dezembro 12, 2010

A entrevista

De SCOLARI
Ao diário "A Bola". Longa, longa. Não li toda - apenas o suficiente para saber que um dos filhos é adepto do SLB e o outro do SCP.
Muito politicamento correctos.
Não sobra nenhum para torcer por aquele clube de uma cidade que fica longe . O contrário é que seria "manchete"!

novembro 28, 2010

Sá Carneiro - na memória do País...


Um artigo que tem quase três décadas. Mais exactamente, data do 1º aniversário da sua morte. Um tempo em que ainda havia Sacarneiristas e anti-Sacarneiristas.

Hoje fala-se do "mito" que esconde a verdade humana (e, de algum modo, também a política...) de Sá Carneiro. E ao mito aderem até os mais implacáveis dos seus antigos críticos - em especial os seus detractores dentro do PSD.

Por isso deixei, por muito tempo, de falar e escrever sobre ele. Nunca de o lembrar no meu dia a dia. A sua fotografia ficou sempre no meu gabinete nos 3 Executivos seguintes a que pertenci... Continua na parede do meu escritório privado, naturalmente. Em Espinho e em Lisboa.

Infelizmente, por razões de família, não pude estar lá, na missa e, depois, na Universidade Católica, na homenagem conjunta a Sá Carneiro e a Amaro da Costa, promovida pelos Institutos que levam os seus nomes. Comprei a imprensa que lhe (ou lhes) dedicava suplementos. Passei a noite diante da tv, fazendo "zapping" entre programas que, melhor ou pior, o (ou os) recordavam.

O melhor era mesmo vê-lo e ouvi-lo, como, em tantos casos, aconteceu em directo há mais de 30 anos... A meu ver, a televisão suplantou a imprensa. Porque ele próprio lá esteve, nos grandes comícios da nossa esperança, ou no parlamento, ou em comunicações e debates. Sorrindo para nós com aqueles olhos que viam mais longe, inexcedívelmente carismático entre multidões fascinadas de seguidores, sereníssimo como Primeiro Ministro do Portugal.

Muito mais "true to life" do que os comentários escritos - quase todos desajustados, desfazados de um tempo cada vez mais distante e incompreendido, assim como da essência da sua personalidade e do seu pensamento e, consequentemente, do significado da sua participação cívica e política. Sobretudo, mais interessados nas "estórias", nas peripécias, nos traços de temperamento, nos "faits divers" , na vida privada, na faceta mundana do que na coerência das suas ideias e do seu projecto para o país. Querem, eles, sim, construir um "mito" (de preferência, colocando-lhe "pés de barro", que na realidade, do ponto de vista político, não tinha, nem tem...). É incrível que cedam à tentação de menorizar o conteúdo das suas intervenções públicas, dos seus abundantes escritos e discursos, do fio condutor da sua acção, privilegiando o "blá-blá" social e a pura intriga partidária (que não deve ser varrida para debaixo de um tapete, mas que teve a importância que teve - não tanta assim, porque o trajectória de Sá Carneiro foi imparável apesar desses acidentes de percurso). Enfim, quero com isto dizer: há nos relatos que se multiplicam, muita coisa acessória que submerge o essencial. Não são escritos de historiadores, de politólogos - são ensaios de jornalistas e outros "amadores" em terreno alheio. Nota-se... As grandes biografias de Sá Carneiro, o político, o Homem de Estado, o construtor da democracia portuguesa, estão por fazer... Nem mesmo os seus companheiros de projecto, o quiseram fazer, como em relação a Kennedy começou por ser brilhantemente levado a cabo por Arthur M. Schlesinger Jr. com o seu "A Thousend Days - John F. Kennedy in the White House".(dois anos apenas o assassinato de JFK). Dos nossos, até ver, não se poderá fazer um comentário semelhante, por ex,. ao "The Guardian": "Very much more than a gossipy bid for best-seller... a book of real distinction".

(É certo que ainda não consegui comprar o livro de J Miguel Júdice -"O meu Sá Carneiro" e acredito e espero que possa colmatar esta imensa lacuna...).

De facto, do governo de Sá Carneiro mais não há ainda do que alguns escritos ou apontamentos sobre políticas sectoriais, de um ou outro dos seus ministros, e as superficiais referências, "en passant" em publicações onde se fala mais da sua primeira e da sua segunda mulher do que do Vice-Primeiro Ministro ou do Ministro das Finanças ...

Apesar de tudo, um pouco mais glosada é a sua intervenção cívica e política no período da chamada "ala liberal" - talvez apenas porque não tinha, então, a concorrência de temas da vida privada...

(Aliás, tomemos o ex. das reportagens do 4 de Dezembro: quantos dos intervenientes da jornada televisiva foram ao ponto de citar Sá Carneiro, com as suas próprias palavras? O mais comum foi lembrarem a sua própria relação pessoal com Sá Carneiro - mais adequada a um ambiente de tertúlia ou a um simples blogue do que a análise que pretende ser de políticos ou politólogos sobre um fenómeno da cena política portuguesa - com algumas excepções, como a de Freitas do Amaral).

Schlesinger, ou Sorensen, dão-nos o quadro de trabalho de todo um gabinete, as temáticas principais, os conflitos diplomáticos, as campanhas cívicas, a luta pela igualdade racial numa América em transformação - não os problemas conjugais de Jack e Jacqueline...

Com toda a franqueza: o que me interessa é Sá Carneiro, o Político - não particularmente a sua vida de família, ou o seu quadro clínico em 1975/76 ou mesmo em 1980 - salvo na estrita medida em que ditou o seu afastamento paísou em que nos dá a imagem do homem que supera a adversidade. ( é ridículo ver, no livro de Pinheiro, detalhada a lista das prescrições de medicamentos que tomava, em vez da lista das medidas discutidas e aprovadas nos seus Conselhos de Ministros!).

Como muitos dos Portugueses que vieram a aderir ao PPd/PSD, comecei a acompanhar o percurso de Sá Carneiro em 1969, desde o momento daquele primeiro discurso, em Matosinhos. A minha adesão foi imediata. Como reformista que era e sou, achei interessante a experiência da Ala Liberal, na tentativa aventurosa de abrir o regime por dentro. Não sei se acreditei no sucesso da tentativa, em si, mas sei que acreditei sempre nos seus protagonistas e na importância de pedagogia democrática da sua intervenção. Por isso, conhecia muito bem e admirava muito Francisco Sá Carneiro, como político. Achava-o um modelo de coerência e, obviamente, muito mais previsível do que agora os seus "biógrafos" pretendem apresentá-lo... Estive invariavelmente de acordo com ele. Dizia, e mantenho, que nele o que mais apreciava eram os defeitos que os inimigos lhe apontavam, ainda mais do que as qualidades que todos lhe reconheciam...

(As questões da vida privada, quando surgiram, no fim dos anos 70, nunca me interessaram particularmente - fui ouvindo os boatos sobre separação e novo romance, sem lhes dar especial atenção. Quando houve confirmação do seu relacionamente com Snu, não tive nada a objectar - pelo contrário, pois a sua conduta regeu-se pela verdade e pela seriedade. Estou à vontade para o afirmar, justamente na qualidade de divorciada de um colega de curso, a quem, em circunstâncias parecidas, facilitei, de imediato o divórcio para que ele casasse com quem queria).

Não o conheci pessoalmente até ao momento em que me convidou para o seu Governo, em Janeiro de 1980. Momento inesquecível de encontro com a personalidade do mundo político que mais me fascinava!

Nada para mim foi mais significativo do que fazer parte da sua equipa governativa, na Secretaria de Estado da Emigração - do meu ponto de vista o melhor Governo que houve em Portugal no século passado - não havendo neste século nada de comparável. Sei que estou praticamente sozinha nesta minha convicção - à curta duração dessa experiência não atibuo relevância. É uma avaliação qualitativa, não quantitativa. Hei-de explicar as razões que a fundamentam.

Para já uma palavra sobre o "MITO":

Se falam do mito nascido depois da sua morte, por causa da sua morte trágica, retirem dessa lista todos os inúmeros Sacarneiristas que o seguiram desde a fundação do PPD! O que pensava do Dr. Sá Carneiro vivo é precisamente o que penso dele depois de 4-12-1980... Estou com tantos portugueses, da minha geração, que o "descobriram" em vida e o consideravam um líder único e insubstituível, e que tinham perfeita consciência de que ele estava a fazer História!



Comentários

Maria Manuela Aguiar disse...

Em suma, como deixei claro, prefiro biografias de políticos mais centradas no pensamento e na acção política.
Na vida pessoal eles são mais iguais a toda a gente...
Acho que não nos cabe julgar as razões do coração. O ideal é que, mesmo no plano sentimental, haja seriedade e compostura (e Sá Carneiro não nos desiludiu em nenhum desses aspectos).
Isto não significa ter de tomar partido, ter de encontrar culpados.
Nunca conheci Isabel Sá Carneiro e com Snu não troquei mais do que palavras de circunstância. Para dizer a verdade, creio que se houvesse tido ocasião de conviver com uma e outra, teria tido mais afinidades com Isabel do que com Snu - porque é do Porto e muito portuense, porque suponho que tem muitas das qualidades que Agustina atribui à figura feminina de "Os meninos de ouro". (não reconheço é Sá Carneiro no personagem masculina dessa obra menor de uma escritora incomparável...).

Não suportaria em Sá Carneiro duplicidade e hipocrisia. Ainda que no âmbito exterior à política, o não assumir a coerência neste domínio seria, no seu caso, "contra natura" - e diminuiria, para mim, a imagem integral que dele tinha.
Na primeira recepção oficial para a qual fui convocada fiquei muito surpreendida com os dizeres do convite dirigido pelo "Primeiro Ministro Francisco Sá Carneiro e Senhora". Senhora? Como não estava por dentro dos compromissos alcançados entre PR e Governo não me passou pela cabeça que a "Senhora Sá Carneiro" fosse Snu e não compreendia que o 1º Ministro tivesse chamado a mulher, Isabel, só para satisfazer a ortodoxia protocolar. Sentia-me desiludida pelo inesperado oportunismo da "cedência". Era um comportamento eminentemente anti- sacarneirista!

Quando entrei no Palácio de Sintra deparei com dois casais a receber conjuntamente os convidados: Sá Carneiro e Snu, Freitas do Amaral e Mª José. Muito sorridentes, elas deslunbrantemente vestidas (era ainda o tempo das recepções de vestidos compridos!).
Uff! Que alívio! Afinal não havia ponta de duplicidade - só um sã cumplicidade entre os dois principais responsáveis pelo governo. Sá Carneiro igual a si próprio!

9 de Dezembro de 2010 18.18...

Maria Manuela Aguiar disse...

O frio que passei nesse sumptuoso banquete no Palácio da Vila em Sintra! Era inverno rigoroso. Tinha perguntado ao jovem diplomata do protocolo de Estado se o palácio era aquecido e ele respondeu que sim. Por isso optei por um vestido de chiffon azul com desenhos pretos, sem mangas, fresco e vaporoso (comprado dias antes na Boutique Ayer). Erro crasso! A temperatura era glacial. Aqui e ali apenas apenas uns pífios aquecedores que destoavam no ambiente palaciano e não aqueciam coisa nenhuma...
Já não me lembro quem era o visitante estrangeiro ali homenageado. Para recordação ficaram a surpresa daquela recepção pelos dois casais, o requinte de todo o "décor", excepto os anacrónicos aquecedores, e a sensação de desconforto por falta de agasalho...

10 de Dezembro de 2010 22.10

Maria Manuela Aguiar disse...

Uma só vez estive à conversa com os dois durante largos minutos. Foi durante a visita do Presidente Carter. Na altura ainda não me tinha apercebido do "incidente" protocolar que impedira Snu de acompanhar a Senhora Carter numa excursão em Lisboa. Após um almoço, os presentes circulavam no salão de um dos palácios (já não sei qual...) e, de repente, ao fazer um movimento circular, quase choquei com eles.
Muito me espantei por os ver sem "entourage", longe do concorrido local onde estavam os Carter, falando um com o outro!
E fiquei eu, a contar as histórias de uma recente visita à Venezuela, envolta nas guerras costumeiras com o Conselho da Revolução, na pessoa do Conselheiro Victor Alves, qu nós então chamávamos o "Ministro da Emigração do Presidente" .( eram os tais "poderes paralelos" que FSCarneiro combatia - e nós com ele no Ministério do Negócios estrangeiros, que era uma das frntes principais sendo o "MNE do Presidente" Melo Antunes...)
Tanto assim era, que, na publicação em que se faz o balanço do Governo AD, antes das eleições de Outubro, se afirma que "O Governo recuperou para a sua esfera o domínio do Negócios Estrangeiros e o da Emigração e Comunidades Portuguesas" (cito de memória, até encontrar o livrinho, com capa das cores da AD sobre fundo branco, que está bem guardado, mas não sei aonde).
Na perpectiva do Primeiro Ministro, e de todo o Executivo, não foi pequeno feito...
Eu sei que esta é a foto de campanha eleitoral preferida pela Manuela


Dois candidatos à Câmara e à Assembleia Municipal do Porto, que, para além da paixão pelo Porto, partilhavam a admiração pelo Dr. Francisco Sá Carneiro.
Em 1980, ele foi Assessor Militar do Primeiro Ministro Sá Carneiro , ela Secretária de Estado do seu Governo.
Publicada por Docas em Domingo, Novembro 14, 2010 2 comentários:
Maria Manuela Aguiar disse...
Confirmo!
Só um reparo: esta reprodução está ligeiramente descentrada. Vou procurar um original em perfeito estado.
E já agora conto a história deste pequeno retrato de campanha eleitoral: estava inicialmente destinado a ser um daqueles "outdoors", com três metros de largura (mais ou menos - uma coisa em grande). Por falta de meios, a que devia ser a segunda série de outdoors gigantes acabou num pequeno autocolante, dos que se colocam na lapela.
A eleição não era para ganhar, e houve que gastar as verbas disponíveis noutros concelhos.
Apesar da exiguidade de material de informação (a mais parca de que tive conhecimento ao longo de mais de 3 décadas de vida política...), os resultados excederam as nossas expectativas!

