outubro 31, 2010

BRASIL: A PRESIDENTE DILMA

Olho com espanto e admiração esse mundo novo da América do Sul, onde eleger uma mulher para a presidência da República se tornou coisa natural.
Argentina, Chile, Brasil...
Claro que isso me faz acreditar mais na Democracia. O que não quer dizer que, se pudesse participar nessas eleições, o meu voto houvesse recaído, necessariamente, em cada uma delas.
Fora eu brasileira, teria preferido Serra pela mesma razão que me levou a votar nas eleições internas para a presidência do meu partido em Passos Coelho contra Manuela Ferreira Leite.
Em processos tão personalizados como são os de selecção de presidentes, a qualquer nível que os consideremos, a minha escolha vai para as (ou os) melhores.
Quando se trata de escolher, globalmente, listas de candidatos neste domínio da política já o problema é outro, pois se torna legítimo presumir a discriminação, se houver grande desiquilíbrio de género, sobretudo em existindo igualdade real nos demais domínios da vida social.
Dilma pode até vir a ser tão boa quanto foi Bachelet no Chile - e espero que seja!
Mas Serra era uma certeza, como foi, por exemplo, Fernando H. Cardoso,
como creio que teria sido nos EUA Hillary Clinton. Em nome da sua superioridade de experiência e de mundividência votaria nela, não em Obama.
Simpático e atraente ele é, mas as suas limitações estão à vista do mundo inteiro.
Os EUA mostraram, na preferência por um jovem sem passado político muito relevante, que não estavam preparados para vencer o preconceito de género. O Brasil já está, neste aspecto, no século XXI, os EUA ainda não...

Centenário da República em Espinho: as memórias de um verdadeiro herói das campanhas de África, durante a 1ª Grande Guerra - o ALFERES JOSÉ JACINTO

JOSÉ TEIXEIRA JACINTO: um nome que aprendi agora, mas não esquecerei nunca.
Como não esquecerão todos os que lerem as suas memórias da espantosa aventura que viveu enquanto comandante da 2ª Companhia Indígena da Beira, nos anos de 1917 e 1918.
Do desastre que constituiu, em Moçambique como na Europa, a participação portuguesa nessa guerra - um dos factores que reconhecidamente pesou no fim prematuro da 1ª República - a mais fantástica das excepções terá sido protagonizada pelo Alferes Jacinto. Um herói, ao tempo, improvável, um herói que permaneceu desconhecido até nossos dias, mas um heroi verdadeiro. O comandante - que como Alferes não o era à partida, mas em que se tornou por doença do capitão... - da única companhia invicta, resistente, do 1º ao último dia, não só a inimigos, como à doença, ao clima, à falta de meios e de apoios, ao isolamento em que se viu, cortadas que foram todas as comunicações com o Corpo Expecicionário do Exército Português. Tudo isto num périplo de longos meses, numa travessia de centenas de quilómetros em território desconhecido, inóspito e por desbravar, que se estendia até ao Lago Niassa e à fronteira de Tanganica...
No fim, apenas uma forma imperfeita de recompensa: a atribuição da mais alta condecoração portuguesa, o colar da Torre e Espada, com palma, que, porém, lhe não foi entregue em vida e que a viúva receberia, com mais de duas décadas de atraso, em cerimónia solene, realizada na Câmara de Espinho, a terra onde ele residiu e onde morreu.

Porquê a publicação do seu "diário de campanha" 98 anos depois da data em que acabou de ser escrito? Porquê só agora?

Porque essas páginas, cuidadosamente manuscritas na sua letra clara e elegante, sobre as folhas longas de papel amarelecido, ficaram guardadas, intocadas, por décadas e décadas. Até que o neto, também ele militar, um dia, há pouco e por acaso, as encontrou.
Já nem sei como surgiu, em conversa, a referência do Coronel Jacinto ao precioso manuscrito de seu Avô e, muito sinteticamente, à "coluna do Lago Niassa", a uma guerra longínqua e dormente na memória colectiva.
Surgiu...
E eu, absolutamente fascinada com o achado, com a revelação que continha, quis saber o destino que lhe seria dado. O Coronel Jacinto aceitou a ideia de que fosse publicado, de imediato, no quadro deste centenário da República em Espinho.
E assim se fez, num ápice!
O lançamento do livro, organizado pelo Coronel Armando Jacinto, com o título "A coluna do Lago Niassa - 1ª Grande Guerra em Moçambique", uma edição da Câmara Municipal de Espinho, aconteceu na tarde do dia 30 de Outubro.

