dezembro 08, 2009

Natal na minha terra

Por esta altura nunca a amiga Dona Benvinda se esquece de mim - e sempre me convida a enviar mensagens de Natal, para o jornal Portugal em Foco e para o número especial da revista.
Esta, a mais longa, é dirigida ao jornal:


Este ano, o meu Natal, ganhou, como há muito não acontecia, uma dimensão comunitária, por causa das funções que passei a desempenhar, desde Novembro, no executivo municípal em Espinho, com o pelouro da Cultura. Como nos tempos do trabalho na emigração, que aliás nunca esqueço, muito em especial nesta época do ano. Trabalho que, subjectivamente, encarei sempre mais como "voluntariado" do que como carreira política. Agora, aqui, mesmo de um ponto de vista muito objectivo, este recente e inesperado envolvimento não pode ter outra leitura, pois como "carreira política", não faria sentido... Mas sempre faz sentido, como é evidente, trabalhar pela comunidade onde nos integramos.
E, assim, depois de ter partilhado estas celebrações um pouco por todo o mundo, no grande universo institucional, bem estruturado e generoso de que se fazem as comunidades da Diáspora, chegou a vez de viver, da mesma forma, o Natal na minha urbe tão pequena em território e em população, mas muito cheia de uma dinâmica de solidariedade e de afirmação colectiva das suas gentes, conscientes de que devem transpor para o futuro o destino de um nome mítico, como é o de Espinho.
E ao comparar a experiência do espaço associativo da emigração com este em que procuro interagir, encontro, sobretudo, semelhanças naquilo que mais importa: a vontade das pessoas e das colectividades de servir, de consolidar, de projectar a comunidade. Aqui, agora, descubro realidades novas mas familiares e não posso deixar de as comparar com as da emigração, que, devo confessar, aprendi a conhecer primeiro...
E, por isso, lanço um olhar, também ele novo, sobre as pessoas e as coisas que me rodeiam.
Espinho, como quase todo o Portugal, exibe já, desde o início de Dezembro, o que poderemos chamar, com o devido apreço, "os sinais exteriores do Natal".
Não ainda nas casas particulares, embora se comece a ver, excepcionalmente, num ou outro jardim, as árvores enfeitadas com as tradicionais esferas coloridas, em algumas varandas, o Pai Natal, com o seu saco branco carregado de presentes imaginários ou, simplesmente, fileiras de luzes cintilantes. Menos comum, num apartamento junto ao mar, um original e chamativo pinheirinho azul, a combinar tão bem com a parede branca.
Estamos, de qualquer modo, ainda muito longe de atingir o nível da mais notável das excepções - a daquele português dos EUA, que veio de férias e engalanou a casa, os portões, os muros, as árvores do jardim com o fulgor de 70.000 lâmpadas - trazidas de lá! Uma feérica transposição de um modelo de celebração "à americana", que ofereceu aos vizinhos e à terra, como presente de Natal, e que teve direito a reportagem nas televisões.
Acredito que, ainda que sem essa grandiosidade e faceta de dádiva extravagante, que não está ao alcance de uma maioria, pouco a pouco, se irão criando costumes, inspirados em terras, de onde vêm passar as festas, com a família, muitos dos emigrantes das Américas, da Europa.
Caso de Brunoy (onde estive de passagem, há pouco, com o intuito de relançar intercâmbios e reforçar laços de amizade, pois é uma cidade dos arredores de Paris geminada com Espinho), que decidiu mesmo promover um concurso para eleger as casas melhor decoradas com motivos natalícios. Talvez (quem sabe?) no quadro da troca de ideias e de experiências, no próximo ano, Espinho siga este exemplo.
Para já, é nas ruas principais de comércio (como é sabido, todas numeradas como em Manhatten!) que os símbolos da época enchem as vitrinas ou montras das lojas e as iluminações em arco, nas alturas, clareiam as noites, com a magia da cor e da mensagens mais ou menos elaboradas no desenho. As bolinhas assimétricas, círculos e estrelas douradas, na Rua 19, e, na rua 23, o azul intenso de globos terrestres, onde se recorta, a verde, o perfil de uns alegres pinheirinhos.
Sucederam-se, na Igreja Matriz e nas salas de espectáculo, os concertos de Natal, pois em Espinho abundam bandas, orquestras, escolas de formação, grupos e talentos musicais.
O Museu abriu-se às crianças que, aos milhares, aí tiveram, ainda antes do festa habitual da sua escola, um convívio diferente, com um programa lúdico muito concorrido e variado. Algumas centenas de entre elas participaram numa "Oficina" de prendas, onde por suas mãos puderam preparar algo de especial para os pais e amigos.
Também a Câmara Municipal organizou um jantar para funcionários e suas famílias. E no átrio, recebe os munícipes em ambiente mais caloroso, graças à árvore da Natal e ao presépio com as lindíssimas imagens da Sagrada Familía.
A fachada do edifício está recoberta de largos e imensos laços de luzes brancas, e, em frente, junto ao espelho de água, quatro estátuas de anjos estilizados, com três metros de altura, semelhantes aos que, segundo me foi dito, brilharam, o ano passado, numa praça londrina.
Assim se revela, aqui, como por todo o lado, o espírito de Natal.
Imprescindível é que a uma construção colectiva de um ambiente exterior alegre e festivo corresponda, também, a vivência de cada um de nós, de cada família, comunidade ou País, para que este tempo de cor e de música, de troca de palavras e gestos de amizade ajude à mudança e ao progresso, à criação de um mundo de boa vontade e de preocupação com os outros, que corresponda à interiorização de princípios religiosos, que valem para todos - mesmo para os não cristãos, como valores verdadeiramente humanistas.
Permitam-me que termine, com um desejo bem expresso nas palavras de um poeta local, dedicadas à Mãe do Menino Jesus, à "miraculosa raínha dos céus", ( estrofes de um poema que foi musicado pelo grande compositor espinhense Fausto Neves):

"...Faz com que a guerra
Se acabe na terra
E haja entre os homens
A paz de Jesus.

Para a Dona Benvinda, com muita admiração e amizade, para os colaboradores do Portugal em Foco e os seus leitores, para tantos amigos, portugueses e brasileiros, que sempre recordo com saudades, os meus votos de um Feliz Natal.

Maria Manuela Aguiar

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