junho 28, 2009

GALA dos TALENTOS

Uma bela festa de reconhecimento dos talentos da Diáspora, transmitida, em directo, para todo o mundo, através de uma impecável transmissão da RTP1 e dos seus canais internacionais.
Ocasião para rever bons amigos e para com eles confraternizar, sem "problemas de consciência", porque, como Vice-Presidente do júri, presidido pela Drª Maria Barroso, não tive de fazer nenhuma escolha, isto é, de votar ou desempatar votações. O "embaraço da escolha", como, em francês, diriam os franceses, ficou inteiramente a cargo dos juris sectoriais, cada um deles composto por 3 personalidades de relevo, num determinado domínio.
O Canadá, com seis nomeações e três vencedores, foi destaque!
Por sinal, todos velhos amigos. Por isso, digo: que bom não ter nada a ver com a dacisão e poder festejá-la com eles, à vontade.
E, no final, depois da cerimónia muito formal, como é devido, voltar aos bons tempos de conversa heterodoxa com o Malato, com a serena Marta Leite Castro , ao lado, lembrando o imcomparável programa para o "País inteiro, sem esquecer a emigração", que foi o primeiro "Portugal no Coração", o que nasceu e cresceu - tão surpreendentemente bem! - nos estúdios nortenhos do "Monte da Virgem".
Algumas, poucas, fotos, da minha máquina, que deixa muito a desejar...

junho 24, 2009

DUAS EM UMA: ELEIÇÃO E SONDAGEM

Novo "record" de abstenção foi batido nos círculos da emigração, nestas eleições para o Parlamento Europeu (PE) - mais de 97%.

Nada de muito surpreendente, porque os partidos concorrentes se "abstiveram", por seu lado, totalmente, de fazer campanha no estrangeiro. E, a tanto desinteresse, só pode um eleitorado assim completamente marginalizado responder com o mesmo desinteresse. Estamos caídos num círculo vicioso...

O declínio acentua-se, como as estatísticas o demonstram, no modo de votação presencial - caso das "presidenciais" e das "europeias". Ao que julgo, por ser maior a dificuldade prática de a exercer, provocada pelas distâncias a que muitos portugueses se encontram dos consulados, sobretudo nas comunidades transoceânicas. Mas não só: também pela indiferença dos candidatos. Particularmente chocante nas "presidenciais", porque alguém que aspira a ser PR devia dar exemplos de solidariedade e de vontade de aproximação a todos os concidadãos, por igual. Até hoje, bem vistas as coisas, nenhum o soube ou o quis fazer.
Nas primeiras eleições, foi o descaso total. Nem contacto pessoal, nem "mailing", nem sequer nomeação de mandatários, na maioria das áreas consulares.
Nas segundas, houve candidatos que realizaram viagens-relâmpago a duas ou três comunidades, das mais concentradas, vistas, porventura, como as mais rentáveis, em termos de apoios. Foi escasso esforço...
Do lado dos partidos, idêntica atitude, não tanto nas "legislativas", mas , como está à vista de todos, nestas "europeias": não se investe, onde se considera que não vale a pena. É a pura e simples "caça ao voto", sem o espírito cívico e a componente idealista, que deviam estar, e não estão, no centro da vida pública.
Só na escolha de deputados, que pode, eventualmente, fazer ou desfazer uma maioria parlamentar, julgam útil preparar informação, com um propósito mobilizador (pelo menos um colorido desdobravel, com princípios programáticos, meia dúzia de promessas e de compromissos, as fotos dos líderes e dos cabeças de lista - mensagens, que enviam, pelo correio, aos cidadãos constantes dos cadernos eleitorais). Custa uns milhares largos de euros, mas é uma obrigação que os maiores partidos vão cumprindo, conscientes de que não há alternativa de comunicação eficaz com a generalidade dos portugueses dispersos pelo mundo afora.
E não há mesmo, muito embora outras formas de esclarecimento e incentivo a possam complementar. Recordo, por exemplo, as palestras, e os debates promovidos, aquando das primeiras participações dos portugueses residentes em França nas "autárquicas" desse país, pelo José Machado, como conselheiro do CCP e dirigente federativo, assim como os cartazes e panfletos, amplamentente difundidos pelas associações, a incitar ao exercócio da cidadania. Eu própria, ao tempo, deputada, estive lá, em muitas dessas reuniões.
Quem pode, agora, afirmar que procedeu do mesmo modo?
Fica, sim, a sensação de que se as listas concorrentes ao PE "abandonaram" a emigração, e, que, pelo seu lado, as nossas autoridades, o CCP, o movimento associativo não contribuiram suficientemente para colmatar a lacuna.


