dezembro 13, 2009

Entrevista - Maré Viva

Um mês após a tomada de posse como vereadora da Cultura, Biblioteca, Arquivo municipal e Relações Exteriores e geminações, que balanço é-lhe possível fazer dos seus pelouros?

Ao longo dos 4 anos em estive na Câmara como vereadora sem pelouro não tive praticamente qualquer contacto directo com estes serviços, à axcepção da Biblioteca. Já tinha da Drª Isabel Sousa e da sua equipa uma imagem de eficácia e simpatia, pela forma como colaboraram num Encontro de Mulheres Migrantes, que organizei em Espinho, no passado mês de Março. Dos outros, Dr Fonseca, Drª Idalina Sousa, Dr Armando Bouçon , Drª Beatriz Matos Fernandes, não podia dizer o mesmo. Hoje posso!
Foi uma óptima surpresa - todos os dirigentes com os quais trabalho me impressionaram pela competência, pela vontade e facilidade de contacto com o que se costuma chamar organizações da s "sociedade civil", e, também, pela criatividade, que é essencial neste domínio.
Acho que é possível desenvolver com eles os mais audaciosos projectos para Espinho, desde que haja meios materiais para tanto.


Quando se reuniu com os agentes culturais da cidade, na passada quarta-feira, estiveram presentes os responsáveis pelos departamentos da Cultura, Arquivo Municipal e História. É sua imntenção criar sinergias entre os diversos departamentos?


Sim , é claro! Foi um primeiro sinal que passou para o exterior e que corresponde a um propósito e a uma maneira de trabalhar, que sempre foi a minha. A nível dos colaboradores de dentro como a nível dos nossos interlocutores - os cidadãos e as colectividades. Acredito no trabalho partilhado, na coordenação de tarefas, no estímulo e no entusiasmo acrescido que o conhecimento de todos os aspectos de um projecto global dá a cada um. Tenciono mesmo institucionalizar reuniões conjuntas, com periodicidade regular, para além das do dia a dia. Estou sempre, evidentemente, disponível para falar sobre qualquer assunto de serviço, quando entenderem que é necessário, tal como eu faço em relação a eles, sempre que surge uma ideia nova, uma solicitação de fora ou a nacessidade de esclarecimento.


Os responsáveis pelos departamentos abrangidos pelos seus pelouros dão-lhe todas as garantias?

Sem dúvida! Do ponto de vista do planeamento e execução dos programas, para além de serem pessoas muito interessantes, com quem é agradável conviver. São interessantes e interessados no que têm em mãos. Um empenhamento e uma dedicação visíveis.
Um dos meus defeitos, que reconheço, é a impaciência. Quero tudo executado na hora, tal como eu despacho no próprio dia tudo o que vem devidamente informado e não oferece dúvidas, isto é, a esmagadora maioria dos processos. Pois bem! Até neste aspecto estes dirigentes são como que a resposta a uma prece.

Estará no horizonte a criação de uma empresa municipal responsável pela cultura, à semelhança das existentes nos concelhos vizinhos de Gaia e Feira?

Não no imediato, mas espero poder trocar ideias e experiências com os vereadores da cultura dos municípios vizinhos, justamente para avaliar os melhores meios de cconsecução de fins idênticos e para articular acções, sabendo, porém, que os orçamentos para a cultura, nomeadamente nos casos que refere, não são semelhantes...

CULTURA

O número de agentes culturais que apareceram à reunião de quarta-feira surpreendeu-a? Ou já tinha essa percepção?

Fiquei muito satisfeita, quer pelo número elevadíssimo de participantes, quer pelo teor das intervenções, embora necessariamente muito sintéticas. Para o objectivo de desenvolver programas em concertação com eles foi uma certeza de que os agentes culturais, que já vêm colaborando com a Câmara, estão prontos a continuar, ou mesmo a fazer mais. É o que desejamos!
Mas surpresa não tive, não por mérito meu, pela minha própria percepção, mas pela boa informação previamente dada pelos serviços...


As queixas mais comuns dos produtores de cultura espinhense prendem-se, essencialmente, com a falta de espaço e com a falta e financiamento...

