO DE ENCERRAMENTO
OLGA ARCHER MOREIRA - (Sobrinha neta de Maria Archer)
ISABEL HENRIQUES DE JESUS (U Nova- Faces de Eva) “De olhos bem abertos - Nótulas sobre Maria Archer, em Eu e Elas”
BLANCHE DE BONNEVAL (amiga de Maria Archer)
Moderadora: Maria Manuela Aguiar (CCLMA).
Intervenções de Ester de Sousa e Sá e dos artistas plásticos participantes na Exposição
Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-83899449814537949502022-04-14T04:36:00.002-07:002022-05-08T16:42:12.693-07:00O 10 DE JUNHO DE 1989EM NY - MINUTO 1.25
https://youtu.be/SOlzrp38mnU
Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-3393530914802019482022-04-08T15:33:00.000-07:002023-05-03T04:20:40.129-07:00Voto de Congratulação pelos 40 anos do Conselho das Comunidades Portuguesas Grupo Parlamentar do PSD apresenta Voto de Congratulação pelos 40 anos do Conselho das Comunidades Portuguesas
PROJETO DE VOTO N.º …. /XIV/1.ª DE CONGRATULAÇÃOPELO 40.º ANIVERSÁRIO DA CRIAÇÃO DO CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS Ao longo das últimas quatro décadas, o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) assumiu um papel central no plano da representação e da organização das comunidades portuguesas no estrangeiro. Embora a sua estrutura tenha evoluído profundamente, passando de um órgão representativo do movimento associativo para uma espécie de parlamento, com os seus membros eleitos diretamente pelos cidadãos eleitores, a verdade é que o CCP soube ser absolutamente central no domínio do debate das grandes questões que afetaram as nossas Comunidades.Faz assim pleno sentido, assinalar de forma especial, o momento em que, há 40 anos, por iniciativa de Manuela Aguiar, a então Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas do Governo liderado por Francisco Sá Carneiro, se realizou o Congresso que deu origem a este Conselho.Assim, a Assembleia da República, reunida em Sessão Plenária, assinala os 40 anos do Conselho das Comunidades Portuguesas, felicitando muito especialmente a Dra. Manuela Aguiar e todos os representantes das mais diversas Comunidades, que participaram na sua criação.
Palácio de São Bento, 23 de setembro de 2020
Carlos Alberto Gonçalves Deputado GP PSD - Círculo Eleitoral da Europa Vice-Presidente da Comissão deNegócios Estrangeiros e Comunidades PortuguesasMaria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-36118772344243879252022-04-08T15:23:00.003-07:002022-04-08T15:23:40.213-07:00ENTREVISTA A O MEU VELEIRO (sobre o meu tempo de Liceu)ANOS DE FREQUÊNCIA DO LICEU - Frequentei o Liceu em 1958/59 e 1959/60, nos últimos anos do ensino secundário, o 6º e o 7º, que então constituíam o "curso complementar do liceu". Foram dois anos apenas, mas decisivos pelo que aprendi como jovem na transição para a idade adulta, e não só, mas também como estudante..
O QUE REPRESENTOU PARA SI TER FREQUENTADO ESTE ESTABELECIMENTO DE ENSINO - Depois de sete anos no Colégio do Sardão, a passagem para o ensino público assumiu, no meu caso, um significado muito grande, por se tratar de uma escolha pessoal contra a vontade da família inteira. Uma "ousadia", um desafio! Era aluna de "quadro de honra" num estabelecimento prestigiado pelo nível pedagógico e pelos resultados globais obtidos, e ninguém parecia admitir que conseguisse manter o mesmo estatuto num liceu, fora daquele mundo fechado e protegido. Não acreditavam em mim e ainda menos acreditavam que pudesse continuar a ter acesso a igual qualidade de aprendizagem. Enganaram-se duplamente... Da minha parte, não havia certezas nem temores. Aos 16 anos, queria experimentar e tomar em mãos o meu futuro, com uma enorme curiosidade face ao desconhecido. Não tinha referências sobre o liceu, chegava, sem contacto prévio com professoras ou colegas, simplesmente, à escola secundária que englobava a área do Marquês de Pombal, onde os pais tinham arrendado um andar. A opção por aquela área não fora feita ao acaso - o prédio ficava a dois passos do Colégio da Paz, pertencente à mesma Ordem religiosa do Sardão. Aí matricularam minha irmã e esperavam persuadir-me a acompanha-la, mais tarde ou mais cedo... . Abandonava, assim, um meio onde era positivamente uma veterana, com fama de dinâmica participante nos campos de jogos e nas salas de aulas, deixava, na expressão que se popularizou, em dias recentes, a "zona de conforto" - migrava, embora para perto. geograficamente.
O LICEU MARCOU, DE ALGUMA FORMA A SUA VIDA? Sim, de uma forma evidente e definitiva. Na aventura da descoberta de mim própria naquele novo mundo, acabei por encontrar o que buscava - caminhei pelo meu pé, com a completa responsabilidade pela minha agenda, (a divisão das horas de estudo e de passeios, cinemas e outras diversões), acentuei o meu interesse por causas sociais, pelo feminismo, por modelos democráticos de progresso, que nos vinham da Europa, da Suécia, em particular. Lembro-me, por exemplo, da minha "cruzada" contra a pena de morte (vesti de luto aquando da execução de Chessman, nos EUA), e de ter trocado a leitura dos romances de George Elliot ou das irmãs Bronte por autores contemporâneos como José Marmelo e Silva, Albert Camus ou Virgil Gheorghiu. As professoras de Filosofia, de História, de Literatura abriram-me horizontes, em anos cruciais para a formação, como são os 16/18 anos. Vi-me numa comunidade humana coesa e amável. Estávamos em pleno Estado Novo, seria de esperar clivagens políticas, autoritarismo e outros tiques do regime. Não senti, de perto, nada disso. O à vontade no relacionamento entre alunas e professoras era a regra. Poucas vezes vi a Reitora, figura distante, mas serena. Tanto quanto me apercebi, deixava sempre avultar a influência e a personalidade das docentes. Nunca me senti objeto de rigores disciplinares ou de tentativas de manipulação ideológica, nem mesmo nas aulas de "organização política", onde me iniciei na abordagem ao mundo jurídico, ao Direito Constitucional e Administrativo. Era disciplina de que poucas gostavam e que eu apreciava justamente como antecâmara do curso que escolhera - não sem hesitações....
QUAIS AS RECORDAÇÕES MAIS SIGNIFICATIVAS QUE RETÉM?
O meu primeiro contacto com o Liceu foi através da secretaria. Estava muito indecisa entre a alínea de Direito e a de Letras (Germânicas). e mudei três vezes antes do início das aulas. Numa normal repartição pública, aparecer repetidamente a alterar a matrícula não me tornaria muito popular. Ali, sim! A funcionária a quem me dirigia, antes mesmo de eu expor o assunto, com um enorme sorriso cúmplice, exclamava: "Vem mudar de alínea, não é?".
Foi ela a primeira imagem da simpatia e compreensão da nova escola, que me abria as portas. Muitas outras se seguiriam, do primeiro ao último dia. ( devo acrescentar que ainda fiz uma última e final mudança de curso, muito saudada na secretaria - já com mais de três semanas de aulas decorridas...). Nas nostálgicas recordações da adolescência distingo sempre os dois tempos, o do "Sardão" e o do "Rainha Santa". Vivi, também, bons momentos no internato, com estimadas mestras e alegres colegas, mas envolvi-me, não poucas vezes, em conflitos e contestação - do sistema, das suas normas e condicionamentos, sobretudo. Não me dava bem com uma tentacular e rígida regulamentação de cada minuto do dia. Era rebelde em relação a tudo o que julgava errado ou opressivo...O Liceu foi sinónimo de liberdade, de fácil auto-disciplina, como seria, de seguida, a Faculdade de Direito de Coimbra. Todas as minhas expetativas foram excedidas, com melhores notas, e num clima de perfeita convivialidade. Liceu e cidade do Porto, o "dois em um", no mundo dos meus sonhos feito realidade! Acabei o curso com 18 valores, o que me valeu o "prémio nacional". Estávamos em 1960, ano das Comemorações do Infante D. Henrique (o príncipe nascido na Ribeira), pelo que a distinção me facultou uma viagem ao norte de África, oferecida pelo governo aos jovens premiados, para visitarem um roteiro de cidades históricas, como Ceuta, Tânger. e até a Alcácer Kibir, lugar de tragédia e berço do mito sebastianista. Nessa época, o Liceu estava instalado num casarão antigo, de bela traça, porém, em mau estado de conservação. Faltavam espaços, salas de aulas, até o ginásio fora sacrificado e, com ele, as aulas de educação física. Eu não tinha transportes diretos para as aulas, pelo que o meu exercício físico quotidiano consistia em fazer uns quilómetros em passo de corrida... Até isso era divertido! O ambiente humano compensava, largamente, a falta de condições materiais. E ali, o ensino público era tão bom ou melhor do que o melhor do privado. Penso sempre nas mestras e nas suas aulas com saudades - em especial, nas fascinantes lições de Filosofia da Dr.ª Assunção Carqueja, que eu nunca queria que acabassem, e as da Dr.ª Adelaide Aleixo, que nos levava consigo, através de milénios da História de povos e civilizações, pela força da sua palavra eloquente. Lembro-me, muito em especial, da primeira das suas aulas a que assisti. O ano letivo começara há já semanas, e eu acabava de trocar o Inglês pela História (ou seja, Letras por Direito...). Tinham-me dito que ela era muito severa e que implicava com quem chegasse, assim, extemporaneamente. Preparei-me para o pior. A Drª Adelaide falava, nessa manhã, da cultura grega, da estatuária, e eu ouvi-a, encantada, ainda que, prudentemente, na última fila... Era a mais idosa das nossas docentes, mas envelhecera bem. Muito bonita, cabelo todo branco, oradora enérgica e carismática. Parecia uma linda e sábia avó!. Como eu era a retardatária, olhou, com desusada frequência, para o meu lado, o que tanto podia ser bom como mau presságio. Na verdade, ali começaria uma verdadeira amizade de professora/aluna, quase avó/neta, ambas entusiastas das coisas da memória de feitos e de gentes.. . Amizade fácil de cimentar, também, com as outras professoras e com as companheiras de turma, em longas conversas, sobretudo com a Ana Luísa Janeiro, (com quem fiz um trabalho sobre as Descobertas no período Henriquino), ou com a Adília, que era a mais revolucionária - posição que eu ocupara no colégio e perdia para ela. Nos exames finais, a Ana Luisa como eu tivemos nota 20 a História. Fiquei encantada por nós, tanto como pela Drª Adelaide, a quem muito diretamente devíamos a proeza.A partir dos anos 60, os estudos, primeiro, e a profissão, depois, levaram-me para longe da minha cidade, do meu liceu e de quase todas as pessoas que tão positivamente me influenciaram nesses dois anos. A exceção foi a Drª Assunção Carqueja, que encontrava, às vezes, em Lisboa, acompanhando o marido, também meu amigo. Mantinha o brilho e entusiasmo da juventude, e nunca se esquecia de me oferecer os esplêndidos livros que escrevia em prosa ou verso!Não tenho fotografias de grupo, dentro do Liceu. Que pena! Mas havia outros pontos de encontro na cidade, um deles o Palácio de Cristal, os seus belos jardins. Aí, sim, foram tiradas fotos de bons momentos passados com as minhas colegas - retratos fieis da nossa alegria de viver e conviver.
Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-14657232189071705522022-04-08T15:13:00.002-07:002023-05-03T04:20:55.709-07:00ARTE EM SINTONIA Mutação das vidas que estamos a sofrer em sintonia com povos do mundo inteiro!.É um pesadelo...Olho para trás, apenas 3 semanas, e penso na última vez que estive num colóquio (no Dia da Mulher, em Gaia), num último programa de rádio (na cidade da Feira, sobre o mesmo tema) num último filme, já em auditório vazio, "Seberg contra todos os inimigos", num último jantar- concerto no casino de Espinho (Camané e Mário Laginha), no último artigo que escrevi para o jornal "Defesa de Espinho (que suspendeu sine die as edições, nas vésperas de celebrar 75 ou 80 anos - não sei bem, uma qualquer data especial), na última ida aos CTT, levantar a minha carta de condução, na última visita que recebi em casa, uma jovem prima e afilhada, com quem costumo ir ao futebol (outro prazer proibido), na última conversa na Galeria Zeller, onde deixei, mais ou menos assinalado, um quadro de colagens de Pomar, na última ida à agência Abreu, a pedir reserva para a viagem de Abril a Montreal, que ficou sem efeito, no último Expresso que comprei, numa estação de serviço, já higienizada por divisória de vidro entre empregado e público .As memórias têm, assim, a marca arrepiante de um "fim de mundo"...Tirando isto, o meu dia a dia é perfeito. Vivo muito bem comigo (e os meus 3 gatos) e tenho uma infinidade de coisas por fazer, e a fazer, com urgência. Não consigo dar conta de tanta coisa - a fotobiografia da miha mãe, apontamentos sobre a história da família, a busca cartas e fotos antigas, e a sua digitalização, a interminável, organização dos meus papéis (um caos!), a leitura de pilhas de livros adquiridos e ainda não lidos . À lista supra, poderia acrescentar uma última ida ao Cinema Trindade, na Rua do Almada, e, logo acima, na Rua José Falcão ao "Paraíso do Livro", o meu alfarrabista preferido.. Na verdade, avançaria muito mais depressa naquelas tarefas, se não fosse a tentação de seguir as apocalíticas emissões da CNN (até já o simpático Chris Coumo está infetado!) e de ver os filmes da Fox Crime, Midsomer Murders. Hinterland, Lewis, para além de "Governo-Sombra, Eixo do Mal, Circulatura do Quadrado,. O último apaga a luz, etc etc.. Distrações a mais!...A caminhada, também a faço ao telefone. Sempre que atendo uma chamada, aproveito para andar, de um lado para o outro. Com um primo, acabo de bater, há uns dias, um record pessoal - a conversa durou 3 horas e 18 minutos. Sem pausa!De princípio, preferia sair para o meu "footing" lá fora, mas senti-me angustiada pela imagem das ruas desertas. Prefiro a minha casa e o meu jardim, onde tudo ainda está como dantes. Ir às ruas é entrar na distopiaARTE EM SINTONIA Maria Manuela Aguiar <mariamanuelaaguiar@gmail.com>sábado, 20/03, 12:51 para mariamanuelabarbara133
INFORMATIVO: EVENTO DO DIA 28/09/2019
"ARTE EM SINTONIA" - CASA DOS AÇORES NORTE:
Nossos agradecimentos à Direcção da Casa dos Açores Norte por tornar possível a realização da Exposição "Arte em Sintonia" inaugurada, com grande sucesso, no dia 28 de Setembro último. Para atender ao convite feito pelo Exmo Sr. Dr. Ponciano Oliveira, Presidente da Casa dos Açores do Norte, recorremos a 21 artistas plásticos de excelência pessoal e profissional. A resposta positiva reuniu artistas de Portugal, Moldávia, França, Itália, Brasil. Com espaço de tempo pequeno, sugerimos o nome Arte em Sintonia, para rebater a ausência de regras, de tema, de estilos. A leitura não foi tão fácil, mas a qualidade das obras garantiu, harmonizou e deu certo. Convidados e expositores documentaram um agradável sentimento de bem estar, que envolveu a todos durante todo o tempo da inauguração na acolhedora sede da CAN.
Parte desse bem estar devemos à envolvente pessoa do Exmo. Sr. Dr. José Rebelo, Professor de História e ex-presidente da CAN, que presidiu a Mesa Diretora e fez a abertura do evento com ligeiro e rico discurso.
Na sequência, a nossa convidada especial, Dra. Maria Manuela Aguiar, fundadora da Associação da Mulher Migrante e ex-Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, foi muito aplaudida pelos convidados que ocuparam todas as cadeiras da Sala Nobre e ouviram atentamente o seu discurso muito bem documentado, com o tema "Em sintonia com a Diáspora Açoriana". Deixa sempre nos convidados a lembrança da sua boa energia e da generosa doação do seu conhecimento, um gosto de quero mais. O Director do Conselho Fiscal, Dr. Luiz Toste partilhou, com pergunta e lembranças e, a seguir, manteve conversação com a palestrante sobre o tema em pauta.
O ambiente agradável, a organização do evento por parte da CAN, contou com a providencial atenção da impecável vice-presidente da CAN, Dra. Filomena Alves. Só foi possível que tudo alcançasse tal qualidade, com a ajuda do Diretor da CAN Sr. Rui Silva. Marcou presença e colaborou para dar mais brilho ao evento, a Psicóloga Dra. Fátima Moreira. Não pode estar presente, por motivo de força maior, a Assistente Social da CAN, Dra. Mafalda Loureiro,que trabalhou intensamente durante todo o processo que antecedeu à inauguração. Mas o seu bom espírito está inserido em cada detalhe do evento.
Entre os demais convidados, fomos honrados com a presença do Exmo. Sr. Dr. Dr. Afonso Costa, Presidente da Casa da Beira Alta do Porto, onde somos associada. Registamos a presença do simpático casal associados da CAN, Sra. Margarida Cramez e Sr. Manuel Cramez.
A jovem Flautista Eunice Amorim, muito aplaudida, atendeu pedidos e fez breve continuidade.
O Porto d´Honra foi servido com muita elegância, com finos biscoitos agri-doces, bolo oferecido pelos artistas e um delicioso licor dos Açores.Nossa gratidão a todos pela confiança e respeito pela nossa singela missão de criar e produzir Arte, elemento tão importante para a evolução da nossa sociedadeMaria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-89192765303629476462022-03-30T07:53:00.003-07:002022-07-16T07:14:43.506-07:00COLÓQUIO MARIA ARCHER E OUTRAS MULHERES DE REFERÊNCIA E DE (IR)REVERÊNCIA CV'sOrganização: Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa (FLUP) e Círculo Maria Archer
Mesa 1 | 10h30 -12h30 Moderação: Rosa Simas
• MARIA LUISA MALATO (FLUP - ILC), “Catarina de Lencastre e o tema da guerra no limiar do século XIX”
Maria Luísa Malato é Professora Associada, com Agregação, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Com vários estudos sobre Utopia, Teatro e Retórica, a sua investigação debruça-se essencialmente sobre a literatura dos séculos XVIII e XIX. Tem Mestrado (1988, pela Universidade de Coimbra) Doutoramento e Agregação (1999 e 2007, pela Universidade do Porto) em Literatura Comparada e Estudos Românicos. Numa perspetiva comparatística, os seus trabalhos visam comprovar a necessidade de uma prática que alargue o corpus de análise às relações que a Literatura estabelece com a Filosofia, os textos impressos com os textos manuscritos, os autores canónicos com os "menores". Membro ativo do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e colaboradora do Instituto de Filosofia (UP) e Centro de Estudos de Teatro (UL), unidades financiadas pela FCT. Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Literatura Comparada (2013- 2018). Co-editora da Revista online de Filosofia e Literatura Pontes de Vista.
• CLAÚDIA PAZOS-ALONSO (Univ. Oxford - ILC), “Onde se lê ‘feminismo pioneiro’... leia-se Francisca Wood”
Cláudia Pazos-Alonso é professora de Estudos Portugueses e de Gênero, na Universidade de Oxford e na Fellow of Wadham College. Os seus interesses de pesquisa variam amplamente em literatura lusófona dos séculos XIX e XX. Atualmente é co-diretora de mestrado em Estudos da Mulher em Oxford e vice-presidente da Associação Internacional de Lusitanos. As principais publicações de livros incluem “Antigone Daughters? Gênero, Genealogia e Política de Autoria na Escrita de Mulheres Portuguesas do século XX” (2011, com Hilary Owen), “Imagens do Eu na Poesia de Florbela Espanca” (1997) e volumes co-editados, como “Reading Literature in Portuguese“, “Um Companheiro para a Literatura Portuguesa” (2009) e “Mais Perto do Coração Selvagem. Ensaios sobre Clarice Lispector” (2002). Juntamente com Fábio Mário da Silva, é responsável pelas recentes edições de Florbela Espanca (Estampa) e Judith Teixeira (Dom Quixote). Cláudia Pazos-Alonso acaba de publicar em Portugal o livro Anticlericalismo e feminismo na imprensa oitocentista. Os artigos de fundo de Francisca de Assis Martins Wood (2021, Edições Afrontamento).