II - Era esta a primeira vez que os emigrantes do círculo "Fora da Europa" votavam, na qualidade de "cidadãos europeus", que são e sempre foram, desde a adesão de Portugal, ainda que muitos o ignorem - com o mesmo estatuto e as mesmas prerrogativas dos que vivem no território da "União", no que respeita a livre circulação, a criação de empresas, à procura de emprego ou à fixação de residência no território de qualquer dos Estados membros e, a partir de agora, com o direito de voto no PE.
Pena que não os tenham, suficientemente, informado do significado e importância do acto, depois de mais de duas décadas de exclusão - devida, afinal, a um veto do PR, com envio para o Tribunal Constitucional do diploma com que o Governo (de Cavaco Silva), logo após a adesão à CEE, procurou dar-lhes a plena cidadania europeia .
A declaração de inconstitucionalidade foi aprovada por maioria, com este argumento principal: a Constitutição só concederia aos emigrantes, a título de excepção, um "voto de menor peso", sem aplicação do princípio geral da proporcionalidade, pelo método de Hondt (e para eleger apenas quatro deputados, divididos por dois círculos próprios).
A meu ver, fraco argumento, que caiu por terra no preciso momento em que foi reconhecido aos emigrantes, em 1997, o sufrágio na eleição presidencial, em círculo único, pelo método de Hondt...
A questão, entre nós, foi sempre mais política do que jurídica.
Do ponto de vista do Direito, a razão porque o Tratado constitutivo da CEE deixou a atribuição do voto nas "europeias" ao arbítrio dos Estados membros foi a do respeito pela coerência interna das diversas ordens jurídicas - há países que a encaram diferentemente, permitindo ou vedando a participação política dos expatriados, face à realidade histórica e actual da sua "diáspora", em alguns muito forte e com grandes ligações à terra de origem, ao contrário do que em outros se verifica.
Todavia, em regra, ou a aceitam em eleições nacionais e europeias e nacionais, como é comum , da Espanha à França ou Alemanha, ou a rejeitam em ambos os casos, como é tradição nórdica.
O que não fazia sentido era a originalidade portuguesa de consentir o "mais", o sufrágio para os nossos orgãos de soberania, e proibir o "menos", a eleição dos representantes numa instituição, que ainda nem sequer é, apesar do progressivo aumento das suas competências, um verdadeiro parlamento.
Faltava, pois, em absoluto, coerência ao sistema eleitoral português.
Há muito que eu vinha propondo que o PSD retomasse a sua proposta inicial, dos anos 80, e, em 2004, no recomeço dos trabalhos em São Bento, , a direcção do grupo parlamentar, agendou, finalmente, esse meu velho projecto .
Pelas reacções imediatas, logo se percebeu que as velhas fracturas ideológicas, aliás mais de natureza cultural e e histórica do que decorrentes de um moderno confronto ideológico entre esquerda e direita, resistiam ao passar do tempo.
O debate - não podia adivinhar que uma inesperada antecipação de eleições o converteria no meu último debate na AR ... - colocou, de um lado, a favor, o PSD, o CDS e o BE (Bloco de Esquerda), e, do outro, contra, o PS e o PCP.
Porém, os fundamentos invocados por socialistas e comunistas, soando como o eco da discussão havida, no mesmo lugar, 18 anos antes, estavam gastos e desactualizados.
O socialista Oliveira Martins tinha pela frente não apenas, à sua direita "geográfica" no hemiciclo, os aguerridos adversários de sempre, mas também, à esquerda, um Francisco Louçã, em grande forma, a deixa-lo só, na companhia de um aliado antigo, que se tornara mais incómodo... E, por isso, após constantes diatribes contra a iniciativa em apreço, a sua última frase foi mais enigmática do que assertiva, e, no dia da votação, o PS deu um "sim" ao projecto de lei.
O PCP, definitivamente isolado, acabou numa discreta abstenção, e ainda por cima, depois de alegar, no essencial, o descaso dos emigrantes não europeus pela questão da Europa e de congeminar um "paradigma de desinteresse" que o futuro se encarregou de desmentir... Cito o deputado António Filipe:
"Um cidadão português que vive na Argentina estará muito mais preocupado com a evolução do Mercosul, que o afecta directamente, do que propriamente com a evolução do processo de integração europeia...".
Ora, de facto, os portugueses da Argentina, com quase 12% de presenças, ultrapassaram largamente, por exemplo, os portugueses de França, com menos de 1% (um por cento!), da Alemanha, com 3,69% ,ou do Reino Unido, com 3,4% ...
Mas a Argentina não é caso único. A Europa, nestas eleições "europeias"
teve piores resultados percentuais, e até em número de eleitores (2.120 no total de 5.550), do que as comunidades transoceânicas. Surpreendentemente.
E assim, uma vez mais, se viu que quem se opõe à dupla cidadania, com dupla participação política, é quem não compreende que os nossos emigrantes sabem dar, por exemplo, à Argentina e ao Mercosul, o que é da Argentina e do Mercosul, e a Portugal e à UE, o que é de Portugal e da UE...


