dezembro 29, 2009

Projectos para o centenario da Republica em Espinho

Confesso que erguer um mastro de 100 metros para anunciar o centenário da República, nele hasteando uma bandeira gigante, não é propriamente o meu ideal de celebração seja do que for, incluindo os festejos de um novo regime instalado, a partir de Lisboa, numa Pátria dez vezes mais antiga.
Mais importante do que celebrar, assim, me parece o pensar a mutação que aconteceu em 5 de Outubro de 1910 e fazer, nos aspectos que mais pertinentes são para o futuro da democracia portuguesa, o balanco do século.
Ja nem digo que realmente democrático e interessante seria lançar, em Portugal, finalmente, à semelhança do que o Brasil soube empreender, sem complexos, um referendo sobre essa mudanca de regime, que nunca foi legitimada pelo voto, e deveria ter sido, ou ser, qualquer que fosse o sentido do voto.
Ou, pelo menos, retirar da Constituição a "clausula pétrea" que proibe a consulta popular sobre a "questão de regime", que, hoje, deveria ser encarada com respeito e confiança na decisão soberana dos eleitores.
Herdeira, na familia materna e paterna das duas tradições, monárquica e republicana, olho 2010 como o ano para recordar, em especial, a vida, a luta e os ideais dos tios republicanos - tios-avós ou tios-bisavós, naturalmente.
Pela suas ideias foram perseguidos, passaram pelo Aljube, um deles, o Tio António, também pelo exilio em Africa (temporário,é certo), outro o Tio José, viu-se, ainda novo, compulsivamente aposentado do Supremo Tribunal de Justiça...
E há, ainda, nesta galeria de memórias, o Tio bisavô Manuel Guedes (o irmão da bisavó Carolina), que não chegou a ver o dia 5 de Outubro de 1910, mas teve o seu nome, postumamente, até hoje, dado a praça do municipio, em Gondomar.
Não, eu não sou republicana, como eles foram, mas acho que teria sido, se vivesse nesse início do século XX - porque, como feminista, teria posto na ruptura com o regime a esperança de uma igualdade de género e de outras formas de igualdade consagradas na Constituição e nas leis. E é porque a República frustrou essa esperança, e porque as monarquias modernas são dela as melhoras portadoras, no norte da Europa, sobretudo, que eu não deslumbro com a chamada ética republicana, nem com a sua suposta mas inexistente superioridade face à democracia das monarquias exemplares, que conhecemos no sec. XXI.
Em qualquer caso, a data não é para esquecer, não deve ser para dividir (mas para isso se impõe que não haja tabus alguns...). Deve ser para reflectir, para relembrar, para homenagear todos os que sonharam com mais igualdade, mais justiça e mais progresso.
Para recordar um tempo, um Portugal, num momento singular da sua história.
Por sorte, ou ironia do destino, encontro-me, neste começo de 2010 a exercer, pela primeira vez um cargo em que posso, conforme decida, dar curso as comemorações do centenário: através do pelouro da cultura da Câmara de Espinho.
E vou faze-lo! Sem gastos sumptuários, mas, espero, com verdade e dignidade.

dezembro 13, 2009

Entrevista - Maré Viva

Um mês após a tomada de posse como vereadora da Cultura, Biblioteca, Arquivo municipal e Relações Exteriores e geminações, que balanço é-lhe possível fazer dos seus pelouros?

Ao longo dos 4 anos em estive na Câmara como vereadora sem pelouro não tive praticamente qualquer contacto directo com estes serviços, à axcepção da Biblioteca. Já tinha da Drª Isabel Sousa e da sua equipa uma imagem de eficácia e simpatia, pela forma como colaboraram num Encontro de Mulheres Migrantes, que organizei em Espinho, no passado mês de Março. Dos outros, Dr Fonseca, Drª Idalina Sousa, Dr Armando Bouçon , Drª Beatriz Matos Fernandes, não podia dizer o mesmo. Hoje posso!
Foi uma óptima surpresa - todos os dirigentes com os quais trabalho me impressionaram pela competência, pela vontade e facilidade de contacto com o que se costuma chamar organizações da s "sociedade civil", e, também, pela criatividade, que é essencial neste domínio.
Acho que é possível desenvolver com eles os mais audaciosos projectos para Espinho, desde que haja meios materiais para tanto.


