fevereiro 23, 2016

A PRIMEIRA PRIMEIRA- MINISTRA de PORTUGAL





fevereiro 09, 2016

CRÓNICAS DE LONDRES - (Edição 1494 - 04/02/16) Tributo Adiado. Até quando? “A Guerra Colonial não acabou para os portugueses. Os que sofreram o avassalador esquecimento a que foram votados, o funesto desrespeito pelos seu direitos, a cruel ausência de apoio aos estropiados e às famílias dos mortos, o agravamento atroz das feridas sociais, que silenciosamente, consumiram destroços humanos um dia recrutados à força”. Jorge Ribeiro, em INHAMINGA O ÚLTIMO MASSACRE (Edições Afrontamento) Mão amiga fez chegar às minhas mãos um livro fascinante. Uma obra de experiências, vívidas e vividas, pungente, emocional e minuciosamente narradas pelo próprio. Intitulado Por Xanas do Leste de Angola, embora não abertamente, uma autobiografia, obviamente que o é, mas romanceada. O autor, um então jovem militar com a patente de alferes, com nom de pen Montenegro, mas na vida real autor da obra, atualmente Engenheiro Ernesto Fonseca, relata pormenorizadamente não apenas os seus feitos, como dos colegas que chefiou, assim como de outros oficiais. Tenho lido várias obras, igualmente experiências narradas pelos próprios intervenientes das chamadas Guerras do Ultramar, nomeadamente as do historiador Prof. Jorge Ribeiro. Esta, porém, é diferente pela descrição não apenas da ação, mas da clara descrição do meio em que se moviam e atuavam. Nela abunda o pormenor, o detalhe das carregadas emoções e expetativas. Eu próprio tenho um familiar que por ter sido igualmente ativo participante, evita falar das suas experiências, tal o trauma psicológico que o avassala. Extravasa os seus sentimento através da pintura, trasladando para a arte muitos dos sentimentos que não quer verbalmente expressar! O alferes Montenegro não as sufoca. Num exercício psicológico desta sua notável obra retrata as suas experiências, qual paciente recostado na sua poltrona metódica e paulatinamente as confessa ao seu psicólogo. Abomino o colonialismo e a maior parte do que dele deriva. Afinal nada mais é que um subproduto do inaceitável imperialismo. E, neste contexto, a imposição e consequente deposição noutros povos de hábitos e culturas que lhes eram estranhas. Psicologicamente a tortura da superioridade e do poder! Ernesto Fonseca, que, tal como muitos outros lembra terem generosamente vertido a sua juventude, e nove milhares o seu sangue a favor não de um ideal, mas da Pátria, grita com compreensível azedume “este milhão de jovens não foi um milhão de fascistas que partiu para África, de armas na mão, para subjugar populações. Nenhum de nós era fascista!” E continua: “A juventude daquele tempo respondeu em bloco, impregnada de sentimentos patrióticos, por isso merece o respeito de todos nós”. Meio século volvido, é de acrescentar, não apenas respeito, mas admiração e orgulho! Admiração não por uma causa de outros tempos, que atual e mui apropriadamente se condena. Este milhão e os nove milhares que perderam a vida, incluindo o nativo colega do autor-soldado, por eles apenas referido pelo “62”, merecem a nossa gratidão. A gratidão de um País cuja história, com capítulos menos dignos, como o da colonização, mas pior, da escravatura, são atualmente condenáveis. Mas não eles, os intervenientes, cuja generosidade, que ele próprio não transparece, interpretando antes, como qualquer bom militar e líder, como irrefutável dever. Um débito ainda por saldar! Uma dívida que retarda! Quer em termos de homenagem e preito de gratidão aos ainda vivos, mas pior, aos que caíram para sempre e cujos restos permanecem negligenciados, abandonados, em vários locais espalhados no vasto e apenas definido por Ultramar. Tributo. Preito que retarda. É tempo que se faça justiça! É tempo que historiadores se debrucem e tracem o nosso historial, o historial de uma juventude generosa, para bem da memória futura. Que não o deixem a embora bem intencionados colegas estrangeiros, mas não suficientemente conhecedores das nossas profundas tradições e rica cultura. Como abominador da guerra e dos múltiplos ismos, mas vivente num país que todos os anos homenageia os que continua a considerar como seus heróis, e que nas duas Grandes Guerras, aqueles que nos campos de batalha caíram para sempre, são perenemente homenageados com lápide própria, em cemitérios próprios, e que quer nas freguesias de nascimento, assim como no rincão pátrio lhes é prestado o devido tributo, com os seus nomes gravados. Gravados para a História. Um país como o nosso, que se orgulha da sua história e que canta o “seu nobre povo” não pode, nem deve continuar a ignorar o saldo dessa enorme dívida dando aos poucos ainda vivos o respetivo tributo e aos restos mortais desses generosos jovens o digno lugar de repouso que há muito merecem. “Por Xanas do Leste de Angola”, de autoria de Ernesto Fonseca, é uma edição de Chiado Editora. Um livro a não perder!