• M. LUÍSA TABORDA (FLUP - ILC), “Ana Plácido e uma cela só para si”
Maria Luísa Taborda Santiago, licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestre e doutoranda em Estudos Literários Culturais e Interartísticos pela Universidade do Porto. Atualmente é colaboradora de um projeto de pesquisa Luso-Brasileiro que pretende publicar as obras completas da escritora portuguesa oitocentista Ana Plácido, objeto de estudo da sua tese de doutoramento. Trabalha com literatura brasileira e portuguesa e interessa-se particularmente pela escrita de autoria feminina, questões de género e poéticas e políticas do corpo.
• ANA COSTA LOPES (Univ. Católica-CEPCEP), “Elisa Curado: uma progressista em tempos de cólera”
Ana Costa-Lopes, Doutorada em Língua e Cultura Portuguesa pela Universidade Católica Portuguesa com Imagens da Mulher na Imprensa Feminina de Oitocentos, Tese publicada pela Quimera, Lisboa (2005) e Mestre em Estudos Luso-Asiáticos com a Tese Confluências e divergências culturais nas tradições contísticas portuguesa e chinesa, publicada pelas Universidades de Macau (2000) e Católica de Lisboa (2000). Investigadora do CECC e CEPCEP (Universidade Católica). Colaboradora do CLEPUL, Universidade de Lisboa com uma biografia sobre Elisa Curado (1858-1933) e, também, como Conselheira Científica (Portugal) da publicação das «Senhoras do Almanaque» do Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro. Autora de livros e artigos e de comunicações em congressos sobre a imprensa periódica feminina e história das mulheres; literatura tradicional; associações femininas.
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Mesa 2 | 14h30 - 16h00 Moderação: Maria de Lurdes Sampaio
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• ANA PAULA FERREIRA (Univ. Minnesota) - “Discurso imperialista e posicionamento anti-colonial: Maria Archer (1935-1963)”
Ana Paula Ferreira é Professora Titular de Estudos Portugueses na Universidade de Minnesota. Fez o doutoramento na New York University, sendo colega de Margarida Losa. A sua investigação tem-se centrado na ficção portuguesa contemporânea, com ênfase no neorealismo, em mulheres escritoras e feminismos, raça e colonialismo tardio, bem como seus efeitos e restos pós-coloniais. Entre as suas publicações em livro, A urgência de contar: contos de mulheres, anos 40 (2002), trouxe `a luz muitas das escritoras esquecidas do período do Estado Novo, entre elas Maria Archer. Desde meados da década de 1990 tem publicado estudos parciais dos romances de Lídia Jorge, editando o volume, Para um leitor ignorado: Ensaios sobre o O Vale da Paixão e outras ficções de Lídia Jorge (2009). Editou ainda, com Margarida Calafate Ribeiro, Fantasmas e fantasias imperiais no imaginário português contemporâneo (2003); e com Ana Luísa Amaral e Marilena Freitas, New Portuguese Letters to the World: International Reception (2015). O seu último livro, Women Writing Portuguese Colonialism in Africa (2020), traça a história da agência que várias mulheres escritoras tiveram para a produção simbólica e não só do colonialismo português na África, desde finais do século XIX `a segunda década do século XXI.
• ANA PAULA COUTINHO (FLUP - ILC), “Maria Archer: deslocação e (in) conveniência”
Ana Paula Coutinho é Professora Associada com Agregação do Departamento de Estudos Portugueses e Românicos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde tem lecionado sobretudo nas áreas da Literatura Comparada e dos Estudos Franceses. Doutorada em Literatura Comparada (1998) e com Agregação em Literaturas e Culturas Românicas (2010), sempre se dedicou à literatura contemporânea numa perspectiva comparatista, tendo nos últimos anos desenvolvido particular investigação no domínio das interculturalidades e das representações literárias e artísticas das migrações e do exílio. Foi Coordenadora Científica do Instituto de Literatura Comparada de Abril de 2015 até Janeiro de 2022. Coordena igualmente a base digital Ulyssei@s. Membro colaborador do CRIMIC (Université Paris IV), colabora ainda com o Programa Non-Lieux de l’Exil (Collège d’Études Mondiales – FMSH). É vice-presidente da Alliance Française do Porto. Dos livros publicados ou editados, destacam-se António Ramos Rosa. Mediação Crítica e Criação Poética (Quasi Edições, 2003. Prémio Ensaio Pen-Club); Lentes Bifocais – Representações literárias da Diáspora Portuguesa (Afrontamento, 2009), Passages et Naufrages migrants. Les fictions du détroit (com Maria de Fátima Outeirinho e José Domingues de Almeida), Paris, Harmattan, 2012; Nos & leurs Afriques. Images identitaires et regards croisés Constructions littéraires fictionnelles des identités africaines cinquante ans après les décolonisations (com Maria de Fátima Outeirinho e José Domingues de Almeida) Frankfurt, Berlin, Peter Lang, 2013.
ELISABETH BATTISTA (UNAMAT) Da dominação à resistência: percurso de Maria Archer
Elisabeth Battista é docente no Programa de Pós-graduação, Mestrado e Doutorado em Estudos Literários - PPGEL, da Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. Autora dos livros: MARIA ARCHER - O legado de uma escritora viajante, Editora Colibri, Lisboa, 2015; Sem o direito fundamental de voltar para casa? Maria Archer? Uma jornalista portuguesa no exílio, Editora Espaço Acadêmico, Goiãnia, 2019. Cultura e Literatura de Mato Grosso (organizado em parceria com Elizete Dall-Comune Hunhoff), Editora Espaço Acadêmico, Goiânia, GO, 2020; A Experiência Literária: Ensino e Leituras (organizado em parceria com Dagoberto Rosa de Jesus), Editora Espaço Acadêmico, Goiânia? GO, 2020. Possui quatro livros orgs; 40 capítulos de livros, 19 artigos publicados em periódicos; Pós-Doutorado na Universidade de Lisboa (2011-2012), e Pós-doutorado sênior pela Universidade de Aveiro (2018), no Centro de Línguas e Culturas. Integrou a Equipe do Programa Novos Talentos, CAPES/UNEMAT, Subprojeto: LINGUAGEM E TECNOLOGIARESSIGNIFICANDO A RELAÇÃO UNIVERSIDADE/ESCOLA; Fundadora do Centro de Pesquisa em Literatura - CEPLIT/UNEMAT (2007-2010); Diretora da UNEMAT Editora (2011); Editora da Revista ATHENA - periódico de alunos de Pós-graduação (atual); Editora da Revista de Estudos Acadêmicos do Curso de Letras (2002); Membro do Conselho Universitário - CONSUNI/UNEMAT (2011-2013); Membro do Conselho Regional por dois mandatos (2013- 2016); Presidiu o Conselho da Faculdade de Educação e Linguagem (2015-2018); Coordenadora da Pesquisa em Grupo: No Centro Oeste da margem: Cem Anos de relações entre Cultura e Literatura em Mato Grosso. (2013-2016); Editora do periódico Revista Ciência e Estudos Acadêmicos de Medicina da UNEMAT (2013-2018); Coordenou o Projeto de Extensão Revista Ciência e Estudos Acadêmicos de Medicina da UNEMAT; Formação: Licenciatura Plena em Letras - Português/Inglês (UNEMAT), Mestrado (FFLCH-USP - 2002) e Doutorado (FFLCH-USP - 2007), com a Tese: Entre Literatura e Imprensa: Percursos de Maria Archer no Brasil; Pós-Doutorado na Universidade de Lisboa (2011-2012), com Organização do Acervo Literário de Maria Archer, no Centro de Estudos Comparatistas, da Faculdade de Letras, da Universidade de Lisboa. Pós-doutorado Sênior pela Universidade de Aveiro, sob a supervisão de Maria Fernanda Brasete, Portugal (2018)
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Mesa 3 | 16h30 - 18h00
Moderação: Cláudia Pazos-Alonso
• ISABEL PIRES DE LIMA (FLUP - ILC), “Mulheres na Revolução: das Três Marias a
Agustina”
Professora Emérita da Universidade do Porto. Doutora Honoris Causa pela Universidade de Sófia.
Investigadora do Instituto de Literatutra Comparada Margarida Losa (I&D da FCT). Estudos em
Literatura Portuguesa e Comparada e em Interartes. Autora de As Máscaras do Desengano - para uma
leitura sociológica de ‘Os Maias’ de Eça de Queirós (1987), Trajectos -o Porto na memória naturalista (1989), Retratos
de Eça de Queirós (2000), Visualidades – A Paleta de Eça de Queirós (2008) e editora de Eça e "Os Maias"
cem anos depois (1990), Antero de Quental e o Destino de uma Geração (1993), Eça de Queirós / Paula Rego, O
Crime do Padre Amaro (2001), Vozes e Olhares no Feminino (2001), C. Castelo Branco / Paula Rego, Maria
Moisés (2005); co-editora de obras sobre Agustina Bessa-Luís, José Gomes Ferreira, Óscar Lopes,
Vergílio Ferreira. Centenas de artigos em revistas como Camões, Colóquio/Letras, Dedalus, Metamorfoses,
Portuguese Cultural Studies, Revista da Faculdade de Letras da UP, Semear, Trans-Humanities, Via Atlântica.
Deputada à Assembleia da República (1999-2005/2008-9). Ministra da Cultura (2005-8). VicePresidente da Fundação de Serralves (desde 2016).
• MÁRCIA OLIVEIRA (Univ. Minho/CEHUM), “Womanart: Mulheres, Artes, Ditadura”
Márcia Oliveira é bolseira de pós-doutoramento FCT em Estudos Artísticos/História da Arte no
CEHUM (SFRH/BPD/110741/2015) e pertence ao grupo de investigação em Género Artes e
Estudos Pós-Coloniais. Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra e mestre em
Estética pela FCSH-Universidade Nova de Lisboa concluiu o doutoramento pela Universidade do
Minho em 2013 com tese sobre arte e feminismo em Portugal no contexto pós-revolução.
Foi visiting scholar no Centre for Women in the Arts, Rutgers University, NJ, USA, de Agosto a
Novembro de 2016. É Investigadora Co-Responsável do Projeto WOMANART: Women, arts and
dictatorship: Portugal, Brasil and Portuguese speaking African countries, financiado pela FCT PTDC/ARTOUT/28051/2017) tendo como investigadora responsável Ana Gabriela Macedo.
• DEOLINDA ADÃO (Univ. Berkeley), “A audácia de escrever: uma abordagem da
produção literária feminina”
Deolinda Adão é Professora e Directora Executiva do Programa de Estudos Portugueses na
Universidade da Califórnia, em Berkeley. É licenciada em Literatura e Línguas Hispânicas na
Universidade da Califórnia em Berkeley em 2002 e doutorada em Literaturas e Culturas Luso-AfroBrasileiras pela mesma universidade em 2007, com especialização em mulheres, género e sexualidade.
O tema da sua dissertação foi “A study of the construction of feminine identity in Portuguese
literature”.
Publica regularmente livros e artigos sobre o género feminino, com destaque para migrações
femininas incluindo “As Herdeiras do Segredo: As Personagens Femininas na Ficção de Inês
Pedrosa”.
Em 2018, foi eleita Presidente da Luso-American Education Foundation, da qual já era membro
desde 1996. Esta fundação dedica-se à promoção da Língua e Cultura Portuguesas no Estado da
Califórnia.
É membro do Conselho da Diáspora Portuguesa desde 2013
COMISSÃO ORGANIZADORA
Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-73159060713372850032022-02-01T09:54:00.001-08:002022-02-01T09:55:56.033-08:00A AVÓ MARIA AGUIAR in Os avós e nós<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">A AVÓ MARIA</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">A Avó Maria Aguiar era figura pública proeminente em Gondomar, vila antiga, na fronteira sudeste do Porto. Os seus sete filhos, incluindo minha mãe, e todos os netos eram referidos, falados e considerados em função dela, para sempre umbilicalmente ligados à aura e ao nome da matriarca, quase sem luz própria, por mais brilhantes que fossem. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Nasci na sua casa, cercada de jardins murados, com um mirante florido na frente de rua e pomares e vinhedos a perder de vista, por detrás da mansão grande de "brasileiro", de cor rosada e venezianas verde escuro. A Vila Maria. Aí, com ela e meus Pais, fui tão feliz quanto se pode desejar, nos primeiros oito anos de vida. </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Com ela, aprendi a gostar de histórias, (e mais de narrativas engraçadas sobre si e a família do que de contos infantis), a declamar poemas de Guerra Junqueiro, exercitando a memória em alguns dos que parecem intermináveis ("O melro, eu conheci-o, era preto, brilhante e luzidio... ), a bordar pequenos quadrados de linho a ponto de cruz, com o mínimo possível de habilidade inata. E a comportar-me surpreendentemente bem, tanto em procissões e novenas de Igreja, como nos lanches das confeitarias portuenses, a Villares ou a Ateneia, onde lhe fazia boa companhia. Criança rebelde, com reputação de indomável, várias vezes, emboscada atrás de um móvel, ou de uma porta, ouvi a Avó levantar a voz para me defender, dizendo: "Ninguém compreende esta menina! É preciso explicar-lhe a razão das coisas. Se ela perceber, aceita tudo muito bem". Na verdade, eu gostava de satisfazer expetativas</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">, era sempre muito capaz de corresponder, na ação imediata, ao pior ou ou melhor que esperavam de mim...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">A esta persuasiva pedagoga e querida Avó devo algumas das mais extraordinárias alegrias da infância, entre as quais se contam: a compra de uma carteirinha de verniz vermelho, usada a tiracolo, (a contragosto dos pais, naturalmente...), a oferta de um grande boneco pretinho, por muito tempo mirado e namorado na montra do bazar de Sá da Bandeira, e o traje de anjo amarelo, de grandes asas brancas, com que desfilei pelas ruas de São Cosme, em cortejo procissional, depois de vencida, uma vez mais, pela avó a relutância de mãe e pai em satisfazer tão ardente e desvalorizada ambição infantil. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Todavia, à Avó devo, igualmente, a remota origem do meu feminismo - o que não era, de todo, resultado que ela desejasse. De uma família de mulheres fortes, as mais heterodoxas das quais pareciam saídas de romances de Agustina, herdeira da sua fibra, era, porém, ela própria, um assumido expoente de conservadorismo e da prática das virtudes consideradas femininas, primeiro durante um casamento de dezasseis felizes anos, e, depois, ao longo de uma sofrida viuvez de mais de meio século. A sua influência na "res publica", crescera circunscrita ao pequeno círculo bem frequentado e bem visto das obras paroquiais, onde debutou, e extravazou, numa dinâmica natural, para o da comunidade, como um todo, do campo da assitência e do atendimento de casos sociais, ao da cultura, organizando peregrinações, a par de récitas e concertos beneficentes, cujos ensaios, muitas vezes, decorriam na sua sala do piano (piano que era emprestado para os espetáculos, fazendo, entre a Vila Maria e o Cine Teatro Nun' Álvares, uma curta e improvável viagem em carros de bois, necessariamente seguida de intervenção de um afinador). Outras vezes, as arcadas e a espaçosa adega do piso térreo transformavam-se em estaleiros de produção de carros alegóricos, enfeitados de flores de papel, confecionadas, aos milhares, por ruidosos bandos de meninas, a que as netas tinham licença de se juntar. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Para tudo havia regras, naquele mundo que se movia, sob o impulso de Maria Aguiar, a</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> intransigente defensora do recato e das "boas maneiras" feminis,</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> ao serviço das quais, tantas vezes, brandamente, me repreendia: "as meninas não fazem isso!".</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> Isso sendo o que era permitido aos primos da minha idade, como subir às árvores do jardim, ou até aos telhados, saltar de carros eléctricos em andamento, jogar à bola com os garotos da rua... Enfeitar altares ou colar florinhas de papel colorido em painés, ao som de canções populares, sim, eram tarefas de meninas... O plural "as meninas" intrigava-me... A argumentação da Avó, neste capítulo, não me soava convincentemente, não respondia aos meus "porquês"... Achei por bem provar, a mim mesma e aos outros, pela "praxis", que "as meninas" podiam tornar-se, com o continuado exercitar, tão aptas como os rapazes a cumprir objetivos nosmuitos domínios interditos. E assim me converti, a partir dos seis ou sete anos, ainda que sem consciência clara da existência das questões de género, em feminista praticante... Por sinal, os homens da família, o pai e o avô paterno, o inequecível Avô</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> Manuel, cedo me iniciaram na paixão pelo cinema, pelo teatro e pelo futebol, não mostrando partilhar as preocupações da avós, ambas a Avó Maria e a Avó Olívia, em completa sintonia nas suas teses sobre a construção cultural do feminino... .</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Numa altura em que tanto já ressentia, em causa própria, as discriminações de sexo, não me ocorreu, nunca, indagar o porquê da posição singular que a Avó Maria ocupava na sociedade local, a tal ponto a via como decorrente de uma autoridade natural, de um estatuto seu, inquestionável. Só muito mais tarde me apercebi de que o ganhara num trabalho incansável, e interminável, que, mais do que vocação, fora destino, fatalidade de se ver mulher só, ter de encontrar os modos de se realizar numa outra vida. Ela e a “sua circunstância”…</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Maria da Conceição Barboza Ramos era a mais nova de oito filhos de Carolina Ferreira Ramos, (de uma família enraizada, há séculos, em Gondomar) e de Joaquim Mendes Barboza, o tabelião, que viera do norte (Bitarães, Paredes), para nunca mais deixar a terra de adoção. Em tudo fora menina do seu tempo e condição social. Depois da escola primária, recebeu, em casa, os ensinamentos dos pais e professores, à espera de encontrar noivo. Das três raparigas, só uma, Glória, se formou na Escola do Magistério, no Porto, e nunca exerceu. A tuberculose levou-as aos 21 anos. O curso, pela raridade, bastou para que fosse uma das poucas mulheres biografadas na monografia “O Concelho de Gondomar”, ao lado do pai, irmãos e vários parentes masculinos, com largo “curriculum” de intervenção cívica e política.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">A Maria, jovem inteligente, prendada, e lindíssima, não faltaram pretendentes. A sua escolha recaíu num conterrâneo emigrado no Brasil. António Carlos Pereira de Aguiar, nas suas próprias palavras, pessoa “muito ilustrada”, homem bonito, com enormes e expressivos olhos verdes, como nunca vira outros. O Avô António partira para o Rio de Janeiro em 1996, com 16 anos, levado por um dos seus quinze irmãos, João, bastante mais velho, quase com idade para ser seu pai, e, por essa altura, já um muito próspero joalheiro. O jovem António Carlos, revelando-se exemplar discípulo do melhor mestre, numa época aurea de desenvolvimento do país, como foi, para o Brasil, o início de novecentos, fez fortuna rápida e honesta, e era, então, o dono de uma joalharia da moda, na rua do Ouvidor. Sendo a Avó Maria uma incondicional entusiasta de viagens e excursões, de muita movimentação e convívio social, até aos seus últimos dias dos seus mais de noventa anos, é possível que a perspetiva de viver, por uns anos, no mundo novo brasileiro, com frequentes visitas à sua terra, a bordo de esplêndidos paquetes, tenha sido fator de peso na aceitação daquele pedido de namoro, logo depois convertido em pedido de casamento. Da parte do Avô Aguiar, fora o "coup de foudre", "amor à primeira vista" e até que a morte os separou... No mais clássico modelo de papeis conjugais, com rígida divisão de tarefas, uma união perfeita! Dos oito filhos, só três nasceram no Rio. Maria preferia ter os meninos em São Cosme, no conforto da casa materna... Vinha o marido, de bom grado, trazê-la e buscá-la e, durante o tempo de separação, escrevia-lhe extensas cartas de amor, em tudo idênticas às dos tempos idos de noivado...</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 16px;">O noivado durou dois anos e está documentado por uma preciosa sucessão de postais ilustrados, com breves mensagens, que diríamos uma espécie de “twits” do início do século passado, que serviam para troca de saudações amorosas e anuncio do próximo envio de longas cartas,infelizmente, quase todas desaparecidas....</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">A Gondomar regressaram em 1920, e viveram, por breves anos, na terra e na casa dos seus sonhos. A m</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">orte súbita do Avô António, </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">aos 46 anos, deixou a viúva num estado de depressão profunda, que ameaçava eternizar-se. A</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> senhora elegante e mundana das salas de festas</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;"> transformou-se em vulto negro e austero (não menos elegante) dos salões paroquiais... </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt;">Os retratos contam, sem necessidade de palavras, a tragédia da sua vida, pela forma e colorido dos chapéus, das abas imensas das "capelines" floridas da senhora casada aos pequenos chapéus de viúva, rentes à testa, enfeitados por uma simples "aigrette" (a que chamávamos, na sua ausência, "os quicos da Avó"). O momento da grande mutação foi o da perda do papel de esposa perfeita, em que teve de se assumir como mãe e o pai de sete crianças (difícéis e desafiantes...), com idades entre os dois meses e os catorze anos. Do torpor de muitos, muitos meses saiu, buscando orientação na fé, nas crenças e práticas religiosas, fonte inesgotável de novas energias, e razão de viver, intensamento, para a família e para os outros.. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;">Fora a mulher do empresário António Aguiar, que o seu caráter extrovertido e generoso, tornara tão estimado e popular no Rio de janeiro, como em Gondomar. Enquanto a sua memória permanecia entre os daquela geração, foi a sua respeitabilíssima sua </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;"> viúva. E, por fim, ela própria, Maria Aguiar, líder no feminino, universalmente querida e admirada. Protetora dos pobres, confidente e conselheira nas horas difíceis. Do seu apostolado de leiga, da organização de peditórios, peregrinações, festividades religiosas, passara aos domínios adjacentes da animação cultural, organização de </span>récitas<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;"> e concertos beneficentes, deixando, vir, de novo, à superfície o seu gosto pela música, poesia e teatro, num mesmo quadro</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;"> de voluntariado socialmente aprovado para as senhoras. Latente, sempre, o culto do marido, simbolizado na sobriedade dos trajes escuros (em que se permitia o roxo e o cinza), ou no cuidado com que podava, por suas mãos, as rosas, com as quais ele se apresentava em exposições, (nunca filhos, netos nem os criados saídos das cadeias lhes puderam tocar). E no uso do seu apelido Aguiar. . O nome que, hoje, descendentes de quarta e quinta geração continuam a usar, preterindo outros, do ramo materno e paterno, apenas</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;"> por ser o dela. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 11pt;">E não só por ter sido essa notável cidadã. Mais ainda, por ter sido a nossa Avô, a prodigiosa contadora de histórias, a grande matriarca, a força que reunia à volta da mesa na casa, que, sendo dela, era de todos, a família inteira, uma família enorme, na intimidade das ceias de Natal ou nas festivas visitas do compasso pascal, em casamento e batizados e em todas as festas que se inventavam para estarmos juntos. Na mais completa fragmentação familiar, que se seguiu ao seu tempo, é ainda, afinal, a memória da Avó Maria Aguiar, que nos reune, à volta do seu nome, numa árvore genealógica de afetos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0.0001pt;">
<br style="background-color: white; color: #222222; font-size: 14.6667px;" /></div>
Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-58075499397485074662021-12-23T08:12:00.003-08:002023-05-03T04:21:50.665-07:00DESCENDÊNCIAS - CCP 40 ANOS
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Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-83906584588594942062021-07-20T07:42:00.002-07:002021-07-20T07:42:48.550-07:00CONVITE
ERA UMA VEZ. - CICLO DE COLÓQUIOS SOBRE O CONTO INFANTIL..
O Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer leva a efeito na segunda feira, dia 26 de julho, o 2º colóquio sobre o conto infantil, em que procuramos divulgar obras de autores da Lusofonia, de dentro e de fora de Portugal. Desta vez, no dia dedicado aos Avós, é Manuela Marujo quem nos apresenta o seu livro "A primeira vez que eu vi neve" - um retorno ao mundo das crianças inspirada na sua própria infância.
Manuela Marujo é professora emérita da Universidade de Toronto, onde, durante muito anos, exerceu o cargo de "Associate Chair” do Departamento de Espanhol e Português. Para além da sua faceta académica, é uma personalidade marcante na comunidade portuguesa de Toronto e no universo da nossa Diáspora, Co- fundadora dos movimentos internacionais designados por "A vez e a voz das Mulheres" e "A voz dos Avós", com ela poderemos abordar o significado da sua narrativa, o que a levou a escreve-la, e, também, a sua visão e experiência de diálogo intergeracional num contexto migratório.
Com este ciclo de colóquios queremos lembrar Maria Archer, na sua veste de grande contadora de histórias, oralmente - como sabemos pelo testemunha dos que tiveram o privilégio de a ouvir - e através de uma ou outra incursão na literatura infantil e juvenil, como tantos outros escritores, jornalistas e professores, em que se incluem Ana de Castro Osório, Natália Correia, Érico Veríssimo, Luís Sepúlveda e Vargas Liosa..
Tópico: Zoom meeting invitation - Reunião Zoom de Maria Manuela Aguiar
Hora: 26 jul. 2021 06:00 da tarde Londres
Entrar na reunião Zoom
https://us02web.zoom.us/j/87365561790?pwd=aUd5Q0Z3aW1XTUNCNmcySjFaNzliQT09
ID da reunião: 873 6556 1790
Senha de acesso: 925203
A sessão será integralmente gravada
Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-89885435530469028312021-04-10T15:15:00.002-07:002021-04-10T15:15:10.654-07:00DANIEL BASTO sobre "Menina e moça me levaram"Menina e Moça me Levaram
Os últimos anos têm sido pródigos na conceção e realização de obras de autoras nacionais ou lusodescendentes residentes no estrangeiro dedicadas às mundividências femininas no contexto migratório, umas das dimensões da emigração portuguesa que por via destes contributos literários começa a ser mais conhecida e estudada.
Um desses contributos literários, intitulado Menina e Moça me Levaram, acabou recentemente de dar à estampa através do trabalho proficiente da professora Aida Baptista, que nos últimos anos de docência desempenhou o cargo de Leitora de Língua e Cultura Portuguesas no Estrangeiro, ao serviço do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (ICALP) e do Instituto Camões (IC).
Colaboradora da imprensa de língua portuguesa no mundo, onde publica regularmente artigos ligados ao fenómeno migratório, e autora dos livros Passaporte Inconformado e Chão da Renúncia, Aida Baptista é a responsável pela organização de uma obra que demanda o seu título no evocativo de saudade que dá início ao prólogo do livro Saudades, mais conhecido por História de Menina e Moça de Bernardim Ribeiro.
Assente num conjunto de histórias, contadas na primeira pessoa, de mulheres das mais diversas origens, profissões e faixas etárias, que, levadas por escolhas alheias (salvo raras exceções), passaram por processos migratórios em diferentes contextos geográficos, a obra Menina e Moça me Levaram, com chancela da Editora Alma Letra, conta ainda com prefácio de Manuela Aguiar, antiga secretária de Estado da Emigração.
O lançamento da coletânea, que nas palavras da prefaciadora encontra-se “cheia de ensinamentos, e experiências, comovente, intimista poética, pitoresca, factual, escrita a muitas mãos, muitos destinos. Com elas viajamos pelas memórias, por paisagens de alma e sentimentos, por roteiros que cruzaram todos os continentes e mares”, integra-se nas comemorações dos 25 anos de vida ativa da Associação Mulher Migrante (AMM).
Uma associação de estudo, cooperação e solidariedade cuja principal missão passa pela análise da problemática das migrações femininas; pela cooperação com as mulheres profissionais e dirigentes de associações das comunidades portugueses no mundo e com imigrantes que vivem em território nacional; pelo combate ativo contra ideias e movimentos xenófobos; e pelo apoio à integração das mulheres na sociedade de acolhimento e defesa dos seus direitos de participação social, económica e política.
Nesse sentido, a coletânea Menina e Moça me Levaram, enquanto repositório de um conjunto diverso de experiências e narrativas vivenciadas por mulheres assume-se como um relevante contributo no alumiamento da componente feminina no fenómeno migratório, que vai ao encontro do anelo da “dama da literatura brasileira” Lygia Fagundes Telles: “Sempre fomos o que os homens disseram que nós éramos. Agora somos nós que vamos dizer o que somos”.
Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-16686679400260914302020-10-04T08:34:00.000-07:002020-10-04T08:34:03.608-07:00COMO SE VIVE UMA DISTOPIA
COMO SE VIVE UMA DISTOPIA
1 - Vivemos hoje em clima de guerra, a "grande guerra 2020", com uma única certeza: a de que a mais macabra das distopias se concretizou, e veio para ficar, por prazo indeterminado, na realidade de um quotidiano subitamente desestruturado. Guerra em que o exército somos todos nós, e em que, por muito disciplinados que nos mostremos, dirigir as operações no teatro bélico, contra um inimigo omnipresente e invisível, não é para qualquer um. É para políticos de grande visão e envergadura.. Esta é a hora de revelação dos verdadeiros estadistas - previsivelmente muito poucos!
O gradualismo na tomada de medidas limitativas essenciais, que vem imperando na Europa, tem de ser olhado, creio, como sintoma de improviso e impreparação.
Num quadro em que o aumento exponencial de contágios é um dado seguro, mal se compreende o anúncio de mais e mais restrições avulsas, em cada novo dia ou em cada conferência de imprensa. Essas medidas deviam ter sido bem pensadas e codificadas, integradas numa estratégia coerente e gizada para constituir resposta o mais lata possível a riscos e a danos.
Em Portugal, um dos últimos países europeus a ser atingido, e, por isso, beneficiário da lição de erros alheios, mal se compreende a não reposição rápida do controlo das fronteiras terrestres ou a opção pela absoluta falta de rastreio sanitário nos aeroportos, ao contrário do que aconteceu em vários outros Estados da UE. Não procede o argumento de que aquele tipo de vigilância não é 100% eficaz, porque, mesmo que leve à deteção de pequena percentagem de portadores do virus, vale bem o esforço, pois com cada um dos portadores logo isolados se evita um foco de infeção comunitária. Só agora, já o mês de março vai a meio, nos convertemos a esta tese...
Mal se compreende, pelas mesmas razões, a incúria em garantir o acesso generalizado a máscaras de proteção, que nem nos hospitais foi adequadamente cuidado Vimos e ouvimos, vezes sem conta, a Diretora-Geral da Saúde, negar as vantagens do seu uso individual, a pretexto de que não protegiam de contágio os utilizadores. Evitavam, sim, segundo ela, que os infetados contagiassem os outros. Ótimo! Enquanto potenciais portadores assintomáticos do "COVID 19" não queremos contagiar ninguém. Haverá melhor meio de entreajuda?
Outro estranho procedimento foi o de não realizarem testes, nas urgências e enfermarias hospitalares, a doentes com dificuldades respiratórias, ou pneumonias, a menos que tivessem permanecido em países "de risco" ou convivido diretamente com quem de lá chegara. Assim mandavam as regras sancionadas superiormente, o "protocolo" aplicável, cujo conteúdo, entretanto, já mudou, para abranger qualquer paciente em tal situação.