14 de Novembro de 2010 16:14
Maria Manuela Aguiar disse...
Sou uma admiradora do General e gostei muito de fazer campanha com ele.
O pequeno colante comporta tão boas memórias!
E, sobretudo, ao contrário do que tantas vezes acontece, falava VERDADE. Para ambos, o Porto era, realmente, a nossa "missão".
Não ganhamos a eleição - sabíamos que essa era uma "missão impossível" - mas cumprimos os respectivos mandatos, de princípio a fim.

14 de Novembro de 2010 16:22
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NOV 7

Novembro 07, 2010 Porto! Porto! Porto!
És a nossa glória...
Dá-nos nesta dia mais uma alegria, mais uma vitória.
E deu!
E que vitória!!!
Nunca na vida vi o FCP ganhar por 5 golos ao SLB, porque falhei, há 56 anos a outra hipótese que a história nos ofereceu, nas Antas, e uma outra, bem mais recente, na Luz... E esta, agora! Não há duas sem três, diz o ditado.
Tivesse semelhante possibilidade estado nas minhas mais remotas previsões e não teria perdido a partida "in loco", no Estádio do Dragão. Mas perdi, lembrando o sofrimento do jogo com o Braga, disputado lance a lance, com aquele terrível "suspense", prolongado até ao último segundo.
E assim me deixei ficar em casa, garantindo a ocupação do meu "dragon seat" pela presença de um amigo.
Estava, pois, a ver um programa de natureza política (um substituto mais deprimente, mas menos "stressante" do que o desporto), quando vi no rodapé do ecrã a notícia de que, no final da 1ª parte, O FCP vencia por 3-0. Saí, de imediato, porta fora em direcção à Casa do FCP em Espinho, onde ainda pude ver, em directo e no meio de uma assistência entusiástica, os dois golos de um HULK mais do que perfeito.
Publicada por Maria Manuela Aguiar em Domingo, Novembro 07, 2010 6 comentários:
Maria Manuela Aguiar disse...
Incrível também aquele golo de calcanhar de Falcão, que já só vi em repetição televisiva!

7 de Novembro de 2010 15:20
Maria Manuela Aguiar disse...
Ao incrível Hulk e ao incrível Falcão, haverá que acrescentar o mais incrível dos incríveis:
ANDRÉ VILLAS BOAS.
Incrível, no sentido de genial, de fantástico, de fenomenal. Ñão no sentido de improvável ou de inverosímil. Há muito considero que o adolescente que convenceu B. Robson com a sua análise e percepção do jogo só pode ser mesmo genial.
Além disso, é civilizado, bem educado, bem formado. E, ainda por cima, um genuíno PORTISTA!
Há muitos, muitos anos que eu não sentia esta confiança, admiração e simpatia por um treinador do FCP. Os anteriores nem eram portistas nem particularmente convincentes como treinadores.(salvo Mourinho, que é mais do que convincente, mas não portista). A gente tinha a impressão de que, com aquela referida e notabilíssima excepção, era a máquina organizativa do FCP que os "fazia" vencedores e não eles que faziam do Porto campeão.

7 de Novembro de 2010 15:43
Maria Manuela Aguiar disse...
Para ser mais precisa, devo ressalvar um outro caso - o de um simpático treinador espanhol, que esteve cá na altura errada.
Falo de Fernandez, que ganhou todos os jogos difíceis, incluindo o que nos deu o 2º título mundial no Japão, mas pertdeu alguns dos fáceis. Se bem se lembram, essa foi a época em que os grandes protagonistas da equipa de Mourinho se dispersaram por toda a Europa, a começar por Deco, que rumou a Barcelona. Os que não saíram no verão sairam logo depois, no inverno... E chegavam, para os substituir, sul americanos de torna viagem (para casa ou para clubes secundários de qualquer outro país...)
Ainda por cima, o fabuloso Fabiano só acertava nos postes da baliza.

7 de Novembro de 2010 16:06
Maria Manuela Aguiar disse...
Vimos o Jesualdo corrido do Málaga esta semana.
Nada que me surprendesse...

7 de Novembro de 2010 16:09
Maria Manuela Aguiar disse...
Um patamar acima está o Engenheiro. Sai-se bem...na Grécia. Mas tem aquele ar tão triste, ainda que a sua honestidade não levante sombra de dúvida.

7 de Novembro de 2010 16:15
Maria Manuela Aguiar disse...
De Bobby Robson gostei imenso!Depois de António Oliveira (desse sou fã, desde os tempos em que jogava nas Antas) foi o único que me convenceu plenamente.

7 de Novembro de 2010 16:19
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ARTE PARTILHADA (com os comentário originais)

ARTE PARTILHADA ... E AMIZADE TAMBÉM
Tinha hoje, à mesma hora e em cidades diferentes, duas indicações para representar a Câmara de Espinho - ou o seu presidente, o que, no regime presidencialista que é o nosso, a nível autárquico, é mais ou menos a mesma coisa.
Optei por uma exposição de pintura em GAIA, com nomes de primeiríssimo plano, que prometia ser esplêndida. E é, de facto! Ainda mais do que se poderia imaginar, porque o Museu Teixeira Lopes lhe dá um enquadramente mais do que perfeito, colocando, lado a lado, os quadros da sua mostra permanente, e os desta "temporária" esplendorosa. De Vieira da Silva são 11! Mais Arpad... Nadir... Resende... Menez... Justino...Pomar... Cezariny... e tantos outros!

A colecção pertence ao Millenium, que com o seu espólio organizou 3 exposições que percorrem o país inteiro. Excelente ideia, esta de partilhar com quem queira aparecer, obras de arte que, de outro modo, ficariam nas paredes de gabinetes privados ou fechadas em cofre forte.

A surpresa maior foi, para além do encontro com a Arte, o encontro com as pessoas, com amigos que não via há alguns anos, excepto nos ecrãs de televisão.
As incríveis coincidências que a vida nos oferece! Tanto o presidente do Millenium como o presidente da Fundação do BCP, que gere este projecto artístico, foram meus colegas de profissão: o Carlos Santos Ferreira no Centro de Estudos do Ministério das Corporações e Segurança Social, no início da década de 70; o Fernando Nogueira, de 1974 a 1976, na Faculdade de Direito de Coimbra, onde ambos eramos assistentes dos Profs. Rui Alarcão e Mota Pinto.
Não sabia que eles estariam presentes. Que bom reencontro!
O mesmo direi do Presidente da Câmara, Luis Filipe Menezes (que, naturalmente, vou vendo mais vezes) e de grande número de pintoras e pintores nortenhos e de jornalistas.
Publicada por Maria Manuela Aguiar em Terça-feira, Novembro 16, 2010 3 comentários:
Maria Manuela Aguiar disse...
À arte dos pintores juntaram-se outras artes - apontamentos de música e de dança.
Gostei muito!
Curiosamente, é uma fórmula que temos ensaiado em Espinho, não só em exposições, como a de Mestre António Joaquim ou a de Balbina Mendes, como até também em conferências os debates.
Em Espinho, graças às escolas de dança e à Academia de Música, não nos faltam protagonistas para projectos semelhantes.
Mas faltam-nos outras coisas, nomeadamente a vontade política de dar a estas realizações a centralidade que têm em outros municípios.

16 de Novembro de 2010 15:02
Maria Manuela Aguiar disse...
Graças à Academia de Música e a muitos outros agentes culturais, que, de facto, são escolas de formação em música (e dança, também!).

16 de Novembro de 2010
Maria Manuela Aguiar disse...
Não esquecendo as Escolas do ensino liceal...
Por sinal, na mais recente conferência, integrada nas comemorações do Centenário da República em Espinho (uma verdadeira "lição" da Drª Ana Maria Bettencourt, presidente da Comissão Nacional de Educação) a actuação ficou a cargo de duas alunas da "Domingos Capela".
Vozes fabulosas e uma presença de fazer inveja a profissionais...
Lembrei-me de as convidar depois de as ter visto dar "show" na tertúlia dedicada a Saramago, apenas dois dias antes. Falei com a professora Nélia, que não podia ter sido mais receptiva e simpática - tudo ficou decidido num instante. E assim prestaram uma simples e bonita homenagem à Drª Ana Bettencourt, agradando, acho eu, a todos os que enchiam a sala da biblioteca municipal.

16 de Novembro de 2010

PORTUGAL MUDOU (comentários)

NO FUTEBOL...

Novembro 17, 2010

UMA VITÓRIA EM GRANDE FACE À ESPANHA O que mudou em Portugal?
No que ao futebol respeita, mudou o treinador da selecção nacional.
Há quem ache que o treinador é sempre exterior à equipa, que os protagonistas são os que os nossos olhos estão a ver no campo. Ilusão de óptica!!!
O treinador é quem faz ou desfaz um colectivo.
Queiroz desfazia.
Como foi possível a insensatez de o contratar? De o manter, com a certeza de uma catástrofe anunciada? E de o apoiar depois do desastre do mundial de futebol? De o deixar comprometer estupidamente o apuramento para o "europeu"? De o remover tarde e mal (muito mal-uma vergonha!).
Responsáveis para a rua. Já!
Esta vitória não os iliba - condena-os definitivamente.

Note-se: a moralidade desta história vale para o desporto como para a política e, de modo geral, para qualquer forma de chefia em qualquer domínio...
Publicada por Maria Manuela Aguiar em Quarta-feira, Novembro 17, 2010 5 comentários:
Maria Manuela Aguiar disse...
Quem também ganhou com esta vitória foi DECO.
Provou-se que ele, para além de ter razão, foi o único que teve a coragem de denunciar a situação que se vivia dentro da selecção e nos fez perder a possibilidade de ir muito mais longe.
Outros falaram por meias palavras, mas só depois do fracasso.
E agora, que é fácil, muitos são os que falam por palavras ou silêncios significativos.

18 de Novembro de 2010 15:02
Maria Manuela Aguiar disse...
DECO marcou uma época.
Agora não há um maestro semelhante,
mas, a avaliar por ontem, há um grande colectivo.
Foi incrível: jogaram todos bem!

18 de Novembro de 2010 15:05
Maria Manuela Aguiar disse...
E o fantástico caso da ressurreição de Helder Postiga?`
É mesmo, mesmo, genial, mas com intermitências.
As "intermitências da vida", não da morte, à moda de Saramago.
Mais bonito do que o golo de Ronaldo (o que foi, mas deixou de ser por erro crasso de arbitragem)só mesmo o golo de calcanhar de H Postiga!!!

18 de Novembro de 2010 15:11
Maria Manuela Aguiar disse...
Alguém lembrou, e bem, o penalty à Panenka, que ele marcou naquele estádio, em momento decisivo.
Quem mais ousaria?

18 de Novembro de 2010 15:13
Maria Manuela Aguiar disse...
Há anos, vi uma entrevista de Deco, a falar, na tv, entre outras coisas, desse penalty assustador e assombroso.
Não, ele não ousaria... E anos depois, ainda mal acreditava no que os seus olhos haviam visto...
DECO É DECO, POSTIGA É POSTIGA!

18 de Novembro de 2010 15:18

UMA QUESTÃO PROTOCOLAR - com os comentários que o google esconde...