Há carências, sobretudo de espaço, que poderemos resolver, por exemplo, no FACE, ainda largamente sub-aproveitado. O Dr. Armando Bouçon está sempre disponível para encontrar as soluções viáveis. O espaço tem de ser bem gerido e rentabilizado. Um ante-projecto de regulamento para esse efeito já está em apreciação.
Todavia, enquanto não há pretendentes à sua ocupação remunerada, como deve ser, para ter sustentabilidade económica, parece-me óbvia a vantagem de lhes dar vida através de cedência às colectividades, com a contrapartida da sua própria colaboração nos programas culturais do município.
E, no futuro, mesmo se os espaços forem diminuindo, sempre sobrará o que tem de se reservar ao apoio que as instituições merecem, de acordo com as suas caraterísticas.


Túcátúlá, de Par em Par, Homens Estátuas... Estes eventos são para continuar, nos mesmos moldes? Há espaço para surgir outros projectos?

É evidente que são para continuar, como eventos de reconhecido interesse, que prestigiam Espinho. Julgo que uma primeira preocupação é a de melhor as divulgar, dentro e fora do concelho. Reequacionar a elaboração da "agenda cultural", de outras publicações, assim como melhorar o site da Câmara e recorrer a outras formas de lhes dar mais impacto mediático, de atrair mais públicos.
E há necessidade de novos projectos, muitos deles gizados a partir do diálogo com a realidade associativa espinhense - felizmente tão rica. O primeiro passo foi a reunião de 9 de Dezembro.
Das iniciativas em si, prefiro falar depois de elaborado o programa de acção para 2010, sendo certo que só limitações orçamentais poderão provocar o adiamento de alguns novos projectos de vulto. Apesar de alguns serviços estarem subdimensionados, capacidade e imaginação para os realizar, como disse, não me parecem faltar!


Ainda na reunião, teve uma frase curiosa: "Espinho precisa de mais beach parties". Definitivamente, espinho tem de olhar para a sua prais de outra forma?

Eu sempre vi Espinho, desde criança, como uma cidade cheia de vida e animação à beira mar. Foi-a perdendo... e è preciso que a saiba recuperar. Temos de repensar as formas de reviver essas tradições, agora, adaptadas ao século XXI. Espectáculos de rua, na esplanada, envolvendo as esplêndidas e múltiplas escolas de formação artística, musical, a juventude, "beach parties", como disse, infra-estruturas de fácil implantação para o desporto na praia, para a animação infantil, são iniciativas a encarar de frente, e já. Pela Câmara, pela Junta - tanto faz, o que importa é que Espinho volte a ser o que foi.
Em todos os casos, aliás, a boa articulação com as Juntas e a descentralização de acções estão nos nossos objectivos.

INFRAESTRUTURAS

Em termos de equipqmentos, Espinho é capaz de ser um dos concelhos mais bem servidos, tendo em conta a sua dimensão. Que projectos tem para eles?

É verdade que há muitas infra-estruturas e que temos de tirar partido delas, fazendo a diferença na vida da cidade e das pessoas.
Mas não é tarefa muito fácil, porque não estão necessariamente adaptadas ao que as pessoas e as colectividades precisam. Em alguns casos, modernizar ou profissionalizar a gestão, repensar a vocação dos equipamentos, proceder porventura a adaptações é coisa que se impõe, quanto antes.
Um exemplo: a Academia de Música teve de construir a seu próprio auditório, porque nenhum dos existentes tem as características requeridas para grandes concertos , espectáculos de dança ou teatro profissionais. E entretanto, o do Multimeios, vocacionado para o cinema, está quase sempre deserto. O auditório do FACE tem capacidade para 135 pessoas e foi pensado essencialmente para conferências ou palestras, não para espectáculos de música, cinema ou teatro...
Mas nem tudo é negativo, não quero dar essa ideia, que não é verdadeira. Posso destacar, pela positiva, por ex., o Museu, as magníficas galerias de exposições do FACE. Mais de 1000 m2 , belíssimas do ponto de vista arquitectónico e com janela panorâmica para o mar!
Uma delas estava ocupada por uma empresa, que, em diálogo com o novo executivo, se disponibilizou a mudar para outra localização, dentro da Casa, assim nos permitindo restituir aquele espaço à sua vocação.
A semana passada, duas representantes do Museu de Serralves visitaram as galerias e ficaram encantadas.
Uma das galerias está reservada a exposições temporárias, a outra, quando a exposição temporária não exigir esse prolongamento, será ocupada com exposições sobre Espinho, já existentes no acervo do Museu.