Quando se reuniu com os agentes culturais da cidade, na passada quarta-feira, estiveram presentes os responsáveis pelos departamentos da Cultura, Arquivo Municipal e História. É sua imntenção criar sinergias entre os diversos departamentos?


Sim , é claro! Foi um primeiro sinal que passou para o exterior e que corresponde a um propósito e a uma maneira de trabalhar, que sempre foi a minha. A nível dos colaboradores de dentro como a nível dos nossos interlocutores - os cidadãos e as colectividades. Acredito no trabalho partilhado, na coordenação de tarefas, no estímulo e no entusiasmo acrescido que o conhecimento de todos os aspectos de um projecto global dá a cada um. Tenciono mesmo institucionalizar reuniões conjuntas, com periodicidade regular, para além das do dia a dia. Estou sempre, evidentemente, disponível para falar sobre qualquer assunto de serviço, quando entenderem que é necessário, tal como eu faço em relação a eles, sempre que surge uma ideia nova, uma solicitação de fora ou a nacessidade de esclarecimento.


Os responsáveis pelos departamentos abrangidos pelos seus pelouros dão-lhe todas as garantias?

Sem dúvida! Do ponto de vista do planeamento e execução dos programas, para além de serem pessoas muito interessantes, com quem é agradável conviver. São interessantes e interessados no que têm em mãos. Um empenhamento e uma dedicação visíveis.
Um dos meus defeitos, que reconheço, é a impaciência. Quero tudo executado na hora, tal como eu despacho no próprio dia tudo o que vem devidamente informado e não oferece dúvidas, isto é, a esmagadora maioria dos processos. Pois bem! Até neste aspecto estes dirigentes são como que a resposta a uma prece.

Estará no horizonte a criação de uma empresa municipal responsável pela cultura, à semelhança das existentes nos concelhos vizinhos de Gaia e Feira?

Não no imediato, mas espero poder trocar ideias e experiências com os vereadores da cultura dos municípios vizinhos, justamente para avaliar os melhores meios de cconsecução de fins idênticos e para articular acções, sabendo, porém, que os orçamentos para a cultura, nomeadamente nos casos que refere, não são semelhantes...

CULTURA

O número de agentes culturais que apareceram à reunião de quarta-feira surpreendeu-a? Ou já tinha essa percepção?

Fiquei muito satisfeita, quer pelo número elevadíssimo de participantes, quer pelo teor das intervenções, embora necessariamente muito sintéticas. Para o objectivo de desenvolver programas em concertação com eles foi uma certeza de que os agentes culturais, que já vêm colaborando com a Câmara, estão prontos a continuar, ou mesmo a fazer mais. É o que desejamos!
Mas surpresa não tive, não por mérito meu, pela minha própria percepção, mas pela boa informação previamente dada pelos serviços...


As queixas mais comuns dos produtores de cultura espinhense prendem-se, essencialmente, com a falta de espaço e com a falta e financiamento...

Há carências, sobretudo de espaço, que poderemos resolver, por exemplo, no FACE, ainda largamente sub-aproveitado. O Dr. Armando Bouçon está sempre disponível para encontrar as soluções viáveis. O espaço tem de ser bem gerido e rentabilizado. Um ante-projecto de regulamento para esse efeito já está em apreciação.
Todavia, enquanto não há pretendentes à sua ocupação remunerada, como deve ser, para ter sustentabilidade económica, parece-me óbvia a vantagem de lhes dar vida através de cedência às colectividades, com a contrapartida da sua própria colaboração nos programas culturais do município.
E, no futuro, mesmo se os espaços forem diminuindo, sempre sobrará o que tem de se reservar ao apoio que as instituições merecem, de acordo com as suas caraterísticas.


Túcátúlá, de Par em Par, Homens Estátuas... Estes eventos são para continuar, nos mesmos moldes? Há espaço para surgir outros projectos?