Novembro 16, 2010

Uma questão protocolar
Não estive no encerramento do Cinanima, por "uma questão protocolar". O Presidente entendeu - e entendeu muito bem! - fazer-se representar pela assessora do seu gabinete, pelo que não fazia sentido a presença da vereadora da cultura.
Que, de outra forma, seria um "must".
É claro que não é possível a toda a vereação participar nos diversos eventos que animam a cidade, porque são, felizmente, muitos! E, por isso, há uma rotação de "representações" da Câmara ou do seu Presidente, que é incontornável. O Cinanima entrou nessa rotação.
Creio que foi esquecido um pormenor: o Cinanima é uma organização da Câmara, que aqui tem estatuto de "parceiro", não de mero apoiante ou "sponsor" (como acontece, por exemplo, com outro dos grandes eventos que anualmente coloca Espinho no "Agenda Cultural" do País: o Festival de Música da Academia...).
Ora à programação do meu pelouro, eu costumo assistir, sempre que isso não é de todo impossível. E a colaboração dada para a orgnização do Cinanima passou, em larga medida, pelos serviços que de mim dependem.
Compreendo, pois, os que criticaram a minha ausência. Aqui fica a explicação - e, de qualquer modo, o meu pedido de desculpa.
Para o ano, espero lá estar, seja em que veste for...
E parabéns a todos os que fizeram desta edição do CINANIMA mais um motivo de orgulho para Espinho.
Pude estar na abertura. Fascinante o filme exibido! Dentro de meses, quando entrar nos circuitos comerciais, hei-de rever "O mágico" - que me deu dos mais bonitos e comoventes momentos de cinema de toda a minha vida!
Publicada por Maria Manuela Aguiar em Terça-feira, Novembro 16, 2010 2 comentários:
Maria Manuela Aguiar disse...
Este episódio, que não deve ser sobrevalorizado, recordou-me um outro, bem mais complicado de resolver. Era eu Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas e ia a chegar a Guimarães, para presidir a uma cerimónia de geminação dessa velha cidade com Londrina, uma cidade nova do sul do Brasil. Era o dia oficial da Comunidade Luso-Brasileira, 22 de Abril (do ano de 1986, salvo erro).
Já prestes a entrar no castelo, junto à muralha, aborda-me o Governador Civil, um militante destacado do PSD, grande amigo do Engº Eurico de Melo. Queria informar-me que o Presidente Soares o tinha nomeado seu representante nessa sessão solene.
Fiquei estarrecida! Por muito importante que o senhor fosse e se achasse, nem por isso deixava de ser um funcionário, não eleito, antes nomeado pelo governo, justamente para representar o Governo no distrito. O Governo, ou seja, qualquer Ministro ou Secretário ou Sub-secretário de Estado. Representa-os na sua ausência, jamais na sua presença!
Aquele gesto do PR, a meu ver, só podia explicar-se por desconhecer o facto da comparência de um membro do Governo... A obrigação do Governador Civil era tê-lo alertado para o melindre da representação, porque ele, sim, sabia exactamente quem estaria ou não estaria, onde e quando, em Guimarães naquelas comemorações, que eram promovidas pela Secretaria de Estado, em parceria com a Câmara Municipal.
Ficou muito admirado, quando eu lhe respondi que não podia aceitar a situação, não por mim, mas por respeito pela natureza do relacionamento institucional entre o Governo e os seus funcionários. Ele era "meu" funcionário, ponto final! Debalde invocava a opinião de Eurico de Melo, Ministro da Defesa e um político pelo qual tenho a maior estima. Nunca procurei averiguar junto do Engº se o que ele então alegava era ou não exacto...
Achava a sua atitude absolutamente patética!!! E para não atrasar a cerimónia (como é sabido, fui ensinada, desde sempre, a ser pontual, como forma de respeito pelos outros - é uma questão de maneiras, e não só...), congeminei uma saída que não tinha ocorrido ao velho advogado que ele era.
"Vou fazê-lo meu representante" -disse-lhe secamente.
Lá dentro, perante a ampla audiência, as câmaras de televisão e os inúmeros microfones das rádios, tomei a palavra e anunciei que o Senhor Presidente da República e eu própria, em nome do Governo, entregava a representação naquele acto ao Governador Civil e que ficaria na sala, a título particular, pela amizade que dedicava aos emigrantes e aos brasileiros que ali estavam como convidados da "minha" Secretaria de Estado.
O homem estava lívido. Mas teve o que merecia. E assim se salvou a honra das instituições!
Eu sei que sou muito "institucionalista"...

16 de Novembro de 2010 16:24

Recorro aos grandes meios ao meu dispôr, para vencer a teimosia do Google: decidiram que todos os comentários deste blogue vão para o limbo dos "SPAM", donde não sei repescá-los...!
Vá lá eu saber porquê. Há que repetir em texto de mensagem, até que mãos mais competentes resolvem este imbróglio...

Sá Carneiro - o Homem e o Mito

O Homem, como político e como líder partidário nunca foi consensual. Teve invariavelmente consigo a imensa maioria da "arraia miúda" do seu partido, mas nunca a maioria dos chamados "notáveis".
Comecei por fazer parte da imensa maioria da gente anónima que se revia no seu pensamento e na sua maneira de estar na política. Lia os seus escritos, as suas intervenções dedsde 1969- e admirava-o, crescentemente. Depois de 74, via-o na tv, ou, de longe, nos comícios. Uma só vez estive perto dele, a poucos metros, em Espinho. A minha Mãe avançou, como é seu costume, por entre a multidão, e foi felicita-lo. Eu não me atrevi...
Conheci-o pessoalmente apenas quando já era Primeiro-Ministro. Telefonou-me para o Serviço do Provedor de Justiça e perguntou-me se podia encontrar-me com ele, no seu gabinete da Gomes Teixeira, às 17.00. Disse que sim, sem hesitação, sabendo que tinha de adiar, logo de seguida, uma reunião marcada para essa hora. Sabia mais ou menos ao que ía, porque os jornais davam o meu nome como provável no governo AD, ainda em formação - só não sabia em que pasta.
Estava inquieta, tanto pelo convite que me esperava (apesar de uma "interessante" estreia no governo de Mota Pinto, não queria repetir) como pelo receio de não gostar da pessoa de Francisco Sá Carneiro: o meu "heroi" como figura pública ("mítico", se preferirem o termo, mas,como diria a personagem de telenovela, "mítico no bom sentido"...).
Poderia a falta de empatia ou simpatia pelo Homem concreto destruir a imagem arrebatadora da figura pública?
Receava que sim. Pelo telefone, numa breve troca de palavras pareceu-me seco, distante (eu detesto telefones, sobretudo se do outro lado não está alguém bem familiar...).
Cheguei à hora exacta, como é evidente, e fui imediatamente recebida - "a las cinco in punto de la tarde"!. Não tive de esperar nem um minuto, o que me surpreendeu. ("Tem berço" - lembro-me de ter pensado instantaneamento - é um Lumbrales"...).
A porta abriu-se e ele veio em direcção à entrada, recebeu-me à porta do gabinete, com um sorriso. Os olhos claros brilhavam, acompanhavam o sorriso. Um momento mágico: o Homem, com todo o seu charme, com todo o seu carisma. Era ele mesmo, tal qual sempre o imaginara. Absolutamente! Por isso, desde esse primeiro minuto, lhe falei como quem o conhece há muito tempo, como costumava falar com uma familiaridade antiga com Barbosa de Melo, Mota Pinto ou Rui Machete (e porque também ele me tratava do mesmo modo!). Da minha parte, sem preocupação de medir as palavras, sem hesitar em usar a boa disposição e o humor - que, em Portugal, é coisa quase sempre perigosa, porque nos levam à letra e não nos levam a sério. A impressão ali, era a contrária: Sá Carneiro estava vsivelmente divertido, respondia no mesmo tom, mais moderado, embora... Tive também a impressão de que sabia a história completa do meu incondicional "sácarneirismo", ainda que nunca tenha procurado averiguar quem lhe contou essa história. Por isso parti desse princípio e confirmei o facto pela palavra, em vários momentos da conversa - logo no início lhe disse qualquer coisa como "do PSD quase só conheço dissidentes, os meus amigos saíram todos do partido, os de Coimbra e os de Lisboa" (ele ria-se, mas o certo é que referiu, de imediato, os contactos recentes com Mota Pinto!)
Assim começava, no início de Janeiro de 1980, o ano mais feliz da minha vida.
Não terei estado em mais do que uma dúzia de cerimónias com Sá Carneiro. Mas quantas vezes me telefonou, sobretudo no princípio, enquanto teve a clara percepção de que me sentia insegura!
Ligava directamente e, às vezes, enganava-se no número e falava com as minhas secretárias - que logo me passavam a chamada, emocionadíssimas.
Nenhum outro político, ao nível de 1º ministro, actua assim... Não têm tempo a perder com a segunda linha dos seus governos...
Será um pormenor, mas, na minha opinião, muito mais significativo do que parece à primeira vista. É assim que se faz o espírito de equipa, é assim que se cria motivação, é assim que se consegue coesão e eficácia...
Interessava-se pelos problemas concretos, queria vê-los bem resolvidos, depressa e bem. Quando me telefonava era sempre para uma abordagem pragmática das questões, ou para me me dizer uma palavra simpática de encorajamento...
Talvez por isso tudo correu tão bem para mim - e, certamente, para para a maioria dos seus Ministros e Secretários de Estado (não todos - alguns, poucos, com ele não teriam lugar no governo seguinte e sem ele tiveram...).
Para esse meu ano inesquecível, que terminou a 4 de Dezembro, muito contribuiu o facto de um entendimento perfeito, tanto entre Sá Carneiro e Freitas do Amaral, como, no que especialmente me respeita, com Sá carneiro e Freitas do Amaral, o meu Ministro...
Publicada por Maria Manuela Aguiar

comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...
Um amigo que fiz nesses 11 meses inesquecíveis foi António Patrício Gouveia (o chefe de gabinete de Sá Carneiro). Era um jovem muito inteligente e muito bem preparado - nem de outro modo alguém como Sá Carneiro o teria escolhido para uma missão tão crucial... - e, além disso, simpático, simples, divertido!
Com ele, sobretudo nas primeiras semanas, falava pelo telefone quase todos os dias - sempre que tinha um problema ou uma dúvida ou um projecto interessante a discutir. Ajudou-me imenso. Não era diplomata, mas conhecia a "casa" perfeitamente... Teve sempre todo o tempo do mundo para mim, para as minhas questões, para as minhas propostas. Espero que o resto do governo lhe tenha dado um pouco menos de trabalho... Pagou o "preço" de eu confiar tanto nele e na sua opinião.
Ainda hoje me custa a acreditar que também tenha desaparecido naquele 4 de Dezembro.
Considerava-o o futuro, o Sá Carneiro da geração seguinte. Se quisesse... Mas nem sequer sei se quereria, se era era militante do PSD. O partido foi coisa de que nunca falamos!

5 de Novembro de 2010 16:28
Maria Manuela Aguiar disse...
Com o resto do gabinete do 1º Ministro as relações não foram do mesmo tipo. De Pedro Santana Lopes, por exemplo, nem me lembro e Conceição Monteiro parecia-me menos comunicativa. De qualquer modo, as minhas "mensagens" para Sá Carneiro passavam mais por Patrício Gouveia do que por ela. Só mais tarde, no Parlamento, viria a conhecê-la mais de perto.

5 de Novembro de 2010 16:36
Maria Manuela Aguiar disse...
Com o próprio Sá Carneiro o relacionamente foi sempre fácil. Sentia que ali estava quem me compreendia!
E desde o princípio, como disse, tive a impressão que ele sabia bem que estava a conhecer uma das suas mais incondicionais "fãs", à face da terra...
Foi sempre a quinta essência da afabilidade.
Quando me dirigi a ele como "Senhor Primeiro Ministro", disse-me de imediato: "Não me trate por Primeiro Ministro!"
E eu, com o mesmo à vontade com que cruzava argumentos com os meus professores de Coimbra, respondi-lhe:
"Mas eu tenho de o tratar assim , porque sempre sonhei com o dia em que fosse Primeiro Ministro de Portugal!"
E mantive a posição: sempre o tratei pelo título!

5 de Novembro de 2010 16:51
Maria Manuela Aguiar disse...
Em matéria de títulos oficiais, aconteceu-me coisa bem pior, no dia em que tomei posse do meu 1º governo, que foi o Governo do Prof. Mota Pinto, em 1978-79.
Era então Secretária de Estado do Trabalho. Foi na Praça de Londres que entrei no carro que me estava destinado. Não guardo memória, nem da marca nem da cor, só do motorista, um homem pequeno, rosado, cerimonioso, que me perguntou, abrindo a porta traseira, com uma vénia: "Como é que Vossa Excelência deseja ser tratada? Por Senhor Secretário de Estado ou por Senhora Doutora?
"Senhora Doutora" - respondi sem sombra de hesitação, horrorizada com a alternativa!!!

5 de Novembro de 2010 17:03
Maria Manuela Aguiar disse...
Tenho muitas coisas a registar sobre esse 1º governo, que considero absolutamente decisivo para a democracia em Portugal, porque foi um governo de viragem, o primeiro de tendência não socialista. Ou seja, o primeiro de alternância, após 1974...
Mas isso fica para depois.

5 de Novembro de 2010 17:08
Maria Manuela Aguiar disse...
Voltando ao dia em que conheci Sá Carneiro:
A "convocatória" para o encontro foi tão súbita, que não tive tempo para ir a casa mudar de fato. E estava, como de costume, muito mal vestida, com um velho casaco de fazenda grossa, gola larga, desactualizada, xadrês preto e branco. Um horror!
A Branca Amaral, minha colega de gabinete na Provedoria da Justiça, muito frequentadora de meios políticos, irmã de Rui Pena e cunhada de Rui Machete, chamou-me a atenção para o facto.
E acrescentou que o Dr. Sá Carneiro era um homem muito observador, que não deixaria de reparar no casacão "demodé".
Solução encontrada por ela: emprestou-me o seu elegante casaco de peles!
Só um "senão": ela era mais pequena do que eu e isso notava-se um pouco no comprimento das mangas... Mas não demais!
E assim marchei, insegura por muitas e variadas razões, para a Rua Gomes Teixeira.

5 de Novembro de 2010 17:22
Maria Manuela Aguiar disse...
Antes de formular o convite para aquela particular Secretaria de Estado, Sá Carneiro perguntou-me se falava francês e inglês.
Não pude negar que sim, que falava...
Muito me lembrei dessa prudente cautela em governos posteriores, nos quais a mesma pasta foi ocupada por homens incapazes de dizer uma frase completa em qualquer dessas línguas...

