setembro 19, 2013

Congressismo Encontro 2011


O CONGRESSISSMO COMO ESPAÇO DE LUTA PELA IGUALDADE DE GÉNERO
O "congressismo", uma das heranças feministas do início de novecentos
- entendido em sentido lato, para abranger o esforço de informação,
debate, reflexão, crítica, testemunho, troca de experiências,
reivindicação em múltiplos "fora" e, genericamente,
eventos com projecção mediática - é ainda um dos mais eficazes
instrumentos actuais ao serviço do objectivo de mobilizar as
portuguesas para a intervenção nas comunidades do estrangeiro.
A organização dos vários Encontros Mundiais de Mulheres Migrantes, a
partir de 1985, e de um sem número de conferências e debates sobre a
temática de género ligada à emigração portuguesa, enquadra-se nesta
visão estratégica.
Tem sido, frequentemente, através de fórmulas diversas, iniciativas
conjuntas do governo e de ONG’, caso de muitas das que vêm sendo
levadas a cabo, desde 1994, pela "Mulher Migrante - Associação de
Estudo, Cooperação e Solidariedade". A continuada cooperação entre
Estado e “sociedade civil”, entre mulheres e homens é, sem dúvida, um
aspecto a notar, e não se pode dizer que seja algo de alheio às nossas
melhores tradições, pois, de facto, vai encontrar raízes no passado.
Nesta breve comunicação, terei o cuidado de assinalar, em especial,
algumas das características singulares do paradigma português de luta
pela afirmação da cidadania das mulheres e de registar a recorrência
de singularidades ou originalidades nossas, em épocas tão distintas
como foram o início e o final do Século XX. Há ensinamentos a tirar,
que apontam, ainda que com todos os riscos inerentes à extrapolação,
para as virtualidades de uma mudança rápida do "status quo", de que os
portugueses se
mostram, tão capazes, para surpresa dos outros e, talvez, até também
deles próprios.

