dezembro 12, 2015

2005 – 2009 Os Encontros para a Cidadania - a igualdade entre mulheres e homens
Com Maria Barroso na Diáspora
O 1º Encontro Mundial de Mulheres presentes no associativismo e no jornalismo da Diáspora foi, em 1985, a primeira manifestação de uma política para a igualdade na Diáspora, política que, após um hiato de 20 anos, seria relançada pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, em 2005
Para presidir aos Encontros, o Secretário de Estado António Braga convidou a Dr.ª Maria Barroso – ninguém como ela poderia ser o rosto de um projeto de inclusão de género e geração na vivência plena da cidadania, em todas as comunidades portuguesas.
Era uma parceria Estado/sociedade civil, que envolveu na organização dos Encontros, ao longo de quatro anos a colaboração da AEMM, da Fundação Pró Dignitate e outras ONG’s do País e da Diáspora.
A Dr.ª Maria Barroso estivera presente nas iniciativas da AEMM, desde a primeira hora, como nós estivemos com ela nos quatro cantos do mundo, em todos estes verdadeiros congressos com que se fazia História da democracia portuguesa, levando a aplicação das políticas públicas da igualdade para fora dos limites territoriais.
As portuguesas da Diáspora tinham perante si um exemplo vivo da Mulher e Cidadã, que soube, sempre, de uma forma tão caracteristicamente feminina fazer muita coisa, ao mesmo tempo, e tudo muito bem – ser a mãe de família e a mulher, ser um expoente na vida profissional, na vida política, no voluntariado, na cultura.
Acho que foi determinante para apropriação do espírito do projeto por cada uma, por cada um dos presentes o facto de terem perante si uma Mulher-símbolo, que era também uma pessoa encantadora, simples e solidária. A mensagem passava, com a força da sua palavra e do seu sorriso. Todas a sentíamos como “uma de nós”, sem nunca esquecer a sua absoluta excecionalidade.
De Buenos Aires (2005) a Estocolmo (2006), de Toronto (2007) a Berkeley e a Joanesburgo (2008), reunimos com representantes das comunidades de toda a América do Sul, das duas costas da América do Norte, da Europa, da África e, em 2009, em Espinho, pudemos realizar no “encontro dos encontros”, o balanço desta experiência inédita, do ambiente em que fora vivida, das esperanças que despertara, do impacte que se prolonga até hoje, em novas iniciativas, deixando-nos a convicção de que há um período antes e depois deste encadeamento de congressos, no que respeita à política de Estado para as comunidades, e, sobretudo na consciência das questões de género, a nível das comunidades, no florescimento de novos movimentos norteados pela ideia da paridade

Buenos Aires
Na Biblioteca Nacional, o auditório Jorge Luís Borges esteve sempre cheio, foi durante os dias do congresso um espaço luso-argentino, ouvia-se o português e o castelhano, falou-se de Regina Pacini, a portuguesa que foi até hoje, a única primeira-dama estrangeira do País. A Embaixada e o Instituto Camões deram uma enorme colaboração, o Embaixador e a Embaixatriz ambos participaram ativamente nas sessões. Marcante a presença de Maria Kodama.. O mundo associativo e o mundo cultural estiveram em evidência. A cobertura mediática foi excelente, RTP. RDP. TSF, imprensa nacional e regional. Nunca se falara tanto não só das mulheres como das comunidades portuguesas da Argentina. António Braga reconhecia que as questões de género tinham andado até li muito esquecidas… Respirava-se um ar de mudança. No final, a Presidente Maria Barroso, como que sintetizando as conclusões, diria: "Considero que foi uma reflexão aprofundada sobre os problemas que dizem respeito às mulheres, e, em particular, às mulheres migrantes. Mulheres e Homens têm de assumir um papel onde ambos os géneros contribuem para a melhoria da sociedade"
A Mulher Migrante Portuguesa da Argentina, co-organizadora local do Encontro estava de parabéns e festejou, no dia seguinte o seu aniversário na Associação de Echevarria. Partimos todos de Buenos Aires para lá num modesto autocarro, que a presidente Maria Barroso insistiu em partilhar connosco.

Estocolmo
Co-presidiram ao Encontro Maria Barroso e Anita Gradin, antiga Ministra da Imigração do Governo de Olaf Palme, Comissária Europeia e Presidente da Internacional Socialista de Mulheres. Duas grandes Mulheres, porque Anita é, igualmente, um nome mítico no seu país, onde foi a primeira responsável pela aplicação do sistema de quotas (uma amiga de longa data da Dr.ª Maria de Jesus, e, por sinal, minha, também). O Secretário de Estado Jorge Lacão e outros homens ilustres, tornaram o Encontro quase paritário. E a Dr.ª Maria Barroso salientou: "É muito importante que os homens estejam presentes, não queremos uma sociedade de mulheres, mas antes de homens e mulheres conscientes dos seus direitos e deveres".
Uma ênfase na ideia da cidadania feminina para o serviço da comunidade, que nos leva a vê-la, como uma mulher eminentemente moderna no século XXI, na linha precursora dessa plêiade de Portuguesas que, no começo de novecentos, lutaram pela igualdade de sexos.

