setembro 04, 2009

UM ENCONTRO PARA CONTINUAR

PRIMEIRO E SINTÉTICO BALANÇO
O ” Encontro em Espinho - Cidadãs em Diáspora” trouxe a Portugal representantes dos “Encontros para a Cidadania – A Igualdade entre Mulheres e Homens”, que se realizaram, de 2005 a 2009, sucessivamente, em Buenos Aires, Estocolmo, Toronto, Joanesburgo e Berkeley, e retomou muitos dos temas aí tratados.
Em diálogo, estiveram as participantes, que desempenharam o papel de “porta -voz” de cada uma dessas reuniões regionais, e muitos investigadores, académicos, nomes prestigiados dos vários ramos da ciência que se cruzam no domínio das migrações – uma verdadeira “cimeira de especialistas”! – e emigrantes ou ex- emigrantes, defensores dos direitos dos estrangeiros, dirigentes associativos das diásporas lusófonas ( não só de Portugal, mas também de Moçambique, do Brasil, de Cabo Verde, da Guiné, de Angola), políticos, os deputados José Cesário e Carlos Páscoa e o antigo deputado Carlos Luíz, autarcas nortenhos, altos funcionários, com destaque para a nova Directora Regional dos Açores Drª Rita Machado Dias, professores de português, a Presidente e alunos da “Universidade Sénior” de Espinho, e – coisa invulgar e deveras gratificante para nós - várias dezenas de estudantes das Escolas secundárias da cidade.
A Associação Mulher Migrante iniciou com esta organização as comemorações do seu 15º aniversário de constante actividade. Contou, uma vez mais, com a parceria da Fundação Pró Dignitate, através da Presidente Drª Maria Barroso, do Centro de Estudos das Migrações e Relações Internacionais e da Universidade Aberta, com o apoio da Câmara de Espinho e do seu Presidente José Mota, o patrocínio da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas , e o interesse e estímulo decisivos do Secretário de Estado Dr. António Braga.
Como é habitual nas realizações desta Associação, as migrações, numa perspectiva global e não especificamente “feminina”, estiveram no centro do debate, mas com as mulheres no lugar que neste domínio é o seu, com a visibilidade que lhes é negada, quase sempre, noutros “meetings” ou “fora”. De facto, o percurso da metade feminina da nossa emigração tem sido, em regra, desvalorizado, desde logo porque é muito menos estudado do que o do homem e esta é uma das formas de discriminação, que ainda subsiste, como tive oportunidade de dizer, na sessão de abertura.
E é também inegável que, apesar da evolução a que vimos assistindo, sobretudo no continente norte americano, no sentido de uma sua participação cívica mais igualitária, há ainda um défice de oportunidades – de presença, de opinião, de palavra, de influência… - que a afasta das instâncias de decisão e de poder, sobretudo a nível da comunidade portuguesa. E do movimento associativo, que tanto precisa de se renovar, alargando a base de sustentação, e ganhando um suplemento de ânimo, que ela poderá garantir-lhe. Este é, a nosso ver, um objectivo comum a todos, independentemente do “género” ou da geração, e um requisito da vida em sociedade e em democracia.
Foi, pois, a Mulher como Cidadã, e Cidadã de duas Pátrias, pelas quais reparte a sua vivência, que procuramos reconhecer, na emigração - que, para ela se tornou, tanto ou mais do que para o Homem, um caminho de auto-afirmação e auto-confiança, assim como promover a sua maior participação na vida colectiva. E o certo é que, nas comunicações e nos debates, destes dois dias intensos, passados em Espinho, foi emergindo, não só um novo paradigma de intervenção feminina nas comunidades do estrangeiro, mas também um novo perfil de mulher-emigrante: jovem, independente, mais qualificada, que parte à procura de valorização profissional, sozinha, ou com o marido, em pé de igualdade, desde a primeira hora.
Falámos muito de uma realidade de que, tradicionalmente, salvo em situação de crise pontual, se fala tão pouco nos “media” e no discurso político em Portugal, como afirmou o Prof. Eduardo Vitor Rodrigues, na última e inesquecível conferência do "Encontro": a de um movimento de saída que aumentou tremendamente, desde o começo do século. Quase em exclusivo para a Europa (Inglaterra, Irlanda, Espanha…) embora no actual clima de depressão económica , pareça procurar, de novo, os destinos longínquos, em África, ou, pelo menos, em Angola, o promissor país lusófono, agora em paz e em processo de reconstrução.
É cedo para fazer o balanço final de um “Encontro” tão rico de ensinamentos e de experiências partilhadas. Esperamos que ele se traduza em iniciativas múltiplas, que iremos contabilizando.
De uma temos já a certeza: a criação, na comunidade de Pretória, de uma “Universidade Sénior” seguindo o modelo da de Espinho. Garantia dada, durante os trabalhos, pela representante da África do Sul, a dinâmica Manuela da Rosa, fundadora da “Liga da Mulher” e antiga conselheira do CCP.
Vozes muito influentes foram, igualmente, as das representantes dos outros “Encontros para a Cidadania”: Maria Violante Martins, actual presidente da Associação da Mulher Migrante Portuguesa da Argentina, e Claudia Ferreira, do Rio de Janeiro, (no painel sobre os “Media”, ela que é uma "radialista" de sucesso, com programa no ar há muitos anos) pela América do Sul, Maria Amélia Paiva, Cônsul – Geral em Toronto, antiga Presidente da Comissão para a Igualdade, uma maiores especialistas portuguesas neste domínio, pelo Canadá, Deolinda Adão, professora da Universidade de Berkeley e uma "autoridade", no que respeita ao associativismo feminino da Califórnia, pelos EUA, e Isabel Oliveira, a mais jovem de todas, uma brilhante investigadora (do CNRS) e professora em Paris (Sorbonne), pela Europa.

Todavia, o “Encontro em Espinho” não terminou ainda – vai continuar, ao longo deste ano do 15º aniversário da “Mulher Migrante”. Para já, através do blog, que antecedeu e acompanhou o “Encontro” e continua aberto, como repositório de informação, pronto a aceitar novos contributos.
No segundo semestre de 2009, vamos editar os dados nele contidos e apresentar a publicação, em modelo de "seminário", que permita novos debate sobre as ideias, as recomendações e as conclusões desta nossa iniciativa - ou melhor, desta série de iniciativas, com as quais queremos contribuir para melhor conhecer e dar a conhecer a realidade da migrações, femininas e não só, no tempo presente.