agosto 10, 2022

CCP PREFÁCIO POSFÁCIO

CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS ESPAÇO DE UTOPIA E EXPERIMENTAÇÃO ÍNDICE Prefácio - Daniel Bastos Mensagem –José Cesário Nota Introdutória Origens e Evolução do 1º Conselho das Comunidades Portuguesas O Conselho e o Congresso das Comunidades Portuguesas por caminhos paralelos As minhas memórias do Conselho das Comunidades Posfácio - Carlos Gonçalves PREFÁCIO Em Portugal, desde o início da década de 1980, as políticas da emigração estão acometidas ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, que, hoje, através da Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas (DGACCP) assegura a coordenação e execução da política de apoio a portugueses no estrangeiro e às comunidades portuguesas. Ainda nessa época, durante o VI Governo Constitucional, surgiu a Secretaria de Estado das Comunidades, que atuando em princípio por delegação de competências do Ministro dos Negócios Estrangeiros tem procurado ao longo dos anos um reforço dos laços entre as comunidades portuguesas e a pátria de origem. Este esforço e tomada de consciência sobre o papel dos emigrantes portugueses no desenvolvimento do país, impulsionou ainda no alvorecer dos anos 80, a formação do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Um órgão consultivo do Governo para as políticas relativas às comunidades portuguesas no estrangeiro, a quem está acometido, em geral, a emissão de pareceres, a produção de informações, a formulação de propostas e recomendações sobre as matérias que respeitem aos portugueses residentes no estrangeiro e ao desenvolvimento da presença portuguesa no mundo. Nesse sentido, e enquanto estrutura que ao longo das quatro décadas de democracia, tem funcionado como um elo relevante de ligação entre o Governo e a Diáspora, em boa hora, que uma das grandes obreiras dos direitos dos emigrantes portugueses, Maria Manuela Aguiar, papel que desempenhou de modo dedicado tanto como Secretária do Estado das Comunidades Portuguesas, como deputada pela Emigração, decidiu dar à estampa esta obra sobre a fase primordial do Conselho das Comunidades Portuguesas. Até porque, como já ressaltava a autora num artigo da primeira década do séc. XXI, intitulado “O Conselho das Comunidades e a Representação dos Emigrantes”, publicado na Revista Migrações, o CCP «tem um historial interessante, sobretudo no período em que vamos considerá-lo: o momento do seu nascimento, visto como acto de criação colectiva de uma instituição inteiramente nova, num diálogo entre parceiros, o Governo e os porta-vozes do movimento associativo. Um percurso, aliás, acidentado por bloqueios e hiatos de funcionamento, afrontamentos com o Governo, ou entre os seus próprios membros, processos e recursos judiciais...Em boa verdade, não deverá falar-se de um único “Conselho”, mas de vários, ou de várias “vidas” de uma mesma instituição». É este percurso originário, com as suas vicissitudes e protagonistas, dos quais Maria Manuela Aguiar ocupa um lugar de destaque, que é revisitado nas páginas desta obra que constitui um exemplo de cidadania e de serviço público. Um livro reflexivo assente na noção do dever de memória, porquanto contribui amplamente para um conhecimento mais aprofundado sobre a génese, as etapas, os momentos e os contributos de um órgão que nas palavras abalizadas da autora tem como «vocação originária: ser uma "assembleia" verdadeiramente representativa e influente, o grande fórum da Diáspora e da emigração portuguesas». Um livro que é igualmente um testemunho de compromisso incondicional com os emigrantes portugueses, os mais genuínos embaixadores da pátria de Camões, e concomitantemente de respeito pelo passado, de crença no presente e de esperança no futuro das Comunidades Portuguesas, a mais autêntica e consistente manifestação lusa além-fonteiras. Neste ensejo, uma nota também de reconhecimento à Alma Letra, editora que empresta a sua chancela ao livro, e que ao longo dos anos mais recentes tem sido um espaço privilegiado para a publicação de obras de autores da Diáspora ou sobre temáticas ligadas às Comunidades Portuguesas. E que no caso concreto deste novo livro, tem no mesmo, seguramente, um dos mais importantes contributos literários no campo da linha editorial que tem dinamizado com audácia. Comungando do pensamento do escritor argentino Jorge Luís Borges, “o livro é a grande memória dos séculos... se os livros desaparecessem, desapareceria a história e, seguramente, o homem”, podemos assegurar que a memória e a história do Conselho das Comunidades Portuguesas ficam assim prodigamente enriquecidas e salvaguardas. Fafe, 10 de agosto de 2022 Daniel Bastos MENSAGEM CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS, UM ÓRGÃO ESSENCIAL PARA O PODER POLÍTICO Ao longo das minhas passagens pelo Governo da República e pelo próprio Parlamento, durante os últimos 22 anos, fui consolidando a ideia da imprescindibilidade do Conselho das Comunidades. Não tenho hoje qualquer dúvida acerca da sua importância para quem desempenha funções legislativas ou executivas ligadas à definição das políticas de ligação às nossas numerosas Comunidades. Independentemente de sermos governantes ou deputados, é fundamental dispormos de opiniões objetivas e diversificadas acerca do modo como são executadas as políticas dirigidas aos portugueses no estrangeiro, dos seus resultados e da própria definição prévia das mesmas. A informação que circula através da nossa rede diplomática, sendo indispensável e, normalmente de grande qualidade, está longe de ser suficiente, devendo ser complementada dor outras fontes, tanto quanto possível ligadas diretamente às comunidades, às suas organizações, ao movimento associativo, às escolas, ao universo político local, aos meios culturais, em suma, a toda a constelação em que os portugueses se movem. Claro que dispor de um órgão eleito, o CCP, constituído por dezenas de representantes diretos das mais diversas comunidades, é um privilégio que não podemos desperdiçar. Poder-se-á discutir a essência deste órgão, a sua composição, o seu caráter mais representativo ou meramente consultivo, mas é difícil prescindir do seu papel e da sua ajuda. Aliás, a propósito, não posso esquecer os contactos que tive, enquanto Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, com governantes de vários países, como a Alemanha, França, Cabo Verde, Canadá, entre outros, que sempre procuraram beber na experiência portuguesa os ensinamentos indispensáveis para porem de pé organismos mais ou menos idênticos. Ao fim de todas estas últimas décadas, acho que o CCP ganhou o seu espaço próprio, sendo muito difícil prescindir da sua existência sempre que se pretende desenvolver políticas sérias e com resultados. Claro que a sua organização poderá sempre ser repensada e melhorada, mas isso não deverá pôr em causa o próprio órgão. O nosso desafio futuro é melhorá-lo e, para isso, cumpre discutir o seu caráter consultivo ou representativo, a sua relação com o governo e o parlamento, o estatuto dos seus membros, a sua articulação com a rede diplomática e com os conselhos consultivos das áreas consulares, a sua ligação ao movimento associativo e às redes de cultura, educação, solidariedade social e empresariais. Será esse debate que se segue, num momento em que os níveis de participação política e cívica das nossas Comunidades aumentam de forma bem evidente. José Cesário NOTA INTRODUTÓRIA 1 -Para olhar o nascimento do “Conselho” à distância de 40 anos, privilegiarei a data da sua primeira reunião mundial, realizada em Lisboa, de 6 a 10 de abril de 1981, e não a da promulgação do diploma jurídico pelo qual foi criado (DL 373/80 de 12 de setembro), porque, na minha perspetiva, a lei se pode considerar uma declaração de intenções, uma esperançosa expetativa com futuro incerto, entregue ao poder fático da reunião constituinte. Crucial é o momento de passagem da esfera normativa do Direito à realidade da vida das pessoas ou das instituições, e no caso do CCP, esse trânsito foi muito além da boa aplicação diligente da lei. Singularidade constituiu o facto de ser, à partida, uma lei a rever, para melhor se ajustar à vontade dos destinatários, um convite a que eles próprios a reformulassem, nela vertendo, porventura, outros conteúdos. É nessa procura de reconfiguração, no ponto de equilíbrio de vontades e estratégias que se corporiza o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Este segundo tempo foi, assim, o que contou mais. O Governo, na sua primeira consulta, convidou-os Conselheiros a uma livre ponderação de alternativas às linhas do modelo institucional para que apontava originariamente. Não colocou obstáculos a deslocar o seu centro de gravidade da interlocução da Diáspora para a da emigração recente, dando espaço ao debate dos problemas prementes do quotidiano da emigração mais recente. E com isso entrou o Conselho num domínio que, continuando a ser do reencontro pelo diálogo, não mais escaparia à turbulência e à confrontação, ao menos verbalmente violenta, que marcou, em Portugal, a segunda década de setenta e os primeiros anos de oitenta. Tempos ainda próximos da dinâmica e das contradições da revolução de 1974, que, já então, fazia numa via reformista, apoiada por larga maioria constitucional e popular, mas entre profundos conflitos sociais e choques político-partidários. Saindo da área da dominante cultural (com a sua facilidade de consensos naturais, já que a Cultura é sempre o máximo denominador comum), o CCP avançava em terreno aberto às arrebatadas pulsões, que agitavam a sociedade portuguesa, dentro e fora de fronteiras, por igual - quando não mais ainda em algumas das comunidades do estrangeiro do que no País. Naqueles poucos dias da Reunião Mundial do Palácio Foz, o Conselho mudaria de natureza, de vocação, de estilo, e consequentemente, de destino. 2 – O manifesto eleitoral da Aliança Democrática, em 1979, tratava com o mesmo relevo, mas em rubricas autónomas, a “Emigração”, com referência a políticas públicas de apoio social e jurídico aos emigrantes e seus descendentes, e as "Comunidades Portuguesas no Mundo", com ênfase colocada na preservação dos laços históricos e culturais ao País e na criação de um” Conselho das Comunidades Portuguesas no Mundo, onde estas se farão representar, e conceder-lhe-á um apoio amplo e constante". No que concerne às políticas públicas para as migrações de saída e regresso apostava-se na continuação de esforços iniciados em 1974, visando, sobretudo, a melhoria de meios e a sua eficiência. No que respeita às "Comunidades" a principal promessa eleitoral era inovadora, encarava de frente uma das falhas ou lacunas mais extraordinárias que, bem vistas as coisas, a sociedades civil partilhava com o Estado (este na sua função supletiva): a inexistência de uma plataforma internacional de união entre os Portugueses do estrangeiro. No panorama europeu, note-se, esta constatação convertia-nos em caso raror entre países de emigração, mesmo entre aqueles cuja tradição migratória se não pode, quantitativa e qualitativamente, comparar com o peso e significado da nossa. Em todos esses países encontramos, desde fins do século XIX, ou inícios do século passado, movimentos federativos das associações atuantes nas diversas regiões do mundo da sua imigração, maioritariamente oriundos da iniciativa privada, nalguns casos apoiados ou enquadrados num organismo de cúpula governamental. A lacuna é tanto mais de estranhar, quanto se sabe que a propensão associativa dos emigrantes portugueses é grande, nas várias latitudes e nas diversas épocas. Da parte do Estado, o descaso não poderá surpreender-nos, sabido que as primeiras medidas de apoio aos emigrantes datavam de meados do século passado e se limitavam ao acompanhamento da viagem de ida, em travessias transoceânicas realizadas em condições de grande risco, ficando, depois, os portugueses entregues a si próprios. Face a essa total e multissecular "ausência do Estado" nas comunidades da emigração, nasceu e cresceu, enraizado em fortes laços de entreajuda e solidariedades, um impressionante associativismo, no domínio social e cultural, que reflete formas de relação afetiva com a terra originária, de integração no país de acolhimento. Poucos foram, no passado, os governantes ou os académicos que se aperceberam da dimensão do fenómeno associativo, gerador de comunidades perenes. Os que se apontam como exceção (é o caso de Afonso Costa), atribuem-lhe um caráter fugaz ou transitório, identificando-o como forma de combater o sentimento de isolamento, a saudade por parte de uma emigração temporária. Porém, ao contrário do que previa (e queria) o Estado, grande número de indivíduos e famílias escolheram o não retorno, mantendo, de formas variáveis e tantas vezes duradouras, a vontade de pertença coletivamente expressa, dentro e no exterior do grupo nacional. Neste contexto, que apresenta traços comuns a outras emigrações, cumpre indagar quais os motivos, as circunstâncias, as eventuais especificidades que contiveram, então e ainda hoje, o nosso associativismo dentro dos limites de cada um dos países de destino, como que desconhecedores ou desinteressados da existência dos demais. Poderemos, certamente, esperar de futuras investigações o aprofundamento da compreensão das caraterísticas do associativismo português fechado dentro de fronteiras, e das causas que porventura o condicionaram ou acantonaram. A larga predominância, ao longo de séculos, da emigração para o Brasil, (país imenso, um mundo em si, uma sociedade aberta e acolhedora, onde a língua e a cultura tornavam mais fácil as relações sociais e o enraizamento), surge como hipótese de trabalho. No Brasil se situam as mais grandiosas manifestações do espírito associativo português, em número e em dimensão sem paralelo em quaisquer outras comunidades - os "Gabinetes de Leitura", os Hospitais e os Lares das "Beneficências", os clubes sociais, as agremiações desportivas... Aí existe uma importante Federação das Associações Portuguesas e Luso-brasileiras, que representa as maiores instituições portuguesas no mundo. Todavia, nunca terá pretendido transpor as fronteiras do Brasil. 3 – Ao longo dos últimos dois séculos, registamos somente um conseguido ensaio de agregação das comunidades de língua e cultura portuguesas, promovido pela Sociedade de Geografia, sob a presidência do Prof Adriano Moreira, na década de sessenta do século passado. Com a exata compreensão da importância dos laços que a História tecera (não apenas a História do Império, em declínio, mas a do êxodo sem fim dos portugueses que consigo levaram e expandiram a fala e a Cultura em todo o planeta), tornou-se a única personalidade nacional que quis e soube pôr em andamento o ambicioso projeto de reunir em Congresso os representantes das comunidades de língua, cultura e afeto. O primeiro Congresso teve Lisboa como palco, o segundo, Moçambique, o terceiro estava projetado para o Brasil. Seria, porém, adiado "sine die", porque o regime, que, de uma forma mais ou menos neutral, aceitara o avanço deste movimento da sociedade civil, se fechou, em definitivo, após a ascensão de Marcelo Caetano ao poder. As atas, do 1º e do 2º Congresso, publicados pela Sociedade de Geografia, em seis volumes, documentam o espantoso e pioneiro trabalho levado a cabo. Ao lê-los, mais de meio século depois, fica a certeza de que não foram as últimas manifestações de saudosismo colonial, na sua 25ª hora, mas o prenúncio de uma CPLP ainda informe e distante - e não a que mornamente subsiste, no novo século, mas sim a que sonhou José Aparecido de Oliveira. Ao grande político brasileiro, como a Adriano Moreira, os meandros da Política e da História, não deram tempo de levar a obra por diante. E não houve, até hoje, quem a soubesse retomar com a mesma visão da lusofonia policêntrica e universalista. 4 - A revolução de 1974 tardou sete anos a convocar os expatriados ao diálogo e à cooperação global no Conselho da Comunidades Portuguesas. Desta feita, a iniciativa pertenceu ao Estado, e os representantes de organizações da “sociedade civil” foram chamados ao encontro com o Governo, num exercício de democracia, que revestiu a forma de proposta à coparticipação da definição das políticas para as comunidades do estrangeiro. O Conselho foi, desde o início, concebido como instância consultiva do Governo da República e dos Governos Regionais, e como órgão representativo dos seus eleitores, dotado, consequentemente, do direito de iniciativa. Comparando as iniciativas da Sociedade de Geografia e o CCP instituído pelo Governo da Aliança Democrática, poderemos concluir que coincidiam no objetivo fundamental de federalizar o movimento associativo das comunidades do estrangeiro, igualmente se aproximando no propósito de colocar o foco na área da Cultura e nos laços afetivos. Todavia, o momento político em que o diploma jurídico foi trabalhado, durante o VI Governo Constitucional, exigiu atenção a outros aspetos, que viriam a determinar o alargamento do Conselho à vertente sócio laboral das migrações. O facto de o Governo anterior, no último mês do seu mandato, ter posto em marcha a organização de um Congresso das Comunidades Portuguesas (ao abrigo do DL nº 462/79 de 30 de novembro), colocou o Governo da AD perante o dilema de cumprir o seu próprio programa ou de o compatibilizar com os objetivos de projeto alheio. Não foi, pois, surpreendente a decisão de propor à Assembleia da República a ratificação do diploma de 30 de novembro, com o propósito de deslocar o evento da esfera de influência presidencial para a do Executivo. O cancelamento dos preparativos do Congresso das Comunidades provocou fortes reações nas comunidades em áreas onde a oposição partidária ao Governo era mais forte. (caso, sobretudo, da França, onde o movimento associativo estava mais politizado) e terá tido no ambiente conturbado em que se gerou o CCP, e, de algum modo, também no modelo adotado, numa tentativa de conciliar o "Conselho de Diáspora", previsto no Programa Eleitoral da AD, e um "Conselho de Emigrantes" O articulado do Decreto-Lei nº 373/80 de 12 de setembro era suficientemente flexível para abarcar a problemática das migrações antigas e recentes, e o CCP encontraria a sua identidade, servindo ambas as vertentes. O pedido de retificação da legislação do Congresso das Comunidades pelo Governo da AD e o atraso na publicação do diploma, que criava o CCP, por decisão do Presidente da República, implicaram o adiamento de ambos os eventos, no ano de 1980. Seria, assim, VII Governo Constitucional, que, no começo do ano seguinte, dinamizou o processo de constituição das "Comissões de País", por áreas consulares, e, através delas, da eleição dos seus representantes à 1ª Reunião Mundial do CCP. Com base nas suas prioridades foram determinadas as reuniões temáticas (ou Secções, na terminologia adotada pelo CCP), onde seriam debatidos, em profundidade, os pareceres ou recomendações ao Governo, seguidamente submetidos a plenário em votação final. À lista de Secções resultantes dessa consulta, o Governo acrescentou uma Secção destinada à análise do articulado do Decreto-Lei nº 373/80, um espaço de diálogo em que as suas disposições podiam ser repensadas e reajustadas - como foram, e não de uma só vez, mas por consensos alcançados nas sucessivas etapas, em que se foi moldando a instituição. 