I - O PRIMEIRO PARADIGMA - O MOVIMENTO FEMINISMO NO INÍCIO DE NOVECENTOS
O movimento feminista foi, em Portugal, surpreendentemente moderno e
vanguardista na medida soube resistir à tentação do radicalismo, aos
excessos de uma "guerra de sexos", por um lado, e, por outro, ao
mimetismo dos padrões masculinos, em favor de uma assunção plena do
"feminismo feminino", na expressão de Carolina Beatriz Ângelo. As
nossas “Avós” sufragistas, reclamaram, lucidamente, os mesmos direitos
e deveres na "res publica", com a sua própria maneira de ser e de
actuar – em caminhada democrática e solidária, lado a lado, com os
homens. Era já uma vivência da ideia da "paridade", que teorizaram e
quiseram por em prática muito antes da palavra ter feito o seu curso
nas Constituições e nas leis, que hoje nos regem.
Partilhavam, como sabemos, a utopia igualitária que inspirava os
movimentos de luta pela libertação das mulheres por toda a Europa e na
América do Norte, mas moldaram-na à sua feição, com a força da
esperança numa mutação de regime, imediatamente antes e durante o
processo de consolidação da República.
De facto, entre nós, as questões de género e de regime
entrelaçaram-se, num mesmo desígnio de liberdade e progresso, que
parecia capaz de resolver a primeira pelo simples facto de resolver a
segunda – embora, o não viesse a fazer, sem que às mulheres possa ser
assacada a responsabilidade por esse desvio do que poderia e deveria
ter sido o curso da história do feminismo em Portugal.
Aquela dupla pertença foi, a meu ver, a argamassa, a base sólida da
especial cumplicidade que as unia aos revolucionários do outro sexo ,
e as levava a situarem, claramente, a problemática da mulher no quadro
global das transformações do Estado e da sociedade. Era como que a
refundação do País que idealizavam, sem dúvidas de que ela comportaria
o fim de todos os privilégios, incluindo, os baseados no sexo. Não era
uma luta apenas em causa própria, em favor de uma minoria - a elite da
cultura ou da fortuna, a que muitas delas pertenciam - mas em favor de
todas as mulheres, e, mais latamente, da sociedade portuguesa.
Viam o momento de explosão revolucionária, como um tempo de grandes
oportunidades, para o qual estavam, porém, como o futuro demonstraria,
bem mais preparadas do que os homens seus correligionários. Sabiam que
nada aconteceria sem esforço, sem a comprovação da importância do seu
contributo, muito concreto, num combate que só poderia ser ganho pela
força da organização colectiva, pelo movimento conseguido, pela
demonstração pública da inteligência, da coragem, e capacidade de
intervenção cívica de toda uma geração. Não apenas de algumas mulheres
a título excepcional - como as que, em diferentes épocas, venceram a
barreira do absoluto anonimato a que estavam destinadas, em razão do
sexo, na História escrita pelos
homens: (Chefes de Estado, rainhas influentes nos negócios do Reino,
heroínas de revoltas populares e de guerras, sobretudo nas praças de
África, no Oriente, algumas invulgares escritoras ou artistas
imortalizadas pelo talento...) Todavia, o que é raridade não conta. e,
por isso, não destrói, pelo exemplo solitário, os estereótipos de
inaptidão da mulher comum para a coisa pública. Não influencia o
estatuto e os direitos da generalidade das mulheres, como a elite de
novecentos se preparava para tentar.
A tomada da palavra perante multidões, um pouco por todo o país, com
um discurso vogoroso e convincente, tanto por parte de nomes já
consagrados (Osório, Cabete, Veleda…), como também de tantas jovens
desconhecidas, em comícios, em "fora" de reflexão e debate, em acções
de propaganda, constituiu um momento de viragem.
Foi, assim, no campo de acção ou de luta designado por “congressismo”,
que as Portuguesas fizeram a passagem, súbita, inesperada,
espectacular, do círculo doméstico, onde os costumes as confinavam,
para a esfera pública, onde abriram caminhos, que levariam décadas a
percorrer – e que são ainda agora a via aberta para o nosso próprio
trajecto.
Outra das peculiaridades nacionais, revela-se no papel que os homens
desempenharam neste processo. Os líderes republicanos apelaram, eles
próprios, à participação activa das mulheres, deram-lhe, nessa
primeira década de novecentos, a ocasião de aparecer, de tomar o seu
lugar no palco das sessões de propaganda, no turbilhão revolucionário
em que, por igual, se envolveram. Até então, o incipiente movimento
feminista nascia à semelhante dos de outros países europeus - mais
tardio, mais discreto, porventura - mas
avançando, à margem de solicitações partidárias directas, com
republicanas como Ana de Castro Osório e Adelaide Cabete, mas também
com monárquicas, como Olga Morais Sarmento Silveira, Branca de Gonta
Colaço ou Domitília de Carvalho (que haveria de ser, durante o Estado
Novo, deputada na Assembleia Nacional).
As primeiras tomadas de posição, com pouca visibilidade popular, estão
ligadas a organizações pacifistas, como a "Liga Portuguesa da Paz", de
Alice Pestana, que veio a organizar, em 1906, uma "Secção Feminista" e
foi responsável pela que se poderá considerar a primeira sessão
pública de um grupo feminista. Teófilo Braga, um declarado defensor da
emancipação da Mulher, prestigiou o histórico acontecimento com a sua
presença.
As datas são de salientar, porquanto, pouco antes, no ano de 1902, uma
das participantes activas nessas iniciativas, Carolina Michaelis de
Vasconcelos, olhando, com a sua mentalidade germânica, e,
naturalmente, com muita preocupação, o país do sul que escolhera para
viver, escrevia o seguinte:
