agosto 02, 2017

VIVER A DEMOCRACIA NUM PAÍS DE EMIGRAÇÃO E DIÁSPORA

Viver a democracia num país de emigração e Diáspora 1 - Trazer este tema a debate foi a intenção do colóquio organizado, no passado dia 24 de agosto pela Sociedade de Geografia de Lisboa (Comissão das Migrações, atualmente presidida pela Profª Maria Beatriz Rocha Trindade, pioneira dos estudos sobre sociologia das migrações em Portugal), em parceria com a Associação Mulher Migrante. É uma questão importanteDo ponto de vista da organização O seu objetivo foi fazer a história de uma democracia extensiva a todos os portugueses, sem esquecer os que vivem fora de fronteiras territoriais e os modos de continuar esse percurso, num aprofundamento da democracia. É o que pretende significar o título do Colóquio: "Dar voz à Diáspora Portuguesa - Perspetiva Diacrónica dos Mecanismos de Diálogo". Fomos, pois, à procura desses mecanismos, das formas muito concretas de ação para que o diálogo se convertesse no principal instrumento de construção de uma democracia verdadeiramente inclusiva, dando vida à Constituição e às Leis. 2 - Todavia,a reflexão tinha obrigatoriamente de começar antes, nos anos sessenta do século passado, na primeira grande iniciativa que "deu voz à Diáspora", pensou as formas de a unir e de organizar o imenso espaço da lusofonia: os Congressos das Comunidades de Cultura Portuguesa, promovidos pela Sociedade de Geografia, sob a presidência do Prof Adriano Moreira. Estávamos no lugar mais significativo, no Auditório que recebeu o seu nome, com ele próprio a recordar, num empolgante improviso, esses míticos Encontros pioneiros em que se projetava o futuro da lusofonia, da "Nação peregrina em terra alheia", como realidade "sui generis", que haveria de sobreviver ao fim do império. Seguidamente, na sequência que o programa visava, o Deputado José Cesário levou-nos, com toda a força do seu entusiasmo, a lançar "um olhar retrospetivo projetado sobre o futuro": - do que foi feito ao "por fazer", numa perspetiva pragmática, a fim de facilitar, por exemplo, o voto no estrangeiro, a transmissão da nacionalidade, ou a operacionalidade do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Coube-me levar a debate o acidentado percurso do primeiro CCP, órgão de representação e audição da Diáspora e o modo como, ao longo de sete anos, foi sendo implementada, em interação Governo/sociedade civil, a "institucionalização.do diálogo com o movimento associativo", numa procura nem sempre fácil, mas eminentemente democrática, de consensos e de expressão das preocupações sentidas pelas pessoas e da sua vontade de influir na mudança. A voz das comunidades, através dos seus dirigentes associativos e jornalistas, fez-se (faz-se!) ouvir no Conselho, mas não só..O programa do Colóquio deu, jusprórpriatamente. destaque semelhante ao primeiro jornal que, a partir de Lisboa, quis ser um traço de união, sobretudo, entre as comunidades então emergentes na Europa, a chamada "emigração a salto". "O Emigrante/mundo Português - razões de um projeto singular" foi uma notável conferência em que, emotivamente, o Padre Vitor Melícias e o Dr Carlos Morais evocaram esses tempos dramáticos e também a memória do co-fundador do Jornal, o Comendador Valentim Morais, falecido poucos dias antes, que muitos de nós tivemos o privilégio de conhecer e que todos admirávamos. O papel da Igreja neste campo também não foi esquecido. Coube a Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo Emérito das Forças Armadas, e à Drª Eugénia Quaresma (a primeira mulher a dirigir a "Obra Católica das Migrações") dar-nos o panorama atual da Igreja face à mobilidade - solidariedade e ação social," - dos tempos do mais famoso Bispo do Porto, com quem o então Padre Januário trabalhou de perto, além de ter vivido entre os emigrantes de França, nos anos 60 e 70, até ao tempo atual do Papa Francisco, Um último painel foi dedicado a "novas formas de diálogo", com Mestre Emmanuelle Afonso a falar da "geração Europa", que ela mesma representa, e do "Observatório dos Luso Descendentes", de que é fundadora, e com o Prof José Marques a trazer-nos imagens de uma emigração passada e ainda presente. 3 - Pelas questões que suscitou, foi, a meu ver um convite a voltar a esta temática, num próximo colóquio, olhando a realidade cada vez mais heterógenea das nossas migrações, em que coexistem as correntes tradicionais e as novas (num verdadeiro "brain drain"que leva do país a sua juventude mais qualificada) e as formas de estimular o relacionamento entre todos, entre as antigas comunidades com o seu espírito comunitário, e estes novos protagonistas, que parecem mais individualistas, mas podem, afinal, não o ser - e contribuir para cria lá fora mais Diáspora, que é sempre, presença coletiva. O desafio e dar-lhes voz

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