Vim directamente para casa. E comecei a ler, com muita curiosidade e expectativa, essa publicação. Pela noite fora li, sem fazer uma pausa, as suas 127 páginas.
Tinha a certeza da importância de um relato desta natureza para o conhecimento da nossa história, nesse período decisivo da 1ª República. Tinha a certeza de que a edição seria um contributo singular no quadro das comemorações do "centenário", pelo simples mérito de nos revelar factos novos, contados por alguém absolutamente credibilizado, distinguido pela mais alta condecoração militar do Estado.
Mas, do ponto de vista literário, humano, antropológico, não sabia ao certo o que iria encontrar.
Que surpresa!

Comparo este relato de campanha do Comandante da 2ª Companhia Indígena da Beira ao que de melhor nos deixaram os cronistas de quinhentos... Em termos de simplicidade de linguagem, de intuição da relevância relativa das coisas, dos factos, dos costumes, das pessoas. Sempre contido, sereno e lúcido, sem sombra de vaidade ou deslumbramento.
Uma narração objectiva e impressionante de acontecimentos dramáticos e épicos, feita por quem nela se retrata, com modéstia exemplar, sem conseguir, por força da verdade dos factos relatados, esconder uma grande estatura como militar e como homem!

outubro 27, 2010

EM TORONTO, HOMENAGEM A UMA GRANDE AMIGA

Uma síntese das palavras ditas na homenagem a Málice, na Casa do Alentejo, a 25 de Outubro de 2010:

Há 30 anos raras eram as portuguesas emigradas que tinham voz na sua comunidade. Maria Alice foi para mim, desde o dia em que a conheci, uma revelação do que pode ser a liderança no feminino - e no seu melhor!
Na verdade, muitos anos de convívio confirmaram o que antevi desde esse encontro inicial, na primeira "missão de serviço" que me levou à América do Norte: ali estava alguém que tinha infindas reservas de energia, de coragem, de dedicação à "res publica" e que delas fazia uso, apaixonadamente, intensamente, no quotidiano de uma das maiores e mais dinâmicas comunidades lusas à face da terra (como, com ela e com outros dos seus dirigentes, aprendi que é a de Toronto).
O que a movia? Julgo que era, claramente, o portuguesismo, o sentimento patriótico, sempre mais desperto no estrangeiro - na aventura da emigração - a par do inconformismo com as regras, as práticas e as tradições que desvalorizam o género feminino e lhe reservam um papel secundário. E, também, as causas que abraçava, com entusiasmo, tais como: a defesa dos direitos dos imigrantes, e das mulheres; a defesa da cultura portuguesa na imensa panóplia de culturas conviventes no Canadá; propósito de informar, com rigor, com verdade, sobre o passado e a actualidade de uma Pátria, distante mas presente; a vontade de dar corpo e alma a uma comunidade, que para sempre lhe deve parte da dimensão que alcançou - e que não para de crescer.
Málice, como os amigos lhe chamavam - e por isso a chamo eu assim - foi um pioneira da emigração portuguesa em Toronto. Fundou, com o marido, António Ribeiro, o primeiro jornal de Toronto, escrito - e muito bem! - na nossa língua. Tornou-o um semanário "de referência" no mundo português de além fronteiras, e um espaço de vivência de idéias e de grandes causas. Envolveu-se em inúmeras realizações importantes e campanhas de mobilização comunitária, porque vivia para a sua própria família, como para a família mais extensa, a do associativismo, o núcleo agregador dos emigrantes, que constroi verdadeiras comunidades. Foi Conselheira eleita do CCP, desde os anos 80 (quando o "Conselho" era, quase em exclusivo, masculino) e para o CCP trabalhou, eficiente e incansavelmente, até ao fim dos seus dias, vencendo a doença enquanto lhe foi possível. Um grande exemplo para os jovens, para as gerações que farão o futuro!

Maria Alice Ribeiro tem, para sempre, o seu lugar na história do jornalismo da diáspora, na história das comunidades portuguesas do nosso tempo.
E, connosco, os que tivemos o privilégio de ser seus amigos e admiradores, permanece viva na memória e na saudade.

