outubro 16, 2019

A CIDADÃ MARIA BARROSO
(JORNAL AS ARTES ENTRE AS LETRAS  dedicado ao património cultural)

 Entre os nomes que constituem o nosso imperecível património humano, há os que revelam a dimensão da cultura portuguesa, na sua essência universalista e fraternal. Um desses nomes é o de Maria Barroso, a maior figura feminina do século XX, a mais intemporal, a mais inspiradora. Cidadã, por excelência, em décadas de participação cívica, cultural e política, que lhe dão lugar na história da democracia, do feminismo, do teatro, do ensino, da lusofonia... Mulher símbolo de dedicação à "res publica", com um percurso de intervenção anterior ao encontro de destinos com Mário Soares, depois com ele continuado, tanto na resistência à ditadura, como na construção de um país democrático e reaberto ao mundo. Corajosa e solidária, ícone de elegância e perfeita diplomata, soube apoiá-lo com uma amável cumplicidade, sem nunca se apagar na sua sombra, ou esconder a independência de espírito, e uma forma própria de estar na sociedade e na política. A jovem revolucionária, que usava a força da palavra, como arma de combate pela liberdade, nos palcos do teatro, nas arenas políticas, ao qual não hesitou em sacrificar a vocação artística e a carreira docente, viria a ser a primeira senadora da democracia portuguesa, sem nunca perder a faceta vanguardista, a lucidez e capacidade de dizer "não" a novas formas de exclusão e violência, a violência nos "media", o tráfico de armas... Com um sentido de missão, que uma repentina e emotiva conversão ao catolicismo, levaria a outros espaços e projetos, afirmou-se no plano internacional, no universo da lusofonia e da Diáspora, que, já octogenária, percorreu, incansavelmente, para presidir aos" Encontros" para a Cidadania e Igualdade. Através da Fundação PRO DIGNITATE, de fora da política partidária, levou a cabo obra notabilíssima e ainda insuficientemente conhecida - caso do seu papel no início do processo de paz em Moçambique. Com a ideia fulcral de dignidade humana respondia a um inadiável desafio civilizacional do nosso tempo: a criação de uma cultura de paz, justiça e liberdade para todos os povos, todos os indivíduos. Nas suas preocupações e na sua ação não havia favoritos - eram iguais portugueses, timorenses, africanos, imigrantes, refugiados, mulheres e homens de boa vontade... Deu cumprimento a essa causa maior, numa relação de proximidade com as pessoas, em gestos concretos de apoio e companheirismo, com rigor e trabalho árduo, quando não excessivo, no dia a dia, até ao seu dia derradeiro! Na hora em que se despedia de Maria Barroso, o Povo Português, espontaneamente, transformou uma simples cerimónia privada em impressionante testemunho público e consensual de admiração e de saudade. Foi o primeiro sinal de que ficaria na memória do País, pelo afeto e pelo exemplo de grandeza de alma, superior inteligência e infinita energia . Maria Barroso, humanista "muito praticante", ao longo de uma longa vida
ENTREVISTA a "O VELEIRO"
CV (síntese)
Maria Manuela Aguiar Dias Moreira
Antiga aluna do Colégio do Sardão (1951/58)  e do Liceu Rainha Santa Isabel (1958/60)
Licenciada pela Universidade de Coimbra, onde completou o curso de Direito com 17 valores, em 1965.
"Diplôme Supérieur d' Études et de Recherche en Droit" da Faculdade de Direito e Ciências Económicas do Instituto Católico de Paris (1970)
Assistente do Centro de Estudos do Ministério das Corporações e Segurança Social (1967/74), da Universidade Católica de Lisboa (sociologia),em 1972/72, da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (Direito Civil), em 1974/76. Assessora do Provedor de Justiça. desde 1976. Docente da Universidade Aberta (Mestrado de Relações Interculturais), de 1990 a 1993..
Cargos Políticos: Secretária de Estado do Trabalho (1978/79); Secretária de Estado da Emigração e das Comunidades Portuguesas em quatro governos, entre 1980 e 1987;
Deputada à Assembleia da República eleita de 1980 a 2005; primeira mulher Vice.Presidente da Assembleia da República (1987/91); Representante de Portugal na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (1991/2005), onde presidiu, à Delegação Portuguesa, à Comissão das Migrações, Refugiados e Demografia, e a várias subcomissões; Vereadora da Câmara Municipal de Espinho (2005/2011)
 Pertenceu ao Conselho Superior do FCP e recebeu um "Dragão de ouro" (2005). É dirigente e colaboradora de ONG's nos domínios das migrações e da igualdade
Condecorações:  Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique,  Grã- Cruz das Ordens do Cruzeiro do Sul e do Rio Branco (Brasil), Grã-Cruz da Ordem do Império Britânico, entre outras.


ANOS DE FREQUÊNCIA DO LICEU
 - Frequentei o Liceu em 1958/59 e 1959/60, nos últimos anos do ensino secundário, o 6º e o 7º, que  então constituíam o "curso complementar do liceu". Foram dois anos apenas, mas decisivos pelo que aprendi como jovem na transição para a idade adulta, e não só, mas também  como estudante..


 O QUE REPRESENTOU PARA SI TER FREQUENTADO ESTE ESTABELECIMENTO DE ENSINO
 - Depois de sete anos no Colégio do Sardão, a passagem para o ensino público assumiu, no meu caso, um significado muito grande, por se tratar de uma escolha pessoal contra a vontade da família inteira. Uma "ousadia", um desafio! Era aluna de "quadro de honra" num estabelecimento prestigiado pelo nível  pedagógico e pelos resultados globais obtidos, e ninguém parecia admitir que conseguisse manter o mesmo estatuto num liceu, fora daquele mundo fechado e protegido. Não acreditavam em mim e ainda menos acreditavam que pudesse continuar a ter acesso a igual qualidade de aprendizagem. Enganaram-se duplamente...
 Da minha parte, não havia certezas nem temores. Aos 16 anos, queria experimentar e tomar em mãos o meu futuro, com uma enorme curiosidade face ao desconhecido. Não tinha referências sobre o liceu, chegava, sem contacto prévio com professoras ou colegas, simplesmente, à escola secundária que englobava a área do Marquês de Pombal, onde os pais tinham arrendado um andar.  A opção por aquela área não fora feita ao acaso - o prédio ficava a dois passos do Colégio da Paz, pertencente à mesma Ordem religiosa do Sardão. Aí matricularam minha irmã e esperavam persuadir-me a acompanha-la, mais tarde ou mais cedo...   .
 Abandonava, assim, um meio onde era positivamente uma veterana, com fama de dinâmica participante nos campos de jogos e nas salas de aulas, deixava, na expressão que se popularizou, em dias recentes, a "zona de conforto" - migrava, embora para perto. geograficamente.