5 - Houve, pois, a preocupação de delinear um diploma jurídico abrangente e flexível, que pudesse ser a plataforma jurídica onde os representantes das comunidades iriam protagonizar a aventura irrepetível de criar a instituição. Foi complexo e exigente o processo de procura e de consecução de consenso bastantes para a alicerçar, lançando pontes entre posições políticas extremadas e entre geografias e tipos de emigrações muito diversas, que se desconheciam e, por se ignorarem, se antagonizavam - a Europa contra o resto do mundo, migrações recentes contra Diáspora... mais os descontentes com o adiamento do 1º Congresso do Governo Pintasilgo e os simpatizantes do novo Governo Sá Carneiro. Por fim, numa mútua aceitação de opostos se sedimentou uma instituição abrangente e original. O grupo de trabalho que preparou a legislação foi buscar inspiração a um modelo estrangeiro do único país onde funcionava, já com largos anos de existência, um órgão governamental de audição de emigrantes - a França, com o seu "Conseil Supérieur des Français de l' Étranger" (CSFE). Comparemos o CSFE com o CCP: um e o outro estavam sediados no Ministério dos Negócios Estrangeiro e eram presididos pelo Ministro. Neles tinham assente membros natos, membros eleitos por um colégio eleitoral associativo, e membros nomeados, em significativo número. No caso do CCP, estes últimos escolhidos numa lógica bastante mais restritiva dos poderes discricionários do Ministro, visto que os representantes sindicais e patronais eram os indicados pelas respetivas centrais e os peritos escolhidos pelo Governo constituíam um reduzido núcleo. O Decreto-Lei nº 373/80, era, como disse, um documento sintético, assente numa arquitetura minimalista. Não especificava, por exemplo, os diferentes papéis de cada uma das três categorias referidas. Todavia, a sua prática foi invariável e não deu margem a dúvidas: os membros natos - Governo da República, Governos das Regiões Autónomas, Deputados - promoviam a audição dos eleitos. Face a face, em diálogo, estavam os detentores do poder público e os eleitos da “sociedade civil”, os delegados das Associações e os "Observadores" da Comunicação Social", (aceites como iguais, na sua veste representativa e consultiva). Mais difícil de definir, antes de tudo por ser menos óbvia, numa leitura literal do diploma, era a função dos "membros nomeados" - representantes dos sindicatos e do patronato e especialistas convidados pelo governo. A chamada de centrais sindicais e associações patronais de cúpula, tanto podia significar a aposta numa instância tripartida de concertação, porventura inspirada na CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e Emprego, criada no ano anterior), ou num segundo patamar interno de auscultação, somando-se à vertente exterior e principal (a da Emigração e Diáspora), como remeter-se a uma função coadjuvante no debate (de suporte técnico e jurídico à formulação de Recomendações e Pareceres). Na realidade, foi este último perfil. mais discreto, o que prevaleceu. Os "delegados" dos parceiros sociais, (que o eram, na realidade, apesar do despacho de nomeação caber ao MNE), fizeram-se ouvir mais a esse nível, nos bastidores e nos "media" que lhes eram afetos - caso da CGTP/Intersindical, perante a mais discreta atuação da UGT e a invisibilidade quase total dos representantes das associações patronais. "Conselheiros" eram, pois, os dirigentes associativos que integravam as "Comissões de País", e os "Observadores" da Comunicação Social. A presença dos "membros natos", não só nas sessões solenes de abertura e de encerramento, como em muitas das reuniões de trabalho, foi garantia de acessibilidade a parceiros de diálogo. E, por isso, paradoxalmente, o primeiro Conselho, seria, mais do que o segundo (1996/2021) um espaço de interlocução direta entre os Conselheiros e os responsáveis políticos. E quer o CCP "associativo", quer o "CCP refundado em 1996 se erguem sobre uma legitimidade democrática - naquele alicerçada no voto de um colégio eleitoral, formado por representantes do movimento associativo, neste em processo de sufrágio direto, secreto e universal dos portugueses pertencentes a um determinado universo, cuja dimensão foi variando - de princípio, coincidia com os cadernos de inscrição consular (mais de 2.000.000 de cidadãos nacionais), depois, viu-se circunscrito aos cadernos eleitorais dos círculos de emigração (então com pouco mais de 170.000 recenseados), e, em data mais recente, cresceu, de novo, enormemente, pela via do recenseamento automático dos expatriados detentores do cartão de cidadão (para cerca de 1.500.000 eleitores). 6 - Do ponto de vista de funcionamento do Conselho, comparando os dois modelos que se sucederam - o que constituía um fórum presidido pelo Ministro dos Negócios e o que atualmente forma um coletivo com presidência eletiva - constatamos que nas sessões em que o Governo está presente, continua a assumir protocolarmente a sua direção. A diferença reside no facto de essa presença quase se limitar às solenidades de abertura e encerramento dos trabalhos. A presença do Governo no 1º CCP responsabilizava-o na dação de respostas e justificações. No Conselho atual, converteu-se em ritual de boas-vindas e de despedida, libertando os governantes da pressão exercida numa relação direta, e, como temos visto, em alguns casos, até da necessidade de abordar a problemática contida nas Recomendações, que caem em semi- esquecimento. Para isso, também terá contribuído outro fator importante: uma menor mediatização, face àquela de que gozou o Conselho associativo. Nos meios de comunicação social, são menos as notícias sobre as reuniões, as propostas, a vida do CCP. Não se sabe se isso obedeceu, ao menos inicialmente, a uma estratégia governamental de acantonar o Conselho no mundo mediático da emigração, (menos incómoda, porque mais distante para o Poder), ou se é simples consequência do descaso dos próprios “media”. Certo é que o CCP há muito deixou de ser um cenário privilegiado de confrontação, imagem de marca dos seus primeiros anos, que o prejudicou a ponto de ser a causa mais provável da sua extinção em 1990. Na sua segunda vida, o “Conselho” resultante da Lei nº 101/90 funcionou, essencialmente, a nível local. Seis anos depois, o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas José Lello relançou o Conselho, dando continuidade ao que tinham sido as suas formas de cooperação iniciais. Embora eleito por sufrágio direto e universal, o atual CCP acolhe uma plêiade de dirigentes associativos – e estranho seria que assim não fosse, pois é, em regra, através da atividade cívica e do voluntariado no interior das comunidades que os cidadãos ganham prestígio e notoriedade entre os seus pares. Esse é um dos fatores, que lhe permite manter o seu perfil e espírito original. 7 - No balanço de 40 anos de vida desta instituição, tão sólida na vontade coletiva de existir e nas solidariedades que dela emergiram, avulta, no lado mais negativo, uma certa desvalorização do seu trabalho pela falta de resposta, assaz frequente, das Recomendações, assim como a frequente omissão da consulta do Órgão nas matérias de relevo para os cidadãos emigrados e o futuro da Diáspora. Matérias que transcendem. largamente, o âmbito de uma Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas hoje, desprovida dos meios de que dispunha até à década de noventa do século passado: o Instituto de Apoio à Emigração e às Comunidades Portuguesas, (organismo dotado de autonomia administrativa e financeira, e de um escol de técnicos e especialistas, de dirigentes) e a Comissão Interministerial para a Emigração. à qual eram levadas as Recomendações dirigidas pelo Conselho a cada um dos departamentos da Administração Pública competentes na matéria. Que futuro para o CCP? Autonomia face ao Executivo, e ligação preferencial ao Parlamento? Constitucionalização? O poder discricionário do Governo no relacionamento com uma instituição dele dependente, marcou várias fases do seu percurso, chegando a impor-lhe uma quase “neutralização” entre 1988 e 1996, nos quase dez anos decorridos entre a última reunião do "Conselho associativo", em fins de 1987, e a primeira reunião do Conselho renascido no ano de 1997. Este longo hiato de constante invisibilidade, a nível global, não correspondeu, é certo, a inexistência jurídica da instituição, mas a incumprimento da legislação em vigor, (caso da não convocação das reuniões anuais, entre 1988 e 1991), ou uma nova arquitetura (a da Lei nº 101 /90), que se revelou, em larga medida, inexequível, num organismo fragmentado em colégios eleitorais. No 40º ano da acidentada vida do Conselho das Comunidades Portuguesas, é hora de repensar as condições jurídicas e fáticas para o pleno aproveitamento do seu imenso potencial e de o reconhecer como a instituição que levou a democracia, ressurgida em 1974, às comunidades portuguesas no estrangeiro. Nesta coletânea de alguns escritos sobre estes temas, deixamos factos e reflexões sobre a origem e a evolução dos mecanismos de representação de emigrantes em espaços transnacionais, o nosso e o de outros países, a par de uma visão pessoal ancorada no acompanhamento das suas vivências e metamorfoses, (como Presidente do CCP, na sua primeira fase e como Deputada da emigração, entre 1997 e 2005), à qual subjaz sempre a crença nas virtualidades da instituição, a par de algum ceticismo, que o passado justifica, quanto à capacidade de as projetar inteiramente no atual quadro da dependência governamental. Foi esse moderado ceticismo que me levou a dar, na Assembleia da República um último contributo para a valorização do CCP, através da convocação pela Subcomissão das Comunidades Portuguesas, a que presidia, de uma audição em que foi aventada, por alguns dos mais prestigiados juristas portugueses, a consagração constitucional do CCP, a fim de garantir a sua autonomia, (com ou sem uma eventual transição para o órbita da Assembleia da República ou, em alternativa, para a Presidência do Conselho de Ministros). Um passo em frente no trajeto para cumprir a sua vocação originária: ser uma assembleia verdadeiramente representativa e influente, o grande fórum da Diáspora e da emigração portuguesas Maria Manuela Aguiar Abril de 2021 --------------------------- textos sem alteração: Origens e Evolução do 1º Conselho das Comunidades Portuguesas 1981 Conselho e Congresso das Comunidades Portuguesas As minhas memórias do Conselho das Comunidades Portuguesas -------------------------------------------------------------------- POSFÁCIO É, para todos, inquestionável que as Comunidades Portuguesas têm assumido um papel relevantíssimo na afirmação externa de Portugal tendo o seu contributo sido decisivo para a economia do país e dos seus territórios ao longo das últimas décadas. De facto, é perfeitamente claro que as nossas comunidades residentes no estrangeiro, representam um capital humano, político, económico, social e cultural que importa, face aos enormes desafios da mundialização, valorizar, preservar e potenciar para bem de Portugal e dos portugueses. Para isso, é determinante que estas assumam um papel mais ativo no plano dos direitos de cidadania e da participação política em Portugal, ganhando mais peso político na defesa daqueles que são os seus direitos legítimos. Ou seja, as Comunidades Portuguesas precisam de ter voz. Mas, uma voz audível e influente, que consiga fazer-se ouvir nos diversos órgãos de soberania em Portugal, com tradução na definição de verdadeiras políticas para as Comunidades. Ora, uma das vozes mais importantes desta parte de Portugal que se encontra repartida pelo Mundo, tem sido ao longo de várias décadas, o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Como sabemos, o CCP é o órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à emigração e às comunidades portuguesas no estrangeiro e, ao longo da sua história, demonstrou ser fundamental na representação e na defesa das nossas comunidades, na definição de políticas para o sector e, no fundo, na relação entre Portugal e as suas gentes da diáspora. Trata-se igualmente de um parceiro essencial para a identificação de problemas locais que afetam os portugueses no estrangeiro, fruto da proximidade dos nossos conselheiros às comunidades, completando, de forma perfeita, a informação que chega aos diversos organismos oficiais e ao Governo. Contudo, ao longo das suas quatro décadas de existência, o CCP, apesar de ter já conhecido vários modelos de organização e de representação, aspira ainda que seja aprovada uma formulação legislativa que o torne mais atuante e ainda mais próximo das comunidades. Mesmo assim, temos de concordar que a legislação que regula o seu funcionamento foi até evoluindo de forma positiva. Neste contexto, é importante lembrar que a base da sua representação passou do âmbito associativo para uma eleição por sufrágio universal e, hoje o CCP, no seguimento das propostas por mim apresentadas na Assembleia da República, indica para o Conselho Económico e Social, para o Conselho Nacional de Educação e para o Conselho de Opinião da RTP, os representantes das Comunidades Portuguesas. Ao mesmo tempo, penso ser também oportuno relevar que, nas sucessivas alterações da legislação discutidas na Assembleia da República, houve sempre a necessidade de acrescentar propostas no sentido de reforçar a dignidade e a representatividade do órgão. Infelizmente, apesar destas alterações, o CCP tem ainda um evidente défice de reconhecimento por parte das instituições políticas que com ele devem colaborar, tal como previsto pela própria legislação. Face a esta realidade, o CCP tem, dentro daquilo que lhe tem sido possível realizar, desempenhado um papel muito importante junto das Comunidades Portuguesas, trabalho que nem sempre tem sido convenientemente aproveitado por quem governa o nosso país. Todavia, não posso deixar de afirmar que as opiniões e sugestões expressas pelo CCP, sempre foram muito relevantes para todos aqueles que se interessam verdadeiramente pelos temas da emigração. Na verdade, o caracter consultivo deste órgão, não o impediu, sempre que foi chamado a colaborar, de ganhar um espaço próprio sem chocar com as competências dos órgãos de soberania e com o Governo a quem compete decidir em última instância sobre as políticas de emigração. Tenho acompanhado desde a sua criação o CCP. Ao longo da sua existência tive a oportunidade de ser eleitor, de apoiar candidaturas, de contribuir para programas eleitorais e, mais tarde, já como Deputado à Assembleia da República ter subscrito várias propostas legislativas relativas ao CCP. Tive também oportunidade na qualidade de Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas de trabalhar muito de perto com os Conselheiros. Por esta razão, entendo que tenho alguma legitimidade para afirmar que o balanço do trabalho realizado é muito positivo. Esta minha opinião é, naturalmente, sustentada pelo facto do CCP ter assumido um papel determinante na discussão de temas cruciais para os portugueses que vivem no estrangeiro, como é o caso do ensino de português, a participação cívica e política ou as questões relativas à qualidade e funcionamento da nossa rede Consular. Convém também referir que os Conselheiros das Comunidades Portuguesas são os eleitos de proximidade desse Portugal espalhado pelo mundo. Eles são a voz de muitas das nossas comunidades e lideram muitas das iniciativas de expressão local quer seja por país ou por área Consular. São eles, através do conhecimento que possuem da realidade de vida destes portugueses, que dão consequência ao que entendo ser o principal propósito da ação política, que é o de resolver os problemas das pessoas. Num momento histórico para o CCP, que está a celebrar quatro décadas de trabalho, importa agora pensar no futuro e garantir que, este órgão essencial para Portugal, possa ter condições para melhorar a sua organização, para garantir a prossecução dos seus objetivos e para que seja devidamente reconhecido pelos organismos com os quais deve articular a sua ação. É para mim claro que devemos todos trabalhar para que este órgão possa assumir em Portugal, o mesmo plano de intervenção que órgãos similares já conquistaram noutros países. A criação do CCP foi no fundo o reconhecimento oficial de que havia um outro Portugal composto por gentes que emigraram para as várias regiões do mundo. O reconhecimento também que era necessário dar voz a essas comunidades no sentido de acolher sugestões, propostas ou reivindicações e permitir-lhes assim a sua participação na definição das políticas para esta área da governação. Na minha opinião, foi o reconhecimento da verdadeira realidade do país. Uma realidade que o Conselho das Comunidades Portuguesas representa. Paris, 1 de agosto de 2022 Carlos Gonçalves