Maria Manuela Aguiar

outubro 04, 2010

O 5 DE OUTUBRO DE 2010 EM ESPINHO

A Conferência da Senhora Dona Maria José Ritta foi o grande momento da comemoração desta data histórica em Espinho, e aquele que juntou um grande número de cidadãos interessados no diálogo para resolução de alguns dos principais problemas que se colocam à República de hoje.
Amanhã, precisamente no aniversário do século, não haverá outra sessão para este efeito, pois a celebração centra-se nos rituais do hastear da bandeira e ne execução do hino nacional pela Banda de Espinho (pelas 10.30, conforme solicitação do PR), na inauguração de uma grande exposição nas duas galerias do FACE às 12.00 (mas sem discursos nem conferência ou lições sobre o tema - que irão suceder-se mais tarde, ao longo de Outubro e Novembro, segundo esperamos) e no concerto da Academia de Música de Espinho, às 18.00.
De qualquer forma, já podemos dizer que o início foi prometedor.
Aqui fica a apreciação da Mestre Arcelina Santiago, que muito lhe agradeço, com um pequeno comentário meu, só para dizer que cabe o mérito do sucesso às convidadas, por um lado, e, por outro, à organização por parte dos serviços, aos artistas e à audiência.



Cara Amiga,

Sobre o serão de quinta-feira? Excelente! Excelente!
Parabéns! Planeou as iniciativas das comemorações do centenário da República, começando com uma homenagem às mulheres, através da conferência da Drª. Maria Barroso e continuou a homenageá-las, agora com um testemunho vivo de um rosto tão emblemático da nossa sociedade actual- a Drª Maria José Rita!
Gostaria depois, de fazer um comentário mais alongado sobre o momento que, felizmente, tive o privilégio de presenciar, mas deixo aqui apenas um breve apanhado.

Na verdade, foi cativante a simplicidade e genuinidade da ilustre palestrante que, na conferência, deu ênfase ao papel das mulheres na República e o muito que há ainda a fazer para que haja uma verdadeira equidade, provando que continua a ser a mulher atenta e próxima dos outros, característica que já nos tinha habituado enquanto primeira dama. O seu testemunho foi muito rico, desvendando aspectos da sua vida pessoal e social, reveladores de um humanismo marcante. Depois, à conversa com Margarida Pinto Correia completamos a imagem desta figura que para nós é uma referência. Enquanto primeira dama, desempenhou de forma extraordinária, um papel importante em defesa da causa pública, com autonomia, simplicidade, coerência e responsabilidade, segundo os princípios de proximidade com os outros. Como pessoa, dedicada à família e às grandes causas, como cidadã, atenta aos problemas da sociedade e ao serviço do voluntariado, prova-nos que é, seguramente, um dos rostos femininos que marcará a nossa história da República.

Os harmoniosos momentos de bailado e de musicalidade fizeram o enquadramento perfeito de uma serão feliz e inspirador...
Tal como referiu, inicialmente, amiga Manuela, que esta celebração dos cem anos da República, mais do recordar o passado, seja a projecção de um futuro promissor. Que ele seja inspirado nos valores patentes no testemunho de Maria José Rita. E que belo testemunho para homenagear as mulheres da República!!!

Abraço,
Arcelina Santiago

outubro 01, 2010

MONSENHOR JOÃO ANTÃO

Mensagem

Monsenhor João Antão é uma das mais notáveis personalidades da nossa Diáspora, no nosso tempo, reconhecido, igualmente, pelas duas pátrias em que dividiu a sua vida – Portugal e os EUA.
A sua obra como pároco, como cristão que mobiliza pelo exemplo de vida, como português de alma e coração, como Homem de pensamento e de cultura e como Homem de acção, dá bem a medida da sua estatura moral e intelectual.
A Paróquia que refundou em Elizabeth, um dos sinais visíveis e simbólicos dessa dimensão humana, é, simplesmente, uma das mais belas e das mais grandiosas que a fé dos Portugueses ergueu nos cinco continentes do mundo. É, naturalmente, uma modelar organização colectiva, em que são muitos os que se envolvem no trabalho quotidiano, tão empenhado quanto eficaz, mas que, na sua origem e desenvolvimento, se fica a dever à visão e, também, à capacidade de mobilizar o ânimo e a cooperação de todos, que Monsenhor João Antão desde sempre demonstrou. Um projecto de missão e de vivência comunitária, que tem, hoje, seguidores à altura e caminha para o futuro numa senda de continuidade.
As bodas de ouro sacerdotais de Monsenhor Antão celebradas nessa Igreja, em que a memória de décadas de dedicação e de partilha do seu ideal cristão estará inteira, vão ser repassadas de momentos de emoção, que eu quereria, mas não poderei, compartilhar presencialmente.
Fica assim, em simples e breves palavras sentidas, a minha homenagem a um insigne Português, que, ao longo destes 50 anos, foi um exemplo incomparável de generosidade e de tolerância, de inteligência e de sabedoria, integramente postos ao serviço de Deus e dos seus semelhantes.
Alguém de quem muito ainda esperamos, como guia espiritual e como amigo.
Bem-haja!
Com o maior respeito, admiração e estima, as saudações da
Maria Manuela Aguiar