Por outro lado, tem havido inércia e laxismo face à especulação e ao açambarcamento de bens! Em Espinho, como por todo o lado, desapareceram, há semanas, de farmácias, lojas e supermercados, o álcool e o gel desinfetante. E, igualmente, as máscaras de proteção, mesmo depois dos preços terem disparado - de cinco a seis euros, (por pacote de uma centena), para mais de cem euros! Foi ou vai ser, agora, finalmente, feita uma encomenda de mais de um milhão de máscaras para os hospitais públicos - sinal de que estavam em falta...
Um outro negócio rentável, e, provavelmente, também especulativo, é o dos testes de deteção do virus em laboratórios privados, cujo custo, para quem os possa e queira pagar, varia entre os 100 os 200 euros. - salvo na cidade do Porto, como referiremos.
2 - Estamos a falar de ações e omissões, não de negacionistas patéticos, como Trump e Bolsonaro, mas de políticos respeitáveis, mulheres e homens de bem, que estão a dar o seu melhor, só sendo de pôr em dúvida se o seu melhor é suficiente. Veja-se o inacreditável ziguezaguear do Presidente Macron, que, num domingo, convocou os franceses a deixarem as suas casas para para votarem num ato eleitoral desnecessário, por ser de fácil adiamento, e, no dia seguinte, decretou quarentena obrigatória, com milhares de polícias a patrulhar as ruas desertas, no país inteiro...
Na Europa, prevejo que vá sobressair, como é costume, Angela Merkl, mulher de armas para combates ciclópicos. Não é do meu quadrante ideológico, mas o que importa isso? A questão não é ideológica, estamos unidos contra o mesmo inimigo.
Entre nós, inesperadamente, são autoridades regionais, as que mais se salientam pela inteligência estratégica e pela coragem. de atuar prontamente. Refiro-me a Rui Moreira, o autarca do Porto, e aos líderes dos Governos das Regiões Autónomas. Rui Moreira foi o primeiro a tomar consciência da crucial importância quer do encerramento de serviços não essenciais e do convite ao resguardo de contactos no espaço público, quer do rastreio massivo, contratando com uma empresa privada, na falta de iniciativa e oferta pública, a efetivação de testes para deteção do virus, que poderão atingir os 400, diariamente. Acabo de ouvir o responsável pela OMS recomendar precisamente isso: "testing, testing, testing". Na mesma linha está Cuomo, o Governador de Nova York, cuja proposta é: "massive testing, massive quarentine". Por cá, Rui Moreira está sozinho , em boa companhia internacional.
Os executivos da Madeira e o dos Açores antes mesmo de terem deparado com o primeiro teste positivo, e apesar da evidente relutância do poder central, decretaram, e puseram em pratica, a quarentena de 14 dias para quem quer que chegue, de fora, aos seus aeroportos. E mais longe teriam ido, encerrando, logo, o espaço aéreo regional ao tráfego regular de passageiros, se isso fosse da sua competência.
No continente, destaquemos, nesta histórica quinzena de março, sobretudo, a sociedade civil, que soube impor-se, nos mais diversos domínios. Pensemos, por exemplo, nos pais dos alunos a lutarem pelo encerramento das escolas, nos jogadores de futebol profissional a exigirem a suspensão dos campeonatos, na opinião pública a forçar a vigilância da fronteira terrestre com a Espanha. E, aqui, em Espinho, no voluntário encerramento de um grande número de restaurantes, cafés e lojas, no generalizado respeito pelo distanciamento aconselhável dos clientes do pequeno comércio alimentar, na quase desertificação espontânea das ruas da cidade, e nos gestos de solidariedade, como os da Paróquia, que já tem disponível um grupo de voluntários para ajudar os que estão retidos em casa, pela idade ou por pertencerem a um grupo de risco.
Em suma, e lembrando, igualmente, os profissionais de saúde e todos os que permanecem nos seus postos, servindo o público, poderemos, dizer que, no nosso País, a nota máxima vai para estas múltiplas expressões de espírito cívico, de cidadania!.
Espinho, 16 de março de 2020.Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-17612938151205979732020-10-04T08:27:00.000-07:002020-10-04T08:27:08.301-07:00 CAMINHOS DA POESIA LUSO GALAICA QUE PASSAM POR ESPINHO
1 - A Galiza celebrou, no passado sábado, 25 de julho, o Dia da Pátria Galega. Entre nós, o acontecimento passou, sem o merecido destaque. E, no entanto, na sua origem simbólica, aquela celebração tem muito a ver conosco, porque o seu o foco é posto na matriz cultural identitária e não em feitos bélicos, conquistas, glorificação de heróis guerreiros, como acontece por esse mundo fora. Com outra exceção, a portuguesa! No dia nacional, tembém nós, evocamos o Poeta maior e convocamos para a festa, a Diáspora, ou, seja, todo o espaço em que se ouve a língua, O da Dia da Galiza é o do seu santo patroeiro, o Apóstolo Santiago, unindo crentes e não.crentes numa ideia de espiritualidade, de afirmação da cultura ancestral, a que se associam, o nome de Rosalía, a grande Poeta que cantou a sua terra..
A comemoração começou há apenas um século, em 1920, como projeto das "Irmandades da Fala", instituições criadas para a defesa do património histórico e imaterial mais precioso, a língua-mãe. Durante o franquismo, o "Dia da Pátria Galega" esteve proibido e a comemoração manteve-se somente onde não chegava a autoridade repressiva da Ditadura, na Diáspora Galega, que tem vida própria, estruturas e dimensão comparável à nossa (embora mais concentrada em países do sul da América). A proibição ficou de pé, alguns anos após a democratização, sendo, depois, convolada numa permissividade ambígua, na envolvente política em que se afrontam o centralismo castelhano e o nacionalismo ou autonomismo galego. A partir da década de oitenta, o Governo Autonómico fez sua a comemoação, integrando-a no calendário oficial, embora, conforme o quadrante político, esta ora seja assumida no seu significado mais amplo, ora reconduzida à vertente religiosa, sem que falte, o ritual de uma missa por Rosalia.
Pena é que, em 2020, ano do centenário da própria instituição do Dia da Galiza, os festejos tenham sido tão parcos - por causa da pandemia, mas. igualmente da subsistência de querelas partidárias e ideológicas. Em qualquer caso, enquanto o Rei Filipe VI de Espanha, (ou das Espanhas...), e o Poder Autonómico participavam em ofícios religiosos na Catedral de Santiago, muitos foram os cidadãos que, nas ruas, apesar da COVID, se manifestaram.
2 - Na relação da Galiza com Portugal, temos de saber contornar os escolhos desta realidade, sobrepondo ao imediatismo da conflitualidade política do presente (a vivência da autonomia lá, o regionalismo adiado, cá), aquilo que é perene e vem de tempos imemoriais, a língua originária, o galaico.português, e as afinidades antigas que hibernam em nós.
Já algumas vezes publicamente contei como fui, eu própria, individualmente cimentando, o meu sentir, a minha consciência de uma identidade luso-galaica. Era menina, mas já queria conhecer mundo, ver o estrangeiro e, um dia, no início da década de cinquenta, finalmente, os pais fizeram-me a vontade, levaram-me com eles até Vigo, pela fronteira de Tuy. Gostei do passeio, do que vi, mas voltei desapontada. Tudo me pareceu "pouco estrangeiro" - as casas de pedra, a convivência das pessoas nas esplanada e cafés, os rostos das pessoas e até o falar, que entendia sem dificuldade de maior..Alguns anos mais tarde, já depois muitas idas a Vigo e de conhecer cidades como Paris, Londres ou Ceuta, passei férias no Alentejo e no Algarve, férias magníficas, cheias de sol e de surpresas... a cor ocre das fragas, paisagens áridas e amplas, a placidez dos camponeses, e o seu sotaque, as casas caiadas, com barras coloridas azuis e amarelas, a geometria do casario branco, de pátios e açoteias... Em suma: terras exóticas, onde chegava sem cruzar fronteiras guardadas pela polícia! E, assim, com um simples olhar em volta, compreendi que o meu país, tal qual a Espanha (e não ao contrário da Espanha, como pretende o nosso ortodoxo centralismo) é multicultural, com tradições comunitárias e regionais as mais diversas. E logo vi nesta diversidade uma riqueza, e um fator de coesão e não de deslace, no contexto português de unidade política milenar.da Nação organizade em Estado.
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. 3 - Por outro lado, reconhecendo que mil anos de separação política não conseguiram desfazer as sintonias naturais do Norte português com a Galiza, ou do Algarve com a Andaluzia, faço da valorização deste fenómeno uma causa minha.. Deixemos ao Estado o que é de César, as suas fronteiras terrestres e as sua leis, e sigamos o sentir dos Povos! O domínio em que queremos mover-nos é o da Cultura, máximo denominador comum, não o da políticaque divide..
Nas zonas fronteiriças, sabemos que é denso e frutífero o interrelacionamento dos dois lados do rio Minho, quer da parte dos autarcas, quer das sociedades locais, pessoas e instituições. Contudo, quando nos afastamos da raia, a presença da Galiza parece esvair-se na distância....Surge, por isso, como paradigmática e rara a iniciativa nascida em Espinho, pela mão de uma Espinhense: Ester de Sousa e Sá, escritora, poeta e artista plástica, que vem trazendo a Galiza, a sua veia literária até nós, em simultâneo, pondo a nossa cidade no mapa da Cultura galega. Ao longo dos últimos três anos, o movimento, ao qual ela deu o impulso pioneiro, não parou de crescer - movimento de Poetas das duas línguas em que se prolonga a antiquíssima fala comum. A divulgação da sua obra poética processa-se, assim, a um ritmo anual: a primeira Coletânea de Poesia Luso Galaica, teve o seu lançamento em Espinho, na Biblioteca José Marmelo e Silva, a 13 de Outubro de 2018, a segunda (Coletânea de Poesia Galaico-Lusa - Poetas do Reencontro), em Chantada, a 26 de Outubro de 2019, a terceira (Coletânea Luso Galaica - Caminhos da Poesia) está agendada para Espinho, já a 5 de estembro deste ano. A organização das recolhas de inéditos, sua edição e lançamento cabem alternadamente, a Portugal e à Galiza. E como cada Coletânea tem apresentação, cá e lá, as "Bienais de Poesia" ocorridas, alternadamente, na Galiza e em Espinho, dão lugar a uma multiplicidade de confraternizações de poetas, de músicos, e cultores de outras artes, que vão ganhando contornos de institucionalização. Os Poetas assumem-se, deste forma, lucida e eficientemente, como mediadores na aproximação das suas comunidades, num universo cultural em expansão. Juntos caminham, tendo por lema, e cito, "a Poesia dunha matria sen fronteiras"..
Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-19315027016612553952020-10-04T08:22:00.003-07:002020-10-04T08:22:56.259-07:00NÓS O POVONÓS O POVO
1 - "We the people" são as primeiras palavras da Constituição Americana. E, também aquelas que o candidato nas eleições presidenciais, Joe Biden, escolheu como lema de candidatura. interessante e significativa escolha... A mensagem que transmite é clara: a América precisa de voltar a ser um Estado de Direito, uma sociedade unida por valores humanistas, respeitando princípios que foram inscritos na Constituição pelos "Pais Fundadores". É tempo de viver nas leis e nas práticas do quotidiano, esses valores, esses princípios. Com Trump, isso é uma impossibilidade. No seu mandato insano de mentiras, escândalos, perseguições e incitamento ao ódio racial, os seus mais diretos colaboradores tendem a dividir-se em duas categorias - os que estão a contas com a justiça, presos ou em vias de o ser, (o último dos quais, até à data, é Steve Bannon, ideólogo da sua campanha de ódio) e os que, uns atrás de outros, se demitiram ou foram demitidos, formando já uma longa lista.
Na Casa Branca está um aspirante a tirano, que não governa e se considera acima da lei (e até agora, tem conseguido estar). Brinca no Twitter, como um adolescente, usa o tempo restante, para negócios inconfessáveis ou, como um velho reformado, para gozar o prazer dos seus campos de golfe, caminhando por sobre ruínas de cidades destruídas por motins e sepulturas de dezenas de milhares de mortos da pandemia, cuja dimensão desvalorizou, até ser tarde demais.
Só o Povo o pode retirar da Casa Branca e restituir a América á normalidade democrática. Vai ser difícil. Ele move-se bem num sistema anquilosado, e tentará, como aconteceu da primeira vez, (agora, porventura, já sem a ativa ajuda dos serviços secretos) viciar o jogo a seu favor. Tudo está em aberto - é cedo para anunciar a vitória de Joe Biden, apesar da vantagem que leva nas sondagens... Sabemos, pela história recente que não basta vencer por mais de três milhões de votos, como aconteceu na eleição anterior, que Hillary Clinton, sob ataque de poderes internos ("maxime", o diretor do FBI) e externos (com a Rússia de Putin, à cabeça) perdeu, ganhando, por larga margem no voto popular... Trump não foi o eleito do Povo, nesta América, que nos parece um lugar estranho... Mas nem por isso o que lá se passa não diz respeito ao resto da Humanidade, porque, apesar dos sinais de decadência, estamos a falar da maior potência do mundo, Desde o fim da guerra de 1939/45 a "pax americana",protegeu os aliados democratas, vencedores do nazismo, através das fórmulas diversas, que cada presidência imprimiu à busca de um equilíbrio entre interesses próprios, alianças antigas e solidariedade internacional, até que Trump se voltou para um diálogo de ditadores, em política externa, e pela sementeira de ódios, no plano interno. É, pois, também, o nosso futuro que está em cheque, neste voto americano, tão decisivo quanto incerto .
2 - Todos os extremismos são maus, Como diz o ditado, "os extremos tocam-se" . Assim pensei desde os bancos do Colégio do Sardão, do Liceu Rainha Santa e da Universidade de Coimbra, Não sei se o meu "reformismo", constante, desde tão jovem, é coisa boa ou não... A veemência com que debatia ideias pareceu, às vezes, revolucionária, e disso até fui acusada, por quem confundia o tom do discurso com o pensamento. Na verdade, já na adolescência, era, social-democrata "à sueca", feminista, em moldes nórdicos, e até, fundamentalmente pacifista, embora não muito pacífica por temperamento (aguerrida na forma, moderada no conteúdo...). Talvez por tido, desde cedo, a noção de que a luta pelo sufrágio de mulheres e negros foi contemporânea, sempre considerei que racismo e sexismo se combatem pelas mesmas razões, da mesma maneira. E considero o recrudescimento dos movimentos de extrema-direita na América de Trump, e até na Europa, uma ameaça real nos tempos que atravessamos, pondo em causa avanços civilizacionais, que considerávamos adquiridos... Nada de novo, afinal, sabido que, através dos tempos, o processo histórico foi feito de avanços e retrocessos, e que as discriminações em razão da nacionalidade, do sexo, da raça, da religião, da idade (e de tantos outros fatores) não foram, em sociedade alguma, à face da terra, completamente erradicados, A meu ver, escondê-lo equivale a desistir de eliminar preconceitos enraizados. Em Portugal, negar o sexismo, é coisa patentemente irrealista, E o mesmo se diga do racismo, que não tendo, entre nós, tradição, força e violência comparáveis, àquelas de que sofre a América, nem por isso devemos menorizar, desculpando o incitamento à violência racial por parte de movimentos, que, embora incipientes, já têm mortos no seu cadastro. Não é equivalente negociar acordos políticos com uma esquerda "constitucional" e com uma extrema-direita visceralmente racista. No dia em que o meu partido pagasse, para chegar ao poder, o preço político de um acordo com gente desta (os nossos prosélitos de Trump ou de Bannon), deixava. logo, de ser o meu partido. .
3 - Na original Convenção dos Democratas americanos, dois temas dominaram a agenda: COVID e racismo. Para a pandemia, procura-se vacina, que ainda não há, mas que Trump, aldrabando como um "vendedor de banha da cobra, à moda da América, promete, assertivamente, já para o corrente ano. Porém, como disse a candidata a Vice-Presidente Kamala Harris, "não há vacina contra o racismo!", que subsistirá muito depois de eliminado o mortífero vírus...
A "America first" de Donald Trump é, tragicamente, a "América primeiro" em mortes causadas pela pandemia, em caos sanitário provocado pela sua incompetência e desorientação, Falta tudo, no país mais rico e tecnologicamente mais avançado do planeta!... Não será mera coincidência o facto dos dois países mais afetados pela propagação do vírus serem, por esta ordem, os EUA e o Brasil, ambos dirigidos por fanáticos de extrema-direita, que renegam os saberes da ciência, da experiência clínica e do senso comum, opondo-se às medidas de prevenção reconhecidamente eficazes na redução do contágio - o despiste de casos por testes sistemáticos, o distanciamento social e o uso generalizado de máscara no espaço público, incluindo ao ar livre (insólito é, a meu ver, que alguns Estados só a imponham quando aumenta exponencialmente o número de infectados, sem sequer lançarem uma campanha intensa a favor da constante utilização da barreira individual ao contágio, que é a máscara! O slogan "Fique em casa", já desatualizado, há muito devia ter sido substituído por "Fique de máscara" - que não perderá atualidade, enquanto a COVID durar.
Neste aspeto, foi admirável a Convenção virtual, que entronizou Biden! Ele não hesitou em arriscar a perda de impacto eleitoral e de mobilização e de votos, para dar à América e ao mundo uma lição de civismo, de respeito pela vida e saúde dos cidadãos. Uma convenção com total ausência de público é como o 10 de junho de Marcelo, ou como o futebol à porta fechada....desprovida da energia, do entusiasmo e do calor humano, a que estamos habituados. A Convenção, com cada orador a falar sozinho foi morna e monótona e nem grandes oradores, como Hillary e Bill Clinton, ou Barack Obama conseguiram brilhar, por muito pertinentes que fossem os seus corajosos discursos. A excepção foi, para além da centelha da carismática Michelle Obama e da suave Kamala Harris, justamente, uma mesa redonda, de poucos minutos mas diálogo vivo, entre os ex- candidatos à corrida democrata... Por fim, sozinhos no palco, com muito mais bandeiras do que personagens, Joe e Kamala, e os seus cônjuges, todos de máscara e respeitando distâncias. "O poder do exemplo, não o exemplo de poder", nas palavras de Biden.