5 de Novembro de 2010 17:26
Maria Manuela Aguiar disse...
A conversa decorreu sob o signo do insólito. Aquele Primeiro Ministro, com todo o seu carisma, não deixava ninguém indiferente: o interlocutor ou ficava intimidado ou eufórico.
Eu pertencia a esta segunda categoria.
As respostas que lhe fui dando não tiveram nada de convencional.
Quando me perguntou:"O que lhe parece ser Secretária de Estado da Emigração?" a reacção instintiva e franca foi esta: "Eu no Ministério dos Negócios Estrangeiros? Nem pensar! Ando sempre mal vestida e mal penteada."
Ele ria e eu ria. De facto, ambos estavamos muito divertidos.
O pior foi quando o Dr. Sá Carneiro chamou o Professor Freitas do Amaral, MNE, para vir participar na conversa. Eu já não conseguia mudar de estilo e imaginava que o cerimonioso líder do CDS estaria a pensar que o outro partido convidava estranhas criaturas para integrar o executivo e que uma delas estaria a seu lado no Palácio das Necessidades. Não sei se era ou não o que ele achava - nunca procurei averiguar. Nesse dia ele também sorria imenso. O certo é que nos viríamos aentender maravilhosamente, sem a mais pequena sombra de divergência...

5 de Novembro de 2010 17:45
Maria Manuela Aguiar disse...
Acabei a conversa a dizer a Sá Carneiro que Secretária de Estado da Emigração não queria ser, mas que por ele faria qualquer outra coisa, por exemplo, colar o seu retrato nas paredes ou ir, de balde e pá, pintar a sigla AD nas ruas...

5 de Novembro de 2010 17:49
Maria Manuela Aguiar disse...
Deu-me um curto prazo de 24 horas para repensar e dar a resposta definitiva.
O 1º conselho pedi-o ao meu anterior primeiro ministro e amigo de sempre, o Prof. Mota Pinto ( que foi quem me levou para a política...).
Ele foi a favor.
Depois fui jantar com a Branca e o Rui Machete, cujo 1º cargo governamental foi a emigração.
Igualmente a favor.
No dia seguinte dei o meu "sim" ao Primeiro Ministro. Pelo telefone, conforme o combinado.
Contei-lhe que tinha sido muito influenciada pelas conversas com Mota Pinto e Rui Machete. Ele atalhou, bem ao estilo da reunião do dia anterior:
"Ah, sim? Pensava que tinha sido eu a convencê-la!"
Ao que respondi logo, e convictamente:
"E claro que foi! Aceito "intuito personae". O mais possível! Mas acho que não vou ser capaz de dar conta da missão...Não me responsabilizo pelo resultado".
"Responsabilizo-me eu!" - disse Sá Carneiro.
Creio bem que ele entendeu perfeitamente a parte de humor e negativismo e a parte de verdade que havia na minha apreciação de capacidades. Essa terá sido uma das razões para me dar, por sua iniciativa, tanto apoio nas primeiras semanas - até sentir que eu estava completamente integrada e feliz na equipa do MNE...
E ele

5 de Novembro de 2010 17:55

Maria Manuela Aguiar disse...

Esse foi o 1º encontro com Sá Carneiro. O último seria 11 meses depois, já em Dezembro de 1980, no Hotel Sheraton, em Lisboa.
Uma magna reunião de dirigentes partidários da AD, de autarcas, de responsáveis pela campanha do General Soares Carneiro. Centenas! Salão cheio!
O General vinha na companhia do Prof. Mota Pinto (dos Açores?)e o avião chegou com um atraso enorme, mais de uma hora, talvez mesmo duas... Foi o nosso anfitrião Sá Carneiro que preencheu todo esse longo tempo extra. História atrás de história, muitos episódios das lutas pela "civilização" do regime, dos confrontos com militares, maxime, com o Presidente da República... Incluindo aquele do registo dos encontros com o PR em Belém, que, naturalmente depois de relatado ali, perante tanta gente, se tornou do domínio público, embora nem sempre fiel ao relato de que me lembro. Disse-nos Sà Carneiro que, quando o PR se dispunha já a aceitar a a existência de actas, após as reuniões entre os dois, ele lhe respondeu: "Agora, Senhor Presidente, nem com acta nem sem acta!"
Foi com pena que vimos, por fim, entrar na sala o General, visto que isso significava o fim daquele longo e esplêndido monólogo , em que ele parecia falar directamente só para cada um de nós, com enorme familiaridade e à vontade. Náo sabíamos que, para a maioria de nós, era também uma despedida...
Finda a cerimónia, vi Sá carneiro a caminho da porta de saída e não me aproximei - achava que,apesar do seu ar bem disposto, deveria estar muito cansado e não quis ser mais uma pessoa a retê-lo, com o meu cumprimento. A meu lado, estava o Zé Gama, deputado da Emigração do CDS (e, já então, meu grande amigo). Tal como eu, pensava que devíamos "poupar" o nosso 1º Ministro, não engrossando a fila de cumprimentos.
Mas Sá Carneiro, que parecia ver tudo, descortinou-nos no canto onde aguardavamos a vez de sair, e logo atravessou uns metros de sala, na diogonal, para nos vir, ele próprio saudar, com aquelas palavras de estímulo que sempre lhe ouvi. Era mesmo, definitivamente, a despedida!

11 de Dezembro de 2010 2.15

Maria Manuela Aguiar disse...

É por isso que estranho as versões de que Sá Carneiro se mostrava tenso e enervado, à vista dos olhares dos jornalistas, nesses últimos dias de campanha, como escreve, por exemplo, Avilez e creio que também Pinheiro. Nunca o vi assim! Mesmo na sua intervenção final - a que já não foi para o ar, e eu achava, ao tempo, que poderia ter ido... e que agora conhecemos - mostra-o sereno, a usar palavras duras. Bem ao seu estilo!
Embora Avilez seja mais interessante do que Pinheiro, escreva um português mais fluído e atractivo (e tenha ganho um merecido prémio com uma reportagem sobre uns dias de campanha eleitoral com SC e Snu no Portugal profundo) creio que imaginam "estados de alma" - o que está àquem do rosto de um lutador implacável, que gostava da luta, independentemente do resultado, embora lutasse sempre para ganhar...
11 de Dezembro de 2010 2.25


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novembro 22, 2010

Não é plausível...

Ainda a questão da responsabilidade dos políticos no estrito cumprimento das "burocracias" ou do "show" de segurança montado à sua volta (no caso de Sá Carneiro centrado, pelo visto, no insignificante e não no essencial, como era a guarda e inspecção de uma aeronave em que seguiriam duas das principais personalidades do Governo - e em que morreram):
A pags 564, escreve-se na enciclopédica biografia que, depois de uma das "desaparições" do Primeiro Ministro, o chefe da segurança pessoal "repreendeu-o por causa daquela irresponsabilidade".
Não é preciso ter conhecido muito de perto o Dr. Sá Carneiro para ter a certeza de que nenhum segurança se atreveria a "repreende-lo" ... Solicitar, recomendar, insistir, apelar, sim - "repreender", não! Não se coaduna com o relacionamento permitido por aquele primeiro ministro, com o respeito que ele inspirava.
Do mesmo modo é inconcebível uma "repreensão" ao Dr Mário Soares, que, como é do conhecimento público, no mesmo e em outros cargos, não infringia as regras de segurança menos do que Sá Carneiro - antes pelo contrário!

Há uma outra frase atribuída a Sá carneiro que é bem mais plausível:
"A vida para mim sem risco, não faz sentido" (embora eu ache mais provável que ele tenha dito: "a vida sem risco para mim não faz sentido").
Não fazia mesmo!

E, logo depois, o jovem jornalista emite a sua própria opinião, nesta espantosa síntese, que o classifica, ou desclassifica, definitivamente:

"Em situações de perigo Sá Carneiro era ousado (até aqui tudo bem!); no combate político, era frenético (FRENÉTICO? Não acredito que alguém com pretensões a biógrafo sério possa escrever tal enormidade!); mas, no dia-a-dia, era pacato"
(dupla pernonalidade ou quê?)
Tanto estudo, tanta entrevista, tanto papel, tanto facto bem documentado - e tão fraco entendimento da essencial coerência de ideias, de combate, de vida do biografado. E tão escassas referências ao seu pensamento plítico! É impressionante!
É a ressurreição da visão das coisas e dos gritos de guerra dos "inadiáveis" e quejandos, por interposta pessoa...
Neste aspecto, a biografia está para Sá Carneiro, como aquele "soap" intragável, subsidiado pela RTP, está para Amália Rodrigues. Em Portugal não se pode ser grande demais...

Será que, um dia, um verdadeiro historiador, um politólogo, se vai encarregar de fazer justiça a Sá Carneiro?

O risco de viver...

O risco está sempre presente nas nossas vidas. A percepção do risco é que varia, para uma mesma situação.
Recordo a conversa de dois estrangeiros, que seguiam ao meu lado, num autocarro de Lisboa, há pouco tempo. Dizia um para o outro (em inglês) que os portugueses tinham a mania de que a cidade era perigosa, quando, de facto, era das mais seguras do mundo. E o amigo concordava... Na opinião deles, raiavamos a obssessão, em termos de complexo de insegurança.
Não sei se tinham inteira razão, mas, de qualquer modo, estes dois olhares sobre uma só realidade exemplificam o que quero dizer.
Ali era o povo que estava em causa, mas poderia ser igualmente qualquer famoso político... Há os que se sentem mais ou menos visados por eventuais ameaças à integridade física.
Num extremo está o prudente Cavaco Silva, que ninguém imagina a escapar à mínima regra de segurança (e que até se queixa das falhas de segurança dos computadores da presidência) e no outro os despreocupados Mário Soares ou Sá Carneiro. É, a meu ver, uma questão de feitio, de cálculo do risco também, não uma questão de "ética da responsabilidade"!
Confesso que fiquei profundamente chocada pela forma como o mais recente biógrafo do Dr. Sá Carneiro apresenta esta sua faceta de menorização do papel ou das virtualidades da segurança que lhe era imposta, nas funções de Primeiro Ministro. Para ele, trata-se de uma "irresponsabilidade", que chega ao ponto de adjectivar de pueril!
Leva o assunto a peito, dedica-lhe muito mais espaço do que às inúmeras realizações e polémicas políticas que, pura e simplesmente, omite. A "petite histoire" interessa~lhe bem mais do que a história que se fez, sector a sector, nesse governo extraordinário.
Só nos faltava esta: classificar os nossos Homens de Estado, pela sua capacidade de obediência aos ditâmes do guarda-costas!!!
E o pior é que por este critério "chumbavam" os dois políticos mais notáveis do século XX português, Sá Carneiro e Mário Soares - e ficavam todos os medianos, ou todos os medíocres, mais o Ditador, que de preferência nem se deixava ver em grandes ajuntamentos!
É quanto basta para chumbar o critério...

novembro 21, 2010

Ao som de violinos DOMINGOS CAPELA




Um dia especialíssimo para o Museu de Espinho: o dia em que recebeu para a cidade dois violinos de Domingos Capela, oferecidos pelos filhos, Engº Joaquim Capela e Sr. Avelino Capela.


É um novo espírito de partilha dos bens próprios com a comunidade, que esperamos ver generalizado na nossa terra. Mais comum em países anglosaxónicos, nórdicos, norte americanos, mas que tem igualmente raízes fundas no nosso passado.


Um regressso a tradições que nos deram instituições como a Santa Casa da Misericórdia...

Em Espinho, na passada semana...


A Presidente do Conselho Nacional da Educação, Drª Ana Maria Bettencourt, esteve em Espinho, para uma das últimas conferências do ciclo de comemorações da República , promovidas pelo pelouro da Cultura da Câmara Municipal.
Com a presença de muitos professores, de outras personalidades de Espinho cultural e político, fez-nos ela, no seu estilo simples e directo (que eu conheço e aprecio há mais de 40 anos!), uma intervenção brilhante e sintética sobre 100 anos de educação em Portugal, com acento nos dias de hoje.
Como sempre, foi uma "luta contra o tempo", no que ao debate respeita... E tanto havia a falar - dava para um dia inteiro! Pode ser que aconteça, a breve prazo, porque pela Dra Maria Ricardo, logo lhe foi dirigido um convite para voltar cá - e a iniciativa poderá, eventualmente, estender-se a outras escolas e professores.

novembro 17, 2010

UMA VITÓRIA EM GRANDE FACE À ESPANHA O que mudou em Portugal?

No que ao futebol respeita, mudou o treinador da selecção nacional.
Há quem ache que o treinador é sempre exterior à equipa, que os protagonistas são os que os nossos olhos estão a ver no campo. Ilusão de óptica!!!
O treinador é quem faz ou desfaz um colectivo.
Queiroz desfazia.
Como foi possível a insensatez de o contratar? De o manter, com a certeza de uma catástrofe anunciada? E de o apoiar depois do desastre do mundial de futebol? De o deixar comprometer estupidamente o apuramento para o "europeu"? De o remover tarde e mal (muito mal-uma vergonha!).
Responsáveis para a rua. Já!
Esta vitória não os iliba - condena-os definitivamente.

Note-se: a moralidade desta história vale para o desporto como para a política e, de modo geral, para qualquer forma de chefia em qualquer domínio...

