novembro 03, 2013

Para Isabel Saraiva

  O relacionamento Portugal Japão  começou, por acaso, em dia de tempestade , na aventura de um pequeno junco perdido que na ilha encontrou porto de abrigo e, logo, amizades... Começou para não mais acabar, com aquelas pessoas, em concreto, num fascínio pelas diferenças culturais, que, porém, se combinavam em grandes afinidades entre gente com uma enorme abertura e curiosidade pelo "outro", uma afabilidade inata e uma visão da honra que presidia aos actos da vida, e era, para ambos os povos, mais importante do que a própria vida. Com pessoas, mais do que com políticas e estratégias de Estados, continuou, numa partilha de conhecimentos científicos, de lucros do comércio, de gosto pelas artes...Um percurso que recomeça ciclicamente com aqueles que procuram novas simbioses culturais, com a força da paixão pela alteridade, e da sua genialidade e sabedoria - percurso pontuado por nomes ilustres, desde  Fróis ou Rodrigues no tempo primordial, a Wenceslau em oitocentos, ou ao já nosso contemporâneo Martins Janeira.
Com este precioso livro que pertence mais do que a duas línguas, ou a duas artes, verdadeiramente a dois mundos, vem agora Isabel Saraiva abrir novas vias de diálogo intercultural luso-nipónico,  Com os seus poemas, a sua pintura...

Como escrevia Wanceslau de Morais, a pintura japonesa é como uma invocação [...] é como se dissesse que aquele pincel inteligente, não pinta, pensa e recorda.

As aguarelas suavemente polícromas e as estrofes breves e significativas dos poemas "hai-kai" de Isabel Saraiva convertem-se em talentosa invocação de um passado longo de atracção recíproca entre dois países que tantos mares separam... São como que uma nova viagem por espaços que guardam memórias de naus e caravelas, na viagem construindo pontes feitas de afinidades redescobertas, de convergência da visão de coisas essenciais. Como na história antiga, olhares e expressões que se cruzam num inesperado entrelaçamento de culturas, num mesmo sentimento de admiração pelas infinitas singularidades do outro, numa vontade de compreensão e de intercâmbio...
Nela se funda a amizade multissecular, que perdura, indestrutível, em pontes de afectos  erguidas, há séculos, entre o "grande Portugal" da odisseia  marítima e o Dai Nippon, como, no nosso tempo, entre o Porto e Nagasaki.
Nas palavras de Isabel Saraiva:

Traço de arco de uma ponte
comércio de olhares
 - rostos serenos

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