III - O fenómeno da abstenção nestas eleições foi, globalmente, o desastre previsível. Um fracasso monumental.
Mas constituiu, simultaneamente, uma formidável sondagem!
5.500 votos entrados em urna, nos consulados, pela mão de um eleitorado, ao que se julga, ainda não "viciado" na tentação do "voto de protesto" - sobretudo fora da Europa, onde previamente só haviam escolhido uma sucessão de deputados e dois presidentes , ou seja, aquelas escolhas que desaconselham tão sofisticada manifestação de desagrado... - constituem a mais credível das sondagens.
Salvo imprevistos de peso, embora expresso em números muito superiores- esperemos que sim! - o sentido de voto deverá manter-se...
Na Europa (onde, há quatro anos, o PS só não conseguiu os dois deputados, por meia dúzia de votos) a previsão é de um equilíbrio maior face ao PSD: registou agora apenas 30,9% , contra os 28,51% do (quase sempre) segundo.
Porém, nestas "europeias", nesta circunscrição, assistiu-se, não tanto ao crescimento do PSD, mas ao fraccionamento de voto à esquerda, com a subida do PCP (para 17,31%) e, em menor grau , do BE (9.8%). Em países como a Alemanha, Luxemburgo, Holanda ou Suécia, os comunistas ultrapassaram os 20%!
Será que o mecanismo do "voto útil" - esse outro ínvio instrumento de perturbação de previsões - vai jogar em favor dos socialistas? Jogar, joga, com toda a probabilidade, a diminuição da abstenção em França, o maior colégio eleitoral, onde o PS está acostumado aos seus êxitos mais expressivos.
Fora da Europa, o PSD parece destinado a alcançar nova e robusta maioria, e até por margem superior à de 2005, garantindo o pleno de deputados. Tal como o PS na Europa, pode, aqui, recuperar ainda, algum terreno, entrando nos domínios do CDS, pela via do "voto útil", como acontece, sistematicamente, desde que a dissolução da AD (antes, o CDS elegia, não o esqueçamos, o 2º deputado neste círculo...)
Agora foi primeiro no Zimbabwe (com participação diminuta, é certo), o segundo na África do Sul (o maior colégio eleitoral do continente) e atingiu os 10% no Canadá e na Austrália , mas pode não repetir o feito nas legislativas. De facto, apesar destes progressos dos "centristas", parece manter-se, nos continentes que compõem o círculo Fora da Europa, a tendência para uma bipolarização PSD-PS, com amplíssima vantagem para o primeiro (83.05% na RAS, 73,1% na Argentina, 71,02% no Brasil, 71,37 na Venezuela, mais de 50% nos EUA, no Canadá, na Austrália, em Angola, em Moçambique...)
Em breve, já em Setembro, vamos poder comparar, números e percentagens das duas eleições, continente a continente, país a país, consulado a consulado. E testar o valor da mais isenta e objectiva das sondagens!

Maria Manuela Aguiar

junho 04, 2009

Portugal europeu, Portugal universalista

A 10 de junho, é o Portugal universalista que nós comemoramos, com o símbolo maior da cultura pátria, Camões, e com os emigrantes, os reais herdeiros de uma grande e infinda aventura de extroversão .
O Portugal da geografia é europeu. O Portugal que a história nos legou, e que permanece, em corpo e alma, até hoje, é universalista.

E o que será o Portugal do futuro?

Será, sem dúvida, o que nós quisermos. A resposta tem de ser dada, colectivamente, e não só pelos políticos, que nos representam. Pelo Povo!
O 10 de Junho, muito em especial neste ano de 2009, já que foi enquadrado ou antecedido por uma campanha eleitoral europeia, constitui um tempo propício à reflexão sobre a nossa vida, como Nação e como Estado, e sobre o rumo a dar-lhe.