junho 09, 2022

D E S C E N D Ê N C I A S M A G A Z I N E Artigo está em destaque nas redes sociais: https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:6895650789080010752 https://www.facebook.com/descendenciasmagazine/posts/333167808698035 https://www.instagram.com/p/CZlvVaxsmUZ/?utm_source=ig_web_copy_link

maio 11, 2022

CÍRCULO DE CULTURAS LUSÓFONAS MARIA ARCHER O lançamento do Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer se deu, efetivamente, na sessão de apresentação do livro: “Sem o Direito Fundamental de Voltar pra casa” – MARIA ARCHER Uma Jornalista Portuguesa no Exílio, de autoria de Elisabeth Battista, dia 11 de outubro de 2019. O anúncio da sua criação se deu durante nas comemorações Luso Brasileiras, no tradicional Clube dos Fenianos Portuenses, a 10 de maio de 2019. O CÍRCULO DE CULTURAS LUSÓFONAS MARIA ARCHER A MODERNIDADE DE MARIA ARCHER Maria Manuela Aguiar O “Círculo Maria Archer” participa, juntamente com a Associação Mulher Migrante - AMM, numa primeira jornada de homenagem à Drª Rita Gomes, neste mês de outubro, mês do seu nascimento, em que, todos os anos, procuraremos lembrá-la, de forma especial. Faz todo o sentido associá-la à evocação de Maria Emília Archer Eyrolles Baltazar Moreira, de quem era prima, com quem conviveu desde a infância, e a quem tanto admirava. Temos a certeza de que, se hoje estivesse entre nós, participaria, ativamente, com o maior entusiasmo, no lançamento deste Círculo e, tal como outros membros da família, veria na sua expansão uma caminhada para o futuro em que as crenças e as causas, o nome e a memória de Maria Archer estarão sempre presentes. Nos últimos anos da presidência de Rita Gomes na AMM, foram diversas as iniciativas focadas em Maria Archer. Gostaria de as recordar como acções que lhe foram, ou, se me permitem falar no plural, nos foram, especialmente gratas: uma primeira no contexto do Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas da Diáspora, em Novembro de 2011, congresso em que pretendemos reavaliar a realidade da emigração no feminino, traçando, por um lado, as linhas de evolução de mais de um século de êxodo migratório, com significativa componente feminina, e particular enfoque numa área em que têm estado, pelo menos, tão atuantes como os homens: o domínio da Cultura e do ensino da Língua. Maria Archer foi, então, homenageada, a par de Maria Lamas, em intervenções do Reitor Salvato Trigo, da Dr.ª Olga Archer Moreira, da Dra. Dina Botelho e da Profa. Elisabeth Battista. Voltou a ser figura de cartaz na comemoração do Dia Internacional da Mulher, em março de 2012, na Biblioteca José Marmelo e Silva, em Espinho, onde a principal oradora foi Olga Archer Moreira, sua sobrinha neta. O programa incluiu uma “entrevista imaginária” com a grande escritora e cidadã, representada por jovens das Escolas da cidade, que deu ao evento um toque afetivo e pedagógico. A “entrevista imaginária” seria posteriormente encenada em diversas escolas, para levar a públicos jovens o exemplo de vida de uma grande Mulher de Letras, capaz, igualmente, de ação concreta. Nesse ano, em Lisboa, no Teatro Nacional da Trindade, a força das suas convicções e ideais foi, novamente, saudada em sucessivas intervenções sobre o seu trajeto e a sua obra, por muitas pessoas que com ela conviveram de perto, como seu sobrinho dileto, o Prof. Fernando de Pádua, que encerrou a sessão, prestando-lhe um vibrante tributo, e o Presidente Mário Soares, símbolo da luta vitoriosa pelo Portugal em liberdade, em que ela se empenhou, de alma e coração. Os múltiplos contributos estão publicados, numa das mais belas edições da AMM, coordenada por Rita Gomes e Olga Archer Moreira. Em 2013, foi relembrada, numa apresentação das publicações da “Mulher Migrante”, realizada no Palácio das Necessidades e, em 2014, a Associação organizou juntamente com a Fundação Prof. Fernando de Pádua, um colóquio, a anteceder o lançamento da publicação de Elisabeth Battista “O legado de uma escritora viajante”. E tem permanecido, nos últimos anos, na agenda da “Mulher Migrante” - no Dia Internacional da Mulher, nos colóquios de Monção, (com repetidas encenações da “Entrevista Imaginária”, sempre protagonizadas por estudantes das Escolas locais), e no Dia da Comunidade Luso-brasileira, desde 2017, tendo este ano sido o Círculo Maria Archer apresentado formalmente, no âmbito dessas comemorações. Hoje, para o lançamento do último livro de Elisabeth Battista: “Sem o direito de voltar a casa” Maria Archer - uma jornalista portuguesa no exílio”, estamos reunidos, na esplêndida da Casa da Beira Alta, nossa muito acolhedora anfitriã, na pessoa do seu presidente, Dr. Afonso Costa. É uma segunda parceria da AMM e do “Círculo”, que, esperamos, se repita muitas vezes, na prossecução dos objetivos comuns, em torno da personalidade inspiradora de Maria Archer, cuja vasta e multifacetada obra convida a estudo e a debate e cujo exemplo de inconformismo convoca à militância cidadã. Temos, entre nós, e devemos sublinhar o facto, a maior especialista no seu percurso literário, a Professora Doutora Elisabeth Battista, que todos queremos ouvir, quanto antes, pelo que direi, agora, apenas umas breves palavras. Primeiramente, para lhe agradecer a esplêndida oportunidade que oferece ao Circulo Maria Archer de dar o melhor dos inícios a um roteiro de reflexão e debate, ao escolhê-lo, para organizar, no Porto, a divulgação de mais um notável trabalho científico sobre a insigne Autora, nomeadamente sobre o seu trilho jornalístico no exílio brasileiro, que, ao contrário dos livros, (ainda que na quase totalidade esgotados) é praticamente desconhecido. A esse agradecimento juntamos um convite, que, sabemos, será aceite, para se tornar associada do Círculo, alargando o seu espaço às fronteiras do Brasil. Limitar-me-ei, pois, a sumariar as principais razões que nos levam a fazer de Maria Archer uma companheira de jornadas, de diálogos sobre as temáticas de género, de valorização da vivência democrática, de defesa da Igualdade e aproximação dos povos, muito em particular os do universo da lusofonia e suas Diásporas. Da Diáspora Portuguesa e do mundo plural da Lusofonia ela é um nome maior, como intelectual, jornalista e romancista, e como precursora na observação e registo, em preciosos textos, sobre os usos e costumes das gentes com as quais, por largas décadas, tanto gostou de conviver, em Moçambique, na Guiné-Bissau, em Angola, (nos anos de juventude acompanhando os pais Anexos 192 e, depois, o marido), e, já sexagenária, no solitário exílio brasileiro de mais de duas décadas. Mulher de imensa cultura e inteligência, sempre atenta ao que acontecia em seu redor, fora como dentro do próprio país, com inteira compreensão das pessoas, dos ambientes, dos meios sociais, traduziu a experiência vivida em inúmeros escritos de incomensurável valor literário e de enorme interesse etnológico, sociológico e político. Assim se converteu em testemunha rara, em memória crítica de um tempo português, opressivo e cinzento, pautado por preconceitos e discriminações, por regras de jogo viciadas, que ela pôs a nu, frontalmente, sem contemplações e sem temor. Ninguém, como ela, retratou o quotidiano desse Portugal do “Estado Novo”, estagnado e anacrónico, avesso a qualquer forma de progresso social, em que as mulheres, em particular, se encontravam dominadas pela força das leis, pelo cerco das mentalidades, pela censura dos costumes, depois de terem sido deformadas pela educação, pela entronização rígida dos papéis de género dentro da famílias, numa sociedade fechada ao curso da História, que ia acontecendo na Europa e por esse mundo fora. A mais feminista das escritoras portuguesas, nascida no último ano de oitocentos, era demasiado jovem para poder ter feito parte dos movimentos revolucionários e feministas do princípio do século XX, mas viria a ser uma das poucas que, no período de declínio desses movimentos (com o desaparecimento de uma geração memorável), prosseguiu a seu jeito, incessante e solitariamente, a mesma luta contra o obscurantismo, que condenava a metade feminina de Portugal à subserviência, ao enclausuramento doméstico e à incultura... A escrita foi para ela uma arma de combate político. Segundo Artur Portela, “a sua pena parece por vezes uma metralhadora de fogo rasante”. Mulher livre num país ainda sem liberdade, pagou pela coragem de ser assim um preço muito alto. Viu os seus livros, que atingiam, recordes de popularidade e de vendas, apreendidos, os jornais onde trabalhava ameaçados de encerramento. Foi obrigada a partir, mas a sanha vingativa da Ditadura não se satisfez com o seu desterro - ela foi “deliberadamente apagada da História”, como escreve Maria Teresa Horta no prefácio da reedição de “Ela era apenas Mulher”. O Círculo Maria Archer surge, em pleno século XXI, para combater esse ato persecutório, consumado há décadas, Tem por assumida finalidade recolocar o nome de Maria Archer no lugar vazio que é seu na história da nossa Literatura e do feminismo português, e, também, na história do pioneirismo na construção de pontes entre as culturas lusófonas. Revisitar a obra desta Mulher de Letras, através da divulgação e do debate dos seus escritos, visa desocultar o passado, lançar luz sobre a realidade insuficientemente analisada e realçada da sociedade portuguesa de 40 e 50, e fazer futuro com a modernidade do seu pensamento e das prioridades da sua luta cívica e cultural. O CMA pretende, afinal, sobretudo, assegurar uma segunda vida a Maria Archer, projecto perfeitamente possível, porque, como dizia Pascoaes, existir não é pensar, é ser lembrado”. Neste projeto todos os presentes estão convidados a participar! 1º CICLO DE COLÓQUIOS MIGRAÇÕES - DO VAIVÉM DE VIDAS FICARAM HISTÓRIAS O “Círculo Maria Archer”, em parceria com a “Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade” (AMM), promove um ciclo de três colóquios sobre a temática das migrações portuguesas, vistas através da Literatura. É um convite à leitura coletiva da obra ímpar de Júlia Nery e à reflexão sobre questões que foram, igualmente, centrais no percurso e na escrita de Maria Archer, na sua visão do mundo lusófono e do espaço que as mulheres nele ocupam, ou devem e podem ocupar. No ciclo de colóquios, por zoom, sobre os livros “Ei-los que partem”, “Pouca terra... pouca terra” e “Da Índia, com Amor”, se começa por abordar a problemática da chamada “nova emigração” – a partida de jovens profissionais altamente qualificados, a perda de “talentos” –, para lançar, seguidamente, um olhar retrospetivo sobre a emigração tradicional – que, ao longo de séculos, despovoou o mundo rural, no continente e nas ilhas do Atlântico – e sobre o fenómeno da Expansão, determinante do êxodo sem fim, que deu origem às comunidades de cultura portuguesa e à “Diáspora”. Todas as sessões contam com a participação da Autora Júlia Néry e constituem, assim, momentos privilegiados de diálogo com ela. Programa do 1º Ciclo de Colóquios Migrações - do Vaivém de Vidas Ficaram Histórias Sábado, 24 de abril, 2021 17.00 -18.00 “EI-LOS QUE PARTEM” Apresentação de Aida Baptista, seguida de debate moderado por Maria Manuela Aguiar Sábado, 22 de maio, 2020 às 17.00-18.00 “POUCA TERRA... POUCA TERRA” Apresentação de José Manuel da Costa Esteves, seguida de debate moderado por Graça Guedes, moderado por Graça Sousa Guedes. Sábado, 12 de junho de 2021, às 17.00 - 18.00 “DA ÍNDIA COM AMOR” Apresentação de Aida Baptista, seguida de debate moderado por Ivone Ferreira Com esta iniciativa, o “Círculo Maria Archer”, coordenado por Maria Manuela Aguiar, se associa às comemorações do 25º aniversário de vida ativa da AMM, presidida por Graça Guedes, e presta homenagem à sua fundadora, Rita Gomes. 