maio 10, 2015

Prefaciar o livro de um grande PORTISTA e de um grande AMIGO


PREFÁCIO

O Dr. Fernando Sardoeira Pinto pertence a uma estirpe rara de homens do desporto que são também, homens de cultura e homens de carácter. E é, para além disso, um nortenho e portuense, dos que citam Sofia de Mello Breyner para evocar a "pátria dentro da pátria", um "dragão de causas", símbolo do espírito inquebrantável do FC Porto, voz dos seus adeptos, que se sentem, como me sinto, esplendidamente representados por ele.

Presidente da Assembleia Geral do FC do Porto a partir de 1982, desde o primeiro mandato de Jorge Nuno Pinto da Costa, é, com o amigo e aliado de sempre, artífice da aventura que levou à transformação de um clube regional, ou de " província", como era depreciativamente chamado, para o clube de renome universal, que deu ao País títulos europeus e mundiais de futebol, jamais alcançados pela própria selecção nacional.

Aventura colectiva que começou por aproveitar os ventos de mudança do Portugal democrático para repor a verdade das capacidades e dos talentos de quem era secundarizado pela força de um centralismo implacável, imposto pelo regime, que da política extravasava para todos os domínios, como era o caso particular do futebol.

A ascensão do FC Porto deve-se, antes de mais, a estes dirigentes que trouxeram a democracia e a igualdade de oportunidades para o terreno de jogo, permitindo, num segundo momento, aos próprios atletas e às equipas técnicas colherem a glória e os louros da uma superioridade real.

Os “senhores” do velho sistema renderam-se a um fenómeno, que julgavam transitório, vendo azuis e brancos somarem, ano após ano, troféus a nível nacional e internacional. Todavia, quando a excelência portista principiou a dar mostras de se ter convertido em organização sólida e realidade perene, perdida a esperança de vencer, em campo, com armas iguais, eis que começam a desenhar estratégias que passam por outros campos e outras armas!

Este livro faz, em português de mestre, em palavras que fluem com a simplicidade, a precisão, a vivacidade, características de grandes jornalistas, a crónica de um tempo do futebol profissional português, o início do século XXI, marcado e manchado pelas tentativas de abater o gigante em que convertera, fulgurantemente, o FCPorto, decapitando-o da liderança do Presidente Pinto da Costa - à falta de meios legítimos para atingir o mesmo escopo...

A relação minuciosa dos factos e a clara explanação das razões subjacentes, constituem, assim, um contributo mais do Dr. Sardoeira Pinto para a causa da justiça, e um subsídio precioso para a reconstituição de um período deplorável da justiça - ou injustiça - portuguesa, dos processos que dão título à publicação.

 Acções e recursos que se arrastaram pelos tribunais de várias instâncias, incluindo as desportivas, no país e na Europa, e cujo eco ultrapassou fronteiras, com foros de escândalo, deliberadamente provocado ou instigado para a pura e simples destruição desportiva e moral de um competidor, de outra forma invencível.

Os processos dos "apitos", e, bem assim, outros episódios e casos de época, que ajudam à sua descodificação e plena compreensão, são aqui escalpelizados e sistematizados, com nomes, datas e lugares, tomadas de posição e decisões, actos, omissões, contradições, intrigas, mentiras – tudo descrito ao pormenor, num precioso e abrangente registo, que faltava, para memória futura.

Mas, para além da cronologia dos factos, da elucidação dos argumentos, de natureza eminentemente jurídica, do manancial de informação de toda a ordem, de sapientes comentários e reflexões, a narração ganha densidade humana e societal ao retratar, num impressionante fresco, figuras e figurantes, com as suas interacções e comportamentos insólitos, geradores de um clima de irresponsabilidade e insânia, em que vimos decair instituições do mundo do desporto e do próprio “Estado de Direito”. Na expressão do Autor, foi a “caixa de Pandora” que se abriu… Consequência dessa ânsia incontida de retornar ao passado, de interferir, deslocando o centro de excelência do futebol português do seu ponto norte para a antiga “sede geográfica do poder”, artificialmente criada ou, mais exactamente, recriada.

Temos vindo a considerar as questões de fundo, que, assim ordenadas e explanadas, são uma mais-valia extraordinária, para que os vindouros não esqueçam nem tolerem a recorrência da viciação do “fair-play”. Mas não podemos deixar sem uma referência a originalidade da forma e da metodologia, que igualmente recomendam a leitura desta obra.

A singularidade do fio condutor da narrativa é a procura de resposta à indagação de um jornalista sobre qual fora o melhor momento da vida do Autor. Fiel a si próprio, quer dar uma resposta verdadeira, pensada, definitiva. E, logo nas primeiras páginas, parte em demanda da memória de acontecimentos felizes, numa fascinante "viagem interior", conduzida pelo olhar sobre um mundo de emoções e de vivências, que quer partilhar connosco, e em que revela muito de si, dos seus valores éticos, dos seus afectos e paixões, entre elas, a "pátria dentro da pátria" e o clube do coração.

Será que vai surpreender os leitores ao incluir no número extremamente selectivo dos melhores momentos da sua vida o epílogo dos processos dos "apitos finais, dourados... e outros mais"?

Sem antecipar o desfecho final, direi que acompanho, com imensa alegria, o Dr. Sardoeira Pinto, na rememoração dos momentos em que se fez justiça a um grande clube e a um grande homem, garantindo o lugar do campeão nacional na “Champions League” e recolocando o Presidente Pinto da Costa na rota do futuro do FC Porto.

Este é, tenho a certeza, o livro que todos os adeptos portistas queriam ver escrito e que todos os autênticos desportistas vão gostar de ler.

 

Maria Manuela Aguiar