Como encarou a inauguração da Biblioteca, sem aquilo que lhe é essencial, os livros? Está para breve a abertura desse espaço aos espinhenses?

Biblioteca inaugurada sem livros... Pior ainda: sem equipamento, sem mobiliário, sem contrato de instalação electrica com a EDP! É costume inaugurar a 1ª pedra de um edifício. Neste caso, diremos que se tratou da "inauguração da última pedra" do edifício, não da Biblioteca!
Se o problema fosse apenas a desinfestação e transporte dos livros, poderiamos assegurar uma data muito próxima para a abertura ao público.
Nestas condições, não! Há que abrir previamente concurso para aquisição de equipamentos, há que obter decisões não só do executivo, mas da Assembleia Municipal, vistos do Tribunal de Contas... E também abrir concurso para admissão de pessoal. Burocracias imprescindíveis, delongas, das tais que se não coadunam com a minha impaciência. Mas é mesmo assim que tem de ser.


É possível à cidade reaver edifícios tão emblemáticos como o Teatro São Pedro ou o Palácio da Pena?

Pertenço àquela escola de pensamento que priveligia a salvaguarda do património existente, em vez de avançar para obra nova.
Há meses,ouvi o Presidente da Câmara de Chaves dizer que, com ele, enquanto houver um edifício antigo pertencente ao município, é lá que se instalam os serviços camarários! Tem a minha concordância plena.
O que se passa com o Palácio Rosa Pena è uma dor de alma!
O que se passou com o derrube do velho Cine Teatro São Pedro e de outros marcos arquitectónicos desta cidade foi lamentável. Perdas irreparáveis...
Quanto ao novo auditório que o substituiu, mal, mas que, apesar disso, era uma sala agradável, estava desaproveitado e ao abandono e teve o destino que se sabe.
No imediato, não creio que seja financeiramente possível uma intervenção da Câmara.
Mas espero que venha a ser feita, sobretudo no caso do Palácio!

GEMINAÇÕES

Que objectivos vão reger a política de geminações?

As geminações podem e devem ser um instrumento de aproximação de culturas, de internacionalização da imagem da terra ou do país, de valorização da sua história e realidade, de intercâmbios económicos e de toda a ordem, de criação de oportunidades para os jovens.
Ou não, quando depois da assinatura do protocolo de geminação, depois das visitas oficiais, não há sequência prática...


Pretende reforçar os laços europeus de Espinho, em detrimento de outros sul americanos?

Espinho tem muitas geminações, mas, na maioria, em estado de hibernação. O que pretendemos é reavivá-las a todas, se houver resposta dos nossos parceiros. São acções a preparar a nível bilateral, contando com potencialidades e respostas muito diversas.
É atendendo a elas que teremos de interagir.
A mais activa é hoje a mais recente, com Limoeiro do Norte, no Brasil. Teve um excelente começo, com um grande impacto na cidade, no Estado do Ceará e, até, nos media nacionais brasileiros. É claro que, da nossa parte, estamos muito empenhados em prosseguir o caminho encetado. Sempre assim fiz - não me custa nada continuar o trabalho de outros.
Comecei as diligências por Brunoy, porque encontrei a maior receptividade num primeiro encontro que tive na Câmara, com a espinhense D. Maria Ferreira
do Comité de Jumelage com essa cidade. De seguida, fui lá pessoalmente, de um dia para o outro, e contactei todo o Executivo, associações, alunos e professores de português... Julgo que temos condições de desenvolver muitas acções, incluindo a nível do intercâmbio de jovens.
Ora diligências semelhantes, uma espécie de "visita preparatória", rápida, acessível, económica, não é simplesmente viável nas geminações transoceânicas.
É o que justifica a diferença de procedimento.
Inspirada no exemplo de Brunoy, vou constituir na próxima semana um grupo de trabalho para dinamizar as geminações. Como seria previsível, constituído pelos responsáveis das diferentes áreas que temos vindo a referir. Para já, um grupo de trabalho. Mais tarde, espero, uma verdadeira ONG, como em França.

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