março 09, 2016

Os PR e eu

Um dos "fringe benefits" de estar no mundo da política é conhecer pessoalmente as mais altas figuras do Estado. Desde 1978, que, em exercício de funções no governo e no parlamento, mantive com todos os PR contactos institucionais e posso contar uma pequena história ou comentário de cada um deles, incluindo o atual, embora com ele tivesse convivido pouco e num tempo em que ainda não se adivinhava a investidura, ocorrida hoje, uns largos anos depois. Em 30 de novembro de 1978, escreveu sobre mim, um editorial no "Expresso", (Figura da semana), assinando com as iniciais MRS. É um texto muito simpático, que revela uma faceta não suficientemente ressaltada do nosso novo Presidente: a sua compreensão e genuino interesse pela igualdade de participação política de mulheres e homens. A prova de que quando agora fala às cidadãs ou das cidadãs não se limita a palavras de mera conveniência, banalidades eleitoralistas, lugares comuns, é este pequeno texto escrito com genuino agrado e aplauso pelo surgimento de mais uma mulher na cena política. O artigo começa assim: "Num País onde a mulher está ainda muito londge de dispor de possibilidades de afirmação idênticas às do homem, a nomeação da primeira mulher para exercer o cargo de secretário de Estado do Trabalho merece especial referência" (grande verdade, mas ninguém mais o sublinhou,então, tão claramente!). Depois de uma breve referência elogiosa ao curriculum académico e profissional dessa jovem desconhecida, recorda os nomes das raras mulheres que a haviam precedido nos governos da República (Teresa Lobo, antes da revolução de 74. Lurdes Pintasilgo, Manuela Morgado e Teresa Santa Clara Gomes...) acrescenta: "Mas o que poucos arriscariam é que uma pasta tão melindrosa como o Trabalho incluisse uma mulher governante. Tratava-se de um pelouro considerado extremamente sensível nas suas repercussões políticas, a desaconselhar para muitos, a presença de uma mulher. É positivo que este sacrifício do "machismo" latente tenha sido vencido. É positivo que Mota Pinto tenha ousado dar o passo que deu". MRS salientava, já então, inteligentemente, o facto de ter sido não um governo socialista, mas um que, por sinal o não era, a dar esse passo. O futuro confirmaria a incapacidade do PS de "surpreender pela positiva" neste domínio - ate hoje, quando se esperaria muito mais um progressista genuino, como António Costa... Por isso, a crítica direta que, em 78, lhe dirige por não ousar romper com "tabús", herdados de uma "sociedade velha" (palavras suas), revelar-se-ia profética. Coerentemente, MRS viria a ser o único líder do PSD que "ousou" defender a introdução do sistema de quotas, para a paridade. Um Homem que coloca nas suas prioridades, desde sempre, a igualdade de género é ainda uma raridade na cena política portuguesa. Temos Presidente!

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