Esta reflexão devia ter constituido - embora isso, na verdade, não tenha acontecido - um tema central de debate, nas escolhas de modelos de aprofundamento da UE e na eleição de deputados ao Parlamento Europeu, que, entre nós, se realizou a 7 de Junho. A discussão, como se sabe, recaiu, quase exclusivamente, em querelas domésticas - e o mesmo sucedeu em outras democracias, mais antigas e consolidadas do que a nossa.
Até parece que a União Europeia já foi mais apaixonante do que é...
Mas vamos supor que recuperará, eventualmente, o seu poder de atracção e de mobilização dos europeus, coisa que, devo dizê-lo, é da máxima importância para o seu desejável desenvolvimento.

Nesse caso, o ideal será que Portugal saiba ser um parceiro esclarecido e influente. E, a meu ver, só o será se se assumir com a sua própria e singular experiência, a sua maneira de ver o mundo, as suas relações tradicionais e a sua família natural , que anda dispersa por todos os continentes do planeta e assim continuará para sempre. Por causa da emigração, da Diáspora. E, também, dos povos com os quais partilhou vivências, em outras épocas, dos Estados que nasceram do desmoronar (tardio, embora, em Africa e no Oriente) do seu Império.
Só assim poderemos - nós, Portugueses, como cada um dos outros povos europeus, com variadas experiências - ajudar a fazer uma Europa com densidade humana, com sensibilidades múltiplas para um maior número de situações e de problemáticas e com mais capacidade de diálogo e cooperação em diferentes regiões do mundo. No nosso caso, no Brasil e em todo o espaço da lusofonia, antes de mais!
Sem o que nos desvalorizaríamos, num processo de regressão à nossa marginalidade geográfica - e não só geográfica, mas cultural e política - que, há séculos soubemos superar com um plano estratégico de Expansão, para além do mar...
Devemos tentar, agora, de novo, encontrar os modos de levar a Europa connosco para fora das suas fronteiras, fazer mais europeus e mais europeístas em outros continentes.
Por pensar assim, apresentei, na Assembleia da República, em 2004, com o indispensável apoio do meu e de outros partidos, uma proposta de extensão do direito de voto no Parlamento Europeu (cada dia mais poderoso, mais "parlamento" ...) a todos os emigrantes, independentemente do País onde residam. Uma proposta que parecia utópica e acabou em lei quase consensual - com toda a justiça, porque os portugueses das Américas ou da Oceania são, por inteiro, "cidadãos europeus" e é bom para eles próprios e para a Europa que se sintam como tal. E é bom para Portugal, para que continue a sentir-se, através deles, presente universalmente.
Aliás se acompanharmos, como eu acompanho, a mensagem que, há largos anos, nos deixou Joaquim Nabuco, não correremos nunca o risco de perder os ganhos da Expansão, num regresso à pequenês das origens europeias...
Dizia Nabuco, precisamente na celebração do quarto centenário da morte de Camões, em 1880, no Rio de Janeiro:
"... Portugal pode desaparecer dentro de séculos , submergido pela vaga europeia, ela (a glória de Camões) terá em cem milhões de brasileiros a mesma vibração luminosa e sonora" .
São hoje muitos mais os brasileiros, a garantir a perenidade da língua de Camões.
E a "vaga europeia", ( que alguns adivinham e denunciam, prematuramente, nas crescentes "transferências de soberania" dos Estados nacionais para a UE) não nos ameaça, ainda, de submersão.!
Mas é , em qualquer caso, excelente colocar, assim, lucidamente, antes do nosso destino europeu, o cruzamento de destinos de Brasil e Portugal, porque, como escreveu outro Poeta, no século seguinte, "a nossa pátria é a língua portuguesa".
Esta é a Pátria que eu quero homenagear, neste 10 de Junho. E porque não com uma outra citação de Nabuco?
"Os Lusíadas e o Brasil são as duas maiores obras de Portugal" .

Maria Manuela Aguiar

junho 03, 2009

Dia de um Portugal maior











A 10 de Junho, Portugal reencontra-se, no figurino oficial das comemorações, na sua verdadeira dimensão: para além da vida centrada num pequeno teritório europeu e insular, na grandeza da sua cultura e da sua língua, simbolizadas em Camões, e na força da sua Diáspora, presente nos cinco continentes do mundo.