O LICEU MARCOU, DE ALGUMA FORMA  A SUA VIDA?
 Sim, de uma forma evidente e definitiva. Na aventura da descoberta de mim própria naquele novo mundo, acabei por encontrar o que buscava - caminhei pelo meu pé, com a completa responsabilidade pela minha agenda, (a divisão das horas de  estudo e de passeios, cinemas e outras diversões), acentuei o meu interesse por causas sociais, pelo feminismo, por modelos democráticos de progresso, que nos vinham da Europa, da Suécia, em particular. Lembro-me, por exemplo, da minha "cruzada" contra a pena de morte (vesti de luto aquando da execução de Chessman, nos EUA), e de ter trocado a leitura dos romances de George Elliot ou das irmãs Bronte por autores contemporâneos como José Marmelo e Silva, Albert Camus ou Virgil Gheorghiu.   
 As professoras de Filosofia, de História, de Literatura abriram-me  horizontes, em anos cruciais para a formação, como são os 16/18 anos. Vi-me numa comunidade humana coesa e amável. Estávamos em  pleno Estado Novo, seria de esperar clivagens políticas, autoritarismo e outros tiques do regime. Não senti, de perto, nada disso. O à vontade no relacionamento entre alunas e professoras era a regra.  Poucas vezes vi a Reitora, figura distante, mas serena. Tanto quanto me apercebi,  deixava sempre  avultar a influência e a personalidade das docentes. Nunca me senti objeto  de rigores disciplinares ou de tentativas de manipulação ideológica, nem mesmo nas aulas de "organização política", onde me iniciei na abordagem ao mundo jurídico, ao Direito Constitucional e Administrativo. Era disciplina de que poucas gostavam e que eu apreciava justamente como antecâmara do curso que escolhera - não sem hesitações.... 

QUAIS AS RECORDAÇÕES MAIS SIGNIFICATIVAS QUE RETÉM?

O meu primeiro contacto com o Liceu foi através da secretaria. Estava muito indecisa entre a alínea de Direito e a de Letras (Germânicas). e mudei três vezes antes do início das aulas. Numa normal repartição pública, aparecer repetidamente a alterar a matrícula não me tornaria muito popular. Ali, sim!  A funcionária a quem me dirigia, antes mesmo de eu expor o assunto, com um enorme sorriso cúmplice, exclamava: "Vem mudar de alínea, não é?".
Foi ela a primeira imagem da simpatia e compreensão da nova escola, que me abria as portas. Muitas outras se seguiriam, do primeiro ao último dia. ( devo acrescentar que ainda fiz uma última e final mudança de curso, muito saudada na secretaria -  já com mais de três semanas de aulas decorridas...).
 Nas nostálgicas recordações da adolescência distingo sempre os dois tempos, o do "Sardão" e o do "Rainha Santa". Vivi, também, bons momentos no internato, com estimadas mestras e alegres colegas, mas envolvi-me, não poucas vezes, em conflitos e contestação - do sistema, das suas normas e condicionamentos, sobretudo. Não me dava bem com uma tentacular e rígida regulamentação de cada minuto do dia. Era rebelde em relação a tudo o que julgava errado ou opressivo...
O Liceu foi sinónimo de liberdade, de fácil auto-disciplina, como seria, de seguida, a Faculdade de Direito de Coimbra. Todas as minhas expetativas foram excedidas, com  melhores notas, e num clima de perfeita convivialidade. Liceu e cidade do Porto, o "dois em um", no mundo dos meus sonhos feito realidade! Acabei o curso com 18 valores, o que me valeu o "prémio nacional". Estávamos em 1960, ano das Comemorações do Infante D. Henrique (o príncipe nascido na Ribeira), pelo que a distinção me facultou uma viagem ao norte de África, oferecida pelo governo aos jovens premiados, para visitarem um roteiro de cidades históricas, como Ceuta, Tânger. e até a Alcácer Kibir, lugar de tragédia e berço do mito sebastianista. 
Nessa época, o Liceu estava instalado num casarão antigo, de bela traça, porém, em mau estado de conservação. Faltavam espaços, salas de aulas, até o ginásio fora sacrificado e, com ele, as aulas de educação física. Eu não tinha transportes diretos para as aulas, pelo que o meu exercício físico quotidiano consistia em fazer uns quilómetros em passo de corrida... Até isso era divertido! O ambiente humano compensava, largamente, a falta de condições materiais. E ali, o ensino público era tão bom ou melhor do que o melhor do privado. Penso sempre nas mestras e nas suas aulas com saudades - em especial, nas fascinantes lições de Filosofia da Dr.ª Assunção Carqueja, que eu nunca queria que acabassem, e as da Dr.ª Adelaide Aleixo, que nos levava consigo, através de milénios da História de povos e civilizações, pela força da sua palavra eloquente. Lembro-me, muito em especial, da primeira das suas aulas a que assisti. O ano letivo começara há já semanas, e eu acabava de trocar o Inglês pela História (ou seja, Letras por Direito...). Tinham-me dito que ela era muito severa e que implicava com quem chegasse, assim, extemporaneamente.  Preparei-me para o pior. A Drª Adelaide falava, nessa manhã, da cultura grega, da estatuária, e eu ouvi-a, encantada, ainda que, prudentemente, na última fila... Era a mais idosa das nossas docentes, mas envelhecera bem. Muito bonita, cabelo todo branco, oradora enérgica e carismática. Parecia uma linda e sábia avó!. Como eu era a retardatária, olhou, com desusada frequência, para o meu lado, o que tanto podia ser bom como mau presságio. Na verdade, ali começaria uma verdadeira amizade de  professora/aluna, quase de avó/neta, ambas entusiastas das coisas da memória de feitos e de gentes.. .   
  Amizade fácil de cimentar, também, com as outras professoras e com as companheiras de turma, em longas conversas, sobretudo com a Ana Luísa Janeiro, (com quem fiz um trabalho sobre as Descobertas no período Henriquino), ou com a Adília, que era a mais revolucionária - posição que eu ocupara no colégio e perdia para ela.
 Nos exames finais, a Ana Luísa e eu tivemos nota 20 a História. Fiquei encantada por nós, tanto como pela Drª Adelaide, a quem muito diretamente devíamos a proeza.
A partir dos anos 60, os estudos, primeiro, e a profissão, depois, levaram-me para longe da minha cidade, do meu liceu e de quase todas as pessoas que tão positivamente me influenciaram nesses dois anos. A exceção foi a Drª Assunção Carqueja, que encontrava, às vezes, em Lisboa, acompanhando o marido, também meu amigo. Mantinha o brilho e entusiasmo da juventude, e nunca se esquecia de me oferecer os esplêndidos livros que escrevia em


prosa ou verso!
Não tenho fotografias de grupo, dentro do Liceu. Que pena! Mas havia outros pontos de encontro na cidade, um deles o Palácio de Cristal, os seus belos jardins. Aí, sim, foram tiradas fotos de bons momentos passados com as minhas colegas - retratos fieis da nossa alegria de viver e conviver.

CV 2018

Maria Manuela Aguiar Dias Moreira
 Data de nascimento 9 junho 1942 Naturalidade Gondomar - Portugal

 FORMAÇÃO ACADÉMICA

 (1960) - Curso do Liceu (18 valores) (1965) - Licenciatura em Direito, Universidade de Coimbra (17 valores e media geral de 16, Bom , com distinção).
(1969) "Titularisation" - École Pratique des Hautes Études, Paris - Sociologia
 (1970) - Diplôme Supérieur d' Études et de Recherche en Droit, Institut Catholique de Paris, Faculté Libre de Droit et Sciences Economiques, Paris


 2- ESTÁGIOS, CURSOS, BOLSAS DE ESTUDO

 -  (1966) - Estágio do Notariado (1966/1967)
 - Estágio de Advocacia (1968)
- Bolsa do Instituto Internacional de Estudos do Trabalho, OIT - "Study course on Labour problems in economic and social development", Geneva
 (1968/1970) - Bolsa de Estudos da Fundação Gulbenkian, Paris Titularização na "École Pratique des Hautes Études", VI Section (Sociologia Industrial)
 Certificados em "Sociologia das Instituições", Filosofia do Direito (classificação Bom), Sociologia do Direito (classificação Muito Bom), Diplôme Supérieur d' Études et de Recherche en Droit, Instituto Católico de Paris
 - (1970) - "Connaissance de Suède", Universidade de Upsalla, Instituto de Informação, Estocolmo  - -  (1974) . Bolsa das Nações Unidas, Genebra (1978) - United Nations Human Rights Fellowship - bolsa para um estudo comparativo dos modelos de "Ombudsman" ( Londres, Cardiff, Edimburgo, Estocolmo, Copenhaga, Paris)
 -  (1996) - Bolsa do Marshall Memorial Fellowship Program, EUA - palestras e conferências - Linfield College, Oregon, Lake Forest College, Illinois

 3 - ATIVIDADES PROFISSIONAIS

 -  1967-1974 - Assistente do Centro de Estudos Sociais e Corporativos, Ministério das Corporações e Segurança Social.
 - (1971-1972) - Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (Sociologia), assistente do Prof Álvaro Melo e Sousa (Sociologia).
 - (1974-1976) - Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (Teoria Geral do Direito e Introdução ao Estudo do Direito), assistente do Prof Rui Alarcão. (1975-1976) - Regência do curso de Introdução ao Estudo do Direito.
 - Membro da Linha de investigação sobre Direito de Família, dirigida pelo Prof. Pereira Coelho.
  - Eleita para o Conselho Pedagógico da Faculdade de Direito (1976-1978)
 - Assessor do Provedor de Justiça (área da Segurança Social)
 - (!992-1994)
- Docente convidada da Universidade Aberta, Lisboa, Mestrado de Relações Interculturais, Disciplina de "Políticas e Estratégias para as Comunidades Portuguesas"


 ATIVIDADE POLÌTICA

 (1978.1979) IV Governo Constitucional - Secretária de Estado do Trabalho (1980) VI Governo Constitucional - Secretária de Estado da Emigração e das Comunidades Portuguesas (1980) Deputada eleita pelo Circulo de Emigração Fora da Europa (1981/1982) VII Governo Constitucional - Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas (1983) Deputada eleita pelo Círculo de Emigração Fora da Europa (1983/1985) Secretária de Estado da Emigração (1985) Deputada eleita pelo círculo de Emigração da Europa (1985/1987) Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas (1987) Deputada eleita pelo Círculo do Porto (1987.1991) Eleita Vice-presidente da Assembleia da República (1991) Deputada eleita pelo Círculo de Aveiro (1992 2005) Representante de Portugal na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e na Assembleia da UEO (1993) Presidente da Sub-comissão das Migrações (1993) Vice-Presidente da Comissão de Regimento (1994/1997) Presidente da Comissão das Migrações, Refugiados e demografia (1997 e, sgs) Membro da Direção ("Bureau") da Grupo Liberal (2002-2005) Presidente da Delegação Portuguesa à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e à Assembleia da UEO. Vice-Presidente da Assembleia da UEO Membro da Direção do PPE (2003-2005) Vice-Presidente da Comissão da Igualdade 2004 -2005 - Presidente da Sub-comissão da Igualdade (2005) Membro Honorário da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e da Assembleia da UEO Numerosos relatórios nas organizações internacionais

 PRESIDÊNCIA DE DELEGAÇÕES PORTUGUESAS A CONFERÊNCIAS E ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

 (1980) Presidente da Delegação Portuguesa à Conferência a meio da década das Nações Unidas para as Mulheres", Copenhaga (1983) Presidente da Delegação Portuguesa à II Conferência de Ministros do Conselho da Europa responsáveis pelas migrações, eleita Vice-presidente da Comissão, Roma (1984) Presidente da Delegação Portuguesa à I Conferência de Ministros do Conselho da Europa para a Igualdade, Estrasburgo (1987) Presidente da Delegação Portuguesa e Presidente eleita da III Conferência de Ministros dos Conselho da Europa, responsáveis pelas migrações, Porto (1988) Presidente da Delegação Parlamentar ao Japão, na primeira visita nas relações parlamentares dos dois países (1989) Presidente da Delegação Parlamentar à Hungria (1990) Presidente da Delegação Parlamentar à Suiça (2002-2005) - Presidente da Delegação Portuguesa às Assembleias Parlamentares do Conselho da Europa e da Organização da Europa Ocidental

COMUNICAÇÕES E RELATÓRIOS EM ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

 ONU (1980) Intervenção na Conferência a meio da década das Nações Unidas à Mulher - Igualdade, Desenvolvimento e Paz, Copenhague, 15 de julho APCE (1981) Migrações portuguesas e cooperação internacional", exposição à reunião da Comissão das Migrações, dos Refugiados e da Demografia, Lisboa, Assembleia da República, 3 de setembro (1983) Intervenção na 2ª Conferência dos Ministros Europeus responsáveis pelas questões das migrações, Roma, 25 de outubro (1984) Comunicação ao Colóquio "Os estrangeiros - uma ameaça ou um trunfo?", organizado pela Comissão das Migrações, dos Refugiados e das Migrações. Estrasburgo, 20 de março (1984) Comunicação ao seminário sobre "As relações intercomunitárias", Estrasburgo, 8 de novembro (1988) ONU, Peticionária a favor de Timor Leste, Comissão de Descolonização. Nova York (1999) - Liens entre les Européens vivant à l' étranger et leur pays d' origine" (rapporteuses Manuela Aguiar et Ana Guirado), Commissin des migrations, des réfugiés et de la démographie (2001) - "Non-expulsion des immigrés de longue durée" (rapporteuse), Commission des migrations, des réfugiés et de la démographie (2001) - "Le droit de vivre en famille pour les migrants e les réfigiés", Commission des migrations, des réfugiés et de la démographie (2002) - "Séjour, statut juridique et liberté de circulation des travailleurs migrants en Europe: les enseignements du cas du Portugal", APCE, Commission des migrations, des réfugiés et de la demographie (2004) - "Droits de la nationalité e égalité des chances" (rapporteuse), Commission sur l' égalité des chances pour les femmes et les hommes (2005) - "Discrimination des femmes et des jeunes filles dans les activités sportives" (rapporteuse), Commission sur l'égalité des chances pour les femmes et les hommes AUEO (2001) - "European defence: pooling and srengthening national and European capabilities" (reply to the annual report of the Council), Defense Committee OCDE (1984) Comunicação à Reunião sobre "Aforro privado ao serviço do desenvolvimento da empresa nas regiões de emigração - o papel das instituições financeiras", Esmirna, 3 de abril (1986) "A experiência dos países europeus de origem", comunicação à Conferência sobre "L' Avenir des migrations, Paris, 13 de maio"