Toronto
A conferência atraiu ativistas dos direitos humanos, deputadas canadianas, universitários, investigadores, dirigentes associativos, mulheres e homens, e uma ampla cobertura dos “media” em língua portuguesa de Toronto (que são muitos e muitos de qualidade), permitindo que as mensagens chegassem à comunidade inteira.
O Secretário de Estado Jorge Lacão, o Embaixador que veio de Otava, o representante dos Açores, a Cônsul-Geral Maria Amélia Paiva (unanimemente elogiada pela organização da" Conferência") e muitos outros intervenientes lembraram o caminho percorrido e o que falta percorrer. A lei da paridade esteve no centro do debate
A Dr.ª Maria Barroso, falou de um tempo novo ("A Mulher de hoje pode governar uma Nação"), que exige mobilização e persistência. “Temos muito que lutar para que a igualdade entre homens e mulheres seja uma realidade, mas tenho a certeza de que um dia venceremos. Já não será para mim, mas para aquelas que nos darão continuidade".
Na despedida, depois dos plenários de trabalho, das visitas a instituições da comunidade de Toronto, fica a frase de Jorge Lacão, que a imprensa reproduziu amplamente: "Viemos ver coisas extraordinárias."
Antes mesmo da Conferência, Maria Barroso tinha aceite um convite da comunidade de Montreal para celebrar o Dia Internacional da Mulher. Chegara ao Canadá na noite anterior, levantou-se de madrugada para um voo matutino, cumpriu um programa intenso, visitas à Câmara Municipal, a organizações da comunidade, almoço num restaurante português, onde discursou, ao lado do Cônsul Geral e da Ministra da Imigração. Falou de democracia e de futuro. Recebeu uma infindável ovação, muitos não continham lágrimas de emoção. Regressou tarde a Toronto, sem dar mostras de cansaço, sob a neve e a ventania gélida de um Março invernoso. Ninguém notou, mas Maria Barroso estava com um princípio de gripe, tinha febre, Nós sabíamos, mas não conseguimos que se resguardasse um pouco. Era assim mesmo, era filha de um militar. Estava em pleno combate pelas suas causas.

 Joanesburgo

As mulheres predominavam nas belas instalações do “Lusito” (ou não fosse o Encontro da responsabilidade da eficiente “Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul), mas havia um significativo número de homens, o Embaixador, o Cônsul-Geral, conselheiros do CCP dirigentes das principais instituições comunidade, para ouvir a Presidente Maria Barroso falar da situação das mulheres através dos tempos e no nosso tempo e lembrou-nos que "apesar da História ter sido tecida por Mulheres e Homens só a estes é dada relevância"
Falou de uma nova agenda de temáticas em que as mulheres podem fazer a diferença - a denúncia da violência nos media, o racismo e a xenofobia, a indiferença perante tantos atropelos dos direitos humanos…
 E houve ainda tempo para a nostalgia, para a Dr.ª Maria Barroso encontrar amigos que conheceu em circunstâncias dramáticas, quando do acidente do filho. E recordar um prévio encontro com o Embaixador Paulo Barbosa, em Israel, durante uma visita presidencial, que coincidiu com a trágica morte de Itzak Rabin, um grande amigo de Maria Barroso. Pedaços da história à qual ela pertence para sempre.
Na sessão de encerramento, o SECP António Braga manifestou o seu inteiro apoio ao movimento de mudança que ali se confirmara e anunciou a realização em 2009 de um Encontro Mundial de Mulheres em Portugal.

Elizabeth e Berkeley

A caminho da costa oeste, uma breve estada em Elizabeth, NJ, a convite de Monsenhor João Antão, e da paróquia portuguesa de Nossa Senhora de Fátima, em cujos salões se realizou um primeiro encontro de formação de jornalistas lusófonos, centrado nas temáticas da Paz e da Igualdade. Uma visita às Nações Unidas, outra a um Liceu de Elisabeth, muito prestigiado, e que tem o nome de Monsenhor Antão, (uma honra num país onde é raro atribuir a instituições públicas o nome de pessoas vivas).
Em Berkeley o tema do Encontro era "O papel da Mulher no futuro do associativismo e movimentos cívicos da Califórnia", pondo o enfoque nas questões do associativismo feminino, (com introdução da grande especialista Profª Deolinda Adão), da colaboração intergeracional, do papel dos media na formação para a igualdade, seguido de um encontro informal com estudantes e professores de Berkeley, na companhia do SECP António Braga
Ao abordar, tanto em Berkeley como em Elizabeth, o tema da interculturalidade entre comunidades migrantes de diferentes países que se expressam em Português, Maria Barroso, mostrava acreditar que, também neste domínio, o entendimento entre as mulheres migrantes dos vários quadrantes da lusofonia pode fazer a diferença – no que todos nós a secundávamos (1).
.OBAMA
No regresso a Portugal, nova passagem por Elizabeth e pela paróquia portuguesa. Monsenhor João surpreendeu a Dr.ª Maria Barroso com a mais bela das homenagens: nos poucos dias da nossa ausência na Califórnia, Roger Gonzalez um talentoso artista, pintara o seu retrato, à entrada da ala da residência onde ficou hospedada
Ao findar um périplo por tantas comunidades, a Presidente dos Encontros deixava, assim, o seu retrato num mural na América do Norte, tal como deixara, por todo o lado, o retrato de corpo inteiro de uma cidadã, a mobilizar, pela palavra e pelo exemplo, pelo advento de sociedades, mais livres, mais abertas a todos, ou seja, mais humanas.

Maria Manuela Aguiar

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