"O combate das massas feministas, em vista de melhores condições
sociais, está inteiramente por organizar"[...] "O aparecimento de uma
mulher na política seria considerado uma monstruosidade".
Ora apenas dois anos depois, em 1904, Adelaide Cabete, Maria Veleda e
outras mulheres fazem-se ouvir no I Congresso do Livre Pensamento. Em
1906, a própria Carolina Michaelis está entre as impulsionadoras da
"Liga Portuguesa da Paz", em manifestações em que pacifismo e
feminismo se interligam.
A partir do ano seguinte, acentua-se a convergência entre feminismo e
republicanismo e a entrada de muitas notáveis em lojas maçónicas.
É de ressaltar a assombrosa aceleração do processo de participação
feminina, neste curto período, a revelar as contradições, os
anacronismos e a grande capacidade de os superar - essa tal
capacidade de que, de vez em quando, dá provas a sociedade portuguesa,
com uma plasticidade, uma maleabilidade, que não se adivinha de fora e
é preciso saber descobrir, de dentro. Ainda por cima, em geral, o
inesperado
protagonismo feminino, essa suposta "monstruosidade", despertava nas
massas um enorme entusiasmo e aplauso, demonstrando que as afinidades
ideológicas superavam facilmente os preconceitos misóginos. (1)
Por parte do povo, a reacção era, sem sombra de dúvida, espontânea.
Por parte das lideranças, a utilização das mulheres consumava uma
hábil estratégia política. Vejamos: em 1908, António José de Almeida,
Bernardino Machado e Magalhães Lemos dirigiram a ilustres
correligionárias o convite para criarem "A “Liga Portuguesa da Mulher
Republicana", que foi a maior das associações feministas – com cerca
de um milhar de militantes. A “Liga” deve a sua génese a esse convite,
assim convertido numa das excentricidades da história do nosso
movimento de emancipação da mulher. (2)
No ano seguinte, a LPMR é formalmente integrada nas estruturas do
Partido Republicano, tornando-se como que o equivalente aos
departamentos femininos de muitos partidos actuais.
Ao período de grande unidade, que assinalou a última fase da monarquia
e a da proclamação da República, seguir-se-á o das múltiplas cisões do
movimento feminista, fatalmente determinadas pelo incumprimento das
promessas do novo regime, sobretudo no que respeita ao sufrágio. (3)
Os "pais fundadores" da República, não se haviam limitado a chamar -
como tantas vezes e em tantos países viria, posteriormente, a suceder
- meras figuras decorativas, dispostas a fazer o jogo do partido e dos
seus interesses, mas intervenientes de grande estatura moral e
intelectual, escritoras, jornalistas, médicas, professoras,
advogadas... Poucas foram as que toleraram a dolosa recusa do direito
de voto nas sucessivas leis eleitorais da República. A maioria
abandonou a "Liga", logo em 1911. Ficaram as que, como Maria Veleda,
eram verdadeiramente mais "republicanas do que feministas", e
colocavam, estrategicamente, o esforço de educação cívica das mulheres
antes da concessão de direitos políticos, como condição “sine qua non”
. As sufragistas, sem nunca enjeitarem os seus ideais republicanos,
multiplicaram associações independentes e ligadas a movimentos
internacionais, como foi o caso
da Associação de Propaganda Feminista de Ana de Castro Osório (1911) e
do Conselho Nacional da Mulher Portuguesa, por muitos anos liderado
por Adelaide Cabete, e que viria a ter, como última presidente, nos
anos 40, Maria Lamas.
A prioridade do movimento sufragista está bem expressa no grito de
revolta de Ana de Castro Osório: "Se uma República nos expulsa das
suas leis cívicas, não podemos considerar nossa a Pátria onde não
temos direitos, onde não temos voz para protestar".
Nos seus turbulentos 16 anos de vida, a República perdeu-se pela
incapacidade de agregar crescentemente os portugueses, de responder
aos anseios democráticos das mulheres e de largos sectores da
população, que foram marginalizados num universo eleitoral cada vez
mais reduzido (mais restrito do que o existente na última fase da
monarquia…)
Por medo de um voto popular, que não soube atrair, a República
incumpriu as promessas de sufrágio universal, não soube, de facto
enraizar-se, crescendo no apoio popular e não pode resistir ao golpe
militar de 1926… A que se seguiu uma tão longa ditadura.
As republicanas alcançaram, todavia, vitórias em domínios que
consideravam, justamente, do maior relevo, como as novas leis da
família, a lei do divórcio, a extensão da rede de ensino, a
co-educação, o acesso das mulheres à função pública, a carreiras
profissionais - reformas que transformaram a sociedade portuguesa, e
que, apesar de muitos retrocessos, de alguma forma, resistiram durante
a ditadura e o Estado Novo, levando ao acesso, limitado embora, ao
voto e à política, ao ensino, à participação no mundo do trabalho, da
cultura.
As mulheres não esmoreceram, prosseguiram o seu infindável combate
cívico. O I Congresso feminista acontece quase em fim de regime, em
1924. O II Congresso realiza-se em 1928, já em plena ditadura. Quase
duas décadas depois, em 1947, um outro grande evento dá a conhecer as
mulheres da cultura, no país e no mundo - uma audaciosa iniciativa do
CNMP, presidido pela grande intelectual, jornalista e escritora Maria
Lamas, que hoje justamente, evocamos neste Encontro. A visibilidade e
o êxito do “feminino” no campo do pensamento, da escrita, da livre
expressão, foram vistos como realidades verdadeiramente subversivas e,
por isso, intoleráveis para o regime. O CNMP foi extinto e Maria Lamas
perseguida.
Podemos assim dizer que um ciclo se fecha e uma época incomparável
termina no rasto do sucesso de um último congresso...