Uma grande lição! Bem pode aprender com ela o nosso Governo, que, tão demagogicamente, insiste em estabelecer, para situações de igual perigo de contágio, regras variáveis, conforme os fins a que se destinam os ajuntamento, privilegiando os políticos - em comícios, desfiles e, até, em festivais de música... E o mesmo se digna de todos os partidos e políticos que usam e abusam do privilégio. Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-34302814008854329212020-10-04T08:14:00.002-07:002020-10-04T08:14:23.061-07:00Coletânea Luso Galaica<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: x-small;">Chamo-me Maria Manuela e sou de Gondomar, uma terra antiga com nome de rei godo - como outra, que, na Galiza, talvez partilhe conosco esse remoto fundador. Nasci, em junho de 1942, em casa da Avó materna, uma das chamadas "casas de "brasileiros" do norte de Portugal, e desde pequena, ouvi declamar poemas, ao som de música brasileira, e contar histórias felizes de emigração. Era uma família em que todos discutiam política, fraternalmente divididos, e em que quase todos versejavam, embora só tenham vindo a público os de um tio, autor da letra do hino de Gondomar, os de outro tio que glorificou as belezas da terra na lírica de um musical de teatro, e uma coletânea de sonetos de meu Pai, editada postumamente. Mãe e tias maternas eram, todas, discípulas de Florbela e uma Bisavó paterna tornou-se, para mim, figura mítica como poeta repentista, cantando ao desafio em romarias populares, para além de ser admirável contadora de lendas e tradições. Logo que comecei a dominar a escrita, tentei, com menos talento, mas igual propensão, seguir esses exemplos e guardo, no fundo das gavetas, muitos cadernos manuscritos em que posso seguir a evolução da minha caligrafia dos 9 aos 16 anos, período em que estudei num internato de Doroteias, o Colégio do Sardão. A partir do momento em que me libertei da clausura, logo me voltei, não sei porquê, para prosa... No meu último ano do curso de Direito, (em Coimbra), alguns colegas do Porto, à frente dos quais Mário Cláudio, editámos uma revista (A Tábua), na qual o meu contributo foi um poema feminista, assinado com pseudónimo. Depois, a vida levou-me, inesperadamente, para os terrenos da política, e para uma convivência de décadas com a emigração e a Diáspora portuguesas (como Secretária de Estado e deputada). Os vários livros, os muitos artigos para revistas científicas ou jornais, que publiquei, são sobre Migrações, Direitos Humanos, Feminismo... e Desporto (futebol), também. </span><br />
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
O desafio que a Amiga Ester Sousa e Sá me lançou de participar nesta coletânea, (uma honra imerecida!), levou-me a mergulhar no passado, numa torrente de versos inéditos, de cantigas de escárnio e maldizer (ah, como o Colégio era inspirador!), a sonetos, e às tão portuenses "quadras de São João". ... Não resisti à tentação de reescrever alguns desses versinhos, de incluir, igualmente, aqui e ali, modificado, dando-lhe, enfim, o meu nome, o "poema de intervenção", aparecido in "A Tábua", há 55 anos... </div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">
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Maria Manuela Aguiar dias Moreira<br />
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<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
- MULHER DO ROSTO DE VENTO</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 11pt;">Vai</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Pela Terra-Mãe adormecida</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
que em ti hiberna,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
as mãos vazias</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
das rendas de outrora,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Vai dar sentido ao Dia!</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Vai</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Para que a Terra-Mãe</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Seja em ti,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Ao chegar o momento...</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Vai</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Rosto de vento</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Em busca de Alma!</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Vai da noite moribunda</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Do ter ser negado</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Vai</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Que agonizas</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
No corpo atormentado</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Os sonhos adiados da manhã</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
2 - VIVER...</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Queria ser Mulher e ter Poder,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Queria ser a monja a meditar,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Queria ser o tudo e ser o nada</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Dos opostos fazer meu caminhar</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 11pt;">Queria ser a nuvem que se esvai,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Como a ilusão de amor de uma donzela,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Queria ser o mito de grandeza</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
No rasto de uma antiga Caravela</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 11pt;">Queria ver a lua derradeira,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
E o céu na escuridão adormecer,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Para deixar, sem mágoa, sem saudade,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
A breve eternidade de viver...</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
3 - QUADRAS DE SÃO JOÃO DO PORTO</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Balão que sobe nos céus</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Como miragem de vida</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Leva com ele o devir</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
De uma promessa esquecida...</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Deste-me um beijo de noite</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Perfumado de alecrim</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
E a fogueira que saltámos</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
passou pr'a dentro de mim</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Os balões e as cantigas</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Unem-se à luz do luar</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Que em noites de São João</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
O amor fala a cantar!</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Quando saltares a fogueira,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Cuidado! Vê lá se cais...</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Ao coração que se queima</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
O amor não volta mais!</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Na manhã de vinte e quatro.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Olhando a cinza eu fiquei</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Que, ao ver a cinza, lembrava</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
O amor que ontem te dei...</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Meninas, vamos gozar</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
A noite de São João</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Ponham sorrisos no rosto,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Fogueiras no coração.</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
À suave luz da fogueira</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Teu coração desenhei</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
O retrato em contraluz </div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Sobre o meu o acharei</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Quando à noite, no escuro,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Uma fogueira acendeste</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Teus olhos disseram tudo</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
O que tu me não disseste...</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Zangado estavas comigo</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
São João nos vai casar!</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Que o amor e os santinhos</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Sabem sempre perdoar...</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Uma mensagem deixei </div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Na luzinha de um balão,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Promessa de amor sincero</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Em noite de São João</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Meu Porto, que sais à rua</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Nas festas de São João,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Não há no mundo cidade </div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Mais fraterna - não há, não!</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
O Porto sem São João</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Por causa da pandemia,</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Sem manjerico, alho porro, </div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.8667px; margin: 0cm 0cm 10pt;">
Festa, balões, alegria...</div>
</div>
</div>
Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3124380779922748858.post-36445313962995463642020-10-04T08:14:00.001-07:002020-10-04T08:14:06.140-07:00AMÁLIA NOS CAMINHOS DA EMIGRAÇÃO
Foram os caminhos da emigração que me levaram, indiretamente, ao encontro de Amália, a Senhora da voz assombrosa, e da personalidade mágica, que nos deslumbrava nos espetáculos, nos discos de vinil e nas histórias, verdadeiras ou efabuladas, que sobre ela corriam.... Lembrava-me do pasmo geral que causara, nos meus tempos de estudante de Coimbra, o seu casamento tardio com um Engº Seabra, português do Brasil, que a levou consigo para o outro lado do Atlântico, longe da Pátria e, por algum tempo, longe dos palcos. Já ela era um nome enorme, muito mais reconhecida e prestigiada lá fora do que na terra natal. (o que não é raro suceder...). Conhecera a emigração em seis anos de Brasil e longas estadias em Paris (onde nasceu como vedeta internacional) e na América (que a descobriu, logo depois da França). Com ela, o canto dolente da noite lisboete, rompera a estreiteza das paredes de "casas de fado" e a barreira da língua, e ascendera a alturas de grande música, disputada nos mais exclusivos auditórios dos cinco continentes. Ela era a voz, a palavra, porventura enigmática, mas sempre traduzida na intelecção de emoções e sentimentos, em partilha espontânea com todos os povos e culturas, que se abriam ao magnetismo irresistível da sua presença.
Parecia impossível que trocasse um dom divino pela felicidade do comum dos mortais - e impossível foi... Em breve, voltaria a Lisboa, e aos palcos que a aguardavam em infindos pontos do "mapa mundi", com ela trazendo o marido e, assim, encerrando o ciclo migratório do casal.
Em 1980, quando iniciei um trabalho, ainda inacabado, com as comunidades do estrangeiro, tive logo por anfitrião um Dr Adriano Seabra da Veiga, Cônsul de Portugal em Connecticut, prestigiado cirurgião e uma das pessoas mais generosas e influentes no meio português e americano. Na sua magnífica mansão em Waterbury, (vizinha de elegantes residências de estrelas de Hollywood na reforma), acolheu muitos compatriotas, como Zeca Afonso (em busca de tratamento), Spínola, Veiga Simão e Victor Crespo (exilados), Sá Carneiro (de passagem), e Amália, de quem havia fotos, tanto na biblioteca da casa como no gabinete do Consulado, onde o seu retrato era maior do que o do Presidente da República. No universo da Diáspora, como depressa aprendi, a dimensão simbólica de Amália justificava isso e muito mais - até na órbita de uma grande Paróquia portuguesa se chegou a projetar um museu com "memorabilia" da Diva!. O que eu não sabia é que este Seabra, médico e filantropo, era primo direito e amicíssimo de Seabra, o engenheiro, consorte de Amália, ambos sobrinhos do falecido Comendador Seabra, que fora o português mais rico do Brasil. Tomei conhecimento do parentesco, por acaso, uma vez em que falámos de Amália, a artista, naturalmente em perfeita sintonia. Depois disso, sempre que visitava Lisboa, com a mulher, Rita, convidava-me para o jantar de família com os primos - só os dois casais e eu. Logo no primeiro jantar, a empatia foi imediata. Os mais extrovertidos, Amália, Adriano e eu tomámos conta da conversa. Rita e César Seabra eram mais de ouvir e sorrir do que de falar. Amália, que então andava pelos 65 anos, estava vestida de preto, discretamente chique, e muito bem disposta, com a sua vivacidade, resposta pronta e um invariável toque de humor, qualquer que fosse o assunto em questão - a sua bem conhecida paixão pelos filmes de Fred Astaire, que, havia pouco, a salvara de depressão quase fatal, o Brasil polifacetado nas nossas tão diferentes vivências, uma certa América, sobretudo a de Adriano, cheia de peripécias extraordinárias...
Encantada, com a sua versatilidade e simpatia, custava-me, porém, a acreditar que aquela senhora, com uma postura tão simplesmente "familiar", fosse Amália Rodrigues... Parecia-me, sim, uma das minhas próprias tias, da mesma idade e quase tão bonitas e engraçadas como ela (o mesmo, sabendo embora que não gostavam uma da outra, digo sempre de Agustina - se bem que fosse um outro paradigma de tia amável, uma daquelas que faziam "tricot" e doçarias e a quem não escapava nada do que acontecia à sua volta). Ao longo do memorável serão, só estranhei que antes de um qualquer comentário, repetisse "eu tenho pouca cultura", ou "eu sou muito ignorante", após o que se lançava em acutilantes observações, que revelavam ser precisamente o oposto. Porquê? Talvez porque conotasse classe política a snobismo... Como nos jantares e encontros seguintes, não mais voltou a reivindicar pretensa "incultura", convenci-me de que tinha passado no teste, sido aceite como pessoa tratável. Na verdade passara, também, o teste da amizade e continuaria a conviver, ano após ano, com a Amália, não a Rodrigues, mas a do círculo Seabra.
Muitas faces ela tinha, mas, na sua tão original heteronímia, eram todas genuínas, todas refletindo a sua Verdade. não mais do que expressões diversas, condizentes com cada mundo que atravessava e em que sabia estar perfeitamente, com intuitiva compreensão dos outros, usando a sua linguagem... O mundo que partilhámos foi de risos e alegrias, não o das suas mágoas e melancolia - digamos que foi o ds folclore ou das canções ligeiras de Alberto Janes, não o dos fados de Alain Oulman, com que alcançou a eternidade. Convivemos, é certo, mais no país do que nas rotas da emigração, onde só recordo duas ocasiões em que estivemos juntas em Connecticut, na casa de Adriano, os festejos do Dia 10 de junho, em Newark, no ano em que Amália, com a faixa de "Grand Marshal" encabeçou a parada, aplaudida por cerca de 100.000 pessoas na "Ferry Street"/Avenida de Portugal, e uma viagem transoceânica para o Brasil em que coincidimos numa executiva sem muitos passageiros, quase só para nós. Conversámos longas horas, para que esquecesse estar tão longe e acima de terra firme - detestava andar de avião, e de avião andou, constantemente, uma vida inteira! Ia atuar ao Canecão, ao que suponho, pela última vez. Eu, que a ouvia, no gira-discos, quase todos os dias, desde que a conhecera, há uma década, ainda não a tinha visto em espetáculo público. No palco do Canecão, entrou, mais alta do que na vida, num deslumbrante vestido negro. Aos 74 anos. Cantando, transfigurada, para uma audiência em delírio.
Era a outra, a Amália Rodrigues!
Depois, no camarim, entre muitas flores, que adorava, e champanhe, que nos oferecia, reencontrei uma Amália, tangível, radiante, descontraída, à vontade no meio de amigos, de gente comum.Maria Manuela Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/09250586936456169729noreply@blogger.com0