É evidente que são para continuar, como eventos de reconhecido interesse, que prestigiam Espinho. Julgo que uma primeira preocupação é a de melhor as divulgar, dentro e fora do concelho. Reequacionar a elaboração da "agenda cultural", de outras publicações, assim como melhorar o site da Câmara e recorrer a outras formas de lhes dar mais impacto mediático, de atrair mais públicos.
E há necessidade de novos projectos, muitos deles gizados a partir do diálogo com a realidade associativa espinhense - felizmente tão rica. O primeiro passo foi a reunião de 9 de Dezembro.
Das iniciativas em si, prefiro falar depois de elaborado o programa de acção para 2010, sendo certo que só limitações orçamentais poderão provocar o adiamento de alguns novos projectos de vulto. Apesar de alguns serviços estarem subdimensionados, capacidade e imaginação para os realizar, como disse, não me parecem faltar!


Ainda na reunião, teve uma frase curiosa: "Espinho precisa de mais beach parties". Definitivamente, espinho tem de olhar para a sua prais de outra forma?

Eu sempre vi Espinho, desde criança, como uma cidade cheia de vida e animação à beira mar. Foi-a perdendo... e è preciso que a saiba recuperar. Temos de repensar as formas de reviver essas tradições, agora, adaptadas ao século XXI. Espectáculos de rua, na esplanada, envolvendo as esplêndidas e múltiplas escolas de formação artística, musical, a juventude, "beach parties", como disse, infra-estruturas de fácil implantação para o desporto na praia, para a animação infantil, são iniciativas a encarar de frente, e já. Pela Câmara, pela Junta - tanto faz, o que importa é que Espinho volte a ser o que foi.
Em todos os casos, aliás, a boa articulação com as Juntas e a descentralização de acções estão nos nossos objectivos.

INFRAESTRUTURAS

Em termos de equipqmentos, Espinho é capaz de ser um dos concelhos mais bem servidos, tendo em conta a sua dimensão. Que projectos tem para eles?

É verdade que há muitas infra-estruturas e que temos de tirar partido delas, fazendo a diferença na vida da cidade e das pessoas.
Mas não é tarefa muito fácil, porque não estão necessariamente adaptadas ao que as pessoas e as colectividades precisam. Em alguns casos, modernizar ou profissionalizar a gestão, repensar a vocação dos equipamentos, proceder porventura a adaptações é coisa que se impõe, quanto antes.
Um exemplo: a Academia de Música teve de construir a seu próprio auditório, porque nenhum dos existentes tem as características requeridas para grandes concertos , espectáculos de dança ou teatro profissionais. E entretanto, o do Multimeios, vocacionado para o cinema, está quase sempre deserto. O auditório do FACE tem capacidade para 135 pessoas e foi pensado essencialmente para conferências ou palestras, não para espectáculos de música, cinema ou teatro...
Mas nem tudo é negativo, não quero dar essa ideia, que não é verdadeira. Posso destacar, pela positiva, por ex., o Museu, as magníficas galerias de exposições do FACE. Mais de 1000 m2 , belíssimas do ponto de vista arquitectónico e com janela panorâmica para o mar!
Uma delas estava ocupada por uma empresa, que, em diálogo com o novo executivo, se disponibilizou a mudar para outra localização, dentro da Casa, assim nos permitindo restituir aquele espaço à sua vocação.
A semana passada, duas representantes do Museu de Serralves visitaram as galerias e ficaram encantadas.
Uma das galerias está reservada a exposições temporárias, a outra, quando a exposição temporária não exigir esse prolongamento, será ocupada com exposições sobre Espinho, já existentes no acervo do Museu.


Como encarou a inauguração da Biblioteca, sem aquilo que lhe é essencial, os livros? Está para breve a abertura desse espaço aos espinhenses?

Biblioteca inaugurada sem livros... Pior ainda: sem equipamento, sem mobiliário, sem contrato de instalação electrica com a EDP! É costume inaugurar a 1ª pedra de um edifício. Neste caso, diremos que se tratou da "inauguração da última pedra" do edifício, não da Biblioteca!
Se o problema fosse apenas a desinfestação e transporte dos livros, poderiamos assegurar uma data muito próxima para a abertura ao público.
Nestas condições, não! Há que abrir previamente concurso para aquisição de equipamentos, há que obter decisões não só do executivo, mas da Assembleia Municipal, vistos do Tribunal de Contas... E também abrir concurso para admissão de pessoal. Burocracias imprescindíveis, delongas, das tais que se não coadunam com a minha impaciência. Mas é mesmo assim que tem de ser.


