maio 25, 2017

MARIA FERREIRA, CIDADÃ DE ESPINHO E DE BRUNOY 1 - Numa cerimónia simples, mas significativa, perante muitas dezenas de franceses, que predominavam entre os presentes, foi inaugurada na Rua 19, uma rotunda com o nome da cidade irmã de Brunoy. Estamos a celebrar os 25 anos de geminação entre as duas cidades e é excelente que a efeméride fique assinalada na toponímia de cada uma delas. Em novembro, Espinho será, do mesmo modo, homenageado naquela aristocrática e formosa urbe dos arredores de Paris . É a hora de fazer um balanço do que foi conseguido até hoje, no quadro dessa parceria, comparando as formas de envolvimento e colaboração, cá e lá, entre os poderes públicos e o que chamamos a "sociedade civil" - lá efetivados através de mecanismos de diálogo e cooperação entre os cidadãos e a autarquia, em que, a meu ver, nos poderíamos inspirar. Refiro-me ao "comité de jumellage", formado por voluntários e institucionalizado na "Mairie", da qual recebe o apoio imprescindível para promover a participação popular nos projetos que se propõe levar a cabo. A capacidade de mobilização desse "Comité" é notável, como o prova o feito de terem trazido, agora, até nós, sem qualquer despesa para a Câmara de Espinho, cerca de 60 individualidades, incluindo o atual e o anterior Maire de Brunoy, que, com o Presidente da Câmara de Espinho Romeu Vitó, foi o signatário do acordo de geminação. Em tempo de comemoração, tão importante é olhar o futuro, como o passado, que dinamicamente se quer prosseguir. Interessante seria fazê-lo numa publicação conjunta, nas duas línguas, com texto e imagem que documentassem, "para a posteridade", o percurso realizado desde 1992. . 2 - Na história desta geminação há, entre outros, um nome português, que não devemos esquecer: o de Maria Ferreira, a emigrante portuguesa, que é um exemplo de cidadania plena dos dois países reunidos no seu afeto, a partir de duas cidades: aquela onde nasceu, Espinho, e aquela para onde a levou a necessidade de trabalhar e progredir. Uma vida que poderia ser como tantas outras - pois a ligação sentimental a duas sociedades, o empenhamento em as aproximar, é comum aos portugueses expatriados em todos os continentes do mundo - mas que se tornou excecional pela sua capacidade de liderança e de ação, sempre posta, generosamente, ao serviço dos outros, ajudando centenas de compatriotas nos primeiros passos de uma caminhada no estrangeiro, ganhando a admiração de tantos amigos franceses e um enorme respeito no círculo da política local, embora sem fazer política partidária. A ela de deve a escolha de Espinho para a geminação portuguesa de Brunoy! As geminações podem ter, de facto, as mais diversas causas ou concausas - afinidades históricas, relações culturais ou económicas, configuração geográfica, irmanado estâncias balneares, povoações mineiras ou piscatórias, capitais de países ou cidades com o mesmo nome, por exemplo. Entre Espinho e Brunoy registamos algumas semelhanças, como uma dimensão demográfica equivalente ou a localização junto a grandes polos de atração cultural e turística, Em Brunoy, pode dizer-se que todos os caminhos vão dar à capital. Espinho beneficia da sua centralidade no eixo Porto/Aveiro. Todavia, não é nestas características que se encontra a origem da geminação, mas antes num fenómeno recente e poderoso, que mudou, para sempre, o relacionamento bilateral luso francês: a emigração portuguesa, os laços humanos que estão criados, as pontes culturais que estão lançadas, e que urge usarmos da melhor maneira. 3 - O turismo surge, certamente, como uma das portas abertas pela geminação: vir a Espinho, para ir também ao Porto, e, reciprocamente, voar para Brunoy, para ver Paris. (intercâmbio de jovens, de seniores, de artistas, de empresários, num movimento que pode avolumar-se, levando consigo a divulgação de potencialidades económicas, de tradições, de gastronomia, de música - que tem sido, note-se, o ponto forte dos intercâmbios culturais havidos até hoje). Mas, porque que falamos de uma realidade intra-europeia, há um outro aspeto que me parece de valorizar especialmente: o papel das geminações na construção da Europa pela nossa vivência muito concreta, pela amizade entre pessoas, nascida do conhecimento mútuo, da troca de experiência nos diversos domínios, da partilha ideias, de agradáveis conversas, de momentos felizes. Face ao retrocesso a que assistimos numa UE cada vez mais assimétrica e dividida, na Europa dos nacionalismos exacerbados e dos preconceitos étnicos (perfeitamente exemplificada na caricatura dos homens do sul, que desbaratam o se dinheiro em "copos e mulheres", feita por um homem do norte, altamente colocado na hierarquia da UE) há que impor a Europa dos Europeus, não como abstração, com discursos no palco da politica, mas com gente real, que quanto melhor se conhece mais se vê como igual. As geminações, atuantes no espaço autárquico, podem revelar-se um instrumento muito eficaz de avanço de uma Europa dos Povos, mais espontânea e convivial e, por isso, mais aberta à alteridade, mais autenticamente fraterna.

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