PELOURO DA CULTURA - ESPINHO 2010

1- Uma breve síntese das actividades do Museu de Nov 2009 a fins de 2010
Em 2009, registo de duas exposições, no Centro Multimeios:
Pintura de Maria Dulce Barata Feyo. Fotografia de Francisco Piqueiro

EM 2010, 15 exposições:

Pintura de CARLES BROS - "A arte do cerco" - FACE (16 Jan-28 Fev)
"Scriptorium Medieval"- org Arquivo Municipal (Março))
Desenhos de SIZA VIEIRA - FACE (6 Março-2 Maio)
Gravura, Serigrafia e Litografia Colecção da Cooperativa Árvore - FACE (6 março-2 maio)
Pintura de SOTTO - "Homo Marítimo" (10 de Abril-2 Maio), na Nova Galeria do FACE Exposição de fotografia de MARQUES VALENTIM - Centro Multimeios (25 de Abril-30 de Maio) - comemoração do 25 de Abril
Exposição documental e de artesanato, no FACE - Dia Nacional do Pescador
Exposição de Pintura De PAULO MOREIRA e de fotografia de JOANA NEVES - FACE (12 de julho-29 de Agosto)
Exposição de pintura de BALBINA MENDES - "Máscaras rituais do Douro e Trás-os-Montes" - FACE (10 de Julho a 29 de Agosto)
Exposição de pintura de ANTÓNIO JOAQUIM, nas duas galerias do FACE (4 de Setembro-3 de Outubro)
Exposição de pintura de SÃO PASSOS - "África...sempre" e de fotografia de MARQUES VALENTIM -"Moçambique, 1972/74" - Centro Multimeios (11 Set - 31 Out)
Exposição documental "OS ROSTOS DA REPÚBLICA", com catálogos em português e francês -organização do Museu Municipal - nas duas galerias do FACE( 5 de Out-14 Nov)
Exposição idêntica circula em França: foi inaugurada em Brunoy em 16 de Outubro e em Paris (Puteaux-La Défense) em !5 de Novembro.
Exposição de pintura - FACE (nov-dez)
Exposição de pintura de José Tavares- "Reencontro com José Tavares" - Centro Multimeios (27 nov-dez)

Previstas para início de 2011:
Feminino Plural (colectiva)
Agostinho Santos

• Primeira nova a salientar: a restauração da segunda galeria do Museu, que estava transformada em instalação de uma empresa.
O conjunto das galerias recuperou toda a sua beleza e dimensão: 1.100 metros quadrados!
SOTTE inaugurou a 2ª galeria, Mestre ANTÓNIO JOAQUIM o amplíssimo espaço das duas galerias, servindo uma mesma mostra...

A pequena e simpática loja do Museu foi aberta oficialmente no Dia da Cidade, 16 de Junho.
Nesse mesmo dia foi inaugurado o "espaço Alberto Pinho" - com o espólio que esse grande fotógrafo espinhense ofereceu à Câmara Municipal - e no qual vem funcionando cursos de fotografia, por ele assegurados. Aí se vai processar outro projecto, cujo alcance é tão grande, que se o conseguir levar a cabo só ele justifica, do meu ponto de vista, a minha "passagem" pelo executivo da Câmara: a preservação dos antigos jornais de Espinho, fotografados, um a um... Diz-me o Dr. Bouçon que os trabalhos já começaram, com os números mais antigos da "Gazeta de Espinho".
Também um diaporama e um filme sobre Espinho antigo da autoria de Alberto Pinho é agora propriedade do município. E está em vias de o ser, em termos de utilização para fins culturais (entenda-se "não comerciais") um filme inédito existente na Cinemateca nacional.
O nosso passado importa muito!
Nas paredes exteriores do Auditório do FACE, mais outro espaço reservado à memória da terra: e exposição sobre os velhos cinemas e sobre os cartazes dos filmes a que alguns de nós ainda assistimos...

A 13 de Novembro, outro acontecimento extraordinário: a doação pelo Engº Joaquim Capela e pelo Sr. Avelino Capela de dois violinos construídos pelo pai, o maior e mais célebre "luthier".português, DOMINGOS CAPELA!
A "jóia da coroa" do jovem Museu!
E que privilégio foi o de ouvir o som desse violinos, tocados pelas mãos de dois virtuosos executantes, David Lloyd e Gaspar Santos!
Desde já anuncio que nos preparamos para dar aos Espinhenses, periodicamente (em projecto, quatro vezes por ano, uma por trimestre), o ensejo de assistir a um pequeno “concerto inolvidável”, com esses fabulosos violinos. Talvez ali mesmo, junto à montra onde estão expostos.

O gosto de "cruzar as artes" vem sendo desenvolvido nas nossas iniciativas. Assim, na exposição de Balbina, estiveram presentes e actuaram os famosos caretos de Podence - que quase se podiam "mirar ao espelho" em alguns dos coloridos e expressivos quadros...
A belíssima retrospectiva de Mestre António Joaquim foi encerrada por um pequeno concerto pela Banda de Música de Espinho e o recital de poesia pelo Prof Antero, que tiveram o condão de o comover, de nos encantar... e de mostrar as boas condições acústicas daquela galeria do museu!
Galeria que, aliás, numa passagem de modelos, já acolheu um público estimado em mais de 600 pessoas. É óptima a sua polivalência!
Vários são os grupos musicais que ensaiam nas instalações do FACE, que também têm sido utilizadas pelas escolas para as mais variadas iniciativas, para além das que se integram no serviço educativo do Museu e do Arquivo.

A partir de Janeiro, os Mandrágora passarão a ser os novos "residentes" do FACE. A parceria que traz para Espinho esse nome famoso no mundo das marionetes foi já aprovada em reunião de Câmara.

Porém, todos estes esforços não conseguiram ainda dar vida intensa e quotidiana a um edifício grandioso, que a população continua a considerar longinquamente situado na periferia da cidade... O que não é verdade! É uma distância puramente "psicológica", até porque ninguém considera assim tão distantes os restaurantes típicos, que ficam, ali, a dois passos... Julgo que este preconceito só será combatido quando abrirem as cafetarias do FACE, cujo concurso não foi ainda sequer lançado. Cafetarias que disporão de magníficos espaços ao ar livre, para gozar o sol do verão, em frente ao mar, ou no interior, junto a um espelho de água, onde o vermelho das paredes põe reflexos. Para já é tudo potencialidade perdida ou adiada.

Este ano a prioridade foi a "Alameda 8". Para o ano será a vez do FACE?
No entretanto, vamos remando contra a maré... Os serviços que são parte do pelouro da Cultura, com excepção da Biblioteca (evidentemente!) já lá estão sedeados. E o gabinete da vereadora também.

(a continuar)

novembro 16, 2010

ARTE PARTILHADA ... E AMIZADE TAMBÉM

Tinha hoje, à mesma hora e em cidades diferentes, duas indicações para representar a Câmara de Espinho - ou o seu presidente, o que, no regime presidencialista que é o nosso, a nível autárquico, é mais ou menos a mesma coisa.
Optei por uma exposição de pintura em GAIA, com nomes de primeiríssimo plano, que prometia ser esplêndida. E é, de facto! Ainda mais do que se poderia imaginar, porque o Museu Teixeira Lopes lhe dá um enquadramente mais do que perfeito, colocando, lado a lado, os quadros da sua mostra permanente, e os desta "temporária" esplendorosa. De Vieira da Silva são 11! Mais Arpad... Nadir... Resende... Menez... Justino...Pomar... Cezariny... e tantos outros!

A colecção pertence ao Millenium, que com o seu espólio organizou 3 exposições que percorrem o país inteiro. Excelente ideia, esta de partilhar com quem queira aparecer, obras de arte que, de outro modo, ficariam nas paredes de gabinetes privados ou fechadas em cofre forte.

A surpresa maior foi, para além do encontro com a Arte, o encontro com as pessoas, com amigos que não via há alguns anos, excepto nos ecrãs de televisão.
As incríveis coincidências que a vida nos oferece! Tanto o presidente do Millenium como o presidente da Fundação do BCP, que gere este projecto artístico, foram meus colegas de profissão: o Carlos Santos Ferreira no Centro de Estudos do Ministério das Corporações e Segurança Social, no início da década de 70; o Fernando Nogueira, de 1974 a 1976, na Faculdade de Direito de Coimbra, onde ambos eramos assistentes dos Profs. Rui Alarcão e Mota Pinto.
Não sabia que eles estariam presentes. Que bom reencontro!
O mesmo direi do Presidente da Câmara, Luis Filipe Menezes (que, naturalmente, vou vendo mais vezes) e de grande número de pintoras e pintores nortenhos e de jornalistas.

Uma questão protocolar

Não estive no encerramento do Cinanima, por "uma questão protocolar". O Presidente entendeu - e entendeu muito bem! - fazer-se representar pela assessora do seu gabinete, pelo que não fazia sentido a presença da vereadora da cultura.
Que, de outra forma, seria um "must".
É claro que não é possível a toda a vereação participar nos diversos eventos que animam a cidade, porque são, felizmente, muitos! E, por isso, há uma rotação de "representações" da Câmara ou do seu Presidente, que é incontornável. O Cinanima entrou nessa rotação.
Creio que foi esquecido um pormenor: o Cinanima é uma organização da Câmara, que aqui tem estatuto de "parceiro", não de mero apoiante ou "sponsor" (como acontece, por exemplo, com outro dos grandes eventos que anualmente coloca Espinho no "Agenda Cultural" do País: o Festival de Música da Academia...).
Ora à programação do meu pelouro, eu costumo assistir, sempre que isso não é de todo impossível. E a colaboração dada para a orgnização do Cinanima passou, em larga medida, pelos serviços que de mim dependem.
Compreendo, pois, os que criticaram a minha ausência. Aqui fica a explicação - e, de qualquer modo, o meu pedido de desculpa.
Para o ano, espero lá estar, seja em que veste for...
E parabéns a todos os que fizeram desta edição do CINANIMA mais um motivo de orgulho para Espinho.
Pude estar na abertura. Fascinante o filme exibido! Dentro de meses, quando entrar nos circuitos comerciais, hei-de rever "O mágico" - que me deu dos mais bonitos e comoventes momentos de cinema de toda a minha vida!

CAFÉ (DES) CONSERTO - COM O MAESTRO ANTÓNIO VICTORINO DE ALMEIDA

Seis programas, a partir de 6 de Janeiro de 2011. Todas as primeiras quintas-feiras do mês. No Centro Multimeios.
O nome do Maestro, como dizia a Drª Idalina, è uma garantia de espectáculo "deslumbrante" e "desconsertante".
Espinho será o tema recorrente: "estórias" de Espinho, gentes de Espinho.
Aguardamos, com impaciência, o primeiro dos "happenings", e os que se seguirão.
Confesso que o título foi coisa que me veio à ideia, sei lá porquê, um dia em que descia a Rua 19. Mas não era exactamente este: era "Café (des)concerto". Com "C".
Numa conversa, em mesa redonda, foi sugerido pelo Engº Helder - o amigo que nos trouxe o Maestro a Espinho, para um primeiro bosquejo dos programas - a substituição do "C" pelo "S". A maioria apoiou!
Aceito. Reforça, de facto, a intencionalidade do título. Várias pessoas chegam quase sempre a melhores conclusões do que uma só!

VIOLINOS CAPELA NO MUSEU DE ESPINHO

Não é muito comum em Portugal, o gesto de partilhar tesouros de família com toda a comunidade.
Dois dos filhos do maior e mais célebre "luthier" português, DOMINGOS CAPELA, quiseram oferecer à Câmara Municipal dois violinos feitos pelas mãos do Pai, que eram sua preciosa herança.
Uma grande responsabilidade tem agora este município: a de guardar, conservar e mostrar aos nossos visitantes estes esplendorosos violinos!
A sessão de inauguração, feita a 13 de Novembro, 34 anos após a morte do grande luthier, foi emotiva e significativa.
Ficará gravada na memória de todos os que viveram esses momentos, incluindo as palavras de admiração e saudade que ouvimos e, depois, o som dos próprios violinos!
Julgo que não devemos ficar pela simples mostra das obras-primas numa montra.
É bom que sejam tocadas, penso eu. Talvez uma vez por trimestre, pelas mãos de um virtuoso intérprete.
Uma forma de dar vida aos violinos e de dar vida ao FACE.
Tendo tido a ideia, logo procurei concretizá-la. O projecto está em estudo, os primeiros contactos fi-los eu própria. Vamos a ver...
Em tempo de austeridade, há que ter prioridades e apelar mais à imaginação.

novembro 14, 2010

Eu sei que esta é a foto de campanha eleitoral preferida pela Manuela


Dois candidatos à Câmara e à Assembleia Municipal do Porto, que, para além da paixão pelo Porto, partilhavam a admiração pelo Dr. Francisco Sá Carneiro.
Em 1980, ele foi Assessor Militar do Primeiro Ministro Sá Carneiro , ela Secretária de Estado do seu Governo.
Eu sei que esta é a foto de campanha eleitoral preferida pela Manuela.