2º CICLO DE COLÓQUIOS ERA UMA VEZ... O Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer vai organizar, dentro da temática “Literatura e Migrações”, um ciclo de colóquios sobre o conto infantil, em que procura divulgar obras de autores da Lusofonia, de dentro e de fora de Portugal. É uma forma de homenagear Maria Archer, na sua faceta de grande contadora de histórias, oralmente, com sabemos pelo testemunha de sobrinhos e primos, e, também, através de uma ou outra incursão na literatura infantil e juvenil – como tantos outros escritores, Anexos 196 jornalistas e professores, em que se incluem Ana de Castro Osório, Natália Correia, Sophia de Mello Breyner, Érico Veríssimo, Luís Sepúlveda, Rosa Montero ou Vargas Llosa. Em Julho de 2021 realizam-se dois colóquios, no dia 17, a partir da Galiza, com Adela Figueiroa Panisse, professora universitária, escritora e poetisa, e no dia 26 de julho, do Canadá, com Manuela Marujo, Professora da Universidade de Toronto, celebrando “O Dia dos Avós”. ‘ERA UMA VEZ...’ - Ciclo de Colóquios sobre o Conto Infantil Segunda feira, dia 26 de julho 2º Colóquio sobre o Conto Infantil, no dia dedicado aos Avós. Manuela Marujo apresenta o seu livro “A primeira vez que eu vi neve” – um retorno ao mundo das crianças inspirada na sua própria infância. Manuela Marujo é professora emérita da Universidade de Toronto, onde, durante muito anos, dirigiu o Departamento de Espanhol e Português. Para além da sua faceta académica, é uma personalidade marcante na comunidade portuguesa de Toronto e no universo da nossa Diáspora, Co-fundadora dos movimentos internacionais designados por “A vez e a voz das Mulheres” e “A voz dos Avós”, com ela poderemos abordar o significado da sua narrativa, o que a levou a escreve-la, e, também, a sua visão e experiência de diálogo intergeracional num contexto migratório. ERA UMA VEZ... 3º Colóquio sobre o conto infantil., 3 de dezembro, 18.00 19.00 O AVENTUREIRO GANSO-PATOLA DO CABO AFRICANO”.de Ester de Sousa e Sá. A apresentação será feita pelo Dr. José Vaz, historiador, cronista e autor de contos infantis, com muitos dos seus livros incluídos no Plano Nacional de Leitura. . 3º CICLO DE COLÓQUIOS AS LETRAS NA DIÁSPORA 10 de julho de 2021, 18-00-19.00 Homenagem d' Álém mar ao Prof. Mayonne Dias Promovidos pelo CCLMA, com o título As Letras na Diáspora, realizou-se uma 1ª sessão de homenagem a um grande escritor e professor português da Califórnia e um gentleman – o mais britânico dos portugueses. O 1º homem a ser homenageado pelo Círculo... Homenagem ao Professor Eduardo Mayonne Dias (1927-2021), que recentemente nos deixou, silenciando-se uma das mais importantes vozes da Língua Portuguesa na Diáspora Americana. Será oradora a Professora Doutora Rosa Simas, da Universidade dos Açores, cuja vida académica ficou indelevelmente marcada por este docente, quando teve o privilégio de ser sua aluna na Universidade da Califórnia, Los Angeles e Santa Bárbara. COLÓQUIO INTERNACIONAL – MARIA ARCHER: REFLEXOS E REFLEXÕES Biblioteca Nacional, 24 de Janeiro - 09:30 - 17:30 Homenagem a Maria Archer nos 40 anos de sua morte A escritora portuguesa Maria Archer (1899-1982) é homenageada neste Colóquio Internacional que conta com reputadas/os estudiosas/os da sua vida e obra, investigadores de universidades portuguesas, brasileiras, espanholas, francesas e norte-americanas. O encontro com entrada livre, pode ser assistido presencialmente no Auditório da Biblioteca Nacional de Portugal em Lisboa ou via online através da plataforma Zoom. Inscreve-se no projeto internacional Escritoras portuguesas no tempo da Ditadura Militar e do Estado Novo em Portugal, África, Ásia e países de emigração, uma parceria entre o IELT - Instituto de Estudos de Literatura e Tradição, as Faces de Eva (CICS.NOVA) e o Centre de Recherches Interdisciplinaires sur le Monde Lusophone (CRILUS - Études Romanes) da Université Paris Nanterre. SESSÃO DE ABERTURA (09h15 - 10h30) • Inês Cordeiro (Diretora-Geral Biblioteca Nacional – a confirmar) • Teresa Araújo (IELT) • Graça Dos Santos (CRILUS) Anexos 201 • José Manuel da Costa Esteves (Cátedra Lindley Cintra) • Dalila Cerejo (CICS NOVA) • Isabel Henriques de Jesus (FACES DE EVA) • Teresa Sousa de Almeida (IELT) • Maria Manuela Aguiar (CCLMA) PAUSA (10h30 - 10h50) CONFERÊNCIA 1 (10h50 - 11h50) - Moderadora Zamira Assis .Olga Archer Moreira (presencial) Só quero um futuro 2. (11:05/11:20) Márcio Matiassi Cantarin (UTF-PR) (online) Maria Archer: autora e personagens em busca de um quarto só para si 3. (11:20/11:35) Gemma Nadal (I. E.C. Barcelona) (presencial) Estratégias de subversão das personagens femininas de ‘Ela é apenas mulher’ de Maria Archer 4. (11:35/11:50) Maria Izilda Matos (PUC-SP) (presencial/online?) Maria Archer e seus escritos: lutas e resistências no exílio em São Paulo DEBATE (12:05/12:20) ALMOÇO (12h20 - 14h00) CONFERÊNCIA 2 (14h00 - 15h00) Moderadora Zília Osório de Castro 5. (14:00/14:15) Ana Paula Ferreira (UMN) (online) As razões anti-coloniais de Maria Archer (1935-1963) 6. (14:15/14:30) Elisabeth Battista (UNEMAT) (online) Musa entre medusas. Maria Archer e a partilha do sensível. 7. (14:30/14:45) Sílvia Espírito Santo (UAL) (presencial) A paisagem colonial na vida e obra de Maria Archer (1899- 1982) 8. (14:45/15:00) Inocência Mata (FLUL) (presencial) “A pena a serviço da sensibilidade” imperial: o lugar de Maria Archer na literatura colonial (provisório ) DEBATE (15h00/15h20) CONFERÊNCIA 3 (15h20 - 15h50) Moderadora Ana Rosa Mota 9. (15:50/16:05) Helena Pereira de Melo (NOVA.FD) (presencial) A tentativa de alteração do direito civil desigualitário através da literatura em Maria Archer 10.(16:05/16:20) Zamira Assis (NOVA.FCSH) (presencial) (a confirmar) DEBATE (16h20/16h30) INTERVALO (16h30/16h40) APRESENTAÇÃO DO PROJETO “Escritoras portuguesas no tempo da Ditadura Militar e do Estado Novo em Portugal, África, Ásia e países de emigração“ (16h40/17h30) • Teresa Almeida/ Isabel Henriques de Jesus/ Raquel Sabino APRESENTAÇÃO DO LIVRO Women writing portuguese colonialism in Africa, de Ana Paula Ferreira (17H30/18h00) COMISSÃO ORGANIZADORA • Ana Mota • Isabel Henriques de Jesus • Maria do Céu Borrêcho • Mariana Oliveira Rodrigues • Patrícia Anzini • Raquel Sabino • Teresa Sousa de Almeida • Zamira de Assis COMISSÃO CIENTÍFICA • Ana Paiva Morais • Gonçalo Plácido Cordeiro • Graça Dos Santos • Helena Pereira de Melo • Isabel Freire • Isabel Henriques de Jesus • José Manuel da Costa Esteves • Maria Manuela Aguiar • Patrícia Anzini • Teresa Araújo • Teresa Sousa de Almeida • Zamira de Assis • Zília Osório de Castro Promotores: Biblioteca Nacional de Portugal/ Lisboa/ Projeto internacional Escritoras Portuguesas no Tempo da Ditadura e do Estado Novo em Portugal, Brasil, África, Ásia e países de emigração/ IELT - Instituto de Estudos de Literatura e Tradição/ Faces de Eva (CICS.NOVA)/ Centre de Recherches Interdisciplinaires sur le Monde Lusophone (CRILUS - Études Romanes) da Université Paris Nanterre COLÓQUIO INTERNACIONAL, 22 de fevereiro de 2022 MARIA ARCHER E OUTRAS MULHERES DE REFERÊNCIA E DE iRREVERÊNCIA Maria Archer e Outras Mulheres de Referência e (Ir)reverência O Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer & Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa Universidade do Porto Comissão Organizadora Manuela Aguiar Nassalete Miranda Marinela Freitas Lurdes Gonçalves COMEMORAÇÕES DE HOMENAGEM A MARIA ARCHER NO PORTO 2022 SESSÃO DE ABERTURA Conferência da Profª DEOLINDA ADÃO "Sussurro de vozes no silêncio - o caso de Maria Archer.", seguida de debate, moderado por Maria Manuela Aguiar Inauguração da Exposição de pintura em homenagem a Maria Archer, comissariada por ESTER DE SOUSA E SÁ CICLO DE COLÓQUIOS MARIA ARCHER EU E ELAS – MULHERES QUE IRROMPERAM NO MUNDO DOS HOMENS O Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer organizou quinzenalmente, de 2 de fevereiro a 31 de março, um ciclo de colóquios, no Museu de História Natural e da Ciência, da Universidade do Porto - UP, Galeria da Biodiversidade - Centro Ciência Viva Abertura 2 de fevereiro GRAÇA GUEDES - A primeira Mulher Portuguesa doutora e Ciência do Desporto e professora catedrática neste domínio 16 de fevereiro AGUSTINA NA 1ª PESSOA - Agustina Bessa Luís, na veste de primeira Diretora de um grande jornal diário nacional, comunicação de NASSALETE MIRANDA 9 de março Dia Internacional da Mulher, em parceria com a Associação de Antigos Alunos do Liceu Rainha Santa Isabel. AMÉLIA CAVALEIRO DE AZEVEDO – UMA DEMOCRATA ANTES E DEPOIS DE ABRIL Apresentação de NASSALETE MIRANDA e MAXIMINA GIRÃO: Testemunhos AURORA PEREIRA, LEVI GUERRA, RUI AMARAL, AMÂNDIO DE AZEVEDO 16 de março, Em dois colóquios sucessivos, foram lembradas mulheres portuguesas que, no século XX, se destacaram no combate pela liberdade, em tempo de ditadura: Maria Archer e Maria Lamas, e, seguidamente, Ruth Escobar. 16h00 – 17h00 | MARIA ARCHER E MARIA LAMAS, O PERCURSO DE DUAS MULHERES LUTADORAS Maria Archer e Maria Lamas, nascidas em fins do século XIX, eram muito jovens quando a “Liga Republicana das Mulheres Portuguesas” foi criada, nas vésperas da Revolução de 1910, e o movimento feminista português atingiu o seu ponto alto, no período histórico da 1.ª República, mas estavam destinadas a continuá-lo, defendendo os mesmo ideais durante o chamado “Estado Novo”, com sacrifício das suas carreiras e da sua segurança. Eram mulheres independentes, que viviam do jornalismo, da escrita, e da escrita faziam arma de combate pela Liberdade. Ambas se viram forçadas a partir para o exílio, deixando-nos o seu exemplo de coerência e coragem e, também, obras intemporais de enorme valor literário, etnográfico e político. Será oradora a Presidente da Direção do Conselho Português para a Paz e Cooperação, ILDA FIGUEIREDO. 17h00 – 18h00 | TRIBUTO A RUTH ESCOBAR, A PORTUENSE QUE AJUDOU A MUDAR O BRASIL A vida, a obra, a memória da atriz portuense RUTH ESCOBAR serão evocadas em comunicações de JOSÉ CALDAS, encenador/diretor teatral, de DANYEL GUERRA, crítico de cinema e MARIA AMNUELA AGUIAR, antiga Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas. Nascida no Porto (Campanhã), Ruth Escobar (1935-2017) emigrou ainda adolescente para o Brasil, país onde se tornaria uma das grandes referências e protagonistas do teatro brasileiro, no último meio século. Seja como atriz, produtora, empresária, animadora sóciocultural, cidadã civicamente empenhada, Ruth Escobar recolhe o reconhecimento dos meios artísticos, culturais e políticos do Brasil. A realização deste tributo afetivo e afetuoso tem, assim, plena justificação, na sua cidade natal. 31 de março, 17-0019-00 SESSÃO DE ENCERRAMENTO OLGA ARCHER MOREIRA - (Sobrinha neta de Maria Archer) ISABEL HENRIQUES DE JESUS (U Nova- Faces de Eva) “De olhos bem abertos - Nótulas sobre Maria Archer, em Eu e Elas” BLANCHE DE BONNEVAL (amiga de Maria Archer) Moderadora: Maria Manuela Aguiar (CCLMA). Intervenções de Ester de Sousa e Sá e dos artistas plásticos participantes na Exposição

