setembro 23, 2018

ARQUITETO RUI LACERDA

Rui Lacerda - o seu modo de ver e conviver

O arquiteto Rui Lacerda  está e ficará presente na memória de Espinho. Pertence à história da cidade, onde deixou marcas que a fizeram mais moderna, maior e melhor. Como arquiteto, evidentemente. Um grande arquiteto! Mas não só, também como exemplo de intervenção cívica, de partilha de ideias e saberes, de  convivialidade
As suas obras de arquitetura - e refiro apenas as que aqui, em Espinho, podemos  admirar e usar no nosso quotidiano - sabendo da existência de tantas outras, dispersas pelo país e por outros países -  falam da dimensão humana que subjaz à profissional e a projeta á perfeição.
O Auditório de Música que dá ao público uma rara proximidade com o palco, para além de uma acústica e um ambiente esplêndidos. Quando vou à Casa da Música do Porto, penso sempre: é tão interessante por fora e tão labiríntica e até de certa forma, inóspita no seu interior .Falta-lhe a harmonia entre o todo que encontramos no "nosso" auditório...
A Escola Manuel Laranjeira, cuja remodelação pude apreciar detalhadamente, numa visita guiada pela sua Diretora, prima igualmente pela conjugação de arte e funcionalidade. No fim, inclinada como sou a ter em mente paradigmas nórdicos, exclamei:  Parece um liceu acabado de construir em Estocolmo!.
E, "last but nos least" a Biblioteca José Marmelo e Silva, orgulho para todos os Espinhenses! Sobre ela conversei mais longamente com o Arquiteto e sou testemunha do seu entusiasmo, da sensibilidade com que integrava as componente simbólicas do projeto, com o cuidado dos mínimos pormenores decorativos e com a eficácia da supervisão das coisas concretas, a garantir uma execução rigorosa em todas as fases. Uma Bibioteca cheia de luz, nas salas de leitura que ladeiam o jardim interior, o jardim das oliveiras. Cheia portas que se abrem em novas zonas de comunicação. Entre as duas entradas principais, a da rua 24 e a do jardim João de Deus, o átrio tem a largura de uma rua, é mais uma via de passagem, uma paralela à rua 23, um convite ás pessoas para que a usem com tal, numa visita mais ou menos demorada... Essa foi a explicação que me deu e que me encantou.     
Traço comum na conceção destas três obras primas é, portanto, a compreensão das pessoas para quem os espaços foram criados e existem - num caso os estudantes, nos outros, os melómanos e os amantes das Letras e da leitura. Julgo que não procurava apenas a beleza arquitetónica, como valor em si. embora a conseguisse, com facilidade, porque tinha alma de artista  Se assim posso dizer, a sua arquitetura é profundamente humanista, como ele próprio era. Reflete o seu "modo de ver" - o título que deu à sua inesquecível exposição do fotografia sobre Espinho e a sua gente, (a fotografia, outra das suas artes!).
Uma última palavra sobre o Cidadão, o voluntário de todas as causas, iniciativas e instituições de cultura, de desporto e de solidariedade, sempre pronto a colaborar com a sua inteligência, as suas ideias. Foi na" Liga dos Amigos da Biblioteca José Marmelo e Silva", que mais privei com ele. A Biblioteca não era apenas o trabalho profissional bem finalizado, era uma vivência do quotidiano deste Homem de Cultura, verdadeiro cultor do espírito  de Espinho, do Espinho de sempre, no seu modo de ver e de conviver.
A inauguração da sua última obra. a que não pode ver completada, a requalificação da área que foi a grande sala de visitas de Espinho antigo e o quer ser, de novo, constituirá o momento certo para a  pública homenagem e consagração, que lhe é devida