É possível à cidade reaver edifícios tão emblemáticos como o Teatro São Pedro ou o Palácio da Pena?

Pertenço àquela escola de pensamento que priveligia a salvaguarda do património existente, em vez de avançar para obra nova.
Há meses,ouvi o Presidente da Câmara de Chaves dizer que, com ele, enquanto houver um edifício antigo pertencente ao município, é lá que se instalam os serviços camarários! Tem a minha concordância plena.
O que se passa com o Palácio Rosa Pena è uma dor de alma!
O que se passou com o derrube do velho Cine Teatro São Pedro e de outros marcos arquitectónicos desta cidade foi lamentável. Perdas irreparáveis...
Quanto ao novo auditório que o substituiu, mal, mas que, apesar disso, era uma sala agradável, estava desaproveitado e ao abandono e teve o destino que se sabe.
No imediato, não creio que seja financeiramente possível uma intervenção da Câmara.
Mas espero que venha a ser feita, sobretudo no caso do Palácio!

GEMINAÇÕES

Que objectivos vão reger a política de geminações?

As geminações podem e devem ser um instrumento de aproximação de culturas, de internacionalização da imagem da terra ou do país, de valorização da sua história e realidade, de intercâmbios económicos e de toda a ordem, de criação de oportunidades para os jovens.
Ou não, quando depois da assinatura do protocolo de geminação, depois das visitas oficiais, não há sequência prática...


Pretende reforçar os laços europeus de Espinho, em detrimento de outros sul americanos?

Espinho tem muitas geminações, mas, na maioria, em estado de hibernação. O que pretendemos é reavivá-las a todas, se houver resposta dos nossos parceiros. São acções a preparar a nível bilateral, contando com potencialidades e respostas muito diversas.
É atendendo a elas que teremos de interagir.
A mais activa é hoje a mais recente, com Limoeiro do Norte, no Brasil. Teve um excelente começo, com um grande impacto na cidade, no Estado do Ceará e, até, nos media nacionais brasileiros. É claro que, da nossa parte, estamos muito empenhados em prosseguir o caminho encetado. Sempre assim fiz - não me custa nada continuar o trabalho de outros.
Comecei as diligências por Brunoy, porque encontrei a maior receptividade num primeiro encontro que tive na Câmara, com a espinhense D. Maria Ferreira
do Comité de Jumelage com essa cidade. De seguida, fui lá pessoalmente, de um dia para o outro, e contactei todo o Executivo, associações, alunos e professores de português... Julgo que temos condições de desenvolver muitas acções, incluindo a nível do intercâmbio de jovens.
Ora diligências semelhantes, uma espécie de "visita preparatória", rápida, acessível, económica, não é simplesmente viável nas geminações transoceânicas.
É o que justifica a diferença de procedimento.
Inspirada no exemplo de Brunoy, vou constituir na próxima semana um grupo de trabalho para dinamizar as geminações. Como seria previsível, constituído pelos responsáveis das diferentes áreas que temos vindo a referir. Para já, um grupo de trabalho. Mais tarde, espero, uma verdadeira ONG, como em França.

dezembro 10, 2009

Arquivo Aberto

Enquanto munícipe confesso que não me apercebi do excelente trabalho que a responsável pelo Arquivo Municipal de Espinho, Drª Beatriz Fernandes vem fazendo, no campo da acção educativa, abrindo aos mais jovens os arquivos e dando-lhes a possibilidade de a partir deles desvendarem a história e realidade de factos e instituições.
Hoje, em reunião, várias iniciativas futuras foram equacionadas, desde a colaboração a prestar às mais antigas colectividades de Espinho, aceitando, em depósito, os seus arquivos e dando-lhes o devido tratamento - assim preservando e aumentando o património da terra e das instituições! - até novas accções no campo educativo, a partir dos arquivos. Tema para o ano de 1910: Monarquia Constitucional e República.
Várias exposições em preparação. Aceitação de uma importante doação. Talvez algumas primeiras publicações. E em perspectiva, também, já, um trabalho que se impõe sobre as migrações para a Venezuela. Os arquivos são uma fonte insubstituível de conhecimento exacto sobre esse passado!