POR XANAS DO LESTE DE ANGOLA o comentário de GILBERTO FERRAZ

CRÓNICAS DE LONDRES - (Edição 1494 - 04/02/16) Tributo Adiado. Até quando? “A Guerra Colonial não acabou para os portugueses. Os que sofreram o avassalador esquecimento a que foram votados, o funesto desrespeito pelos seu direitos, a cruel ausência de apoio aos estropiados e às famílias dos mortos, o agravamento atroz das feridas sociais, que silenciosamente, consumiram destroços humanos um dia recrutados à força”. Jorge Ribeiro, em INHAMINGA O ÚLTIMO MASSACRE (Edições Afrontamento) Mão amiga fez chegar às minhas mãos um livro fascinante. Uma obra de experiências, vívidas e vividas, pungente, emocional e minuciosamente narradas pelo próprio. Intitulado Por Xanas do Leste de Angola, embora não abertamente, uma autobiografia, obviamente que o é, mas romanceada. O autor, um então jovem militar com a patente de alferes, com nom de pen Montenegro, mas na vida real autor da obra, atualmente Engenheiro Ernesto Fonseca, relata pormenorizadamente não apenas os seus feitos, como dos colegas que chefiou, assim como de outros oficiais. Tenho lido várias obras, igualmente experiências narradas pelos próprios intervenientes das chamadas Guerras do Ultramar, nomeadamente as do historiador Prof. Jorge Ribeiro. Esta, porém, é diferente pela descrição não apenas da ação, mas da clara descrição do meio em que se moviam e atuavam. Nela abunda o pormenor, o detalhe das carregadas emoções e expetativas. Eu próprio tenho um familiar que por ter sido igualmente ativo participante, evita falar das suas experiências, tal o trauma psicológico que o avassala. Extravasa os seus sentimento através da pintura, trasladando para a arte muitos dos sentimentos que não quer verbalmente expressar! O alferes Montenegro não as sufoca. Num exercício psicológico desta sua notável obra retrata as suas experiências, qual paciente recostado na sua poltrona metódica e paulatinamente as confessa ao seu psicólogo. Abomino o colonialismo e a maior parte do que dele deriva. Afinal nada mais é que um subproduto do inaceitável imperialismo. E, neste contexto, a imposição e consequente deposição noutros povos de hábitos e culturas que lhes eram estranhas. Psicologicamente a tortura da superioridade e do poder! Ernesto Fonseca, que, tal como muitos outros lembra terem generosamente vertido a sua juventude, e nove milhares o seu sangue a favor não de um ideal, mas da Pátria, grita com compreensível azedume “este milhão de jovens não foi um milhão de fascistas que partiu para África, de armas na mão, para subjugar populações. Nenhum de nós era fascista!” E continua: “A juventude daquele tempo respondeu em bloco, impregnada de sentimentos patrióticos, por isso merece o respeito de todos nós”. Meio século volvido, é de acrescentar, não apenas respeito, mas admiração e orgulho! Admiração não por uma causa de outros tempos, que atual e mui apropriadamente se condena. Este milhão e os nove milhares que perderam a vida, incluindo o nativo colega do autor-soldado, por eles apenas referido pelo “62”, merecem a nossa gratidão. A gratidão de um País cuja história, com capítulos menos dignos, como o da colonização, mas pior, da escravatura, são atualmente condenáveis. Mas não eles, os intervenientes, cuja generosidade, que ele próprio não transparece, interpretando antes, como qualquer bom militar e líder, como irrefutável dever. Um débito ainda por saldar! Uma dívida que retarda! Quer em termos de homenagem e preito de gratidão aos ainda vivos, mas pior, aos que caíram para sempre e cujos restos permanecem negligenciados, abandonados, em vários locais espalhados no vasto e apenas definido por Ultramar. Tributo. Preito que retarda. É tempo que se faça justiça! É tempo que historiadores se debrucem e tracem o nosso historial, o historial de uma juventude generosa, para bem da memória futura. Que não o deixem a embora bem intencionados colegas estrangeiros, mas não suficientemente conhecedores das nossas profundas tradições e rica cultura. Como abominador da guerra e dos múltiplos ismos, mas vivente num país que todos os anos homenageia os que continua a considerar como seus heróis, e que nas duas Grandes Guerras, aqueles que nos campos de batalha caíram para sempre, são perenemente homenageados com lápide própria, em cemitérios próprios, e que quer nas freguesias de nascimento, assim como no rincão pátrio lhes é prestado o devido tributo, com os seus nomes gravados. Gravados para a História. Um país como o nosso, que se orgulha da sua história e que canta o “seu nobre povo” não pode, nem deve continuar a ignorar o saldo dessa enorme dívida dando aos poucos ainda vivos o respetivo tributo e aos restos mortais desses generosos jovens o digno lugar de repouso que há muito merecem. “Por Xanas do Leste de Angola”, de autoria de Ernesto Fonseca, é uma edição de Chiado Editora. Um livro a não perder!