É um breve encontro, que dura um dia somente, em clima de festa!
Como aprender a preparar o futuro, com as potencialidades e as energias deste Portugal redimensionado à medida da sua realidade?

Eis o grande desafio que se colocou - e coloca - a sucessivos governos, a sucessivas gerações de políticos, depois que a democracia foi restaurada, há décadas, sem ter ainda conseguido o esboço de uma estratégia, de um projecto nacional, que abranja esta "totalidade".

Falta uma política cultural, baseada, antes de mais, na língua, que reforce a sua expansão entre os filhos e netos de emigrantes, à escala planetária, pois o investimento inteligente e patriótico que se exige, começa por falhar no ensino, inexistente ou insuficiente, a nível das comunidades portuguesas, assim como na cooperação com os outros Estados lusófonos, na divulgação em tantos países estrangeiros, onde a receptividade é grande.
O Instituto Camões não pode comparar-se ao "Cervantes", ao "Goethte", à Alliance Française" e não parece que a reforma anunciada vá nesse sentido...

Falta, igualmente, uma política de mobilização dos expatriados, um terço da população do país - onde sempre se reduz o seu número a 10 milhões de residentes no território, esquecendo os 5 milhões que estão fora, e que, do seu lado, lembram a terra de origem, a toda a hora...
Uma política que lhes dê visibilidade, no interior e no exterior de Portugal, e possibilidades de participarem, mais e mais, em qualquer domínio da história e do destino que se vai fazendo, e que pode contar com eles, estejam onde estiveram. É preciso percorrer os novos caminhos do mundo, que eles estão preparados para nos abrir.
Mesmo em tempo de crise, estou entre os que acreditam que vale mais investir na expansão cultural, a ligar as comunidades e os povos de língua portuguesa, do que no cimento das autoestradas, que já há de sobra, ou nas linhas multimilionárias dos comboios de alta velocidade, a ligar duas capitais vizinhas.
Só um investimento prioritário na cultura pode valorizar o passado - com a sua mensagem universalista e Camoneana, e a sua vivência em paragens longínquas, onde Portugal continua, através da Diáspora - e, em simultâneo, construir um novo pioneirismo, uma modernidade do século XXI, que tem de começar num patamar elevado de saberes e conhecimentos, num "estado de espírito", e num diálogo entre Portugueses dispersos, mas reunidos, em volta de um desígnio nacional.
Este diálogo e a colaboração muito concreta são possíveis, porque os Portugueses, por si e através das grandes instituições, que criaram, no Brasil e em todas as terras onde estão, o querem, indubitavelmente. É isso mesmo que reclamam e esperam há muito!

Há mais de 40 anos, um dos nossos concidadãos, porventura o que melhor soube, no século XX pensar este "Portugal maior", convocou dois sucessivos "Congressos" da Diáspora, instituiu a "União das Comunidades de Cultura Portuguesa" e um Instituto da Língua.
Era, nessa época, presidente da Sociedade de Geografia. Chama-se Adriano Moreira.
Vinte anos mais tarde, nova tentativa, também ela efémera, por falta de compreensão e continuidade política...
A visão de Adriano continua actual, e, por isso, me parece útil lembrá-la a 10 de Junho.
Para que as festas do Dia Nacional, que, nas Comunidades do Brasil e do mundo inteiro, se distinguem pela sua espontaneidade e caracter afectivo e pelo seu brilho, quando comparadas com as que oficialmente - e só oficialmente... - se organizam em solo pátrio, venham a ser seguidas por um movimento de convergência de esforços e de acções, que dure não apenas um dia, mas o infinito tempo de um futuro vivido em comum.
Num Portugal maior!

Maria Manuela Aguiar



O MEU 10 DE JUNHO EM NEWARK e ELIZABETH

Uma vez mais passei este dia no maior 10 de junho do Portugal maior: em NewarK - o 30º organizado pela Família Coutinho, e, nos anos mais recentes, pela "Fundação Coutinho".
Espantoso, com imensa adesão popular!
A 11, apesar da chuva, a missa na Catedral de Newark, que é tão grande e estava cheia de portugueses, de várias paróquias do Estado de NJ. Palavras sábias e inspiradas do Bispo Emérito de Leiria e Fátima, D. Serafim.
A "festa dos amigos", uma iniciativa de Maria Coutinho, na noite de 12 de Junho, reuniu mais de 750 pessoas, no bonito salão do Hotel Robert Treat. A parada, a 14, atraiu dezenas de milhares, e o tempo ajudou: nem chuva, nem muito calor.
Muitas autoridades americanas, o Governador do Estado, o "Mayor", políticos de ascendência portuguesa, mas, de Portugal, apenas o autarca que foi distinguido como "Grand Marshall" da Parada. Insólito!
O ano passado esteve lá, em representação do governo, o Secretário de Estado da Presidência, Dr. Jorge Lacão, que, devo dizer, deixou a melhor das imagens, pela sua simplicidade e simpatia.