abril 14, 2022

O 10 DE JUNHO DE 1989

EM NY - MINUTO 1.25 https://youtu.be/SOlzrp38mnU

abril 08, 2022

Voto de Congratulação pelos 40 anos do Conselho das Comunidades Portuguesas

  Grupo Parlamentar do PSD apresenta Voto de Congratulação pelos 40 anos do Conselho das Comunidades Portuguesas  PROJETO DE VOTO N.º …. /XIV/1.ª DE CONGRATULAÇÃOPELO 40.º ANIVERSÁRIO DA CRIAÇÃO DO CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS Ao longo das últimas quatro décadas, o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) assumiu um papel central no plano da representação e da organização das comunidades portuguesas no estrangeiro. Embora a sua estrutura tenha evoluído profundamente, passando de um órgão representativo do movimento associativo para uma espécie de parlamento, com os seus membros eleitos diretamente pelos cidadãos eleitores, a verdade é que o CCP soube ser absolutamente central no domínio do debate das grandes questões que afetaram as nossas Comunidades.Faz assim pleno sentido, assinalar de forma especial, o momento em que, há 40 anos, por iniciativa de Manuela Aguiar, a então Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas do Governo liderado por Francisco Sá Carneiro, se realizou o Congresso que deu origem a este Conselho.Assim, a Assembleia da República, reunida em Sessão Plenária, assinala os 40 anos do Conselho das Comunidades Portuguesas, felicitando muito especialmente a Dra. Manuela Aguiar e todos os representantes das mais diversas Comunidades, que participaram na sua criação. Palácio de São Bento, 23 de setembro de 2020  Carlos Alberto Gonçalves Deputado GP PSD  - Círculo Eleitoral da Europa Vice-Presidente da Comissão deNegócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas

ENTREVISTA A O MEU VELEIRO (sobre o meu tempo de Liceu)