Publicada por Docas em Domingo, Novembro 14, 2010

2 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...
Confirmo!
Só um reparo: esta reprodução está ligeiramente descentrada. Vou procurar um original em perfeito estado.
E já agora conto a história deste pequeno retrato de campanha eleitoral: estava inicialmente destinado a ser um daqueles "outdoors", com três metros de largura (mais ou menos - uma coisa em grande). Por falta de meios, a que devia ser a segunda série de outdoors gigantes acabou num pequeno autocolante, dos que se colocam na lapela.
A eleição não era para ganhar, e houve que gastar as verbas disponíveis noutros concelhos.
Apesar da exiguidade de material de informação (a mais parca de que tive conhecimento ao longo de mais de 3 décadas de vida política...), os resultados excederam as nossas expectativas!

14 de Novembro de 2010 16:14
Maria Manuela Aguiar disse...
Sou uma admiradora do General e gostei muito de fazer campanha com ele.
O pequeno colante comporta tão boas memórias!
E, sobretudo, ao contrário do que tantas vezes acontece, falava VERDADE. Para ambos, o Porto era, realmente, a nossa "missão".
Não ganhamos a eleição - sabíamos que essa era uma "missão impossível" - mas cumprimos os respectivos mandatos, de princípio a fim.

14 de Novembro de 2010 16:22

novembro 07, 2010

Porto! Porto! Porto!

És a nossa glória...
Dá-nos nesta dia mais uma alegria, mais uma vitória.
E deu!
E que vitória!!!
Nunca na vida vi o FCP ganhar por 5 golos ao SLB, porque falhei, há 56 anos a outra hipótese que a história nos ofereceu, nas Antas, e uma outra, bem mais recente, na Luz... E esta, agora! Não há duas sem três, diz o ditado.
Tivesse semelhante possibilidade estado nas minhas mais remotas previsões e não teria perdido a partida "in loco", no Estádio do Dragão. Mas perdi, lembrando o sofrimento do jogo com o Braga, disputado lance a lance, com aquele terrível "suspense", prolongado até ao último segundo.
E assim me deixei ficar em casa, garantindo a ocupação do meu "dragon seat" pela presença de um amigo.
Estava, pois, a ver um programa de natureza política (um substituto mais deprimente, mas menos "stressante" do que o desporto), quando vi no rodapé do ecrã a notícia de que, no final da 1ª parte, O FCP vencia por 3-0. Saí, de imediato, porta fora em direcção à Casa do FCP em Espinho, onde ainda pude ver, em directo e no meio de uma assistência entusiástica, os dois golos de um HULK mais do que perfeito.

novembro 04, 2010

Sá Carneiro - o Homem e o Mito

O Homem, como político e como líder partidário nunca foi consensual. Teve invariavelmente consigo a imensa maioria da gente do seu partido, mas nunca a maioria dos chamados "notáveis".
Como já disse, fiz sempre parte da imensa maioria da gente anónima. Era uma "incondicional", mas nunca o tinha sequer cumprimentado. Via-o, de longe, nos comícios. Uma só vez estive perto dele, a poucos metros, em Espinho. A minha Mãe avançou, como é seu costume, por entre a multidão, e foi felicita-lo. Eu não me atrevi a tanto...
Conheci-o pessoalmente apenas quando já era Primeiro-Ministro. Telefonou-me para o Serviço do Provedor de Justiça e perguntou-me se podia encontrar-me com ele, às 17.00, no seu gabinete da Gomes Teixeira. Disse que sim, e adiei, logo de seguida, uma reunião marcada para essa hora. Sabia mais ou menos ao que ía, porque os jornais davam o meu nome como provável no governo AD, ainda em formação - só não sabia em que pasta.
Confesso que estava inquieta! Não tanto pelo convite que me esperava como pelo receio de não gostar da pessoa de Francisco Sá Carneiro: o meu mito!
Poderia a falta de empatia ou simpatia pelo Homem destruir o Mito?
Receava que sim. Pelo telefone, numa breve troca de palavras pareceu-me seco, distante. (eu detesto telefones, sobretudo se do outro lado não está alguém bem familiar...).
Cheguei à hora exacta, como é evidente, e fui imediatamente recebida. Não tive de esperar nem um minuto. (Tem berço, pensei instintivamente - é um Lumbrales...).
A porta abriu-se e ele veio em direcção à entrada, com um sorriso. Os olhos claros brilhavam, acompanhavam o sorriso. Um momento mágico: O Homem, com todo o seu charme, dava asas ao Mito. Absolutamente!
Assim começava, no início de Janeiro de 1980, o ano mais feliz da minha vida.
Não terei estado em mais do que uma dúzia de cerimónias com Sá Carneiro. Mas quantas vezes me telefonou, sobretudo no princípio, enquanto teve a clara percepção de que me sentia insegura!
Ligava directamente e, às vezes, enganava-se no número e falava com as minhas secretárias - que logo me passavam a chamada, emocionadíssimas.
Nunca há político que actue assim!
Será um pormenor, mas, a meu ver, muito significativo do que parece à primeira vista.
Não perdia tempo. Não se dava ares de superioridade em relação aos colaboradores. Falava aos Ministros e Secretários de Estado como quem fala a um igual, a um amigo.
Imteressava-se pelos problemas concretos. Quando me telefonava era sempre para uma abordagem pragmática das questões, ou para me me dizer uma palavra simpática, de encorajamento...
Talvez por isso tudo correu tão bem para mim - e, certamente, para quase todos os outros (não todos - alguns, poucos, não teriam lugar no governo seguinte e sem ele tiveram...).
Para esse meu ano inesquecível, que terminou prematuramente, a 4 de dezembro, muito contribuiu o facto de um entendimento perfeito, tanto entre Sá Carneiro e Freitas do Amaral, como, no que especialmente me respeita, com Sá carneiro e Freitas do Amaral, o meu Ministro...

novembro 03, 2010

Sá Carneiro e os novos biógrafos

Os dois mais recentes, uma jovem e um jovem, deram anteontem uma entrevista na televisão.
Quando tiver um momento livre, vou, evidentemente, a uma livraria comprar as suas publicações. Não tenho a certeza de que me convencerão, mas pode ser que sim. Vamos ver...
Achei muito curioso afirmação enfática do biografo masculino (como quem dá conta de um achado, algo de secreto e inovador) de que o Dr. Sá Carneiro não foi um líder consensual.
Essa é a verdade, que nunca foi uma verdade escondida. As polémicas e cisões do PSD fazem parte do quotidiano da vida deste partido, desde a génese... (consensual, consensual só Cunhal: até rima! E bem mais consensuais, no interior das respectivas estruturas partidárias, ao tempo, no período de 1974-1980, eram Mário Soares ou Freitas do Amaral).
Quem não leu o "Impasse", escrito pelo próprio Sá Carneiro? Quem não sabe como aí ele escreveu, que chegou a ser derrotado na douta Comissão Política por 15-1?
Os "notáveis" do PPD, os de Lisboa e os de Coimbra, estiveram quase sempre do outro lado da barreira. Acalmia, só mesmo quando assumiu as funções de primeiro ministro. Uma acalmia aparente. No fundo, as correntes mantinham a sua força, subterrâneamente, e, não fosse a morte trágica e súbita do chefe de governo, teriam, com toda a certeza, subido à superfície, assim que ele deixasse o cargo, como ameaçava fazer se o General Eanes ganhasse a corrida presidencial.
Depois da sua morte, todos, tanto os que sempre o apoiaram, como os que sempre o combateram tenazmente, quiseram reclamar-se da sua herança. E é por isso que, a quem não viveu o seu tempo, ele pode aparecer como "consensual" . Essa foi a ilusão que os anti-sacarneiristas postumamente conseguiram criar.
Já me habituei, como toda a gente, a ver os piores inimigos históricos de Sá Carneiro a ocupar a primeira linha do palco político para lhe tecerem elogios de circunstância. Mas nem por isso me resigno...
Sá carneiristas verdadeiros eram, por exemplo, Eurico de Melo, Dinah Alhandra, Amãndio e Amélia de Azevedo, Montalvão Machado, Marques Mendes (filho), Alberto João Jardim, Ângelo Correia...
Entre os "anti", que eram, de facto, muitos, citarei apenas Francisco Pinto Balsemão e João Bosco Mota Amaral, que até chegou a ser - ironia do destino... - presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro.

outubro 31, 2010

BRASIL: A PRESIDENTE DILMA

Olho com espanto e admiração esse mundo novo da América do Sul, onde eleger uma mulher para a presidência da República se tornou coisa natural.
Argentina, Chile, Brasil...
Claro que isso me faz acreditar mais na Democracia. O que não quer dizer que, se pudesse participar nessas eleições, o meu voto houvesse recaído, necessariamente, em cada uma delas.
Fora eu brasileira, teria preferido Serra pela mesma razão que me levou a votar nas eleições internas para a presidência do meu partido em Passos Coelho contra Manuela Ferreira Leite.
Em processos tão personalizados como são os de selecção de presidentes, a qualquer nível que os consideremos, a minha escolha vai para as (ou os) melhores.
Quando se trata de escolher, globalmente, listas de candidatos neste domínio da política já o problema é outro, pois se torna legítimo presumir a discriminação, se houver grande desiquilíbrio de género, sobretudo em existindo igualdade real nos demais domínios da vida social.
Dilma pode até vir a ser tão boa quanto foi Bachelet no Chile - e espero que seja!
Mas Serra era uma certeza, como foi, por exemplo, Fernando H. Cardoso,
como creio que teria sido nos EUA Hillary Clinton. Em nome da sua superioridade de experiência e de mundividência votaria nela, não em Obama.
Simpático e atraente ele é, mas as suas limitações estão à vista do mundo inteiro.
Os EUA mostraram, na preferência por um jovem sem passado político muito relevante, que não estavam preparados para vencer o preconceito de género. O Brasil já está, neste aspecto, no século XXI, os EUA ainda não...

Centenário da República em Espinho: as memórias de um verdadeiro herói das campanhas de África, durante a 1ª Grande Guerra - o ALFERES JOSÉ JACINTO

JOSÉ TEIXEIRA JACINTO: um nome que aprendi agora, mas não esquecerei nunca.
Como não esquecerão todos os que lerem as suas memórias da espantosa aventura que viveu enquanto comandante da 2ª Companhia Indígena da Beira, nos anos de 1917 e 1918.
Do desastre que constituiu, em Moçambique como na Europa, a participação portuguesa nessa guerra - um dos factores que reconhecidamente pesou no fim prematuro da 1ª República - a mais fantástica das excepções terá sido protagonizada pelo Alferes Jacinto. Um herói, ao tempo, improvável, um herói que permaneceu desconhecido até nossos dias, mas um heroi verdadeiro. O comandante - que como Alferes não o era à partida, mas em que se tornou por doença do capitão... - da única companhia invicta, resistente, do 1º ao último dia, não só a inimigos, como à doença, ao clima, à falta de meios e de apoios, ao isolamento em que se viu, cortadas que foram todas as comunicações com o Corpo Expecicionário do Exército Português. Tudo isto num périplo de longos meses, numa travessia de centenas de quilómetros em território desconhecido, inóspito e por desbravar, que se estendia até ao Lago Niassa e à fronteira de Tanganica...
No fim, apenas uma forma imperfeita de recompensa: a atribuição da mais alta condecoração portuguesa, o colar da Torre e Espada, com palma, que, porém, lhe não foi entregue em vida e que a viúva receberia, com mais de duas décadas de atraso, em cerimónia solene, realizada na Câmara de Espinho, a terra onde ele residiu e onde morreu.

Porquê a publicação do seu "diário de campanha" 98 anos depois da data em que acabou de ser escrito? Porquê só agora?

Porque essas páginas, cuidadosamente manuscritas na sua letra clara e elegante, sobre as folhas longas de papel amarelecido, ficaram guardadas, intocadas, por décadas e décadas. Até que o neto, também ele militar, um dia, há pouco e por acaso, as encontrou.
Já nem sei como surgiu, em conversa, a referência do Coronel Jacinto ao precioso manuscrito de seu Avô e, muito sinteticamente, à "coluna do Lago Niassa", a uma guerra longínqua e dormente na memória colectiva.
Surgiu...
E eu, absolutamente fascinada com o achado, com a revelação que continha, quis saber o destino que lhe seria dado. O Coronel Jacinto aceitou a ideia de que fosse publicado, de imediato, no quadro deste centenário da República em Espinho.
E assim se fez, num ápice!
O lançamento do livro, organizado pelo Coronel Armando Jacinto, com o título "A coluna do Lago Niassa - 1ª Grande Guerra em Moçambique", uma edição da Câmara Municipal de Espinho, aconteceu na tarde do dia 30 de Outubro.

Vim directamente para casa. E comecei a ler, com muita curiosidade e expectativa, essa publicação. Pela noite fora li, sem fazer uma pausa, as suas 127 páginas.
Tinha a certeza da importância de um relato desta natureza para o conhecimento da nossa história, nesse período decisivo da 1ª República. Tinha a certeza de que a edição seria um contributo singular no quadro das comemorações do "centenário", pelo simples mérito de nos revelar factos novos, contados por alguém absolutamente credibilizado, distinguido pela mais alta condecoração militar do Estado.
Mas, do ponto de vista literário, humano, antropológico, não sabia ao certo o que iria encontrar.
Que surpresa!