Em Elizabeth, tive, de novo, o privilégio de estar com Monsenhor João Antão e com o Padre José Manuel Fernandes (quando na Venezuela, nos anos 80, conselheiro eleito do CCP!), e com o Bispo D. Serafim.
E pude participar nas alegres e tradicionais festas e marchas de Santo António, a 13 de junho, e na procissão da manhã do dia 14, na Igreja de Nossa senhora de Fátima.
Ali é sempre Portugal!

junho 02, 2009

Lord Russel-Johnston, humanista, europeísta, liberal

Devia estar hoje em Paris, a rever amigos na Assembleia da União da Europa Ocidental.
Uma gripe não mexicana, obrigou-me a ficar por cá. Telefonei para o secretarido, a dar conta das razões da minha ausência.
E lembrei-me de perguntar por um desses amigos de tantos anos - de todos o mais admirado! - Lord Russel, há meses atingido por uma doença de mau prognóstico, que, sendo ele como era, o não impedia de trabalhar, brilhante e incansavelmente. E fiquei a saber do seu falecimento, em Paris, por altura da anterior reunião da UEO.
Uma perda enorme, uma recordação de um político extrordinário, em qualquer tempo e em qualquer país! Um político "pas comme les autres"!
Orador espantoso, Homem de causas, universalista e humanista. Um europeu de grande dimensão, com pensamento próprio, original, e frequentemente heterodoxo - para sorte sua, integrado no Grupo Liberal , sem dúvida, na UEO e no CE, o que mais "liberdade" de opiniões dava aos seus membros, sobretudo quando "Sir" Russel era o presidente.
De qualquer modo, era um "monstro sagrado" na Delegação britânica, admirado pelo seu esplêndido curriculum parlamentar, por uma vida ao serviço dos direitos humanos, mas temido pela sua independência e excentricidade. E quem diz na sua delegação nacional, diz também no Conselho da Europa!
Veio a ser, com o meu entusiástico voto (e, previamente, activa campanha), presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. Na altura, havia os que temiam a força das suas graças irreprimíveis. Mas, na posição institucional, ele foi naturalmente impecável!
Era inteligentíssimo e muito generoso, o CE estava-lhe no coração - não iria abusar do seu famoso "humor britânico". Mais precisamente escocês.
Claro, no discurso inaugural teve uma graça imensa - nunca assisti a nada de semelhante! - mas nas sessões e no relacionamento diplomático com tudo e todos, em qualquer vertente das suas funções, foi um sucesso, ao longo do mandato. The very best!
Teve sempre um entendimento óptimo com os portugueses, em particular com o Pedro Roseta e comigo. Chegamos a ter, durante o seu mandato à frente do Grupo Liberal, 100% das presidências que cabiam ao grupo - duas: o Pedro na Cultura e eu nas Migrações!
Alegava que eramos os melhores naquelas matérias e não sofreu qualquer contestação. Nem ele, nem nós!
Quando o PSD, por decisão do partido em Lisboa, em dialogo com os parlamentares europeus, sem ouvir os do CE, aderiu ao PPE (era Marcelo o Chefe,,,), o Pedro e eu ficamos, ambos, desolados. Eu, pior ainda: revoltada! Ingressar num grupo de direita, o grupo natural do CDS!... ( impossível com Sá Carneiro...).
Acho que no PE, foi uma ruptura, em guerra. No CE, bem pelo contrário: no Grupo Liberal estavam tão desolados quanto nós próprios. Fizeram-nos uma festa lindíssima de despedida! Oferecerm-nos bela litografias, genuinamente antigas, de Estrasburgo. O discurso de Russel foi coisa memorável, misturando em doses iguais, muita afectividade e muito humor.E correspondia ao sentir colectivo. Eramos estimados e tinhamos oportunidades, que perdemos, num grupo grande, e politicamente avesso a muitas das nossas causas sociais.
E perdemos a liderança do nosso amigo Russsel.
Foi já como membro do PPE que fiz a campnha dele à presidência da APCE.
Fiz essa e faria qualquer outra. Para mim, como ele, só Sá Carneiro!