
Não me refiro à forma como vestem, ou como posam para a câmara, para futuramente recordar. Ainda hoje a postura seria semelhante. Não é isso que torna o retrato "datado".
O que é então?
A resposta é elementar, my dear Watson.
É a composição de género, evidentemente.
Lá estou eu, ainda na casa dos 20 anos, no meio de tantos colegas - homens de vários continentes e países do mundo, sem faltar, por exemplo, a URSS, a Austrália, a Índia e o Paquistão, as Ilhas Seychelles e a Libéria (e lá estou no centro, como convem, por cerimónia, para com a única mulher participante no curso...).
Qual das grandes organizações internacionais ousaria, no ano da graça de 2010, escolher assim, do mesmo modo, com o mesmo "desplante", um "plantel" académico quase "unisex"?
Ainda por cima a OIT, que preconiza a igualdade de tratamento dos trabalhadores e trabalhadoras nas suas convenções...
Foi apenas há uns 40 anos!
2 comentários:
Estou, evidentemente, à direita do director do curso. À minha esquerda, o Vice-Ministro do Trabalho do Paquistão, que se chamava Rahman, e era uma simpatia. Precisamente atrás dele, o então deputado Jimmy Mancham, que viria a ser, poucos anos depois, Primeiro Ministro das Ilhas Seychelles!
À esquerda de Jimmy Mancham, meio escondido entre o japonês Maeda (professor universitário) e um dos professores do curso (irlandês) está o russo Yuri Yemelianov (professor de um Instituto de Relações Internacionais em Moscovo), que era o meu colega do lado, na bancada das aulas. Eu não compreendia o porquê daquela estranha colocação na geografia da sala... Porquê o soviético?
Ele chegou com dois ou três dias de atraso e eu olhava todos os homens gordos e arrogantes e dizia para mim mesma: "Deve ser este..."
Mas não!
O russo era magro, bonito, com uns sorridentes olhos azuis, comunicativo e divertido! E, logo percebi a razão de sermos os vizinhos de bancada: Yuri falava português!
De princípio, com pronúncia brasileira, por fim, à portuguesa como eu, porque o treino foi muito!
Ninguém nos entendia. E todos, ou quase todos ficaram convencidos que eu falava russo e ainda hoje vivem nessa convicção... Achavam mais provável! Nem o Yuri nem eu os desenganamos.
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