novembro 21, 2018

Breve NARRATIVA de VIDA

MARIA MANUELA AGUIAR DIAS MOREIRA

Nasci em 1942, na casa grande ada avó materna - uma das chamadas casas grandes de brasileiros - no centro de Gondomar. Aí vivi os anos felizes da infância, num ambiente em que o Brasil estava bem presente e mais nas memórias, nas narrativas, na música, na gastronomia do que na traça da casa.
Aguardei, com impaciência, a entrada na escola, onde me sentia realizada a aprender as letras e os números. Depois de dois anos na escola pública, sete no colégio do Sardão (onde tinha ótimas condições para a prática do desporto, que era a minha paixão maior) e dois no Liceu Rainha Santa Isabel, fiz o curso de Direito na Universidade de Coimbra. Era excelente aluna, estudava com entusiasmo, embora sofresse por demais com todos os exames, que acabavam por correr a contento. Terminei o liceu com 18 valores, em 1960, e Direito com 17, em 1965.
Voltei à vida de estudante, como bolseira da Fundação Gulbenkian, em Paris, entre 1968 e 1970. O lugar e o tempo certo para me iniciar na Sociologia do Direito, em mais do que um sentido... Conclui o ano de "titularização" na École Pratique des Hautes Études, com Alain Touraine. vários certificados na revolucionária Vincennes e o "Diplôme Supérieur d' Études et de Recherche en Droit" da Faculdade de Direito do Instituto Católico. Residi na cidade universitária, na Casa de Portugal, depois na Fundação Argentina, como se estivesse em vários países, em simultâneo, e em todos fazendo amigos para sempre.
Aquando desta minha espécie de emigração parisiense, já era Assistente do Centro de Estudos do Ministério das Corporações (1967/74), onde tive colegas que foram, e são, nomes famosos na comunidade académica e na política (em vários dos seus quadrantes) e dois diretores de boa memória, que
me deram ampla liberdade de expressão e de circulação (com bolsas da OIT, da OCDE, das Nações Unidas...). Um era um homem do regime (Cortez Pinto), o outro um professor progressista, cultíssimo e muito divertido (António da Silva Leal).
Os títulos de sociologia trouxeram-me um inesperado convite de Álvaro Melo e Silva para ser sua assistente na Universidade Católica. Um segundo convite, igualmente inesperado, levou-me para a Faculdade de Economia de Coimbra, onde tomei posse a 24 de abril de 1974, e um terceiro para a "minha" Faculdade de Direito. Fui assistente de Rui Alarcão, futuro Reitor, e de Mota Pinto, futuro Primeiro-Ministro. Uma época agitada e auspiciosa, em certos aspetos semelhante à vivida a de Paris, nos meses seguintes a uma revolução... Eu não tinha filiação partidária, era social-democrata "à sueca", como Sá Carneiro e os amigos de Coimbra, ideólogos do PPD.  
Em 1976, antecipando saudades sem fim, troquei a Faculdade por uma instituição completamente nova, o Serviço do Provedor de Justiça. Fui assessora de dois grandes democratas, o primeiro Provedor, Coronel Costa Braz, e o segundo, Dr José Magalhães Godinho, um fantástico exemplo de humanismo e de  alegria de viver.
Só na década de noventa me reencontrei em salas de aulas, como docente convidada da Universidade Aberta (mestrado de Relações Interculturais).
A minha experiência nas três universidades foi esplêndida, ajudou-me a a rejuvenescer e a interagir com audiências estimulantes e numerosas. Uma aprendizagem sem a qual não teria conseguido fazer caminho no terreno mais agreste da política, coisa que, aliás, não estava nos meus planos. Desde sempre tive à vontade e vontade para discutir questões políticas no círculo da família e de amigos, era uma feminista declarada nas coimbrãs tertúlias de café. E, por isso, o Doutor Mota Pinto me lançou, em 1978, o desafio de passar à ação: ou aceitava ser Secretária de Estado do Trabalho ou seria responsável pelo défice feminino do seu governo (de independentes). Aceitei - era serviço público, por alguns meses apenas, até eleições já no horizonte.
Em agosto de 1979, reocupei o mais tranquilo gabinete na Provedoria, tendo deixado pronto para publicação, na Praça de Londres, o diploma que criava a CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e Emprego) - inspirada no "Ombudsman para a Igualdade" da Suécia. Contudo, não resisti a uma nova e surpreendente chamada para o governo de Sá Carneiro, na pasta da emigração. E acabei ficando na arena política, em quatro governos e no parlamento durante mais de um quarto de século, ligada às questões da emigração, da Igualdade de género, dos Direitos Humanos
Entre 1987 e 1991, com quatro sucessivas eleições para Vice.Presidente da Assembleia da República, tornei-me a primeira mulher a presidir às sessões plenárias ou a delegações parlamentares (começando logo por uma visita oficial ao Japão) . Em 1991, fui eleita para a Delegação Portuguesa à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (APCE) e à União da Europa Ocidental (AUEO), das quais seria, durante 14 anos, membro, presidente de diversas subcomissões, presidente da Comissão das Migrações, Refugiados e Demografia, Vice Presidente da AUEO e da bancada parlamentar e, nos últimos anos, Presidente da Delegação Portuguesa. Um trabalho especialmente gratificante, em parlamentos onde se pensa o futuro, onde até é permitida a utopia, sem nenhum dos constrangimentos dos parlamentos nacionais.
Sai, quando quis sair, da Assembleia, em 2005. De 2005 a 2011, fui  Vereadora na Câmara de Espinho e, até hoje, continuei o meu trabalho cívico, nos mesmos domínios de intervenção, sem abrandar o ritmo. Este percurso de vida, no início, não uma escolha minha, acabou sendo, talvez, uma boa escolha. Feito de movimento, de incontáveis viagens de descoberta pelo do mundo das comunidades da emigração e da Diáspora, de encontros, diálogo e amizades em tantos continentes e países e, em Portugal, de convívio, em alguns casos, inesquecível, com os grandes protagonistas da história da Democracia, na minha geração. E ainda me deixou algum tempo livre para coisas de que tanto gosto, como futebol, cinema, praia, música e um bom livro.
Livros, escrevi alguns sobre emigração portuguesa e coordenei a publicação de revistas e atas de colóquios da AMM
As condecorações são, em regra, o último capítulo, dos CV's. Muitas recebi em função do cargos. Referirei só as que me foram atribuídas de forma mais personalizada, como a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique pelo Presidente Jorge Sampaio, a Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul (Brasil), a Grã-Crus da Ordem do Rio Branco (Brasil), a Ordem da Estrela Polar (suécia, no grau de Grande Oficial, o título de "Cidadão do Rio de Janeiro", a Medalha Tiradentes, a  Medalha de Mérito Cívico da Câmara de Gaia (classe ouro", a Medalha de Honra da Câmara de Espinho e o "Dragão de ouro" do FC

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