COMUNICAÇÔES (1980) "Problemas e perspetivas da emigração portuguesa", exposição ao curso de Defesa Nacional, Instituto de Defesa Nacional, 10 de março (1981) Comunicação ao 1º Conselho das Comunidades Portuguesas, Lisboa, 2 de abril (1981) "Bases e prioridades da política relativa à emigração e às comunidades portuguesas", exposição ao Curso de Defesa Nacional, Instituto de Defesa Nacional, 5 de maio (1983) Comunicação ao 2º Conselho das Comunidades Portuguesas, Porto, novembro (1984) "A política de apoio ao emigrante português na conjuntura atual", exposição ao Curso de Formação para Emigrantes, Bona, 24 de fevereiro (1984) "As Comunidades Portuguesas no estrangeiro - situação atual e perspetivas futuras", exposição ao Curso de Defesa Nacional, Instituto de Defesa Nacional, 7 de março (1985) "Emigração: os regressos invisíveis", exposição ao Curso de Defesa Nacional, Instituto de Defesa Nacional, março (1985) Comunicação ao "1º Encontro de Mulheres Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo", organizado pela SECP, Viana do Castelo, junho (1985) "A dupla nacionalidade dos imigrantes, do ponto de vista de um país de um país de emigração". Mesa redonda sobre Dupla Nacionalidade dos Migrantes, organizada pelo Governo Sueco, Estocolmo, 6 de setembro (1986) "Linhas fundamentais das politicas de emigração", exposição ao Curso de Defesa Nacional, Instituto de Defesa Nacional, 10 de março (1986) "Emigração e Regresso", exposição ao Curso Superior de Guerra Aérea, Instituto dos Altos Estudos da Força Aérea, 13 de março (1986) "Portugal na CEE - consequências para a emigração", colóquio organizado pelo Instituto Sindical de Estudos, Formação e Cooperação (1986) Intervenção no colóquio "A 2ª geração da emigração contemporânea no cinema" - Festival Internacional da Figueira da Foz, 20 de setembro (1986) Intervenção no II Congresso das Comunidades Açorianas, Angra do Heroísmo, 26 de setembro (1987) " Emigração portuguesa, fenómeno persistente - uma visão diacrónica", exposição ao Curso de Defesa Nacional, Instituto de Defesa Nacional, 9 de março (1987) Comunicação à III Conferência dos Ministros Europeus responsáveis pelas questões de emigração, Porto, 13 de maio (1988) " L' importance des liens des Européens de l'étranger avec leurs pays d'origine" - exposição à Assembleia Geral do Congresso dos Suíços no Estrangeiro" , Baden, 28 de agosto (1993) Comunicação à V Conferência dos Ministros Europeus responsáveis pelas questões das migrações, Atenas,18 de novembro (2015). "Políticas de Género na Emigração Portuguesa", Colóquio "Expressões de Cidadania no Feminino", organização da Mulher Migrante,Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade, da Universidade do Minho e da Câmara de Monção (2015) "Origem e Evolução do 1.º Conselho das Comunidades Portuguesas", Colóquio "Diálogos sobre Cultura, Cidadania e Género", Sorbonne Nouvelle, Paris (2016) "Políticas de Género e Movimentos Cívicos na Emigração Portuguesa", Colóquio "Mulheres em Movimento", Universidade de Toronto, Departamento de Espanhol e Português (2017) "O Conselho das Comunidades Portuguesas : institucionalização do Diálogo com o movimento associativo" - Colóquio "Dar voz à Diáspora - perspetiva diacrónica dos mecanismos de diálogo", promovido pela Comissão das Migrações da Sociedade de Geografia e pela "Mulher Migrante, Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade 

 PUBLICAÇÕES

 (1987) "Política de Emigração e Comunidades Portuguesas", Série Migrações, Centro de Estudos, Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas (1995) "Portugal o Pais das Migrações sem fim", Lisboa, Cabográfica. (2004 ) "No Círculo da Emigração", Lisboa, Belgráfica (2005) "Comunidades Portuguesas - os direitos e os afetos", Gaia, Rocha Artes Gráficas. (2007) "Migrações - Iniciativas para a igualdade de género", (coord.) Edição Mulher Migrante, Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade (2006) Brasil-Portugal: a questão da reciprocidade (2009) "Cidadãs da Diáspora" (coord), Edição Mulher Migrante Associação de estudo, Cooperação e Solidariedade. (2009) Problemas Sociais da Nova Emigração (coord) Edição da Mulher Migrante, Associação de estudo, Cooperação e Solidariedade (2011) Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas na Diáspora, Maria Manuela Aguiar e Maria da Graça Sousa Guedes (org) (2014) Entre Portuguesas 2014, Maia Manuela Aguiar, Graça Guedes, Arcelina Santiago, (coord), Ed Mulher Migrante Associação de estudo, Cooperação e Solidariedade (2015) Entre Portuguesas 2015, Maria Manuela Aguiar, Graça Guedes, Arcelina Santiago (coord), Edição Mulher Migrante Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade ARTIGOS RECENTES Aguiar, Manuela (2008) "Mulheres migrantes e intervenção cívica", em Maria Rosa Simas (org.), A mulher e o trabalho nos Açores e nas comunidades, Ponta Delgada, UMAR- Açores, pp. 1247-1258 Aguiar, Manuela (2009) "Formas de exteriorização da pertença", em Maria Beatriz Rocha Trindade (org.), Migrações, Permanências e Diversidades,Lisboa, Biblioteca das Ciência Sociais, pp.263-269 Aguiar, Manuela (2009) "O Conselho das Comunidades Portuguesas e a representação de emigrantes" em Beatriz Padilha e Maria Xavier, Migrações entre Portugal e a América Latina, Revista Migrações, Lisboa, outubro, pp.257-263 Aguiar, Maria Manuela (2010) "Emigração portuguesa - olhares sobre a ausência: uma perpetiva diacrónica" em Polígonos Revista de Geografia, nº 20, Departamento de Geografia, Universidade de León, pp 91-115 Aguiar, Maria Manuela (2012) "Portuguese republican women out of the shadows" em Richard Herr and António Costa Pinto (ed.), The Portuguese Republic at one hundred, Portuguese Studies Program, University of California, Berkeley. pp.181-196 Aguiar, Manuela (2014) "A questão de nas políticas de emigração portuguesa", em Joana Miranda e Ana Paula Beja Horta (org.), Migrações e Género - espaços, poderes e identidades, Lisboa, Mundos Sociais, pp. 75-93