Comparo este relato de campanha do Comandante da 2ª Companhia Indígena da Beira ao que de melhor nos deixaram os cronistas de quinhentos... Em termos de simplicidade de linguagem, de intuição da relevância relativa das coisas, dos factos, dos costumes, das pessoas. Sempre contido, sereno e lúcido, sem sombra de vaidade ou deslumbramento.
Uma narração objectiva e impressionante de acontecimentos dramáticos e épicos, feita por quem nela se retrata, com modéstia exemplar, sem conseguir, por força da verdade dos factos relatados, esconder uma grande estatura como militar e como homem!

outubro 27, 2010

EM TORONTO, HOMENAGEM A UMA GRANDE AMIGA

Uma síntese das palavras ditas na homenagem a Málice, na Casa do Alentejo, a 25 de Outubro de 2010:

Há 30 anos raras eram as portuguesas emigradas que tinham voz na sua comunidade. Maria Alice foi para mim, desde o dia em que a conheci, uma revelação do que pode ser a liderança no feminino - e no seu melhor!
Na verdade, muitos anos de convívio confirmaram o que antevi desde esse encontro inicial, na primeira "missão de serviço" que me levou à América do Norte: ali estava alguém que tinha infindas reservas de energia, de coragem, de dedicação à "res publica" e que delas fazia uso, apaixonadamente, intensamente, no quotidiano de uma das maiores e mais dinâmicas comunidades lusas à face da terra (como, com ela e com outros dos seus dirigentes, aprendi que é a de Toronto).
O que a movia? Julgo que era, claramente, o portuguesismo, o sentimento patriótico, sempre mais desperto no estrangeiro - na aventura da emigração - a par do inconformismo com as regras, as práticas e as tradições que desvalorizam o género feminino e lhe reservam um papel secundário. E, também, as causas que abraçava, com entusiasmo, tais como: a defesa dos direitos dos imigrantes, e das mulheres; a defesa da cultura portuguesa na imensa panóplia de culturas conviventes no Canadá; propósito de informar, com rigor, com verdade, sobre o passado e a actualidade de uma Pátria, distante mas presente; a vontade de dar corpo e alma a uma comunidade, que para sempre lhe deve parte da dimensão que alcançou - e que não para de crescer.
Málice, como os amigos lhe chamavam - e por isso a chamo eu assim - foi um pioneira da emigração portuguesa em Toronto. Fundou, com o marido, António Ribeiro, o primeiro jornal de Toronto, escrito - e muito bem! - na nossa língua. Tornou-o um semanário "de referência" no mundo português de além fronteiras, e um espaço de vivência de idéias e de grandes causas. Envolveu-se em inúmeras realizações importantes e campanhas de mobilização comunitária, porque vivia para a sua própria família, como para a família mais extensa, a do associativismo, o núcleo agregador dos emigrantes, que constroi verdadeiras comunidades. Foi Conselheira eleita do CCP, desde os anos 80 (quando o "Conselho" era, quase em exclusivo, masculino) e para o CCP trabalhou, eficiente e incansavelmente, até ao fim dos seus dias, vencendo a doença enquanto lhe foi possível. Um grande exemplo para os jovens, para as gerações que farão o futuro!

Maria Alice Ribeiro tem, para sempre, o seu lugar na história do jornalismo da diáspora, na história das comunidades portuguesas do nosso tempo.
E, connosco, os que tivemos o privilégio de ser seus amigos e admiradores, permanece viva na memória e na saudade.

Maria Manuela Aguiar

outubro 04, 2010

O 5 DE OUTUBRO DE 2010 EM ESPINHO

A Conferência da Senhora Dona Maria José Ritta foi o grande momento da comemoração desta data histórica em Espinho, e aquele que juntou um grande número de cidadãos interessados no diálogo para resolução de alguns dos principais problemas que se colocam à República de hoje.
Amanhã, precisamente no aniversário do século, não haverá outra sessão para este efeito, pois a celebração centra-se nos rituais do hastear da bandeira e ne execução do hino nacional pela Banda de Espinho (pelas 10.30, conforme solicitação do PR), na inauguração de uma grande exposição nas duas galerias do FACE às 12.00 (mas sem discursos nem conferência ou lições sobre o tema - que irão suceder-se mais tarde, ao longo de Outubro e Novembro, segundo esperamos) e no concerto da Academia de Música de Espinho, às 18.00.
De qualquer forma, já podemos dizer que o início foi prometedor.
Aqui fica a apreciação da Mestre Arcelina Santiago, que muito lhe agradeço, com um pequeno comentário meu, só para dizer que cabe o mérito do sucesso às convidadas, por um lado, e, por outro, à organização por parte dos serviços, aos artistas e à audiência.



Cara Amiga,

Sobre o serão de quinta-feira? Excelente! Excelente!
Parabéns! Planeou as iniciativas das comemorações do centenário da República, começando com uma homenagem às mulheres, através da conferência da Drª. Maria Barroso e continuou a homenageá-las, agora com um testemunho vivo de um rosto tão emblemático da nossa sociedade actual- a Drª Maria José Rita!
Gostaria depois, de fazer um comentário mais alongado sobre o momento que, felizmente, tive o privilégio de presenciar, mas deixo aqui apenas um breve apanhado.

Na verdade, foi cativante a simplicidade e genuinidade da ilustre palestrante que, na conferência, deu ênfase ao papel das mulheres na República e o muito que há ainda a fazer para que haja uma verdadeira equidade, provando que continua a ser a mulher atenta e próxima dos outros, característica que já nos tinha habituado enquanto primeira dama. O seu testemunho foi muito rico, desvendando aspectos da sua vida pessoal e social, reveladores de um humanismo marcante. Depois, à conversa com Margarida Pinto Correia completamos a imagem desta figura que para nós é uma referência. Enquanto primeira dama, desempenhou de forma extraordinária, um papel importante em defesa da causa pública, com autonomia, simplicidade, coerência e responsabilidade, segundo os princípios de proximidade com os outros. Como pessoa, dedicada à família e às grandes causas, como cidadã, atenta aos problemas da sociedade e ao serviço do voluntariado, prova-nos que é, seguramente, um dos rostos femininos que marcará a nossa história da República.

Os harmoniosos momentos de bailado e de musicalidade fizeram o enquadramento perfeito de uma serão feliz e inspirador...
Tal como referiu, inicialmente, amiga Manuela, que esta celebração dos cem anos da República, mais do recordar o passado, seja a projecção de um futuro promissor. Que ele seja inspirado nos valores patentes no testemunho de Maria José Rita. E que belo testemunho para homenagear as mulheres da República!!!

Abraço,
Arcelina Santiago

outubro 01, 2010

MONSENHOR JOÃO ANTÃO

Mensagem

Monsenhor João Antão é uma das mais notáveis personalidades da nossa Diáspora, no nosso tempo, reconhecido, igualmente, pelas duas pátrias em que dividiu a sua vida – Portugal e os EUA.
A sua obra como pároco, como cristão que mobiliza pelo exemplo de vida, como português de alma e coração, como Homem de pensamento e de cultura e como Homem de acção, dá bem a medida da sua estatura moral e intelectual.
A Paróquia que refundou em Elizabeth, um dos sinais visíveis e simbólicos dessa dimensão humana, é, simplesmente, uma das mais belas e das mais grandiosas que a fé dos Portugueses ergueu nos cinco continentes do mundo. É, naturalmente, uma modelar organização colectiva, em que são muitos os que se envolvem no trabalho quotidiano, tão empenhado quanto eficaz, mas que, na sua origem e desenvolvimento, se fica a dever à visão e, também, à capacidade de mobilizar o ânimo e a cooperação de todos, que Monsenhor João Antão desde sempre demonstrou. Um projecto de missão e de vivência comunitária, que tem, hoje, seguidores à altura e caminha para o futuro numa senda de continuidade.
As bodas de ouro sacerdotais de Monsenhor Antão celebradas nessa Igreja, em que a memória de décadas de dedicação e de partilha do seu ideal cristão estará inteira, vão ser repassadas de momentos de emoção, que eu quereria, mas não poderei, compartilhar presencialmente.
Fica assim, em simples e breves palavras sentidas, a minha homenagem a um insigne Português, que, ao longo destes 50 anos, foi um exemplo incomparável de generosidade e de tolerância, de inteligência e de sabedoria, integramente postos ao serviço de Deus e dos seus semelhantes.
Alguém de quem muito ainda esperamos, como guia espiritual e como amigo.
Bem-haja!
Com o maior respeito, admiração e estima, as saudações da
Maria Manuela Aguiar

setembro 26, 2010

Espinho na pintura de Mestre António Joaquim

Duas telas magníficas, que retratam aspectos da vida de Espinho - a pesca, que está na origem da identidade de uma terra ligada ao mar, e a feira, que há mais de um século, anima o comércio, de que também se fez e faz o progresso de Espinho...
Uma fotografia com o Mestre, junto a esse quadro magnífico!

setembro 24, 2010

ROSTOS VIVOS DA REPÚBLICA - em Espinho

MARIA JOSÉ RITTA
Espinho recebe, na próxima quinta-feira, dia 30 de Setembro, pelas 21.00 horas, no Centro Multimeios, a visita de uma exemplar personalidade da República, que nos vem falar de si, da sua visão do mundo, das suas causas humanistas, da sua vida como” Primeira-dama”, durante uma década: MARIA JOSÉ RITTA à conversa com MARGARIDA PINTO CORREIA, e connosco, num ambiente informal, de tertúlia, onde não faltarão pequenos apontamentos de dança (pelo Núcleo de Dança Contemporânea – Move’ imento) e de música (2 pra Jazz).
Estão convidados a participar nesta iniciativa, integrada nas comemorações do Centenário da República em Espinho.

setembro 11, 2010

Emoções no Dragão!

Foi um jogo de futebol esplêndido entre as duas melhores equipas portuguesas neste recomeço de campeonato: o FCP e o BRAGA.
Vitória do Porto, que ganhou também em todos os campos, contra os adversários directos. Vitória difícil!
Ainda bem que, por razões alheias à minha vontade - que era de escapar às emoções...-acabei por estar presente no estádio.
E ver os estonteantes dribles, a velocidade, a força e a alegria de jogar de Hulk, é, por si só, um espectáculo absolutamente imperdível.
O melhor entre os melhores. Hoje como de costume.
Um mito "avant la lettre". Igual a fenómenos como Deco ou Quaresma, para citar apenas exemplos ainda "no activo". "Todos diferentes, todos iguais", como no slogan do Conselho da Europa!

setembro 09, 2010

ESCOLAS 2010...

"100 anos de Republica
O Governo Sócrates comemorou hoje os 100 anos da República Portuguesa, encerrando 701escolas na Surdina, e com grande aparato inaugurando 100 escolas. Resumindo: comemoramos hoje com menos 601 escolas, que o Salazar nos deixou."
(Casimiro Rodrigues - Portugal Club)

"Il y a du vrai", como se diz em francês...
Não sei se devemos recuar aos tempos do chamado "Estado Novo". Basta comparar com o ano passado...

Esta de se lembrarem de comemorarem a abertura de "100 escolas, precisamente 100", ao mesmo tempo que mandam encerrar "701 escolas, precisamente 701" é de pasmar...

Algo vai mal
na República de Portugal...
(rima...)

Reformistas e Revolucionários

Uma primeira reacção, por escrito (orais foram imediatas e têm continuado!) àquele memorável debate (sobre o tema supra citado), com Pedro Roseta e Miguel Urbano Rodrigues.
Devo dizer que, com esta asserção da Arcelina, eu, por regra reformista e pacifista, estou de perfeito acordo: há rupturas só possíveis através de uma revolução e até da força das armas - lembremos as de 1383-85 ou a de 1640, ainda há pouco, em Espinho, tema de outra sábia conferência. Há revoluções ou rupturas libertadores, que estão na origem de reformas essenciais, como o 25 de Abril exemplifica bem...

A palavra a Mestre Arcelina:

"Cara amiga Manuela Aguiar,

"Parabéns por mais uma inicitiva plena de sucesso. Os convidados encantaram-nos! Assim, vale a pena passar um serão!
Afinal reformistas e revolucionários são precisos para animar!
Só na dialéctica constructiva, na reflexão ética e social se consegue a melhoria dos sistemas. A sociedade não pode ser analisada apenas na combinação de sistemas binários. Esta é uma visão muito redutora. Além disso, há em todos os sistemas aspectos negativos e positivos. O que interessa é a dinâmica em oposição à inércia. SE essas dinâmicas forem reformas boas, tendo em vista a felicidade de todos (não apenas de alguns) será óptimo, se não for assim, que venha a revolução. Assim aconteceu com Abril...
Até breve.
Abraço,
Arcelina Santiago"

setembro 03, 2010

Atacar demais é erro...