ANOS DE FREQUÊNCIA DO LICEU - Frequentei o Liceu em 1958/59 e 1959/60, nos últimos anos do ensino secundário, o 6º e o 7º, que  então constituíam o "curso complementar do liceu". Foram dois anos apenas, mas decisivos pelo que aprendi como jovem na transição para a idade adulta, e não só, mas também  como estudante..  O QUE REPRESENTOU PARA SI TER FREQUENTADO ESTE ESTABELECIMENTO DE ENSINO - Depois de sete anos no Colégio do Sardão, a passagem para o ensino público assumiu, no meu caso, um significado muito grande, por se tratar de uma escolha pessoal contra a vontade da família inteira. Uma "ousadia", um desafio! Era aluna de "quadro de honra" num estabelecimento prestigiado pelo nível  pedagógico e pelos resultados globais obtidos, e ninguém parecia admitir que conseguisse manter o mesmo estatuto num liceu, fora daquele mundo fechado e protegido. Não acreditavam em mim e ainda menos acreditavam que pudesse continuar a ter acesso a igual qualidade de aprendizagem. Enganaram-se duplamente... Da minha parte, não havia certezas nem temores. Aos 16 anos, queria experimentar e tomar em mãos o meu futuro, com uma enorme curiosidade face ao desconhecido. Não tinha referências sobre o liceu, chegava, sem contacto prévio com professoras ou colegas, simplesmente, à escola secundária que englobava a área do Marquês de Pombal, onde os pais tinham arrendado um andar.  A opção por aquela área não fora feita ao acaso - o prédio ficava a dois passos do Colégio da Paz, pertencente à mesma Ordem religiosa do Sardão. Aí matricularam minha irmã e esperavam persuadir-me a acompanha-la, mais tarde ou mais cedo...   . Abandonava, assim, um meio onde era positivamente uma veterana, com fama de dinâmica participante nos campos de jogos e nas salas de aulas, deixava, na expressão que se popularizou, em dias recentes, a "zona de conforto" - migrava, embora para perto. geograficamente. O LICEU MARCOU, DE ALGUMA FORMA  A SUA VIDA? Sim, de uma forma evidente e definitiva. Na aventura da descoberta de mim própria naquele novo mundo, acabei por encontrar o que buscava - caminhei pelo meu pé, com a completa responsabilidade pela minha agenda, (a divisão das horas de  estudo e de passeios, cinemas e outras diversões), acentuei o meu interesse por causas sociais, pelo feminismo, por modelos democráticos de progresso, que nos vinham da Europa, da Suécia, em particular. Lembro-me, por exemplo, da minha "cruzada" contra a pena de morte (vesti de luto aquando da execução de Chessman, nos EUA), e de ter trocado a leitura dos romances de George Elliot ou das irmãs Bronte por autores contemporâneos como José Marmelo e Silva, Albert Camus ou Virgil Gheorghiu.    As professoras de Filosofia, de História, de Literatura abriram-me  horizontes, em anos cruciais para a formação, como são os 16/18 anos. Vi-me numa comunidade humana coesa e amável. Estávamos em  pleno Estado Novo, seria de esperar clivagens políticas, autoritarismo e outros tiques do regime. Não senti, de perto, nada disso. O à vontade no relacionamento entre alunas e professoras era a regra.  Poucas vezes vi a Reitora, figura distante, mas serena. Tanto quanto me apercebi,  deixava sempre  avultar a influência e a personalidade das docentes. Nunca me senti objeto  de rigores disciplinares ou de tentativas de manipulação ideológica, nem mesmo nas aulas de "organização política", onde me iniciei na abordagem ao mundo jurídico, ao Direito Constitucional e Administrativo. Era disciplina de que poucas gostavam e que eu apreciava justamente como antecâmara do curso que escolhera - não sem hesitações....  QUAIS AS RECORDAÇÕES MAIS SIGNIFICATIVAS QUE RETÉM? O meu primeiro contacto com o Liceu foi através da secretaria. Estava muito indecisa entre a alínea de Direito e a de Letras (Germânicas). e mudei três vezes antes do início das aulas. Numa normal repartição pública, aparecer repetidamente a alterar a matrícula não me tornaria muito popular. Ali, sim!  A funcionária a quem me dirigia, antes mesmo de eu expor o assunto, com um enorme sorriso cúmplice, exclamava: "Vem mudar de alínea, não é?". Foi ela a primeira imagem da simpatia e compreensão da nova escola, que me abria as portas. Muitas outras se seguiriam, do primeiro ao último dia. ( devo acrescentar que ainda fiz uma última e final mudança de curso, muito saudada na secretaria -  já com mais de três semanas de aulas decorridas...). Nas nostálgicas recordações da adolescência distingo sempre os dois tempos, o do "Sardão" e o do "Rainha Santa". Vivi, também, bons momentos no internato, com estimadas mestras e alegres colegas, mas envolvi-me, não poucas vezes, em conflitos e contestação - do sistema, das suas normas e condicionamentos, sobretudo. Não me dava bem com uma tentacular e rígida regulamentação de cada minuto do dia. Era rebelde em relação a tudo o que julgava errado ou opressivo...O Liceu foi sinónimo de liberdade, de fácil auto-disciplina, como seria, de seguida, a Faculdade de Direito de Coimbra. Todas as minhas expetativas foram excedidas, com  melhores notas, e num clima de perfeita convivialidade. Liceu e cidade do Porto, o "dois em um", no mundo dos meus sonhos feito realidade! Acabei o curso com 18 valores, o que me valeu o "prémio nacional". Estávamos em 1960, ano das Comemorações do Infante D. Henrique (o príncipe nascido na Ribeira), pelo que a distinção me facultou uma viagem ao norte de África, oferecida pelo governo aos jovens premiados, para visitarem um roteiro de cidades históricas, como Ceuta, Tânger. e até a Alcácer Kibir, lugar de tragédia e berço do mito sebastianista. Nessa época, o Liceu estava instalado num casarão antigo, de bela traça, porém, em mau estado de conservação. Faltavam espaços, salas de aulas, até o ginásio fora sacrificado e, com ele, as aulas de educação física. Eu não tinha transportes diretos para as aulas, pelo que o meu exercício físico quotidiano consistia em fazer uns quilómetros em passo de corrida... Até isso era divertido! O ambiente humano compensava, largamente, a falta de condições materiais. E ali, o ensino público era tão bom ou melhor do que o melhor do privado. Penso sempre nas mestras e nas suas aulas com saudades - em especial, nas fascinantes lições de Filosofia da Dr.ª Assunção Carqueja, que eu nunca queria que acabassem, e as da Dr.ª Adelaide Aleixo, que nos levava consigo, através de milénios da História de povos e civilizações, pela força da sua palavra eloquente. Lembro-me, muito em especial, da primeira das suas aulas a que assisti. O ano letivo começara há já semanas, e eu acabava de trocar o Inglês pela História (ou seja, Letras por Direito...). Tinham-me dito que ela era muito severa e que implicava com quem chegasse, assim, extemporaneamente.  Preparei-me para o pior. A Drª Adelaide falava, nessa manhã, da cultura grega, da estatuária, e eu ouvi-a, encantada, ainda que, prudentemente, na última fila... Era a mais idosa das nossas docentes, mas envelhecera bem. Muito bonita, cabelo todo branco, oradora enérgica e carismática. Parecia uma linda e sábia avó!. Como eu era a retardatária, olhou, com desusada frequência, para o meu lado, o que tanto podia ser bom como mau presságio. Na verdade, ali começaria uma verdadeira amizade de  professora/aluna, quase avó/neta, ambas entusiastas das coisas da memória de feitos e de gentes.. .     Amizade fácil de cimentar, também, com as outras professoras e com as companheiras de turma, em longas conversas, sobretudo com a Ana Luísa Janeiro, (com quem fiz um trabalho sobre as Descobertas no período Henriquino), ou com a Adília, que era a mais revolucionária - posição que eu ocupara no colégio e perdia para ela. Nos exames finais, a Ana Luisa como eu tivemos nota 20 a História. Fiquei encantada por nós, tanto como pela Drª Adelaide, a quem muito diretamente devíamos a proeza.A partir dos anos 60, os estudos, primeiro, e a profissão, depois, levaram-me para longe da minha cidade, do meu liceu e de quase todas as pessoas que tão positivamente me influenciaram nesses dois anos. A exceção foi a Drª Assunção Carqueja, que encontrava, às vezes, em Lisboa, acompanhando o marido, também meu amigo. Mantinha o brilho e entusiasmo da juventude, e nunca se esquecia de me oferecer os esplêndidos livros que escrevia em  prosa ou verso!Não tenho fotografias de grupo, dentro do Liceu. Que pena! Mas havia outros pontos de encontro na cidade, um deles o Palácio de Cristal, os seus belos jardins. Aí, sim, foram tiradas fotos de bons momentos passados com as minhas colegas - retratos fieis da nossa alegria de viver e conviver.

ARTE EM SINTONIA

Mutação das vidas que estamos a sofrer em sintonia com povos do mundo inteiro!.É um pesadelo...Olho para trás, apenas 3 semanas, e penso na última vez que estive num colóquio (no Dia da Mulher, em Gaia), num último programa de rádio  (na cidade da Feira, sobre o mesmo tema) num último filme, já em auditório vazio,  "Seberg contra todos os inimigos", num último jantar- concerto no casino de Espinho (Camané e Mário Laginha), no último artigo que escrevi para o jornal "Defesa de Espinho (que suspendeu sine die as edições, nas vésperas de celebrar 75 ou 80 anos - não sei bem, uma qualquer data especial), na última ida aos CTT, levantar a minha carta de condução, na última visita que recebi em casa, uma jovem prima e afilhada, com quem costumo ir ao futebol (outro prazer proibido), na última conversa na Galeria Zeller, onde deixei, mais ou menos assinalado, um quadro de colagens de Pomar, na última ida à agência Abreu, a pedir reserva para a viagem de Abril a Montreal, que ficou sem efeito, no último Expresso que comprei, numa estação de serviço, já higienizada por divisória de vidro entre empregado e público .As memórias têm, assim, a marca arrepiante de um "fim de mundo"...Tirando isto, o meu dia a dia é perfeito. Vivo muito bem comigo (e os meus 3 gatos) e tenho uma infinidade de coisas por fazer, e a fazer, com urgência. Não consigo dar conta de tanta coisa - a fotobiografia da miha mãe, apontamentos sobre a história da família, a busca cartas e fotos antigas, e a sua digitalização, a interminável, organização dos meus papéis (um caos!), a leitura de pilhas de livros adquiridos e ainda não lidos . À lista supra, poderia acrescentar uma última ida ao Cinema Trindade, na Rua do Almada, e, logo acima, na Rua José Falcão  ao "Paraíso do Livro", o meu alfarrabista preferido.. Na verdade, avançaria muito mais depressa naquelas tarefas, se não fosse a tentação de seguir as apocalíticas emissões da CNN (até já o simpático Chris Coumo está infetado!) e de ver os filmes da Fox Crime, Midsomer Murders. Hinterland, Lewis, para além de "Governo-Sombra, Eixo do Mal, Circulatura do Quadrado,. O último apaga a luz, etc etc.. Distrações a mais!...A caminhada, também a faço ao telefone. Sempre que atendo uma chamada, aproveito para andar, de um lado para o outro. Com um primo, acabo de bater, há uns dias, um record pessoal - a conversa durou 3 horas e 18 minutos. Sem pausa!De princípio, preferia sair para o meu "footing" lá fora, mas senti-me angustiada pela imagem  das ruas desertas. Prefiro a minha casa e o meu jardim, onde tudo ainda está como dantes. Ir às ruas é entrar na distopiaARTE EM SINTONIA Maria Manuela Aguiar sábado, 20/03, 12:51 para mariamanuelabarbara133 INFORMATIVO:  EVENTO DO DIA 28/09/2019  "ARTE EM SINTONIA" - CASA DOS AÇORES NORTE:  Nossos agradecimentos à Direcção da Casa dos Açores Norte por tornar possível a realização da Exposição "Arte em Sintonia" inaugurada, com grande sucesso, no dia 28 de Setembro último. Para atender ao convite feito pelo Exmo Sr. Dr. Ponciano Oliveira, Presidente da Casa dos Açores do Norte, recorremos a 21 artistas plásticos de excelência pessoal e profissional. A resposta positiva reuniu artistas de Portugal, Moldávia, França, Itália, Brasil. Com espaço de tempo pequeno, sugerimos o nome Arte em Sintonia, para rebater a ausência de regras, de tema, de estilos. A leitura não foi tão fácil, mas a qualidade das obras garantiu, harmonizou e deu certo. Convidados e expositores documentaram um agradável sentimento de bem estar, que envolveu a todos durante todo o tempo da inauguração na acolhedora sede da CAN. Parte desse bem estar devemos à envolvente pessoa do Exmo. Sr. Dr. José Rebelo, Professor de História e ex-presidente da CAN, que presidiu a Mesa Diretora e fez a abertura do evento com ligeiro e rico discurso.  Na sequência, a nossa convidada especial, Dra.  Maria Manuela Aguiar, fundadora da Associação da Mulher Migrante e ex-Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, foi muito aplaudida pelos convidados que ocuparam todas as cadeiras da Sala Nobre e ouviram atentamente o seu discurso muito bem documentado, com o tema "Em sintonia com a Diáspora Açoriana". Deixa sempre nos convidados a lembrança da sua boa energia e da generosa doação do seu conhecimento, um gosto de quero mais.  O Director do Conselho Fiscal, Dr. Luiz Toste partilhou, com pergunta e lembranças e, a seguir, manteve conversação com a palestrante sobre o tema em pauta.   O ambiente agradável, a organização do evento por parte da CAN, contou com a providencial atenção da impecável vice-presidente da CAN, Dra. Filomena Alves. Só foi possível que tudo alcançasse tal qualidade, com a ajuda do Diretor da CAN Sr. Rui Silva. Marcou presença e colaborou para dar mais brilho ao evento, a Psicóloga Dra. Fátima Moreira. Não pode estar presente, por motivo de força maior, a Assistente Social da CAN, Dra. Mafalda Loureiro,que trabalhou intensamente durante todo o processo que antecedeu à inauguração. Mas o seu bom espírito está inserido em cada detalhe do evento.  Entre os demais convidados, fomos honrados com a presença do Exmo. Sr. Dr. Dr. Afonso Costa, Presidente da Casa da Beira Alta do Porto, onde somos associada. Registamos a presença do simpático casal associados da CAN, Sra. Margarida Cramez e Sr. Manuel Cramez.  A jovem Flautista Eunice Amorim, muito aplaudida, atendeu pedidos e fez breve continuidade. O Porto d´Honra foi servido com muita elegância, com finos biscoitos agri-doces, bolo oferecido pelos artistas e um delicioso licor dos Açores.Nossa gratidão a todos pela confiança e respeito pela nossa singela missão de criar e produzir Arte, elemento tão importante para a evolução da nossa sociedade

