dezembro 29, 2009

Projectos para o centenario da Republica em Espinho

Confesso que erguer um mastro de 100 metros para anunciar o centenário da República, nele hasteando uma bandeira gigante, não é propriamente o meu ideal de celebração seja do que for, incluindo os festejos de um novo regime instalado, a partir de Lisboa, numa Pátria dez vezes mais antiga.
Mais importante do que celebrar, assim, me parece o pensar a mutação que aconteceu em 5 de Outubro de 1910 e fazer, nos aspectos que mais pertinentes são para o futuro da democracia portuguesa, o balanco do século.
Ja nem digo que realmente democrático e interessante seria lançar, em Portugal, finalmente, à semelhança do que o Brasil soube empreender, sem complexos, um referendo sobre essa mudanca de regime, que nunca foi legitimada pelo voto, e deveria ter sido, ou ser, qualquer que fosse o sentido do voto.
Ou, pelo menos, retirar da Constituição a "clausula pétrea" que proibe a consulta popular sobre a "questão de regime", que, hoje, deveria ser encarada com respeito e confiança na decisão soberana dos eleitores.
Herdeira, na familia materna e paterna das duas tradições, monárquica e republicana, olho 2010 como o ano para recordar, em especial, a vida, a luta e os ideais dos tios republicanos - tios-avós ou tios-bisavós, naturalmente.
Pela suas ideias foram perseguidos, passaram pelo Aljube, um deles, o Tio António, também pelo exilio em Africa (temporário,é certo), outro o Tio José, viu-se, ainda novo, compulsivamente aposentado do Supremo Tribunal de Justiça...
E há, ainda, nesta galeria de memórias, o Tio bisavô Manuel Guedes (o irmão da bisavó Carolina), que não chegou a ver o dia 5 de Outubro de 1910, mas teve o seu nome, postumamente, até hoje, dado a praça do municipio, em Gondomar.
Não, eu não sou republicana, como eles foram, mas acho que teria sido, se vivesse nesse início do século XX - porque, como feminista, teria posto na ruptura com o regime a esperança de uma igualdade de género e de outras formas de igualdade consagradas na Constituição e nas leis. E é porque a República frustrou essa esperança, e porque as monarquias modernas são dela as melhoras portadoras, no norte da Europa, sobretudo, que eu não deslumbro com a chamada ética republicana, nem com a sua suposta mas inexistente superioridade face à democracia das monarquias exemplares, que conhecemos no sec. XXI.
Em qualquer caso, a data não é para esquecer, não deve ser para dividir (mas para isso se impõe que não haja tabus alguns...). Deve ser para reflectir, para relembrar, para homenagear todos os que sonharam com mais igualdade, mais justiça e mais progresso.
Para recordar um tempo, um Portugal, num momento singular da sua história.
Por sorte, ou ironia do destino, encontro-me, neste começo de 2010 a exercer, pela primeira vez um cargo em que posso, conforme decida, dar curso as comemorações do centenário: através do pelouro da cultura da Câmara de Espinho.
E vou faze-lo! Sem gastos sumptuários, mas, espero, com verdade e dignidade.

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