junho 04, 2009

Portugal europeu, Portugal universalista

A 10 de junho, é o Portugal universalista que nós comemoramos, com o símbolo maior da cultura pátria, Camões, e com os emigrantes, os reais herdeiros de uma grande e infinda aventura de extroversão .
O Portugal da geografia é europeu. O Portugal que a história nos legou, e que permanece, em corpo e alma, até hoje, é universalista.

E o que será o Portugal do futuro?

Será, sem dúvida, o que nós quisermos. A resposta tem de ser dada, colectivamente, e não só pelos políticos, que nos representam. Pelo Povo!
O 10 de Junho, muito em especial neste ano de 2009, já que foi enquadrado ou antecedido por uma campanha eleitoral europeia, constitui um tempo propício à reflexão sobre a nossa vida, como Nação e como Estado, e sobre o rumo a dar-lhe.

Esta reflexão devia ter constituido - embora isso, na verdade, não tenha acontecido - um tema central de debate, nas escolhas de modelos de aprofundamento da UE e na eleição de deputados ao Parlamento Europeu, que, entre nós, se realizou a 7 de Junho. A discussão, como se sabe, recaiu, quase exclusivamente, em querelas domésticas - e o mesmo sucedeu em outras democracias, mais antigas e consolidadas do que a nossa.
Até parece que a União Europeia já foi mais apaixonante do que é...
Mas vamos supor que recuperará, eventualmente, o seu poder de atracção e de mobilização dos europeus, coisa que, devo dizê-lo, é da máxima importância para o seu desejável desenvolvimento.

Nesse caso, o ideal será que Portugal saiba ser um parceiro esclarecido e influente. E, a meu ver, só o será se se assumir com a sua própria e singular experiência, a sua maneira de ver o mundo, as suas relações tradicionais e a sua família natural , que anda dispersa por todos os continentes do planeta e assim continuará para sempre. Por causa da emigração, da Diáspora. E, também, dos povos com os quais partilhou vivências, em outras épocas, dos Estados que nasceram do desmoronar (tardio, embora, em Africa e no Oriente) do seu Império.
Só assim poderemos - nós, Portugueses, como cada um dos outros povos europeus, com variadas experiências - ajudar a fazer uma Europa com densidade humana, com sensibilidades múltiplas para um maior número de situações e de problemáticas e com mais capacidade de diálogo e cooperação em diferentes regiões do mundo. No nosso caso, no Brasil e em todo o espaço da lusofonia, antes de mais!
Sem o que nos desvalorizaríamos, num processo de regressão à nossa marginalidade geográfica - e não só geográfica, mas cultural e política - que, há séculos soubemos superar com um plano estratégico de Expansão, para além do mar...
Devemos tentar, agora, de novo, encontrar os modos de levar a Europa connosco para fora das suas fronteiras, fazer mais europeus e mais europeístas em outros continentes.
Por pensar assim, apresentei, na Assembleia da República, em 2004, com o indispensável apoio do meu e de outros partidos, uma proposta de extensão do direito de voto no Parlamento Europeu (cada dia mais poderoso, mais "parlamento" ...) a todos os emigrantes, independentemente do País onde residam. Uma proposta que parecia utópica e acabou em lei quase consensual - com toda a justiça, porque os portugueses das Américas ou da Oceania são, por inteiro, "cidadãos europeus" e é bom para eles próprios e para a Europa que se sintam como tal. E é bom para Portugal, para que continue a sentir-se, através deles, presente universalmente.
Aliás se acompanharmos, como eu acompanho, a mensagem que, há largos anos, nos deixou Joaquim Nabuco, não correremos nunca o risco de perder os ganhos da Expansão, num regresso à pequenês das origens europeias...
Dizia Nabuco, precisamente na celebração do quarto centenário da morte de Camões, em 1880, no Rio de Janeiro:
"... Portugal pode desaparecer dentro de séculos , submergido pela vaga europeia, ela (a glória de Camões) terá em cem milhões de brasileiros a mesma vibração luminosa e sonora" .
São hoje muitos mais os brasileiros, a garantir a perenidade da língua de Camões.
E a "vaga europeia", ( que alguns adivinham e denunciam, prematuramente, nas crescentes "transferências de soberania" dos Estados nacionais para a UE) não nos ameaça, ainda, de submersão.!
Mas é , em qualquer caso, excelente colocar, assim, lucidamente, antes do nosso destino europeu, o cruzamento de destinos de Brasil e Portugal, porque, como escreveu outro Poeta, no século seguinte, "a nossa pátria é a língua portuguesa".
Esta é a Pátria que eu quero homenagear, neste 10 de Junho. E porque não com uma outra citação de Nabuco?
"Os Lusíadas e o Brasil são as duas maiores obras de Portugal" .

Maria Manuela Aguiar

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