março 30, 2022

COLÓQUIO MARIA ARCHER E OUTRAS MULHERES DE REFERÊNCIA E DE (IR)REVERÊNCIA CV's

Organização: Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa (FLUP) e Círculo Maria Archer Mesa 1 | 10h30 -12h30 Moderação: Rosa Simas • MARIA LUISA MALATO (FLUP - ILC), “Catarina de Lencastre e o tema da guerra no limiar do século XIX” Maria Luísa Malato é Professora Associada, com Agregação, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Com vários estudos sobre Utopia, Teatro e Retórica, a sua investigação debruça-se essencialmente sobre a literatura dos séculos XVIII e XIX. Tem Mestrado (1988, pela Universidade de Coimbra) Doutoramento e Agregação (1999 e 2007, pela Universidade do Porto) em Literatura Comparada e Estudos Românicos. Numa perspetiva comparatística, os seus trabalhos visam comprovar a necessidade de uma prática que alargue o corpus de análise às relações que a Literatura estabelece com a Filosofia, os textos impressos com os textos manuscritos, os autores canónicos com os "menores". Membro ativo do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e colaboradora do Instituto de Filosofia (UP) e Centro de Estudos de Teatro (UL), unidades financiadas pela FCT. Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Literatura Comparada (2013- 2018). Co-editora da Revista online de Filosofia e Literatura Pontes de Vista. • CLAÚDIA PAZOS-ALONSO (Univ. Oxford - ILC), “Onde se lê ‘feminismo pioneiro’... leia-se Francisca Wood” Cláudia Pazos-Alonso é professora de Estudos Portugueses e de Gênero, na Universidade de Oxford e na Fellow of Wadham College. Os seus interesses de pesquisa variam amplamente em literatura lusófona dos séculos XIX e XX. Atualmente é co-diretora de mestrado em Estudos da Mulher em Oxford e vice-presidente da Associação Internacional de Lusitanos. As principais publicações de livros incluem “Antigone Daughters? Gênero, Genealogia e Política de Autoria na Escrita de Mulheres Portuguesas do século XX” (2011, com Hilary Owen), “Imagens do Eu na Poesia de Florbela Espanca” (1997) e volumes co-editados, como “Reading Literature in Portuguese“, “Um Companheiro para a Literatura Portuguesa” (2009) e “Mais Perto do Coração Selvagem. Ensaios sobre Clarice Lispector” (2002). Juntamente com Fábio Mário da Silva, é responsável pelas recentes edições de Florbela Espanca (Estampa) e Judith Teixeira (Dom Quixote). Cláudia Pazos-Alonso acaba de publicar em Portugal o livro Anticlericalismo e feminismo na imprensa oitocentista. Os artigos de fundo de Francisca de Assis Martins Wood (2021, Edições Afrontamento). • M. LUÍSA TABORDA (FLUP - ILC), “Ana Plácido e uma cela só para si” Maria Luísa Taborda Santiago, licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestre e doutoranda em Estudos Literários Culturais e Interartísticos pela Universidade do Porto. Atualmente é colaboradora de um projeto de pesquisa Luso-Brasileiro que pretende publicar as obras completas da escritora portuguesa oitocentista Ana Plácido, objeto de estudo da sua tese de doutoramento. Trabalha com literatura brasileira e portuguesa e interessa-se particularmente pela escrita de autoria feminina, questões de género e poéticas e políticas do corpo. • ANA COSTA LOPES (Univ. Católica-CEPCEP), “Elisa Curado: uma progressista em tempos de cólera” Ana Costa-Lopes, Doutorada em Língua e Cultura Portuguesa pela Universidade Católica Portuguesa com Imagens da Mulher na Imprensa Feminina de Oitocentos, Tese publicada pela Quimera, Lisboa (2005) e Mestre em Estudos Luso-Asiáticos com a Tese Confluências e divergências culturais nas tradições contísticas portuguesa e chinesa, publicada pelas Universidades de Macau (2000) e Católica de Lisboa (2000). Investigadora do CECC e CEPCEP (Universidade Católica). Colaboradora do CLEPUL, Universidade de Lisboa com uma biografia sobre Elisa Curado (1858-1933) e, também, como Conselheira Científica (Portugal) da publicação das «Senhoras do Almanaque» do Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro. Autora de livros e artigos e de comunicações em congressos sobre a imprensa periódica feminina e história das mulheres; literatura tradicional; associações femininas. ---------------------------- Mesa 2 | 14h30 - 16h00 Moderação: Maria de Lurdes Sampaio ~ • ANA PAULA FERREIRA (Univ. Minnesota) - “Discurso imperialista e posicionamento anti-colonial: Maria Archer (1935-1963)” Ana Paula Ferreira é Professora Titular de Estudos Portugueses na Universidade de Minnesota. Fez o doutoramento na New York University, sendo colega de Margarida Losa. A sua investigação tem-se centrado na ficção portuguesa contemporânea, com ênfase no neorealismo, em mulheres escritoras e feminismos, raça e colonialismo tardio, bem como seus efeitos e restos pós-coloniais. Entre as suas publicações em livro, A urgência de contar: contos de mulheres, anos 40 (2002), trouxe `a luz muitas das escritoras esquecidas do período do Estado Novo, entre elas Maria Archer. Desde meados da década de 1990 tem publicado estudos parciais dos romances de Lídia Jorge, editando o volume, Para um leitor ignorado: Ensaios sobre o O Vale da Paixão e outras ficções de Lídia Jorge (2009). Editou ainda, com Margarida Calafate Ribeiro, Fantasmas e fantasias imperiais no imaginário português contemporâneo (2003); e com Ana Luísa Amaral e Marilena Freitas, New Portuguese Letters to the World: International Reception (2015). O seu último livro, Women Writing Portuguese Colonialism in Africa (2020), traça a história da agência que várias mulheres escritoras tiveram para a produção simbólica e não só do colonialismo português na África, desde finais do século XIX `a segunda década do século XXI. • ANA PAULA COUTINHO (FLUP - ILC), “Maria Archer: deslocação e (in) conveniência” Ana Paula Coutinho é Professora Associada com Agregação do Departamento de Estudos Portugueses e Românicos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde tem lecionado sobretudo nas áreas da Literatura Comparada e dos Estudos Franceses. Doutorada em Literatura Comparada (1998) e com Agregação em Literaturas e Culturas Românicas (2010), sempre se dedicou à literatura contemporânea numa perspectiva comparatista, tendo nos últimos anos desenvolvido particular investigação no domínio das interculturalidades e das representações literárias e artísticas das migrações e do exílio. Foi Coordenadora Científica do Instituto de Literatura Comparada de Abril de 2015 até Janeiro de 2022. Coordena igualmente a base digital Ulyssei@s. Membro colaborador do CRIMIC (Université Paris IV), colabora ainda com o Programa Non-Lieux de l’Exil (Collège d’Études Mondiales – FMSH). É vice-presidente da Alliance Française do Porto. Dos livros publicados ou editados, destacam-se António Ramos Rosa. Mediação Crítica e Criação Poética (Quasi Edições, 2003. Prémio Ensaio Pen-Club); Lentes Bifocais – Representações literárias da Diáspora Portuguesa (Afrontamento, 2009), Passages et Naufrages migrants. Les fictions du détroit (com Maria de Fátima Outeirinho e José Domingues de Almeida), Paris, Harmattan, 2012; Nos & leurs Afriques. Images identitaires et regards croisés Constructions littéraires fictionnelles des identités africaines cinquante ans après les décolonisations (com Maria de Fátima Outeirinho e José Domingues de Almeida) Frankfurt, Berlin, Peter Lang, 2013. ELISABETH BATTISTA (UNAMAT) Da dominação à resistência: percurso de Maria Archer Elisabeth Battista é docente no Programa de Pós-graduação, Mestrado e Doutorado em Estudos Literários - PPGEL, da Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. Autora dos livros: MARIA ARCHER - O legado de uma escritora viajante, Editora Colibri, Lisboa, 2015; Sem o direito fundamental de voltar para casa? Maria Archer? Uma jornalista portuguesa no exílio, Editora Espaço Acadêmico, Goiãnia, 2019. Cultura e Literatura de Mato Grosso (organizado em parceria com Elizete Dall-Comune Hunhoff), Editora Espaço Acadêmico, Goiânia, GO, 2020; A Experiência Literária: Ensino e Leituras (organizado em parceria com Dagoberto Rosa de Jesus), Editora Espaço Acadêmico, Goiânia? GO, 2020. Possui quatro livros orgs; 40 capítulos de livros, 19 artigos publicados em periódicos; Pós-Doutorado na Universidade de Lisboa (2011-2012), e Pós-doutorado sênior pela Universidade de Aveiro (2018), no Centro de Línguas e Culturas. Integrou a Equipe do Programa Novos Talentos, CAPES/UNEMAT, Subprojeto: LINGUAGEM E TECNOLOGIARESSIGNIFICANDO A RELAÇÃO UNIVERSIDADE/ESCOLA; Fundadora do Centro de Pesquisa em Literatura - CEPLIT/UNEMAT (2007-2010); Diretora da UNEMAT Editora (2011); Editora da Revista ATHENA - periódico de alunos de Pós-graduação (atual); Editora da Revista de Estudos Acadêmicos do Curso de Letras (2002); Membro do Conselho Universitário - CONSUNI/UNEMAT (2011-2013); Membro do Conselho Regional por dois mandatos (2013- 2016); Presidiu o Conselho da Faculdade de Educação e Linguagem (2015-2018); Coordenadora da Pesquisa em Grupo: No Centro Oeste da margem: Cem Anos de relações entre Cultura e Literatura em Mato Grosso. (2013-2016); Editora do periódico Revista Ciência e Estudos Acadêmicos de Medicina da UNEMAT (2013-2018); Coordenou o Projeto de Extensão Revista Ciência e Estudos Acadêmicos de Medicina da UNEMAT; Formação: Licenciatura Plena em Letras - Português/Inglês (UNEMAT), Mestrado (FFLCH-USP - 2002) e Doutorado (FFLCH-USP - 2007), com a Tese: Entre Literatura e Imprensa: Percursos de Maria Archer no Brasil; Pós-Doutorado na Universidade de Lisboa (2011-2012), com Organização do Acervo Literário de Maria Archer, no Centro de Estudos Comparatistas, da Faculdade de Letras, da Universidade de Lisboa. Pós-doutorado Sênior pela Universidade de Aveiro, sob a supervisão de Maria Fernanda Brasete, Portugal (2018) ---------------------------- Mesa 3 | 16h30 - 18h00 Moderação: Cláudia Pazos-Alonso • ISABEL PIRES DE LIMA (FLUP - ILC), “Mulheres na Revolução: das Três Marias a Agustina” Professora Emérita da Universidade do Porto. Doutora Honoris Causa pela Universidade de Sófia. Investigadora do Instituto de Literatutra Comparada Margarida Losa (I&D da FCT). Estudos em Literatura Portuguesa e Comparada e em Interartes. Autora de As Máscaras do Desengano - para uma leitura sociológica de ‘Os Maias’ de Eça de Queirós (1987), Trajectos -o Porto na memória naturalista (1989), Retratos de Eça de Queirós (2000), Visualidades – A Paleta de Eça de Queirós (2008) e editora de Eça e "Os Maias" cem anos depois (1990), Antero de Quental e o Destino de uma Geração (1993), Eça de Queirós / Paula Rego, O Crime do Padre Amaro (2001), Vozes e Olhares no Feminino (2001), C. Castelo Branco / Paula Rego, Maria Moisés (2005); co-editora de obras sobre Agustina Bessa-Luís, José Gomes Ferreira, Óscar Lopes, Vergílio Ferreira. Centenas de artigos em revistas como Camões, Colóquio/Letras, Dedalus, Metamorfoses, Portuguese Cultural Studies, Revista da Faculdade de Letras da UP, Semear, Trans-Humanities, Via Atlântica. Deputada à Assembleia da República (1999-2005/2008-9). Ministra da Cultura (2005-8). VicePresidente da Fundação de Serralves (desde 2016). • MÁRCIA OLIVEIRA (Univ. Minho/CEHUM), “Womanart: Mulheres, Artes, Ditadura” Márcia Oliveira é bolseira de pós-doutoramento FCT em Estudos Artísticos/História da Arte no CEHUM (SFRH/BPD/110741/2015) e pertence ao grupo de investigação em Género Artes e Estudos Pós-Coloniais. Licenciada em Jornalismo pela Universidade de Coimbra e mestre em Estética pela FCSH-Universidade Nova de Lisboa concluiu o doutoramento pela Universidade do Minho em 2013 com tese sobre arte e feminismo em Portugal no contexto pós-revolução. Foi visiting scholar no Centre for Women in the Arts, Rutgers University, NJ, USA, de Agosto a Novembro de 2016. É Investigadora Co-Responsável do Projeto WOMANART: Women, arts and dictatorship: Portugal, Brasil and Portuguese speaking African countries, financiado pela FCT PTDC/ARTOUT/28051/2017) tendo como investigadora responsável Ana Gabriela Macedo. • DEOLINDA ADÃO (Univ. Berkeley), “A audácia de escrever: uma abordagem da produção literária feminina” Deolinda Adão é Professora e Directora Executiva do Programa de Estudos Portugueses na Universidade da Califórnia, em Berkeley. É licenciada em Literatura e Línguas Hispânicas na Universidade da Califórnia em Berkeley em 2002 e doutorada em Literaturas e Culturas Luso-AfroBrasileiras pela mesma universidade em 2007, com especialização em mulheres, género e sexualidade. O tema da sua dissertação foi “A study of the construction of feminine identity in Portuguese literature”. Publica regularmente livros e artigos sobre o género feminino, com destaque para migrações femininas incluindo “As Herdeiras do Segredo: As Personagens Femininas na Ficção de Inês Pedrosa”. Em 2018, foi eleita Presidente da Luso-American Education Foundation, da qual já era membro desde 1996. Esta fundação dedica-se à promoção da Língua e Cultura Portuguesas no Estado da Califórnia. É membro do Conselho da Diáspora Portuguesa desde 2013 COMISSÃO ORGANIZADORA