Colóquio na Pro Dignitate

Fui representar a Câmara de Espinho no Colóquio com que a Fundação Pro Dignitate lembrou os direitos da criança.
Com a presença da Ministra da Educação, a Dra Maria Barroso fez o lançamento de um concurso sobre esta temática dos Direitos da Criança.
O formato da iniciativa é muito interessante: apresentar o concurso, chamar a atenção para situações concretas, para os problemas da escola e da família, através de um debate, com introdução a cargo de vários antigos Ministros da Educação, que fizeram brilhantes intervenções (Veiga Simão, Oliveira Martins e Júlio Pedrosa), suscitando intervenções também muito esclarecedoras da parte da assistência.
Se conseguirmos concretizar a ideia de promover um concurso sobre a história de Espinho, destinado a crianças e a jovens, valeria a pena adoptar procedimento semelhante - com o tema do concurso no centro do debate.
Um momento de particular interesse foi, para mim, o da informação dada pelo Professor Doutor Júlio Pedrosa sobre os resultados de uma linha de investigação desenvolvida na Universidade de Aveiro sobre as formas de conseguir um maior envolvimento das famílias na escola ("A escola em casa"), levando pais e filhos a ganhar o hábito de falar sobre tópicos discutidos na sala de aula.
Resultados extremamente positivos, nas turmas que participaram no projecto.
Sem os financiamentos de que a investigação beneficiou nos municípios que nela foram abrangidos, a sua extensão a outros estabelecimentos de ensino teria custos elevados. Porém, algumas Câmaras pediram e obtiveram apoio metodológico para fazerem, por sua iniciativa, o mesmo tipo de experiência.
A Universidade está aberta a facilitar essa metodologia.

dezembro 09, 2009

Deslocação a Brunoy

A breve deslocação de dois dias que fiz a Brunoy, a 30 de Novembro e 1 de Dezembro, teve por objectivo relançar a geminação com a cidade de Espinho.
Em tempos recentes, as atenções, pela nossa parte, têm estado mais voltadas para o outro lado do oceano.
Sem descurar o que de bom aí se possa alcançar, parece-nos importante retomar os contactos e intercâmbios com a única cidade europeia com a qual estabelecemos um protocolo de geminação - aliás, o primeiro, uma iniciativa do Presidente Romeu Vitó, a pedido de emigrantes daqui originários.
Constatamos a ausência de referências a Espinho no programa já estabelecido em Brunoy para 2009, ao contrário do que acontece com as duas outras geminações activas (com a Alemanha e a Inglaterra).
A vontade de reatar os contactos connosco é muito grande, como se tornou muito óbvio. A simpatia e hospitalidade com que fui recebida foram inexcedíveis! Por parte da vereadora responsável pelas geminações, Mme Geneviève Finel (também responsável pelo pelouro da Economia), pelo Sénateur-Maire Beteille, por todos os membros do Executivo e pelos membros da Comissão de Portugal no "Comité de Jumelage" (uma ONG).
Vários projectos concretos foram, de imediato, hipotizados. Por exemplo: intercâmbios com a Universidade Sénior, com as escolas (alunos de português num país e de francês no outro); participação de jovens dos 12 aos 16 anos num torneio quadrangular de futebol, a realizar durante as férias de Páscoa; uma conferência sobre o centenário da implantação da República em Portugal; exposições, que sejam facilmente transportáveis; concertos de orgão na belíssima Igreja barroca de Brunoy.
Pelo "Maire" foi-me transmitido um convite, que vai ser formalizado, para o Presidente da Câmara de Espinho visitar a cidade por altura da calebração do 14 de Julho - ao qual nós podemos corresponder com um convite para as festas da cidade.
Convém, todavia, que mesmo estes tradicionais e protocolares contactos sejam acompanhados da organização de acções como as que foram referidas. Nessas áreas ou em quaisquer outras, em se possa dar o contributo positivo da uma experiência - caso do ambiente, ou do urbanismo, ou da desburocratização, ou informação ou audição dos cidadãos.
A revista mensal do município de Brunoy é muito bem elaborada, cobre aspectos diversos da vida comunitária, sem sobrevalorizar nunca a imagem e o discurso dos políticos, como é prática corrente entre nós.
O "Comité de Jumelage" edita a sua própria informação, um simples e despretensioso boletim periódico, com o curioso título de "Jourmelage". Eis uma forma a que podíamos recorrer no diálogo e na divulgação da realidade das cidadas connosco geminadas, todas, com excepção de Brunoy, de países de língua portuguesa. Um jornal que apelasse à colaboração, nomeadamente, dos jovens e que poderia ser, igualmente, editado na "net".
Não é possível, em relação a cidades distantes proceder ao contacto directo que é fácil com a França, mas nada nos impede de trabalhar em conjunto por diferentes vias.
Em Limoeiro do Norte, Brasil, era importante não deixar perder a dinâmica que está criada. No que respeita às demais, no Brasil, em Cabo Verde, Guiné Bissau, Angola e Moçambique, há que recomeçar, se se encontrar receptividade.
É o que nos propomos fazer. E, se a resposta for positiva, deveremos procurar envolver os cidadãos, e não só os políticos, no relacionamento das cidades. O paradigma do "Comité de Jumelage" não pode ser transposto sem adaptações, mas é uma fonte de inspiração, pois o "voluntariado" é, certamente, de encorajar neste domínio.
Para já, a nível interno, será constituido um grupo de trabalho responsável pela implementação de programas de intercâmbio.

