janeiro 19, 2016

LOPETEGUI, UM CASO DE ESTUDO 1 - Os erros, que fazem de Lopetegui um "caso de estudo" não cabem num texto curto. Em síntese, apenas uma referência a dois que lhe foram fatais. Primeiro erro: a forma como viveu o seu estatuto de emigrante. A cabeça e o coração ficaram no país basco, ou em Madrid, ou noutra terra longe de nós. É comum esta espécie de inadaptação, que os portugueses, em regra, superam melhor do que quaisquer outros, simplesmente porque, onde quer sejam bem recebidos (como Lopetegui foi), retribuem, gostando do novo país, fazendo-o seu. E, por isso combinam formas próprias de estar no trabalho e na sociedade, com as dos outros, intuitivamente. A partir de certa altura, já pertencem lá, sem deixarem de pertencer aqui. Há para isto uma palavra: integração...Lopetegui nunca se integrou: o Porto era "Oporto", esperança era "Ilusión". Mais do que mera questão linguística, dificuldade de aprendizagem desculpável, era a ponta de um "iceberg"... Ficamos com a impressão de que se sentiu sempre, subjetivamente, um Gulliver em Lilliput, não viu que todos os homólogos que encontrava nos estádios de Portugal eram da sua dimensão, exceto os que lhe eram superiores... Não percebeu que estava num país de treinadores de excelência, muitos dos quais vão pelo mundo fora, como triunfadores: Mourinho, Villas- Boas, Manuel José, Marco Silva, Fernando Santos, Jardim, Jesualdo, Victor Pereira, etc, etc. Pior ainda: não soube avaliar a grandeza do FCP, não conhecia bem o seu passado, não interiorizou a sua "mística". 2 - Segundo erro e o maior de todos: o excesso de vedetas que exigiu para a equipa com que queria fazer história no futebol português - hispanizando-a, naturalmente. Olhávamos com espanto a revoada de espanhóis, que se instalava no Porto, ao lado de alguns sul-americanos, africanos, e até um português, o Rúben, vindo da "cantera" do clube - única decisão altamente meritória a que deixa o seu nome ligado. Foi o oposto de Mourinho, que chegou ao FCP e prometeu ganhar o campeonato apenas com dois ou três reforços, recrutados em modestos clubes portugueses (Derlei, Nuno Valente...). E assim construiu um conjunto fantástico e cumpriu a promessa. Depois, para vencer a "champions", pediu um nome sonante só um! Benny Macarthy, que já conhecia o clube. As infindáveis contratações de luxo deste "anti- Mourinho" eram de mau augúrio. Estavam reunidas as condições para a "grande nau" sofrer a "grande tormenta"... Não tardaram as tormentas. A primeira atingiu Quaresma, o génio do futebol, o herói portista! Como era possível prescindir de Quaresma? Resposta fácil: tinha bons jogadores a mais! 3 - Nova época, mais exigências milionárias. Nunca o FCP condescendera tanto com um técnico, ainda por cima perdedor em toda a linha. Mas nem por isso ele se mostrava reconhecido. Queixava-se da falta dos jogadores que partiram - alguns, Quaresma, Quintero, em boa verdade, por sua vontade, outros, Óliver, Casimiro, em função de contratos precários que promovera. E, pelo visto, subestimava as numerosas aquisições de 2015, como Maxi Pereira, André André, Layún, Danilo (um Danilo português), Corona, para além de Casillas, Imbula (por 20 milhões), sem falar de Cissoko, Bueno, Varela. Osvaldo, Sérgio... . Ora lidar com o excesso num plantel, não parecendo, é mais difícil do que o seu contrário. Foi a super abundância de estrelas que levou um inexperiente Lopetegui à perdição. Não havia um onze base, não havia lugar certo para ninguém (salvo, evidentemente, para o guarda-redes) e era enorme a probabilidade de qualquer um se tornar redundante, caíndo em desgraça. Em suma: muitos jogadores e pouca equipa. Com a qual perdeu tudo qunto havia para ganhar... Partiu, assim, em boa hora, este imigrante do futebol, sem levar saudades e sem deixar saudade. E chega um emigrante português, José Peseiro, homem sensato e telentoso, que nos dá a garantia pôr o FCP a jogar bem (e, sobretudo, para frente! )... e talvez de ganhar tudo o que há ainda para ganhar