CONDECORAÇÕES, PRÉMIOS E OUTRAS DISTINÇÕES

CONDECORAÇÕES

 Nacional Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique Estrangeiras Grã-Cruz da Ordem do cruzeiro do Sul (Brasil) Grã-cruz da Ordem do Império Britânico (OBE) Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco (Brasil) Grã-Cruz da Ordem de Mérito (Iália) Grã-Cruz da Ordem de Mérito (Alemanha) Grã-Cruz da Ordem de Mérito (Luxemburgo) Grã-Cruz da Ordem de Leopold II (Bélgica) Grã-Cruz da Ordem Fenix (Grécia) Grã-Cruz da Ordem Francisco Miranda (Venezuela) Grande Oficial da Ordem da Estrela Polar (Suécia) Grande Oficial da Ordem de Mérito (França)

OUTROS TÍTULOS E PRÉMIOS

Prémio Nacional, Liceu Rainha Santa Isabel, Porto, em 1960
 Prémio Beleza dos Santos (Direito Criminal). Universidade de Coimbra, em 1965
Cidadã do Rio de Janeiro, em 1990,
 Ordem Tiradentes (Rio de Janeiro), em 2000
Dragão de ouro do FCP (2005).
Medalha de honra da Câmara de Espinho (2011)
Medalha de Mérito Cívico da Câmara de Gaia, grau ouro (2014) Participação Associativa
Co-fundadora e dirigente do Instituto Francisco Sá Carneiro (anos 80)
Membro do Conselho Cultural do FCP (1984/85)
Co-fundadora da Associa
Co- fundadora 
Fundadora e atual Presidente da Assembleia Geral da Associação "Mulher Migrante".(1993)
Fundadora da Associação Ana de Castro Osório (1993)
Fundadora da Associação das mulheres parlamentares (1993) 
Membro do Conselho de Curadores da Fundação Luso-Brasileira.
Membro do Conselho de Delegações e Filiais do FCP. (2005.2010)
Sócia Correspondente da Academia Luso Brasileira de São Paulo.  Membro da Academia do Bacalhau de Joanesburgo 
Sócia honorária de várias associações do estrangeiro