Em Brunoy, pude ainda assitir a uma aula de português, na Casa da Cultura, e dialogar com o professor e alunos. E aí encontrei também uma dirigente do CCPF (Conselho das Comunidades Portuguesas de França), Marie Heléne Aeuvrard, que me apresentou o projecto de realização, em Espinho, na primeira semana de Agosto do próximo ano, do 13º Encontro de Jovens Europeus Luso-descendentes (cerca de meia centena de rapazes e raparigas). Acolhemos, naturalmente, com entusiasmo, esse projecto de visita cultural, que vem sendo fortemente apoiado pelo Instituto Português da Juventude e pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas (DGACCP).
Pela mesma dirigente associativa foi solicitada colaboração para as comemorações do 25 de abril, em Brunoy - acção que pode integrar-se no desenvolvimento do processo de geminação.

dezembro 08, 2009

Natal na minha terra

Por esta altura nunca a amiga Dona Benvinda se esquece de mim - e sempre me convida a enviar mensagens de Natal, para o jornal Portugal em Foco e para o número especial da revista.
Esta, a mais longa, é dirigida ao jornal:


Este ano, o meu Natal, ganhou, como há muito não acontecia, uma dimensão comunitária, por causa das funções que passei a desempenhar, desde Novembro, no executivo municípal em Espinho, com o pelouro da Cultura. Como nos tempos do trabalho na emigração, que aliás nunca esqueço, muito em especial nesta época do ano. Trabalho que, subjectivamente, encarei sempre mais como "voluntariado" do que como carreira política. Agora, aqui, mesmo de um ponto de vista muito objectivo, este recente e inesperado envolvimento não pode ter outra leitura, pois como "carreira política", não faria sentido... Mas sempre faz sentido, como é evidente, trabalhar pela comunidade onde nos integramos.
E, assim, depois de ter partilhado estas celebrações um pouco por todo o mundo, no grande universo institucional, bem estruturado e generoso de que se fazem as comunidades da Diáspora, chegou a vez de viver, da mesma forma, o Natal na minha urbe tão pequena em território e em população, mas muito cheia de uma dinâmica de solidariedade e de afirmação colectiva das suas gentes, conscientes de que devem transpor para o futuro o destino de um nome mítico, como é o de Espinho.
E ao comparar a experiência do espaço associativo da emigração com este em que procuro interagir, encontro, sobretudo, semelhanças naquilo que mais importa: a vontade das pessoas e das colectividades de servir, de consolidar, de projectar a comunidade. Aqui, agora, descubro realidades novas mas familiares e não posso deixar de as comparar com as da emigração, que, devo confessar, aprendi a conhecer primeiro...
E, por isso, lanço um olhar, também ele novo, sobre as pessoas e as coisas que me rodeiam.
Espinho, como quase todo o Portugal, exibe já, desde o início de Dezembro, o que poderemos chamar, com o devido apreço, "os sinais exteriores do Natal".
Não ainda nas casas particulares, embora se comece a ver, excepcionalmente, num ou outro jardim, as árvores enfeitadas com as tradicionais esferas coloridas, em algumas varandas, o Pai Natal, com o seu saco branco carregado de presentes imaginários ou, simplesmente, fileiras de luzes cintilantes. Menos comum, num apartamento junto ao mar, um original e chamativo pinheirinho azul, a combinar tão bem com a parede branca.