Emigração feminina hoje


Entrevista de José Rodrigues e Mª do Céu Campos - Portugal Post

1 - A "Mulher Migrante, Associação de Estudo, Cooperação e
Solidariedade" (AEMM) tem esta designação muito longa a fim de chamar
a atenção para as três vertentes em que trabalha, tanto em favor das
estrangeiras em Portugal como das portuguesas no estrangeiro. Grande
parte da sua actividade desenvolve-se dentro do país em colóquios, em
debates, na promoção de estudos e de informação sobre a emigração e a
imigração, em campanhas de sensibilização para a vivência da cidadania
pelos estrangeiros, e, em particular, pelas mulheres. A AEMM está
eleita, por larga margem de votos, para a Comissão Municipal de
Interculturalidade e Cidadania (da Câmara de Lisboa) e para o Conselho
Consultivo da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, é
reconhecida pelo Alto Comissariado para para a Imigração (ACIDI),
colabora com outras associações, com Universidades, centros de
investigação, escolas, Câmaras Municipais. Uma agenda cheia, com a nossa
diáspora feminina sempre presente!
Fora do País, mantemos contacto e cooperação permanente com uma rede de
parceiros, que começou a desenhar-se num Encontro Mundial de Mulheres
da Diáspora, que realizámos em 1995, em Espinho, e que contou com mais de 300
participantes. Ficámos, desde, então, com interlocutores e
representantes em países de todos os continentes. Temos núcleos nos EUA, em
Newark, no Brasil (Rio e São Paulo) e "associações irmãs" na Argentina - já com
 um longo e notável percurso - e na Venezuela, esta constituida há poucos meses.
Depois de um novo Encontro Mundial em Novembro de2011, na cidade da Maia, o
 ano de 2012 foi um período de expansão, nas Américas, e na Europa, onde destaco o
movimento que se está a iniciar na Inglaterra - as "Lusófonas de
Londres" -  e a criação de Academias Séniores em Toronto e Buenos Aires.
Na AEMM, acreditamos nas virtualidades do chamado" congressismo", que
foi tão importante nos inícios do movimento feminista, desde fins do século XIX.
E continua a ser!  Debates, seminários, reuniões internacionais, têm-nos servido para
apresentação de estudos e teses científicas, para partilha de experiências, para dar uma visão
comparatista dos problemas e de soluções possíveis. Mas, à força das palavras,
das ideias, tem de seguir-se a força das acções - o que nem sempre se
consegue. Nós podemos levar sugestões, propostas a círculos das
comunidades, mas a obra, quando se afirma, é mérito de quem trabalha
em concreto para implementar os projectos, quer de forma autónoma, quer
com a nossa em colaboração.


2 - A emigração têm feito parte da minha vida ao longo dos últimos 25
anos. É um domínio que me interessa pessoalmente, humanamente, muito
para além de cargos politicos que exerci no passado, cada vez mais
distante. Não pretendo ser uma autoridade na matéria, mas reconheço
que tenho observado, acompanhado e procurado agir em favor da melhoria
do estatuto de direitos e da abertura efectiva à participação
igualitária dos emigrantes, sem esquecer as mulheres.
Vejo a emigração, ao contrário do que se previa e dizia, como uma via
de emancipação das mulheres, porque, em geral, lhes dá acesso ao mundo
do trabalho, e, com isso, autonomia e uma boa integração na nova
sociedade, que acaba por influenciar poderosamente a integração de
toda a família.
Na Europa essa é, de facto, a regra. Nos EUA e no Canadá, também. Por
isso, nesta parte do mapa das nossas migrações há mais semelhanças do
que diferenças, no que respeita à situação das portuguesas. Nos outros
continentes há mais mulheres que se mantêm nas funções tradicionais.
Quanto mais elevado é o rendimento ou estatuto do marido, mais isso
tende a acontecer... Mas praticamente só na 1ª geração. As jovens
enveredam, quase todas, por carreiras profissionais, para orgulho de
suas mães.
No que respeita ao percurso feminino no nosso associativo, os obstáculos têm
sido enormes, embora haja progressos, aqui e ali, não ainda genericamente. Este
 é um dos dados de facto que explica a subsistência do associativismo feminino e
que justifica a necessidade do seu crescimento. Pessoalmente, penso
que o equilíbrio de género no dirigismo associativismo é o ideal, a meta final.
 Nós, na AEMM, temos como membros de pleno direito mulheres e homens, que,
lado a lado, lutam pelas mesmas causas. As questões de género
respeitam a todos e todos devem contribuir para sociedades mais
justas, mais inclusivas e, por isso, também mais eficazes e até mais
felizes...


3 - A ideia da igualdade de género faz hoje um percurso triunfante em
sociedades democráticas, mas não podemos esquecer que é coisa muito
recente - décadas, menos de um século - e que em grandes regiões do
mapa-mundi, persistem situações de verdadeira escravatura das mulheres.
A revolução democrática passa pelo interior da família, que agora assume o seu
governo em diarquia de marido e mulher, iguais em direitos e em poder
de decisão. Famílias mais dialogantes também em relação aos filhos.
Com os homens a assumirem crescentemente a parentalidade, as
obrigações no lar e as mulheres a intervirem, como cidadãs e
profissionais, fora de casa, onde estavam tradicionalmente
"emparedadas" .
Eu adiro ao adjectivo que usou:equilíbrio salutar! O equilíbrio é sempre
salutar. Permite a cada um escolher o seu caminho, sem a barreira dos
preconceitos, que predeterminavam as funções de cada sexo. É no
pluralismo de opiniões, de sensibilidades e de culturas, no qual se
engloba a componente de género e geração, que a democracia caminha e
se aprofunda. Por isso, para acelarar o ritmo das transformações, no
campo da política, sempre defendi o sistema de quotas para chegar à
paridade, com base na presunção realista da igualdade de capacidades entre os
sexos. Como costumo dizer, "à sueca"! Os resultados estão à vista,
tanto na Suécia e outros países nórdicos, como no sul da Europa, com a
Espanha à frente.. A recente introdução de quotas para mulheres e
homens na administração de empresas privadas, em países pioneiros,
como a Noruega ou o Canadá, traduziu-se em ganhos enormes de
produtividade e de lucros. Mostram-no os números, objectivamente. E
não creio que sejam fruto de uma superioridade feminina, mas sim da
conjugação criativa de modos diversos de ver e de actuar de homens e
mulheres. É o efeito do equilíbrio salutar, que a AEMM tanto se
empenha em promover em clubes e associações.