ENTREVISTA OBSERVA MAGAZINE

 Grande entrevista - Maria Manuela Aguiar OBSERVA Magazine 2
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>  Quem é Manuela Aguiar? Uma Senhora ainda recordada como exemplo de vida na notoriedade que conferiu à Diáspora portuguesa. Assumiu a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, no VII Governo Constitucional liderado por Pinto Balsemão, em 1981. Encontrava-se a assumir a pasta do Ministério dos negócios estrangeiros, André Gonçalves Pereira.
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> OM:  Muito agradecidos por nos conceder a honra desta entrevista
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> M A: Eu é que tenho de agradecer a possibilidade de partilhar com todos os leitores de Observa Magazine recordações de tempos e acontecimentos que vivi, há tantos anos!.
>
> Assumi a SEECP, a convite do Dr Francisco Sá Carneiro, nos primeiros dias de janeiro de 1980. Era Ministro dos Negócios Estrangeiros o Prof Freitas do Amaral. Não os conhecia pessoalmente até esse dia, em que que reuni com eles, na Rua Gomes Teixeira, na altura em que preparavam a formação do VI Governo Constitucional. Conversámos como amigos de longa data, de um modo informal e descontraído. Foi o início de uma caminhada vertiginosa, em que Sá Carneiro impunha o ritmo e todos dávamos o máximo, num ambiente de coesão e de solidariedade, que nunca mais reencontrei na vida pública. Até 4 de dezembro, 1980 seria o meu melhor ano de sempre, até hoje!
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> Intervir na política, não estava no meu horizonte. Sentia-me bem em trabalho de gabinete, como assessora do Provedor de Justiça. Antes tinha sido assistente de um Centro de Estudo Sociais e de várias Universidades. E fizera, em 1978/79, uma passagem por um breve governo de independentes presidido pelo Prof Mota Pinto - na pasta do Trabalho. Tinha quadrante ideológico - era "social-democrata à sueca" - mas não filiação partidária. Não fui pressionada a inscrever-me no partido, mas fi-lo, impulsivamente, devido à minha perfeita sintonia com as posições de Sá Carneiro . E com isso, me tornei a primeira mulher do PSD a ocupar um cargo governamental. Depois, acabei por perfazer o total de 5 governos, e por ficar na Assembleia da República quase duas décadas e na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa por cerca de 14 anos.
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> OM: Estando interessados em tentar escrever a história e as histórias desta importante e nobre função de quem assume uma secretaria que permite e fomenta o contacto com as comunidades portuguesas espalhadas pela Diáspora portuguesa, conte-nos qual o primeiro impacto com essa realidade.
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> M A - Foi, antes de mais, a verdadeira descoberta de um "outro Portugal", que os portugueses recriam no estrangeiro e que é largamente ignorado, dentro do País. Tive, a preocupação de fazer viagens em que circulava, de cidade em cidade, entre comunidades, com o objetivo de conseguir, mais depressa e melhor, uma perspetiva ampla do universo da emigração, estabelecendo comparações, e podendo transmitir experiências de umas para as outras. Queria estabelecer as singularidades e as constantes, no que respeitava a realizações, problemas  carências, para definição de prioridades, e procura de formas de articulação e parcerias viáveis,  .
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> Na primeira visita, em 20 dias, corri os EUA e o Canadá, de costa a costa. Na segunda, o Brasil - da Amazónia, do Pará e de Pernambuco ao Rio Grande do Sul. E, depois, os muitos países onde está a nossa emigração. Como os programa de visitas se centravam nas associações, igrejas, escolas portuguesas, clubes, no pujante movimento associativo, quase não via as cidades, as paisagens circundantes, e voltava com a espantosa sensação de não ter saído da minha terra, apesar de ter feito tantos milhares de quilómetros. Era como se Portugal fosse imenso! E, de facto, é,  se olharmos a sua gente para al+em do seu território..
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> O M : o que mais a comoveu nesse contacto direto?
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> M A: O genuíno portuguesismo das pessoas! A paixão por manter tudo o que consideravam identitário, que lhes permitia unirem-se e criarem espaços culturais de presença nacional, com os seus modos de estar, as suas tradições de convivialidade. Encantou-me, desde esses primeiros contactos, a hospitalidade com que era recebida, tanto em salas modestas, como em grandiosos salões, que pareciam  transplantados das várias regiões de Portugal, com o seu ambiente de tertúlia, a sua gastronomia, dança, música, celebrações religiosas... Ver isto com os meus próprios olhos foi uma revelação poderosa, inspiradora. Afinal, o que eles faziam pelo país era infinitamente mais do que o que País jamais fizera por eles, como exigiaJF Ken nedy. Assim pensei e, décadas depois, continuo a pensar.
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> OM:   Como definiria um traço ou uma característica inerente (de todas as comunidades espalhadas por todos os continentes) à vontade/ necessidade de emigrar no período em que exerceu funções?
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> MA: Julgo que mais a necessidade do que a vontade. O êxodo migratório do século XX deveu-se, sobretudo, à pobreza, ao desemprego, aos baixos salários. Foi, em percentagens muito elevadas, clandestino - sobretudo na segunda metade do século, quando de dirigiu, sobretudo para a Europa (a emigração "ilegal" passou a média de um terço, que vinha de épocas recuadas e chegou a ultrapassar os 50%). A melhoria das condições de vida dos que haviam partido contribuía enormemente para familiares e vizinhos verem na fuga para o estrangeiro a única solução de futuro. Como hoje, os que atravessam o mediterrâneo, arriscando a vida! A situação não é tão diferente como poderá parecer. É apenas ainda pior, mais difícil, porque, no pós guerra mundial, o ciclo de desenvolvimento económico permitia uma rápida legalização e integração. Os Portugueses, depois de um início difícil, ganharam, quase todos, a aposta na aventura da emigração. Eduardo Lourenço disse dos protagonistas do "salto", nas décadas de 50 e 60, que foram "uma geração de triunfadores". É uma citação que uso, muitas vezes, porque é, globalmente, verdadeira e, além disso, expressa a homenagem, que o país se esquece, tantas vezes, de lhes prestar. .
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> OM: Qual a faixa etária que emigrava? Quais as suas qualificações académicas e profissionais?
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> M A: Jovens do sexo masculino, pouco qualificados. Era esse o perfil da nossa emigração tradicional. Mas não a dos governos a que pertenci. Quando, a partir de 1974, as leis e a Constituição Portuguesas vieram, por fim, consagrar plenamente o direito à emigrar, os outros países fecharam as fronteiras, após a crise petrolífera.... Na década de oitenta, registámos os mais baixos números de saídas de todo o século XX. (e deste começo de Século XXI). Os países desenvolvidos praticamente só permitiam a entrada para reunificação familiar às mulheres e filhos dos trabalhadores. Falava-se, e bem, de "feminização da emigração". Foi, por sinal, um movimento da maior importância, porque quase todas as portuguesas conseguiram aceder ao mercado de trabalho, ganharam uma autonomia profissional, que não tinham nos meios rurais de onde provinham, e deram um impulso fundamental aos projetos migratórios, do ponto de vista económico (pois contribuíam com um segundo salário) e social, (porque se converteram, de facto, com inesperado êxito, em mediadoras da inserção do núcleo familiar). Estavam, maioritariamente, inseridas no setor dos serviços, com contactos mais próximos na sociedade local e isso deu-lhes a compreensão das suas especificidades, tal como da necessidade de proporcionarem aos filhos as vantagens da educação e formação, que eles não tinham. A emigração feminina influenciou, assim, decisivamente,a reconversão cultural e o sucesso económico dos projetos migratórios de 50 e 60. Na altura, ninguém o podia prever. Hoje essa avaliação está cientificamente demonstrada (vejam-se os trabalhos pioneiros da Profª Engrácia Leandro, na década de noventa, na região de Paris).
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> OM :  quais eram os países eleitos pelos portugueses para se emigrar?
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> MA: A Suiça foi, a partir de 80/81, uma exceção no panorama europeu. Nesses e nos anos seguintes, recrutou dezenas de milhares de trabalhadores portugueses ,maioritariamente, homens, para a agricultura, construção civil, a hotelaria... Novos destinos, que geraram expetativas, (depois não confirmadas), foram alguns países do sul do Mediterrâneo e do Médio Oriente. Os números nunca viriam a ser elevados e corresponderam a contratos bem remunerados, mas temporários.