Estamos, de qualquer modo, ainda muito longe de atingir o nível da mais notável das excepções - a daquele português dos EUA, que veio de férias e engalanou a casa, os portões, os muros, as árvores do jardim com o fulgor de 70.000 lâmpadas - trazidas de lá! Uma feérica transposição de um modelo de celebração "à americana", que ofereceu aos vizinhos e à terra, como presente de Natal, e que teve direito a reportagem nas televisões.
Acredito que, ainda que sem essa grandiosidade e faceta de dádiva extravagante, que não está ao alcance de uma maioria, pouco a pouco, se irão criando costumes, inspirados em terras, de onde vêm passar as festas, com a família, muitos dos emigrantes das Américas, da Europa.
Caso de Brunoy (onde estive de passagem, há pouco, com o intuito de relançar intercâmbios e reforçar laços de amizade, pois é uma cidade dos arredores de Paris geminada com Espinho), que decidiu mesmo promover um concurso para eleger as casas melhor decoradas com motivos natalícios. Talvez (quem sabe?) no quadro da troca de ideias e de experiências, no próximo ano, Espinho siga este exemplo.
Para já, é nas ruas principais de comércio (como é sabido, todas numeradas como em Manhatten!) que os símbolos da época enchem as vitrinas ou montras das lojas e as iluminações em arco, nas alturas, clareiam as noites, com a magia da cor e da mensagens mais ou menos elaboradas no desenho. As bolinhas assimétricas, círculos e estrelas douradas, na Rua 19, e, na rua 23, o azul intenso de globos terrestres, onde se recorta, a verde, o perfil de uns alegres pinheirinhos.
Sucederam-se, na Igreja Matriz e nas salas de espectáculo, os concertos de Natal, pois em Espinho abundam bandas, orquestras, escolas de formação, grupos e talentos musicais.
O Museu abriu-se às crianças que, aos milhares, aí tiveram, ainda antes do festa habitual da sua escola, um convívio diferente, com um programa lúdico muito concorrido e variado. Algumas centenas de entre elas participaram numa "Oficina" de prendas, onde por suas mãos puderam preparar algo de especial para os pais e amigos.
Também a Câmara Municipal organizou um jantar para funcionários e suas famílias. E no átrio, recebe os munícipes em ambiente mais caloroso, graças à árvore da Natal e ao presépio com as lindíssimas imagens da Sagrada Familía.
A fachada do edifício está recoberta de largos e imensos laços de luzes brancas, e, em frente, junto ao espelho de água, quatro estátuas de anjos estilizados, com três metros de altura, semelhantes aos que, segundo me foi dito, brilharam, o ano passado, numa praça londrina.
Assim se revela, aqui, como por todo o lado, o espírito de Natal.
Imprescindível é que a uma construção colectiva de um ambiente exterior alegre e festivo corresponda, também, a vivência de cada um de nós, de cada família, comunidade ou País, para que este tempo de cor e de música, de troca de palavras e gestos de amizade ajude à mudança e ao progresso, à criação de um mundo de boa vontade e de preocupação com os outros, que corresponda à interiorização de princípios religiosos, que valem para todos - mesmo para os não cristãos, como valores verdadeiramente humanistas.
Permitam-me que termine, com um desejo bem expresso nas palavras de um poeta local, dedicadas à Mãe do Menino Jesus, à "miraculosa raínha dos céus", ( estrofes de um poema que foi musicado pelo grande compositor espinhense Fausto Neves):

"...Faz com que a guerra
Se acabe na terra
E haja entre os homens
A paz de Jesus.

Para a Dona Benvinda, com muita admiração e amizade, para os colaboradores do Portugal em Foco e os seus leitores, para tantos amigos, portugueses e brasileiros, que sempre recordo com saudades, os meus votos de um Feliz Natal.

Maria Manuela Aguiar