fevereiro 01, 2022

A AVÓ MARIA AGUIAR in Os avós e nós

A AVÓ MARIA

A Avó Maria Aguiar era figura pública proeminente em Gondomar, vila antiga, na fronteira sudeste do Porto. Os seus sete filhos, incluindo minha mãe, e todos os netos eram referidos, falados e considerados em função dela, para sempre umbilicalmente ligados à aura e ao nome da matriarca, quase sem luz própria, por mais brilhantes que fossem. 
Nasci na sua casa, cercada de jardins murados, com um mirante florido na frente de rua e pomares e vinhedos a perder de vista, por detrás da mansão grande de "brasileiro", de cor rosada e venezianas verde escuro. A Vila Maria.  Aí, com ela e meus Pais, fui tão feliz quanto se pode desejar, nos primeiros oito anos de vida. Com ela, aprendi a gostar de histórias, (e mais de narrativas engraçadas sobre si e a família do que de contos infantis), a declamar poemas de Guerra Junqueiro, exercitando a memória em alguns dos que parecem intermináveis ("O melro, eu conheci-o, era preto, brilhante e luzidio... ), a bordar pequenos quadrados de linho a ponto de cruz, com o mínimo possível de habilidade inata. E a comportar-me surpreendentemente bem, tanto em procissões e novenas de Igreja, como nos lanches das confeitarias portuenses, a Villares ou a Ateneia, onde lhe fazia boa companhia. Criança rebelde, com reputação de indomável, várias vezes, emboscada atrás de um móvel, ou de uma porta, ouvi a Avó levantar a voz para me defender, dizendo: "Ninguém compreende esta menina! É preciso explicar-lhe a razão das coisas. Se ela perceber, aceita tudo muito bem". Na verdade, eu gostava de satisfazer expetativas, era sempre  muito capaz de corresponder, na ação imediata, ao pior ou ou melhor que esperavam de mim...
A esta persuasiva pedagoga e querida Avó devo algumas das mais extraordinárias alegrias da infância, entre as quais se contam: a compra de uma carteirinha de verniz vermelho, usada a tiracolo, (a contragosto dos pais, naturalmente...), a oferta de um grande boneco pretinho, por muito tempo mirado e namorado na montra do bazar de Sá da Bandeira, e o traje de anjo amarelo, de grandes asas brancas, com que desfilei pelas ruas de São Cosme, em cortejo procissional, depois de vencida, uma vez mais, pela avó a relutância de mãe e pai em satisfazer tão ardente e desvalorizada ambição infantil. 
Todavia, à Avó devo, igualmente, a remota origem do meu feminismo - o que não era, de todo, resultado que ela desejasse. De uma família de mulheres fortes, as mais heterodoxas das quais pareciam saídas de romances de Agustina, herdeira da sua fibra, era, porém, ela própria, um assumido expoente de conservadorismo e da prática das virtudes consideradas femininas, primeiro durante um casamento de dezasseis  felizes anos, e, depois, ao longo de uma sofrida viuvez de mais de meio século. A sua influência na "res publica", crescera circunscrita ao pequeno círculo bem frequentado e bem visto das obras paroquiais, onde debutou, e extravazou, numa dinâmica natural, para o da comunidade, como um todo, do campo da assitência e do atendimento de casos sociais, ao da cultura, organizando peregrinações, a par de récitas e concertos beneficentes, cujos ensaios, muitas vezes, decorriam na sua sala do piano (piano que era emprestado para os espetáculos, fazendo, entre a Vila Maria e o Cine Teatro Nun' Álvares, uma curta e improvável viagem em carros de bois, necessariamente seguida de intervenção de um afinador). Outras vezes, as arcadas e a espaçosa adega do piso térreo transformavam-se em estaleiros de produção de carros alegóricos, enfeitados de flores de papel, confecionadas, aos milhares, por ruidosos bandos de meninas, a que as netas tinham licença de se juntar. 
Para tudo havia regras, naquele mundo que se movia, sob o impulso de Maria Aguiar, a intransigente defensora do recato e das "boas maneiras" feminis, ao serviço das quais, tantas vezes, brandamente, me repreendia: "as meninas não fazem isso!".
 Isso sendo o que era permitido aos primos da minha idade, como subir às árvores do jardim, ou até aos telhados, saltar de carros eléctricos em andamento, jogar à bola com os garotos da rua...  Enfeitar altares ou colar florinhas de papel colorido em painés, ao som de canções populares, sim, eram tarefas de  meninas... O plural "as meninas" intrigava-me... A argumentação da Avó, neste capítulo, não me soava convincentemente, não respondia aos meus "porquês"... Achei por bem provar, a mim mesma e aos outros, pela "praxis", que "as meninas" podiam tornar-se, com o continuado exercitar, tão aptas como os rapazes a cumprir objetivos nosmuitos domínios interditos. E assim me converti, a partir dos seis ou sete anos, ainda que sem consciência clara da existência das questões de género, em feminista praticante... Por sinal, os homens da família, o pai e o avô paterno, o inequecível Avô Manuel, cedo me iniciaram na paixão pelo cinema, pelo teatro e pelo futebol, não mostrando partilhar as preocupações da avós, ambas a Avó Maria e a Avó Olívia, em completa sintonia nas suas teses sobre a construção cultural do feminino... .
Numa altura em que tanto já ressentia, em causa própria, as discriminações de sexo, não me ocorreu, nunca, indagar o porquê da posição singular que a Avó Maria ocupava na sociedade local, a tal ponto a via como decorrente de uma autoridade natural, de um estatuto seu, inquestionável. Só muito mais tarde me apercebi de que o ganhara num trabalho incansável, e interminável, que, mais do que vocação, fora destino, fatalidade de se ver mulher só, ter de encontrar os modos de se realizar numa outra vida. Ela e a “sua circunstância”…
Maria da Conceição Barboza Ramos era a mais nova de oito filhos de Carolina Ferreira Ramos, (de uma família enraizada, há séculos, em Gondomar) e de Joaquim Mendes Barboza, o tabelião, que viera do norte (Bitarães, Paredes), para nunca mais deixar a terra de adoção. Em tudo fora  menina do seu tempo e condição social. Depois da escola primária, recebeu, em casa, os ensinamentos dos pais e professores, à espera de encontrar noivo. Das três raparigas, só uma, Glória, se formou na Escola do Magistério, no Porto, e nunca exerceu. A tuberculose levou-as aos 21 anos. O curso, pela raridade, bastou para que fosse uma das poucas mulheres biografadas na monografia “O Concelho de Gondomar”, ao lado do pai, irmãos e vários parentes masculinos, com largo “curriculum” de intervenção cívica e política.
A Maria, jovem inteligente, prendada, e lindíssima, não faltaram pretendentes. A sua escolha recaíu num conterrâneo emigrado no Brasil. António Carlos Pereira de Aguiar, nas suas próprias palavras, pessoa “muito ilustrada”, homem bonito, com enormes e expressivos olhos verdes, como nunca vira outros. O Avô António partira para o Rio de Janeiro em 1996, com 16 anos, levado por um dos seus quinze irmãos,  João, bastante mais velho, quase com idade para ser seu pai, e, por essa altura, já um muito próspero joalheiro. O jovem António Carlos, revelando-se exemplar discípulo do melhor mestre, numa época aurea de desenvolvimento do país, como foi, para o Brasil, o início de novecentos, fez fortuna rápida e honesta, e era, então, o dono de uma joalharia da moda, na rua do Ouvidor. Sendo a Avó Maria uma incondicional entusiasta de viagens e excursões, de muita movimentação e convívio social, até aos seus últimos dias dos seus mais de noventa anos, é possível que a perspetiva de viver, por uns anos, no mundo novo brasileiro, com frequentes visitas à sua terra, a bordo de esplêndidos paquetes,  tenha sido fator de peso na aceitação daquele pedido de namoro, logo depois convertido em pedido de casamento. Da parte do Avô Aguiar, fora o "coup de foudre", "amor à primeira vista" e até que a morte os separou... No mais clássico modelo de papeis conjugais, com rígida divisão de tarefas, uma união perfeita! Dos oito filhos, só três nasceram no Rio. Maria preferia ter os meninos em São Cosme, no conforto da casa materna... Vinha o marido, de bom grado, trazê-la e buscá-la e, durante o tempo de separação, escrevia-lhe extensas cartas de amor, em tudo idênticas às dos tempos idos de noivado...O noivado durou dois anos e está documentado por uma preciosa sucessão de postais ilustrados, com breves mensagens, que diríamos uma espécie de “twits” do início do século passado, que serviam para troca de saudações amorosas e anuncio do próximo envio de longas cartas,infelizmente, quase todas desaparecidas....
A Gondomar regressaram em 1920, e viveram, por breves anos, na terra e na casa dos seus sonhos. A morte súbita do Avô António, aos 46 anos, deixou a viúva num estado de depressão profunda, que ameaçava eternizar-se. A senhora elegante e mundana das salas de festas transformou-se em vulto negro e austero (não menos elegante) dos salões paroquiais... Os retratos contam, sem necessidade de palavras, a tragédia da sua vida, pela forma e colorido dos chapéus, das abas imensas das "capelines" floridas da senhora casada aos pequenos chapéus de viúva, rentes à testa, enfeitados por uma simples "aigrette" (a que chamávamos, na sua ausência, "os quicos da Avó"). O momento da grande mutação foi o da perda do papel de esposa perfeita, em que teve de se assumir como mãe e o pai de sete crianças (difícéis e desafiantes...), com idades entre os dois meses e os catorze anos. Do torpor de muitos, muitos meses saiu, buscando orientação na fé, nas crenças e práticas religiosas, fonte inesgotável de novas energias, e razão de viver, intensamento, para a família e para os outros..   
Fora a mulher do empresário António Aguiar, que o seu caráter extrovertido e generoso, tornara tão estimado e popular no Rio de janeiro, como em Gondomar. Enquanto a sua memória permanecia entre os daquela geração, foi a sua respeitabilíssima sua  viúva. E, por fim, ela própria, Maria Aguiar, líder no feminino, universalmente querida e  admirada. Protetora dos pobres, confidente e conselheira nas horas difíceis. Do seu apostolado de leiga, da organização de peditórios, peregrinações, festividades religiosas, passara aos domínios adjacentes da animação cultural, organização de récitas e concertos beneficentes, deixando, vir, de novo, à superfície o seu gosto pela música, poesia e teatro, num mesmo quadro de voluntariado socialmente aprovado para as senhoras. Latente, sempre, o culto do marido, simbolizado na sobriedade dos trajes escuros (em que se permitia o roxo e o cinza), ou no cuidado com que podava, por suas mãos, as rosas, com as quais ele se apresentava em exposições,  (nunca filhos, netos nem os criados saídos das cadeias lhes puderam tocar). E no uso do seu apelido Aguiar. . O nome que, hoje, descendentes de quarta e quinta geração continuam a usar, preterindo outros, do ramo materno e paterno, apenas por ser o dela. 
E não só por ter sido essa notável cidadã. Mais ainda, por ter sido a nossa Avô, a prodigiosa contadora de histórias, a grande matriarca, a força que reunia à volta da mesa na casa, que, sendo dela, era de todos, a família inteira, uma família enorme, na intimidade das ceias de Natal ou nas festivas visitas do compasso pascal, em casamento e batizados e em todas as festas que se inventavam para estarmos juntos. Na mais completa fragmentação familiar, que se seguiu ao seu tempo, é ainda, afinal, a memória da Avó Maria Aguiar, que nos reune, à volta do seu nome, numa árvore genealógica de afetos.