maio 26, 2011

A eterna aventura da expansão…

O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades celebra, essencialmente, o espírito de um Povo – não um acontecimento, uma batalha decisiva, a matriz oficial do nascimento do Reino, a sua fundação ou o seu fundador, mas sim um traço identitário, que nos levou a desempenhar na História do mundo um papel singular e pioneiro. A aventura da expansão! Vivida por gerações sucessivas, e pelo próprio Camões, que soube enaltece-la num poema épico, que, por si só, o imortaliza e nos imortaliza.
Uma aventura antiga, continuada de outros modos, em outros condicionalismos, num encadear de séculos, no curso imparável da nossa emigração, até aos dias de hoje.
Se em quatrocentos e quinhentos os “Lusíadas” rasgaram os horizontes à Humanidade, criaram a era moderna, aproximaram os Povos todos no primeiro movimento de globalização, os Portugueses de agora prosseguem, no mesmo espaço geográfico (que é o das sete partidas do mundo), com os mesmos padrões de comportamento, de convivialidade e vontade de progresso, a construção quotidiana de futuro em sociedades distantes da sua terra, sem nunca esquecerem a Pátria - a “Pátria amada”, como diria o Poeta .
“Os Lusíadas não são nem pretendem ser um poema profético e seria abusivo querer achar nele soluções feitas para os tempos críticos que atravessamos, mas a claridade e a força com que o mundo cultural lusíada permanece vivo no Poema, trazem até nós coordenadas essenciais do ser português que nenhum projecto ou acção nacionais poderão ignorar” .
São palavras ditas no primeiro 10 de Junho que festejei numa comunidade da Diáspora… A meu ver, Camões não podia prever o surgimento das comunidades da emigração, nem a forma actual como elas redimensionam e agigantam a sociedade portuguesa do nosso século, muito para além de um pequeno território, mas a razão de ser desse fenómeno espelha-se já no retrato de um Povo que ele traçou, com a clarividência do seu génio.
Os emigrantes podem reclamar a pertença não ao tempo concreto de uma viagem de aventura, mas a um mundo cultural lusíada, constantemente renovado e sempre marcado pela vontade de “correr mundo”. Com eles, vai a nossa cultura - uma cultura expansiva! (Portugal, no pensamento de Sá Carneiro era “mais uma Cultura do que um território”). Uma razão de esperança, quando Portugal atravessa a maior crise da era moderna.
A interligação e a solidariedade no espaço deste País maior hão-de permitir vencer todos os riscos de uma longa caminhada, em que sempre soubemos transcender-nos, ultrapassar limites, tentar o impossível… e consegui-lo .

Maria Manuela Aguiar
10 de Junho de 2011

maio 25, 2011

O DIA DAS COMUNIDADES

Originalidade nossa, bem portuguesa, a de celebrar o "Dia Nacional" evocando um Poeta. O maior de todos : Luís de Camões. Homem de grande cultura, de superior engenho, génio que brilha entre os génios da literatura universal, mas igualmente um patriota e, como hoje diríamos, um "cosmopolita", um "homem do mundo", que cruzou os mares distantes nas caravelas quinhentistas... Emigrante, como tantos outros Portugueses, antes e depois do seu tempo de vida.
Este é, assim, o dia em que o País se revê no espelho da História e no da actualidade, em tamanho natural - ou seja, na verdadeira dimensão que foi e continua a ser a sua, a de um Portugal- Nação que vive dentro e fora de fronteiras, nos cinco continentes do universo.
Há que ir além da mera comemoração ritual, na nostalgia da grandeza da Coroa Portuguesa, do Estado (perdida há séculos...), pois é preciso saber dar força e dinâmica à realidade da Nação do século XXI, tão cheia de potencialidades (em risco de se perderem...).
Este dia das comunidades portuguesas tem de ser o momento de repensar as políticas da emigração, de dar enfoque às suas traves-mestras.
A concepção de um Portugal como "Nação de Comunidades", Nação populacional identificada, vivida e construida, no tempo presente, pelos cidadãos da Diáspora, a par dos residentes no território nacional, deve muito a Francisco Sá Carneiro. Não é o precursor desta ideia de Pátria (ou "Mátria", como diria Natália Correia), que norteava já Adriano Moreira nos seus pioneiros "Congressos das Comunidades de Língua Portuguesa", dos anos sessenta, ou que refulgia, literariamnete, no discurso oficial do 10 de Junho, desde a restauração da democracia (e lembro, sobretudo, o de Vitorino Magalhães Godinho, logo nos primórdios de mandato do Presidente Eanes).
Porém é, sem dúvida, a Sá Carneiro que se deve a transposição desta ideia de "Nação de Comunidades" para a teoria e a execução de um programa político, com novas Leis, e novas práticas, a partir do seu Governo, em 1980.
Grande era o desafio, grandes foram os obstáculos postos pela oposição parlamentar, nesse ano e nos anos e décadas seguintes, à prossecução das políticas para a cidadania plena dos emigrantes, baseada no princípio fundamental da igualdade de todos os portugueses, onde quer que habitem. Princípio que decorria desta visão Sacarneirista da Nação Portuguesa, naturalmente abrangente de outras vertentes para além da política (direito de votar nos diversos processos eleitorais, direito a representação própria, o direito à dupla ou múltipla nacionalidade...), como o domínio cultural( apoio ao ensino da língua, da literatura, da história e à preservação das tradições) e o domínio social. Apoio, em qualquer destes aspectos, muito muito centrado no movimento associativo e nos media, aos quais se reconhecia um papel fundamentel, bem mais determinante do que o do próprio Estado para a existência do admirável mundo das comunidades portuguesas.
Essas leis pioneiras são bem conhecidas. A que criou o Conselho das comunidades (de natureza associativa) em 1980, o alargamento do recenceamento (1980), a lei da dupla nacionalidade (1981)... E, depois de muita luta, o voto para o Presidente da República (1997) para o Parlamento Europeu (apenas em 2004!)...

maio 18, 2011

Ana del Rio - nova exposição

Os artistas são de todas as terras e de todas as gentes, mas é da diversidade e da
originalidade das suas formas de expressão que se faz a identidade na diferença
de de cada comunidade cultural, de cada terra.
Por isso, ousarei "reclamar" para Espinho a mais -valia que nos dá a inserção, a
permanência de Ana del Rio entre nós, permitindo-nos partilhar a sua pertença
com a Espanha natal (não esquecendo, naturalmente, a influência espanhola,
desde a origem oitocentista, na vida social e cultural espinhense, que, agora,
nela encontra um esplêndido meio de se continuar).
E, por o reconhecermos, gostaríamos de lhe manifestar aqui a vontade de ver
nas Galerias do Forum de Arte e Cultura de Espinho uma sua próxima exposição
individual - uma exposição, por certo, tão fascinante quanto esta.

Lembrámos presença de Ana del Rio na recente 1ª Bienal "Mulheres de Artes" ,
no "Forum". Guardámos na memória as imagens de três telas figurando, cada
uma, mulheres que encarnavam, na perfeição, o espírito daquela iniciativa -
figuras irradiantes de cor, de feminilidade, e de certezas sobre os caminhos a
seguir, num movimento assertivo e gracioso. Ali, tomavam conta do espaço que
lhes estava destinado, humanizando-o, ou melhor, feminizando-o, com uma
mensagem subtil e promissora. A mostrar que, no nosso tempo, a representação
pictórica pode converter-se numa outra maneira de dar às mulheres existência -
na Vida pela Arte .

Maria Manuela Aguiar

(Vereadora da Cultura da Câmara de Espinho)