4 - Ao longo dos anos, fizemos várias visitas semelhantes, quase
sempre preparadas com antecedência, mas concentradas no tempo de
estadia, que é sempre breve. A forma como decorrem, o número e qualidade
 das intervenções podem ser um bom preságio, mas o mais importante é o dia seguinte...
É a sequência! Temos essa experiência vivida desde os "Encontros
para a cidadania", que levamos a cabo em vários continentes e países,
entre 2005 e 2009, com o apoio muito directo do Secretário de Estado António
Braga. Uma forma de parceria que prosseguimos com o Dr José Cesário.
Devemos-lhe o estímulo e o apoio para a realização do Encontro
Mundial de Mulheres da Diáspora em Novembro de 2011. A partir daí, a
convite de participantes desse Encontro, relançamos iniciativas de
mobilização das mulheres das comunidades, para maior intervenção, com
desenvolvimento de projectos, como o das universidades seniores (ou
academias e tertúlias de convívio para os mais idosos), ou a recolha
de narrativas de vida, que são meio insubstituivel de fazer a própria
história da emigração no nosso tempo.
Ultimamente, temos posto o acento também no domínio cultural, na
defesa da língua, nas artes pláticas, na escrita - aquele em que as
mulheres são já iguais aos homens. Há que realçar esse facto,  para
que sirva de estímulo a outras mulheres. Foi o que procuramos fazer em
2012 em diversas comunidades, em algumas já com resultados visíveis.
Noutras, caso da Alemanha, que foi a última do ano, é cedo para fazer
o balanço. Foi através da Maria do Céu Campos, uma das mais activas
participantes no Encontro Mundial de 2011 e a nossa principal
interlocutora na Alemanha, que obtivemos o contacto de Maria Kosemund
e das outras organizadoras das reuniões de Mainz e Wiesbaden. Acredito
que tentarão concretizar as principais propostas aí apresentadas. E queremos
continuar o trabalho noutras regiões,  com outras comunidades.

5- A meu ver, na Alemanha, como um pouco por todo o lado, há no
associativismo lugar para maior intervenção feminina, em outros
moldes, em outros patamares. Estar na cozinha, assegurando uma das
principais fontes de receita dass colectividades, manter "a casa em
ordem", como acontece na sua própria casa, é certamente importante.
Mas porque não poderão também pertencer às direcções? Aí poderão
inovar, tornar as sedes mais atraentes para os jovens, que tendem a
afastar-se, para os mais velhos (que lá poderiam, como em algumas já
acontece, ter o seu "centro de dia", a sua "universidade sénior", a
sua margem de intervenção), para as próprias mulheres, para acolher os
emigrantes que estão a chegar... Hoje, em muitas regiões do mundo,
fala-se de decadência do associativismo, da dificuldade de encontrar
dirigentes. Dar lugar às mulheres duplica o campo de recrutamento e
pode trazer interessantes propostas, num novo relacionamento de género
e geração.
Acredito que isso aumentará a convivialidade e o dinamismo social, que
pode igualmente ser favorecido por esquemas mais informais de
organização, como grupos de reflexão e de intervenção social, círculos
culturais, literários, musicais, simples tertúlias de amigos, vindos
dessas "minorias" mais marginalizadas, se souberem atraí-las à sede
das associações.
Na nossa mais recente publicação,, uma revista que tem por título
"Entre Portuguesas num mundo sem fronteiras",  entrevistámos o Dr José Cesário
 e fizemos manchete com esta sua declaração "sem Mulheres, não há reforma no
associativismo". É verdade e é bom que os governantes  o reconheçam.


6 - A história da emigração portuguesa mostra que os laços de ligação
ao País não se perdem com o enraizamento noutras sociedades. Pelo
menos no que respeita às primeiras gerações. E, às vezes, também até
nas gerações seguintes, muito por mérito e influência das Mães e das
Avós, que ensinam aos jovens a sua língua e a afeição à sua cultura.
Os governos não conseguem alterar isto! Sabemos bem que  não só a
Alemanha, mas quase todos os países europeus de imigração desenvolvem,
 mais ou menos abertamente, políticas de pura assimilação dos estrangeiros,
 ao contrário do que acontece nas Américas, em países construidos por gente
de todas as origens e, por isso, conscientes de uma identidade nacional feita de
diversidade étnica e cultural.
Ao longo da minha vida na política lutei sempre pela dupla nacionalidade, dentro
e fora do país,  na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, na
qual fui representante de Portugal durante 13 anos. Considero que dupla nacionalidade
corresponde à dupla ligação genuina, sentida a duas Pátrias, unidas no percurso
 migratório individual. Como nós amamos Mãe e Pai a 100%, também podemos
 amar duas culturas e dois países a 100%.
Acredito que as Portuguesas da Alemanha serão sempre portuguesas e
espero que se sintam, também, alemãs, correspondendo à vontade da
Alemanha de as tratar como tal. E ainda bem - ainda bem que superou a tese
dos imigrantes como "trabalhadores convidados".


