novembro 28, 2017

UMA GERAÇÃO DE TRIUNFADORES - FORA DA GAIOLA DOURADA



 1 -  Os “empresários de sucesso” da Diáspora entraram no discurso dos políticos nos anos noventa, de um tal modo que ficaram subalternizadas outras vias ou expressões de sucesso, que eram evidentes se olhássemos para além do que os governantes valorizavam, o que realmente tinham querido e conseguido, através do projecto
migratório, os seus próprios protagonistas, fossem eles operários da construção civil, porteiras de Paris ou os seus filhos, que começavam a aceder às universidades e a novas profissões (um deles, no século XXI seria o realizador desse filme “de sucesso” sobre a vistosa galeria de estereótipos da emigração parisiense, que é o mínimo que se
pode dizer de “A gaiola dourada”.).
Havia, também, inevitavelmente, casos preocupantes de frustração ou fracasso, mas eram a minoria, entre os que aportaram “a salto” a terras de França.
Na década de 80, os primeiros estudos, concluídos em Paris, vieram dar fundamentação científica a essa nova visão da realidade, de uma realidade que evoluíra. E dela se fizeram eco, na altura, não só os políticos, os media, mas  grandes nomes da emigração, como Eduardo Lourenço, que, escrevendo precisamente sobre aqueles compatriotas (a propósito do livro “a mala de cartão” de Linda de Suza) os considerou “uma geração de triunfadores”.
Académicos franceses, como Chombart de Loewe (prefaciando a tese de Engrácia Leandro "Familles Portugaises  Projects et Destin"), corroboravam esse juízo sobre os portugueses, atribuindo à força da família o papel central nos melhores resultados, em geral, por eles alcançados, em comparação com imigrantes de outras nacionalidades.

 2 – A família, ou seja,a vinda das mulheres! Mulheres e homens trabalhando, lado a lado, não apenas, como acontecia na tradicional expatriação de homens sós, para ganhar dinheiro e com ele dar futuro aos filhos, mas
também para lhes dar um futuro muito diferente, através da educação, da instrução formal, da formação. Para que à mobilidade geográfica se seguisse a mobilidade social. Para que a segunda geração não ficasse
acantonada no gueto profissional dos pais – que é o risco fatal que sempre correm os jovens sem sucesso escolar.
A França, com mais de 70% do total dos portugueses que se dirigiram à Europa, na segunda metade de novecentos, é assim um grande exemplo, que prima pela qualidade, como pela quantidade, e embora, do ponto de vista material, o balanço positivo se possa estender a toda a emigração deste período no quadro europeu, não é prudente extrapolar as conclusões a que se chegou neste país… No que respeita à simples remuneração do trabalho, haverá outros que até se superiorizam, mas o bom desfecho de um processo migratório não depende apenas disso… A componente económica determinante à partida, acaba por ceder terreno a outras componentes do projecto de vida no estrangeiro – a convivial e afectiva, a cultural, a educativa…Ser aceite, ser igual... A
consciência da importância destas facetas imateriais nasce da própria dinâmica da aproximação aos outros, emerge da integração ao mesmo tempo que vai fazendo a integração.  E não foi semelhante por todo o
lado…
Há já décadas (pelo menos desde os anos 80), que em sociedades prósperas, como a alemã, a luxemburguesa ou a suíça se detectou, através do competente acompanhamento de Conselheiros Sociais das
Embaixadas e dos técnicos dos serviços sociais, um geande número de casos de crianças portuguesas atiradas para o gueto do ensino especial, apenas porque não dominam suficientemente a língua de aprendizagem na escola…Não são aceites, não são iguais...
É dramático. É inadmissível que 30 anos depois, isso aconteça, nos mesmos países, sem que os Governos tenham tomado providências – o português, talvez, porque não possa, os desses países decididamente
porque não querem… Paradigmas não faltam, desde os antigos esquemas de ensino bilingue nos EUA (curriculum escolar dado na língua materna, até que o aluno se possa exprimir em inglês…) até ao acompanhamento dos alunos por falantes do seu idioma (experimentado pela Holanda para meninos cabo-verdeanos).
Fica a dúvida sobre a intencionalidade destas "políticas de indiferença", que contribuem, em concreto, para manter as segundas gerações confinadas ao leque de actividades dos pais.
A recente onda de choque causada nos nossos media pela notícia da proibição do uso da nossa língua no recreio de algumas escolas, cheias de crianças portuguesas, no Luxemburgo, é apenas um sintoma de males maiores. Esses males -  a inadaptação, o insucesso escolar que é o
maior de todos -  têm de ser objecto de pesquisa aprofundada, se preciso for, promovida pelo nosso governo, em parceria com centros de estudo…Urgentemente!
Onde há, na Europa, fora da França uma plêiade de jovens políticos luso-descendentes (que ousam se afirmar-se como tal!), empresários, aos milhares, professores universitários, campeões desportivos – umpouco de tudo? Em França, este "sucesso" começou na escola,naturalmente…