junho 02, 2009

Lord Russel-Johnston, humanista, europeísta, liberal

Devia estar hoje em Paris, a rever amigos na Assembleia da União da Europa Ocidental.
Uma gripe não mexicana, obrigou-me a ficar por cá. Telefonei para o secretarido, a dar conta das razões da minha ausência.
E lembrei-me de perguntar por um desses amigos de tantos anos - de todos o mais admirado! - Lord Russel, há meses atingido por uma doença de mau prognóstico, que, sendo ele como era, o não impedia de trabalhar, brilhante e incansavelmente. E fiquei a saber do seu falecimento, em Paris, por altura da anterior reunião da UEO.
Uma perda enorme, uma recordação de um político extrordinário, em qualquer tempo e em qualquer país! Um político "pas comme les autres"!
Orador espantoso, Homem de causas, universalista e humanista. Um europeu de grande dimensão, com pensamento próprio, original, e frequentemente heterodoxo - para sorte sua, integrado no Grupo Liberal , sem dúvida, na UEO e no CE, o que mais "liberdade" de opiniões dava aos seus membros, sobretudo quando "Sir" Russel era o presidente.
De qualquer modo, era um "monstro sagrado" na Delegação britânica, admirado pelo seu esplêndido curriculum parlamentar, por uma vida ao serviço dos direitos humanos, mas temido pela sua independência e excentricidade. E quem diz na sua delegação nacional, diz também no Conselho da Europa!
Veio a ser, com o meu entusiástico voto (e, previamente, activa campanha), presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. Na altura, havia os que temiam a força das suas graças irreprimíveis. Mas, na posição institucional, ele foi naturalmente impecável!
Era inteligentíssimo e muito generoso, o CE estava-lhe no coração - não iria abusar do seu famoso "humor britânico". Mais precisamente escocês.
Claro, no discurso inaugural teve uma graça imensa - nunca assisti a nada de semelhante! - mas nas sessões e no relacionamento diplomático com tudo e todos, em qualquer vertente das suas funções, foi um sucesso, ao longo do mandato. The very best!
Teve sempre um entendimento óptimo com os portugueses, em particular com o Pedro Roseta e comigo. Chegamos a ter, durante o seu mandato à frente do Grupo Liberal, 100% das presidências que cabiam ao grupo - duas: o Pedro na Cultura e eu nas Migrações!
Alegava que eramos os melhores naquelas matérias e não sofreu qualquer contestação. Nem ele, nem nós!
Quando o PSD, por decisão do partido em Lisboa, em dialogo com os parlamentares europeus, sem ouvir os do CE, aderiu ao PPE (era Marcelo o Chefe,,,), o Pedro e eu ficamos, ambos, desolados. Eu, pior ainda: revoltada! Ingressar num grupo de direita, o grupo natural do CDS!... ( impossível com Sá Carneiro...).
Acho que no PE, foi uma ruptura, em guerra. No CE, bem pelo contrário: no Grupo Liberal estavam tão desolados quanto nós próprios. Fizeram-nos uma festa lindíssima de despedida! Oferecerm-nos bela litografias, genuinamente antigas, de Estrasburgo. O discurso de Russel foi coisa memorável, misturando em doses iguais, muita afectividade e muito humor.E correspondia ao sentir colectivo. Eramos estimados e tinhamos oportunidades, que perdemos, num grupo grande, e politicamente avesso a muitas das nossas causas sociais.
E perdemos a liderança do nosso amigo Russsel.
Foi já como membro do PPE que fiz a campnha dele à presidência da APCE.
Fiz essa e faria qualquer outra. Para mim, como ele, só Sá Carneiro!




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