7 - Gostaríamos de contribuir para um melhor conhecimento do papel das
portuguesas na sociedade alemã, para um movimento de cooperação entre
elas e de poder dar testemunho dessa realidade nas nossas
publicações, divulgando-a junto das nossas associadas em outros
países. De ser um elo de ligação entre as Portuguesas da Alemanha e as
Portuguesas com quem já cooperamos noutras latitudes.
Referirei alguns dos projectos que lançámos para cumprir as
recomendaçõe do Encontro Mundial de 2011: as Academias Séniores de
Artes e Saberes (ASAS). a recolha de histórias de vida, de que já
falei,  o levantamento da situação das mulheres no dirigismo
associativo, o acompanhamento da nova emigração, com estudos,
estatísticas, abordagem dos seus problemas, enfoque nas suas  realizações,
debate sobre as duplas pertenças e a capacidade muito
feminina de preservar o património cultural (as mulheres guardiãs da
cultura e promotoras de integração, como disse), e ligado a este
aspecto, a preservação da memória, a homenagem a mulheres
excepcionais, que foram forçadas ao exílio, como Maria Lamas e Maria
Archer, jornalistas, escritoras, que dedicaram a vida à luta pelos
direitos da mulher, e pela liberdade e democracia para Portugal e que
nós lembrámos, recentemente, numa sucessão de colóquios, no Teatro da
Trindade, em Lisboa, no Guarani, no Porto, em bibliotecas, em escolas,
com publicações, cujo lançamento é ocasião para novos debates. Isso tem
acontecido no país, de norte a sul, e é nosso propósito estender a
iniciativa às comunidades, destacando exemplos da emigração do passado
para pensar a do futuro.
Há muito mais a fazer, na linha das propostas feitas pelas Emigrantes no
congresso de 2011! Pergunta-me como resolvemos a questão de encontrar
locais para as nossas reuniões. Em regra, contamos com outras instituições
que nos abrem as portas, em salas de associações, anfiteatros de municípios
 ou universidades, bibliotecas públicas... E Embaixadas e consulados
que nos têm apoiado de forma extraordinária, sempre que pedimos a sua mediação.


8 - Sim , nós somos uma associação que não faz política partidária. O
nosso partido são as mulheres, as emigrantes, os seus direitos, como
dizia a notável republicana e feminista Ana de Castro Osório. Estamos
unidas pela causa da plena cidadania feminina e temos trabalhado bem
com governos de diferentes partidos, contribuindo para a execução de
programas para a emigração. com a componente de género - num ambiente
de consenso e com uma constância, que não se verificará em outros
aspectos das políticas para as comunidades. Continuamos o espírito de
um memorável 1º Encontro de Mulheres, na cidade de Viana do Castelo,
em 1985, que foi, por sinal, o primeiro convocado por um governo de um
país de emigração. Esse Encontro veio a inspirar a criação da AEMM,
alguns anos depois, em 1993. Na sua matriz está a vontade de
cooperação Estado- Sociedade Civil, com respeito pela autonomia das
respectivas esferas.. Uma herança que queremos continuar e que tem encontrado
receptividade nos sucessivos governos..


9 . Um jornal prestigiado, um jornal que vive no centro das
comunidades portuguesas e lhes dá voz, é, evidentemente, um
interlocutor esplêndido!  Queremos contribuir para transformações de mentalidades
 e atitudes a imprensa é instrumento fundamental para atingir esses fins, para
 promover a mudança de opiniões, o combate aos preconceitos.
Estou a lembrar-me de uma série de debates que realizámos, há alguns
anos, nos EUA e no Canadá sobre "acção e representação das mulheres
nos media" - e em que foi bem destacado o papel dos jornalistas e dos
jornais nos avanços registados na forma de ver e reconhecer as
emigrantes.
Em nome da AEMM agradeço esta oferta de cooperação e, desde já,
manifesto o nosso desejo de corresponder. À Maria do Céu Campos e ao
José Rodrigues já os consideramos aliados para muitas futuras acções.