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> Outra situação nova, com que me vi confrontada foi o enorme afluxo de regressos, em média 30.000 a 40.000 por ano. O retorno dramático dos portugueses de Angola e de outras colónias estava ainda bem presente na memória coletiva e este segundo retorno provocava nos "media",na opinião pública, e até na classe política uma inquietação indisfarçável. Vi-me muitas vezes isolada, e mal compreendida, ao explicar que se tratava de um processo radicalmente diferente, um movimento voluntário, planeado pelos próprios emigrantes, dirigido, sobretudo, para as regiões de origem e, por isso, desejável, essencial mesmo, para o repovoamento e progresso do interior (desertificado pelo êxodo migratório das décadas anteriores). Os apoios à reinserção, (medidas fiscais, isenções, empréstimos a juro bonificado). foram utilizados habilmente, e o País ganhou muito com os que vieram (mais de meio milhão só nessa década de que tratámos) sem perder os que se que fixaram lá fora, formando as comunidades extra-territoriais, que corporizam a nossa "Diáspora".
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> um O M:  No seu entender quais foram os países que mais se esforçaram por justamente atribuírem a lusodescendentes cargos decisores, nomeadamente de responsabilidade política?
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> MA: O Brasil, sem dúvida. É um país tão próximo, que os portugueses na sociedade brasileira tendem a ser tratados como nacionais. Desde 1971, o Tratado de Igualdade de Direitos e Deveres entre Portuguese e Brasileiros concedeu direitos políticos aos imigrantes do outro País. a nível nacional, enquanto, por exemplo, o estatuto de cidadania europeia, ainda hoje, limita a capacidade eleitora e ativa e passiva, ao nível local. Em 1989, os Constituintes brasileiros foram ainda mais longe, atribuindo aos portugueses, sob condição de reciprocidade, todos os direitos da nacionalidade brasileira, equiparando-os a brasileiros por naturalização. A luta pela dação da reciprocidade por parte de Portugal foi a minha " causa maior", enquanto deputada e prolongou-se por cerca de 13 anos. Foi conseguida numa revisão extraordinária da Constituição em 2001 - e graças ao apoio de Políticos sensíveis às particularidades do universo da lusofonia - caso  de Durão Barroso e de Mário Soares, que foi absolutamente decisivo. Desde essa data, o estatuto de cidadania luso-brasileira consolidou-se como o mais avançado nível universal, atualmentel! E, se, entre nós, ainda não vemos os imigrantes brasileiros em lugares de destaque, no Brasil são muitos os Portugueses que ocupam altos cargos na Magistratura judicial e na política, a todos os níveis, local, estadual e nacional. Uma ascensão que vem de trás e em que as mulheres fizeram história. No século XX, a médica Manuela Santos foi a primeira Secretária de Estado no Rio de Janeiro e a atriz Ruth Escobar a primeira mulher eleita à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e a primeira representante do Brasil nas Nações Unidas para o acompanhamento de Convenção contra todas as formas de discriminação das Mulheres. Uma e outra, eleitas ou nomeadas ao abrigo do "Tratado", isto é, apenas com a nacionalidade portuguesa. Hoje , na Europa, com a França  em destaque, e também no Canadá, EUA e outros países, a participação política vem crescendo, gradualmente.
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> OM:  Que actividades económicas e que tipos de trabalho procuravam os portugueses que emigravam?
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> Com o mesmo (baixo) nível de formação, os portugueses que emigravam para países economicamente desenvolvidos encontravam trabalho não qualificado nos setores que referi (construção civil, a agricultura, os serviços, nomeadamente, no caso das mulheres), enquanto nos países "em desenvolvimento" muitos se transformavam, rapidamente, em pequenos empresários, quando não, no fim do percurso, em investidores de topo. No século XX, são inúmeros os que atingiram esse estatuto- no Brasil, obviamente, mas também na Venezuela ou em diversos países de África.Um exemplo histórico: nos EUA, no começo do século passado, foi muito mais rápido o enriquecimento dos nossos imigrantes no Hawai ou na Califórnia do que na costa leste, então com índices de industrialização mais elevados. É um contexto em que a ascensão é sempre mais lenta, mas não impossível. Veja-se o que aconteceu na França, onde a partir da adesão de Portugal à CCE, com o direito de estabelecimento, se multiplicou, de forma impressionante, o acesso dos nossos compatriotas a segmento do pequeno comércio e da restauração. E, em casos mais invulgares, a grandes negócios e lendárias fortunas, semelhantes às do Brasil ou África..
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>  MA: eram defraudadas relativamente ao que esperavam do país de acolhimento?
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> M A: De início, em muitos casos, sim. Eram enganados por redes de engajadores, explorados como trabalhadores indocumentados. moravam nos tristemente célebres bairros de lata dos arredores de Paris. Um quadro assustador!. Mas, progressivamente, a sua situação foi mudando. A legalização era facilitada (penso em primeira linha na França, que representava mais de 80% do total), e empregos não faltavam. Eduardo Lourenço, testemunha presencial desse período negro fez, como disse, lapidarmente, o balanço final. Nenhuma outra imigração foi aí tão bem sucedida como a nossa.
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> Desde a crise de 2008 e, mais ainda, nos anos de intervenção externa (da "troyka") , a emigração em massa não só recomeçou, como bateu todos os recordes. Nesses quatro anos, cerca de meio milhão abandonou o País... Fala-se de uma "nova emigração", de jovens altamente qualificados, quadros, cientistas, mulheres e homens. Nunca tal acontecera no passado, em números significativos, em massa, mas, na verdade, no total, são ainda uma minoria (nem por isso a situação de "braindrain" imparável deixa de ser uma constatação tremenda!). Contudo, a maioria da nossa emigração continua a ser predominantemente masculina, pouco qualificada e envolvida em contratos temporários.. Uma questão que agora se coloca é a de saber se haverá mais riscos de insucesso (relativo) para a "nova emigração". Creio que em algumas profissões - engenheiros, médicos, enfermeiros - o êxito estará, quase sempre, garantido, em termos de promoção na carreira, de vencimentos. O risco, a meu ver, é o de não regressarem. Porém, em outros setores, por falta de reconhecimento e aproveitamento dos seus títulos académicos, poderão acabar acantonados a empregos precários ou insatisfatórios. Face a expetativas mais ambiciosas, podem ver-se num percurso descendente - ao contrário da geração de 50/60. Esperemos que sejam poucos os perdedores!. E esperemos, também que sejam muitos os que decidam voltar. Isso vai depender muito do País, das condições que saiba reunir para o seu regresso e para pôr fim às partidas maciças. Até hoje, como tenho dito muitas vezes, Portugal já conseguiu garantir aos cidadãos o direito de emigrar, mas não ainda o "direito de não emigrar"...
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> OM:   Qual a sua experiência no contacto com associações ou outro tipo de organizações em que os portugueses se uniam e reuniam?
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> MA: Há pouco, ao referir primeiro contacto com emigrantes, logo o centrei nas associações, porque foi aí que encontrei, desde o primeiro momento, os portugueses. Quer se chamem assim, ou não, são verdadeiras "Casas de Portugal". Foram criadas, algumas há mais de 150 anos, para preservação da língua e da cultura e para defesa e proteção dos compatriotas, que se viam completamente abandonados pelo Estado, mal transpunham as fronteiras do país. A nossa única política de emigração, ao longo de séculos, foi a regulação dos fluxos de saída, quase sempre no sentido de os limitar! Os próprios emigrantes colmataram as omissões do Estado, um pouco por todo o lado, unindo-se em coletividades para a entreajuda (sociedades fraternais, caixas de socorros mútuos, hospitais), para a valorização cultural (Gabinetes de Leitura, grémios literários, centros culturais) e para o convívio (clubes recreativos e desportivos). Até aos fins do século passado, em todos os ciclos migratórios, em todas as latitudes, deparámos com formas de organização semelhantes para atingir os mesmos objetivos (a tipologia "beneficência, cultura, recreio"). Com notável eficácia, diga-se, em diferentes contextos e com meios maiores ou menores. O governo de 1980 não foi, certamente, o primeiro a ter em atenção os méritos do associativismo, mas foi pioneiro no enfoque que deu ao desenvolvimento sistemático de formas de parceria, de co-participação na definição e execução de medidas e programas para a emigração e as comunidades. O Estado não pode alhear-se dos problemas deste Portugal fora de fronteiras, mas tem de respeitar a autonomia da "sociedade civil", que se soube substituir à sua antiga e costumeira inércia. É um equilíbrio que é fundamental conseguir nas políticas públicas neste domínio!.
