julho 14, 2016

SANTOS DA CASA FAZEM MILAGRES...

1 - A 10 de julho, a utopia que perseguíamos, há tanto tempo, concretizou-se. Eu ainda mal acredito que somos campeões da Europa de futebol, apesar de ter andado pelo centro de Espinho entre as bandeiras verdes e rubras, que logo saíram às ruas, e de ter cantado o hino, em coro, num mar de gente, que enchia a Alameda. Uma explosão de alegria, de sentimentos, de abraços - prolongamento do grande espetáculo, com o povo entrando em palco. E, por isso, continua a ser mais tentador falar de emoções incontidas, de estados de alma, do que do estado do nosso futebol, das táticas, estratégias e exibições individuais e coletivas, que levaram à vitória. 2 - Desta celebração infinda, que ultrapassa fronteiras, fica não só uma página de história, escrita por guerreiros imortalizados na memória do país, mas também, uma via para fazer história do futuro (e já Agostinho da Silva dizia que "a história que interessa é a do futuro"). Nesta competição, o que aconteceu fora dos estádios foi para nós tão extraordinário como o jogo jogado, minuto a minuto, por tantos minutos, para além dos 90... A primeira vitória fora do campo deu-se no grande encontro com a nossa emigração, depois do qual ninguém mais pode ignorar a força da sua presença na nossa vida em comum. O país interiorizou, finalmente, a importância da dimensão que a existência de comunidades portuguesas no mundo nos confere. Já o sabiam todos os que, de perto, acompanham e estudam o fenómeno migratório, não apenas em França mas por todo o lado, sem todavia conseguirem que a opinião pública a reconhecesse suficientemente. A partir de Marcoussis e das várias terras de França, de onde chegaram, dia a dia, as imagens e as vozes dos próprios emigrantes, a evidenciar o seu amor à terra de origem, à terra dos seus antepassados, as formas da sua pertença à comunidade nacional ganharam uma enorme visibilidade. Não podemos deixar que a proximidade e sintonia, agora alcançadas, se venham a perder, dentro do país! (Lá fora, obviamente, não há esse risco). Não somos apenas os 11 milhões de que se falava, ou os 15 milhões das estatísticas oficiais - somos uma Nação de comunidades, que crescem, de geração em geração. O "ser português" no estrangeiro não passa necessariamente pela participação política, pela militância no movimento associativo, nem sequer passa, em muitos casos pelo domínio perfeito da língua, por muito relevantes que sejam - e são! - tais manifestações de ligação íntima à Pátria. O maior denominador comum é, assim, o afeto. Incentivar este sentimento, potencia-lo, é o principal fator de expansão do universo português, bem como do espaço mais vasto da lusofonia e da lusofilia. 3 - A seleção de Fernando Santos, pela sua composição, marcou pontos, sem dúvida, neste espaço mais alargado, convertendo-se numa verdadeira representação lusófona, e não estreitamente portuguesa. E mostrando como as migrações enriquecem, com grandes talentos, no desporto, e nos demais setores, as sociedades que as recebem fraternalmente. De facto, mais de metade do onze que derrotou a soberba França, na sua própria casa, provinha de migrações lusófonas. Os povos nossos irmãos, de Timor ao Brasil, atravessando a África, juntamente com as comunidades africanas imigradas em Portugal, deram à seleção portuguesa um apoio espontâneo, entusiástico, porque a sentiram sua, também. E com boas razões. Vejamos algumas: o "homem do jogo", Pepe, nasceu no Brasil, o capitão Nani em Cabo Verde, e da Guiné Bissau veio Éder, o herói surpreendente, que decidiu a final, com um golo de sonho! Fazer amigos, construir pontes de ligação entre portugueses, entre lusófonos, não foi, certamente, a menor das vitórias conseguidas graças à eficaz "obra de engenharia", que foi a equipa campeã de Fernando Santos. Maria Manuela Aguiar (em "A DEFESA DE ESPINHO")

Sem comentários: