maio 03, 2009

Política e cidadania - falar aos jovens

Falar de política aos mais jovens, no início de um ciclo de conferências com o aquele tema, na Escola Domingos Capela não me parecia tarefa fácil.
Nos dias antecedentes, andei a pensar como abordar a questão com um público tão diferente do habitual. Partia do pressuposto reconfortante de que teria pela frente turmas dos últimos anos. Surpresa! Eram as do 5º e 6º ano, na nomenclatura actual. No meu tempo, os que tinham acabado, há pouco, a 4ªclasse!...
Como sempre, monologuei mais do que inicialmente previa, mas ainda houve tempo para perguntas, e muitas perguntas - e bem perspicazes algumas... Mais surpresas!
O que lhes terei dito, exactamente, não sei, mas foi, mais ou menos, isto:

A política como "ciência ou arte de governar os Povos ou as Nações" é, frequentemente, ainda hoje, vista como um exclusivo das mulheres ou homens, que ocupam cargos políticos.
Ao longo da História, política e poder pessoal foram, muitas vezes, considerados uma e a mesma coisa. O poder era conquistado e mantido pela força, pelo medo e pela violência, com parcialidade e com injustiça , favorecendo os amigos e escravizando ou maltratando os inimigos. Ai dos vencidos!...
Mas, no seu sentido mais nobre, a arte - ou ciência - da política é a escolha dos melhores programas de acção e dos meios de os pôr em prática.
E quem deve fazer essa escolha?
Em regimes autoritários, são os chefes, os que , de alto a baixo, conquistaram e mantêm, nas suas mãos, o poder, para si e para uma hierarquia de"fiéis".
Em regimes democráticos, somos todos nós. Democracia significa, precisamente, o "poder do povo"! O poder de intervir e de decidir no campo da política.
As vitórias ganham-se em eleições. A autoridade exerce-se em representação do eleitores e para o interesse geral. Quem decide é a maioria, através do voto, periodicamente, com a possibilidade de pôr, na eleição seguinte, caras novas no lugar de quem se saiu mal, e não cumpriu promessas feitas em campanhas eleitorais.

É certo que nem todos contribuem da mesma maneira. Os responsáveis por cargos Estado são os que têm mais visibilidade, os que ocupam a "cena política", mas precisam, por um lado, de uma organização - a administração pública, que é tanto melhor quanto menos dependente fôr dos próprios políticos ou dos seus partidos, para lhes dar pareceres e conselhos, sem o temor de perder o emprego - e, por outro, de um Povo livre, bem informado, que saiba o que quer, fale sem medo e vote bem.
O voto é um instrumento para continuar ou mudar de políticas, mas há muitas outras maneiras de intervir nas grandes decisões: em movimentos cívicos , em associações, em grupos para defesa de interesses. em rádios, jornais, televisões, ou nos novos e fantásticos meios de comunicação, ao alcance de todos, na internet, nos blogues ... Os próprios políticos, procuram agora contactar-nos através desses novos meios - caso de Obama, que soube usar a Net, como ninguém, antes dele, para se aproximar das pessoas.
Mais proximidade, mais acesso aos políticos, mais partilha de sugestões, de ideias, tudo isto são aberturas do nosso tempo para fazer política, mais democraticamente, com mais gente envolvida.
Fazer política é escolher, é ter voz! É ser ouvido!
Eu nunca quis lugares políticos, mas sempre fui lutadora, sempre achei que as mulheres deviam ter o direito de participar activamente, como os homens, na política e, um dia, há muitos anos , um primeiro-ministro disse-me: "Se acha que deve ser assim, venha para o governo, dê o exemplo!".
E eu fui. E não me arrependi.
Quando nos batemos por causas, sentimos a mesma vontade de trabalhar, dentro ou fora de uma instituição pública. Com a certeza de que ,dentro, não nos tornamos mais ou menos do que os outros, os que nos convidaram, ou nos elegeram para os representar. Somos iguais, cidadãos como os outros, mas estamos "de serviço", pondo em prática programas e soluções, como se espera de nós. O resultado, regra geral, depende da capacidade de mobilização e de resposta, em massa, dos cidadãos anónimos.
Há que entender qual é a parte deles e qual é a dos governantes. Todos preparados para trabalhar muito, e em conjunto.
Um Povo mais sensível aos valores da cidadania, e mais culto, prepara-se na Escola.
Ao Povo pertencem tanto os que, em determinado momento, aceitam cargos políticos, mulheres e homens, como os que desempenham quaisquer outras tarefas, nas escolas, nos hospitais, nos campos, nas fábricas e comércios, nos tribunais, nas associações, no desporto, na ciência, na cultura ...
A capacidade de transformar a sociedade em que vivemos, que é a principal finalidade da política, aumenta, sem dúvida, com uma melhor formação escolar, académica e, sobretudo, moral. É da mesma reserva, do mesmo viveiro, que saem os que ocupam, ou não, cargos políticos! Interagindo uns com os outros, com dinamismo, entusiamo, espírito cívico e solidariedade.
A política é, um espaço de encontro entre todos, uma via para caminhar.



Uma mensagem simples.
Com algumas citações à mistura - de Obama e Hillary, ( relembrando movimentos de antiesclavagismo e de feminismo), de Mrs. Pankhurst, de Kennedy, de José Estevão ( para o que a política não deve ser: "O meu programa são os meus amigos. O meu programa é o poder mesmo"...).
Deveria ter acabado, mas não acabei, com Sá Carneiro: "A política sem o lado ético é uma vergonha e sem o lado lúdico é uma maçada".
Mas evitei as citações de políticos portugueses contemporâneos. Estamos demasiadamente próximos de eleições.

1 comentário:

macs disse...

Uma boa chamada de atenção para as camadas mais jovens para a importância do direito de cidadania que todos devemos saber (e querer) exercer e para a necessidade de sermos um Povo esclarecido para melhor decidir.
Uma bonita lição sobre política e democracia. É bom saber que ainda há políticos íntegros e com uma visão transparente da política!

Manuela Correia da Silva