Nos governos a que pertenci, o principal instrumento dessas políticas foi uma assembleia consultiva, formada por representantes eleitos no universo associativo, o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Entre 1981 e 1987 (data em que deixei definitivamente o governo), o Conselho funcionava a nível de cada país e em reuniões mundiais e regionais. Procurava ser  um grande "forum" do movimento associativo português, que era muito forte dentro de cada sociedade de acolhimento, mas não tinha uma estrutura internacional, ao contrário de todos os outros países europeus de emigração. E ainda hoje não tem! O CCP é atualmente eleito por sufrágio direto, tendo perdido, assim, a sua essencial faceta interassociativa..
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> A minha ligação afetiva ao associativismo que dá corpo e alma às comunidades, enquanto comunidades orgânicas, vem dum tempo em que estava no auge. Sempre vi nele a generosa marca do "percurso coletivo" dos portugueses, tão importante para o País como o sucesso individual, a que costuma dar muito mais atenção. E por isso me preocupa o seu futuro num mundo em espantosa mudança, com as novas tecnologias, a economia e a cultura digitais, formas de relacionamento, de trabalho e de diversão inimagináveis há apenas algumas décadas. Como resistirá o associativismo tradicional e o seu património às infinitas transformações a que assistimos ? .
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> OM: Existe um número, ainda que aproximado, que nos possa adiantar de portugueses emigrados em 1981?
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> M A: As médias de saídas eram baixíssimas, em comparação com as do passado recente e com as do presente. Talvez, uns 8000, (não sei exatamente os números, mas são dessa ordem de grandeza). Atualmente estão acima dos 100.000. Uma diferença abissal.Vivemos, atualmente, um recomeço de ciclo, de èxodo.
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> OM: A Língua portuguesa significava um entrave à integração dos portugueses nas diferentes comunidades?
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> MA: O conhecimento de um idioma, nunca é entrave à aprendizagem de outro. Pelo contrário! Esse é um erro em que caíram alguns pais portugueses, que consideravam necessário que os filhos falassem apenas a língua local, que eles tinham dificuldade em aprender. Não compreendiam que o bilinguismo, para além de manter os laços à cultura pátria é sempre um enriquecimento, e mais ainda numa das línguas mais ricas e mais espalhadas no mundo. Mas esta visão nunca foi predominante. Mesmo pessoas com baixa escolarização, souberam, em regra, valorizar a preservação da língua-mãe, ensiná-la em casa, na escola pública, ou a partir do movimento associativo..
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> OM: Quais as medidas que foram implementadas para que os emigrantes e os lusodescendentes, nomeadamente de segunda geração tivessem acesso em contexto escolar ao idioma de Camões?
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>  MA: Perante a multi-secular indiferença do Estado Português foram as associações e as paróquias católicas que criarem escolas ou cursos de português, com os seus´próprios meios, como disse. De facto, a preocupação dos governos com a aprendizagem do português só se manifestou, quando a emigração passou a dirigir.se para o nosso continente. Por largas décadas, manteve-se a dualidade, com uma rede oficial de professores na Europa, articulada, ou não, com os governos dos países europeus, em contraste com a não concessão de apoios às escolas comunitárias da emigração transoceânica. Nunca aceitei esta discriminação, mas tive dificuldade em a combater, porque, nessa altura a política do ensino para as comunidades estava sediada no Ministério da Educação e não no Ministério dos Negócios Estrangeiros 8MNE). Durante os governo a que pertenci. só na África do Sul foi possível estender, de algum modo, a rede oficial, com aulas extra-curriculares, gratuitas e dadas por professores do nooso ensino oficial nas escolas sul-africanas
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> A transição do Instituto Camões para o MNE é coisa relativamente recente. Hoje há mais equilíbrio, mais rateio de meios entre as comunidades, de "àquém e além mar", mas a situação está longe do ideal e as escolas associativas continuam a desempenhar, em muitas comunidades., um papel de primeiro plano. Dar cursos de língua e cultura, continua a ser o obetivo de um sem número de organizações - e o que mais atrai as mulheres à intervenção na vida coletiva! É de realçar que em muitos casos tem resultado o esforço do nosso governo junto de outros, para conseguir a integração curricular do português. A meu ver, a multiplicação e a conjugação de várias ofertas de ensino é de incentivar. Nunca será demais.....
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> OM:  Quais as dificuldades da Lei eleitoral à data se refletiam no voto por parte das comunidades, nas diversas eleições portuguesas?
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> M A: Tudo hoje é mais fácil e mais consensual entre partidos da direita à esquerda. Em 80, não. Até a dilatação do período de recenseamento de um para dois meses foi polémica e inviabilizada no parlamento! A votação era limitada à eleição de 4 deputados para a Assembleia da República e o voto por correspondência perdia-se, frequentemente, sobretudo em países onde os correios eram lentos e pouco fiáveis, ao contrário dos nossos. Infelizmente o número de deputados não se alterou, mas o voto alargou-se às eleições presidencial e europeias e a alguns "referenda". E o universo eleitoral, independentemente de recenseamento, passou a abranger todos os emigrantes que possuem cartão de eleitor.
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> OM: Tem algum episódio que nos queira contar do contacto com alguma «Mãe ou Pai da Saudade
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> M A: São tantos os que já partiram, deixando saudades... O mundo das comunidades era, então, a nível de dirigentes, de interlocutores, quase 100% masculino, e, por isso, o meu círculo dos amigos e aliados homens era imenso, tornando a escolha complicada, ao contrário do que acontece com as raríssimas mulheres, que lideravam associações, "media", ou grandes movimentos cívicos. Matriarcas como a mítica Dona Benvinda Maria, diretora do jornal "Portugal em Foco" do Rio de Janeiro, Maria Alice Ribeiro, fundadora e diretora do "Correio Português" de Toronto (aí, o mais antigo jornal na nossa língua), Mary Giglitto, presidente do Festival Cabrilho em São Diego (Festival de homenagem ao descobridor da Califórnia, que sem nossa Mary seria, provavelmente, considerado castelhano...), a Fernanda Ramos, de Minas Gerais, empresária e primeira presidente do Elos Clube Internacional, a Manuela da Luz Chaplin, advogada dos indefesos, em Newark...  Todas foram vozes fortes, arrebatadoras, que mobilizaram os compatriotas e engrandeceram as suas comunidades. Contar episódios passados com elas ou com eles, dava outra grande entrevista! Mas há um, que acaba de me ocorrer agora mesmo, talvez por ter trazido à conversa a desigualdade de género na emigração dessa altura. Estava, um dia, a almoçar com um jornalista de rádio de San Diego, Paulo Goulart, e ele disse-me que, entre os muitos políticos que visitavam a Califórnia, só dois tinham a simpatia da comunidade, o Dr João Lima e eu (assim se vê que ele era meu amigo - nem todos seriam dessa opinião.é claro...). Fez uma pausa, com ar de quem está a refletir e acrescentou: "Pensando bem o João Lima até tem mais valor, porque para ele é muito mais difícil, por ser homem e socialista". De facto, a América tinha, então, fortes preconceitos anti-socialistas. Essa parte era óbvia. Não assim o facto de ter vantagem como mulher! A frase, a que achei imensa graça, dita com evidente franqueza e sinceridade, constituiu a pista que me faltava para compreender o enigma de me ver bem aceite em comunidades, no seu conjunto, tão conservadoras. Creio que Paulo Goulart me terá convencido de que é mais difícil a uma mulher chegar ao cargo, do que, depois, exercê-lo. Aqui deixo a hipótese, para futuro estudo  

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> OM:   Deseja fazer alguma saudação especial dirigida aos milhões que a vão ler?
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> MA: Sim, com muito prazer, aproveito para mandar um abraço a todos os emigrantes que deixaram o seu país , mas o levaram consigo, em espírito e , assim, apesar da ausência física, são uma presença cultural.
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> OM: A OBSERVA Magazine agradece-lhe novamente a honra desta entrevista