1 - Diz o Prof Oliveira, o treinador "prescindível" (Madaíl dixit, ao falar de uma selecção a funcionar em "piloto automático"!...), que não se lembra de um jogo em que Portugal tenha tido "uma produção ofensivamente falando" melhor do que a deste, ingloriamente terminado com um empate a 4-4 com o Chipre.
A memória é uma coisa muito subjectiva...
2 - Eu, por exemplo, não me lembro de um jogo de uma equipa Portuguesa a mostrar, "defensivamente falando" tanta vulnerabilidade, contra uma contraparte da categoria do Chipre. Jamais, na minha longa vida de espectadora de futebol... Jamais vu!
3 - Pois é, Professor Oliveira: atacar demais pode ser fatal. Foi!
4 - Como dizia um comentador da SIC, expressando à maravilha o que eu penso, tivemos duas metades de equipa separadas. Exacto! Sem meio campo, transformado em "terra de ninguém".
VOLTA DECO!
5 - Deco não volta, mas ainda bem que voltou Quaresma, de longe o melhor em campo.
A provar a inépcia e a mediocridade desta equipa técnica, pois só o convocou para substituir o lesionado CR.
Outro absurdo é a convocatória de um Meireles sem ritmo competitivo, ou de um Miguel, que há muito deixou de ser o que foi fugazmente... É o reino (ou a república) da estupidez absoluta.
Ainda por cima, as grandes estrelas do Sul de África, Eduardo e Coentrão empalideceram. Não se dão, como eu sempre suspeitei, no nosso hemisfério norte.
6 - Portugal sem o génio de Deco, está condenado à mediania.
Restam dois génios apenas, sem semelhante capacidade de influência: Quaresma e CR. Não chega...
E chega ainda menos com um treinador sem qualidade profissional e sem qualidade humana. Queiroz. Acho que foi a falta desta mais do que daquela que levou Deco e Paulo Ferreira - e não sei se também Simão... - a renunciarem à selecção. Deco no "timing" certo, antes mesmo da partida para a África do Sul.
7 - Não confundo Agostinho Oliveira com Queiroz.
Pelo contrário, considero que o Prof Oliveira tem "qualidade humana" e até me parece que tem também qualidade profissional.
No interregno entre a saída de António Oliveira e a nomeação de Scolari foi ele quem assegurou a rodagem da selecção, futura anfitriã do Euro 2004. Com resultados espectaculares. Eu lembro-me e estranho que nenhum comentador desportivo se lembre disso...
Portugal não está a funcionar em piloto automático, mas em "remote control". Esse é o problema!
O problema nado, criado e mantido por Gilberto Madaíl.

agosto 25, 2010

O CCP, como exemplo de "boas práticas"...

O Conselho das Comunidades e a Representação dos Emigrantes
Maria Manuela Aguiar*

Resumo
O Conselho das Comunidades Portuguesas de 1980 foi, historicamente, a primeira experiência de audição e diálogo institucional, entre o governo português, a sua emigração e a sua diáspora. Era um órgão consultivo do governo, constituído por representantes eleitos no mundo associativo, apelando à força e ao papel central que as associações têm na construção e preservação das comunidades de emigrantes. Sendo uma experiência inteiramente nova, teve de fazer o seu próprio caminho, conhecendo rupturas, hiatos de funcionamento e mudanças radicais de feição e natureza, nas décadas seguintes.

Palavras-chave emigração, Portugal, representação, comunidades portuguesas, conselho

Abstract
The Bureau of the Portuguese Communities of 1980 was, historically, the first experience of institutional listening and dialogue between the Portuguese government and its emigration and diaspora. This Bureau was a consultative body of the government, constituted by representatives elected by the emigrant associations, thus it was based on the appellative force and central role that associations have in the construction and preservation of the emigrant communities. As an entirely new experience, it had to walk its own way, facing ruptures and breaks in its functioning, as well as radical changes in its configuration, nature, during the following decades.

Key-words emigration, Portugal, representation, Portuguese communities, Bureau

Resumen
El Consejo de las Comunidades Portuguesas de 1980 fue, históricamente, la primera experiencia de audición y diálogo institucional entre el gobierno portugués, su emigración y diáspora. Era un órgano consultivo del gobierno, constituido por representantes elegidos del mundo asociativo, apelando a la fuerza y al papel central que las asociaciones tienen en la construcción y preservación de las comunidades emigrantes. Siendo una experiencia totalmente nueva, tuvo que hacer su propio camino, conociendo rupturas, hiatos de funcionamiento y cambios radicales de forma y naturaleza en las décadas siguientes.


Palabras claves emigración, Portugal, representación, comunidades portuguesas, consejo
* Jurista
Ex-Secretária de Estado da Emigração e Comunidades Portuguesas


O Conselho das Comunidades e a Representação dos Emigrantes
Maria Manuela Aguiar

1 - O CCP é um órgão consultivo do Governo, em matéria de emigração - e, mais do que isso, é também um órgão representativo dos portugueses do estrangeiro. Este carácter de representação - que , numa fase inicial, se centrava no movimento associativo e agora tem cariz mais amplo, embora porventura mais difuso... - valoriza substancialmente o significado da própria audição. Instituído pelo Decreto-lei nº 373/80 de 12 de Setembro em 1980, com início de actividade efectiva em Abril de 1981, é o segundo mais antigo da Europa, depois do francês, o "Conséil Supérieur des Français de l' Étranger", que escolhia os representantes da emigração ao Senado.

A todos os Conselhos que, na década de 80, nele se inspiraram me parece que subjazer o propósito de os transformar em sucedâneos de Câmaras ou Assembleias de Emigrantes. Em Portugal, a ideia de integrar o CCP numa segunda Câmara, se ela vier a existir, ou, pelo menos, de lhe dar expressa consagração no texto da Constituição (colocando a sua existência acima do livre arbítrio ou da boa vontade de Governos e de governantes...), é defendida por muitos Conselheiros, e chegou a ser objecto de dois colóquios parlamentares, promovidos pela Subcomissão das Comunidades Portuguesas, à qual presidi, nos anos 2003 e 2004.

O CCP tem um historial interessante, sobretudo no período em que vamos considerá-lo: o momento do seu nascimento, visto como acto de criação colectiva de uma instituição nova e original, num diálogo entre parceiros, o Governo e os porta-vozes do movimento associativo. Um percurso, aliás, acidentado por bloqueios e hiatos de funcionamento, afrontamentos com o Governo, ou entre os seus próprios membros, processos e recursos judiciais... Em boa verdade,, não deveremos sequer falar de um único "Conselho", mas de vários, ou de várias "vidas" de uma mesma instituição.

Entre 1981 e 1987, inclusive, o 1º CCP "fez-se, "e fez-se com as pessoas, ganhou, com elas, um lugar central no debate das políticas para as migrações, manteve um funcionamento activo e regular. A partir de 1988 foi desactivado, de facto, e, no início da década seguinte, descaracterizado,"de jure", por uma lei aprovada, por maioria, na Assembleia da República, cuja complexidade e dificuldade de implementação - intencional ou não - o deixou paralisado.

O CCP ressurgiu, em 1996. A proposta de lei do Governo teve, na Assembleia da República – coisa rara - tratamento exemplarmente expedito num pequeno "grupo de trabalho", formado pelos deputados da emigração e outros da Comissão de Negócios Estrangeiros, conscientes da realidade das migrações portuguesas, e da importância do Conselho, prioridade à qual alguns sacrificaram discordâncias de monta sobre o normativo. Seguiu-se um imediato agendamento do debate e votação, em plenário, e, em 1997, as eleições e a reunião mundial, 10 anos depois da anterior…

No actual sistema os conselheiros são eleitos por sufrágio directo e universal, pelos cidadãos inscritos nos consulados – uma fonte de legitimidade, aparentemente mais “democrática”, mas que rompe com a sua matriz associativa, a força e autonomia que daí lhe advinha, e exclui os luso descendentes, que já não tenham nacionalidade portuguesa. A tal óbice se responde em Itália com um sistema misto, como eu própria propus - numa fórmula diversa, prevendo dois colégios eleitorais, o de sufrágio universal, a par de outro, de natureza associativa.

2 – Voltemos à fase primordial do Conselho, que começou por ser uma promessa eleitoral, um parágrafo inscrito no programa da AD (Aliança Democrática), coligação, se apresentou a sufrágio venceu e formou governo, no início de 1980 . Secretária de Estado do pelouro, coube-me a tarefa de promover a sua execução. Nunca soube quem a tinha formulado…Sendo de autor desconhecido, não estávamos limitados por quaisquer directrizes. Não havia figurino estrangeiro à nossa medida - apenas o francês, que correspondia a um contexto migratório e a uma inserção no sistema político-constitucional diversa. Era, no pós 1974, a primeira tentativa de avançar para formas de participação democrática extensivas à emigração portuguesa: um "forum" de audição, uma instância de co-participação dos Portugueses do estrangeiro nas políticas que lhes eram dirigidas. Com a liberdade de procurar e experimentar o “modus faciendi”. Um verdadeiro "laboratório"! Aí, em conjunto, se procuravam as melhores fórmulas para enquadrar situações ou atingir metas, e, em simultâneo, se forjava um molde organizacional para um projecto de longa duração. Não havia ideias feitas, mas a fazer, não havia uma tradição a seguir, mas a criar, não havia uma lei acabada, mas um texto provisório, a repensar. Falo do decreto-lei aprovado, a 1 de Abril de 1980, em Conselho de Ministros. Fora preterida a via parlamentar, por ser, previsivelmente, mais morosa, mas o Presidente da República reteve o diploma durante cerca de 5 meses… De qualquer modo, nesta fase, mais do que discutir um perfil de “Conselho” com os representantes da “Nação” o que se pretendia era “consultar” os próprios emigrantes.

Assim, de entre as secções organizadas para a condução dos trabalhos reunião mundial, uma destinava-se, expressamente, à revisão do referido decreto-lei, e não por sugestão dos conselheiros, mas por iniciativa do Governo. Secção que perdurou e era a mais participada e também a mais polémica, num país com as divergências partidárias ainda muito à “flor da pele” “ , Apesar disso, souberam trabalhar em comum e conseguir convergências no fundamental, por exemplo, sobre:
- a sua própria orgânica - com a proposta de uma comissão permanente, prontamente implementada, como instância de coordenação e gestão;
- o acompanhamento das recomendações dirigidas aos mais diversos departamentos da administração pública, pela via de uma “comissão interministerial”. A "Comissão" veio a ser constituída em 1987, e tinha, como pretendiam, o encargo de preparar as respostas ao CCP, sector por sector, reunindo, obrigatoriamente, para esse fim, antes da reunião mundial deste Órgão
. a reformulação pontual da lei do CCP para permitir a sua “regionalização” com a convocatória periódica de reuniões restritas dos representantes de cada uma das grandes regiões do mundo - Europa, África e Oceânia, América do Norte, América do Sul - o patamar que entendiam faltar, entre o conselho mundial e os "conselhos de país” - cuja composição, repartição geográfica, regulamento e planos de acção e actividades as estruturas locais decidiam autonomamente.
-a elaboração de um ambicioso anteprojecto de reformulação global do CCP, que o Governo, adoptou, como seu, apresentando-o, como Proposta de Lei, à Assembleia da República, em 1986.
Aí se previa já a eleição por sufrágio universal, a par da eleição por um colégio interassociativo semelhante ao existente.
Porquê este ênfase no movimento associativo? A meu ver, porque se reconhecia, o seu papel central na organização e desenvolvimento das comunidades, na sua capacidade de preservar a língua, a cultura, os modos de estar e tradições nacionais, aliás, sem prejuízo de promover, como se reconhece, a integração dos seus membros na sociedade de acolhimento. Tudo feito e mantido, sem apoios dos sucessivos governos de Portugal: 100% sociedade civil. Razão de sobra para que o Governo, numa relação de parceria, se guarde de qualquer tentação de interferência, respeitando, sempre, os projectos próprios dessas entidades, e das comunidades como um todo.
Foi esta a filosofia que presidiu ao diálogo e cooperação, "entre iguais", no interior do CCP.
O associativismo português no mundo, quando comparado com o de outros povos migrantes da Europa só fica a perder pelo facto de não ter procurado formas de unificação em federações ou alianças de nível internacional. Historicamente, a única tentativa de agregar numa "União" representantes da Diáspora aconteceu nos anos 60 e foi uma iniciativa que partiu da Sociedade de Geografia, presidida pelo Prof. Adriano Moreira, não da Diáspora.
O legislador do CCP deixava claro, logo no preâmbulo do Decreto-Lei nº 373/80, que não pretendendo impor orientações ao movimento associativo no sentido da sua "internacionalização", lhe oferecia uma "plataforma de encontro" de âmbito mundial, para conhecimento mútuo e trabalho em comum. Objectivo conseguido, sem dúvida, enquanto o Conselho teve natureza associativa.

Muitas das recomendações substantivas deste órgão consultivo (e amplamente consultado, nomeadamente em matéria de ensino, medidas de protecção social, reestruturação de serviço no estrangeiro, apoio ao regresso e reinserção ou intercâmbio de jovens, como mostra uma publicação dos serviços da emigração sobre o estado das recomendações do CCP entre 1981 e 1985.

Os primeiros Encontros Mundiais de Jornalistas (1981) e de "Mulheres Migrantes no Associativismo e no Jornalismo" ficam, também, a dever-se, inteiramente, a recomendações do CCP.

Outra prática precursora que merece referência: a apresentação, para conhecimento e debate, do orçamento da Secretaria de Estado destinada a acções junto das comunidades, e as modalidades de colaboração oferecidas no "Programa Cultural", que era decalcado nas recorrentes solicitações do mundo associativo.

Não vou comparar, aqui e agora, os dois Conselhos, o de novecentos e o do século XXI, mas esse é um exercício que vivamente recomendo.

Do primeiro direi, a finalizar, que foi, simplesmente o que quis ser, a aventura de "inventar" e sedimentar uma instituição bem portuguesa e original, na qual os membros eleitos imprimiram as marcas do seu pensamento e das aspirações colectivas, num dado tempo - um retrato seu, um retrato de época.