novembro 16, 2008

Na Argentina Presença Portuguesa no Feminino


Acabo de regressar de Buenos Aires, onde fui para assistir à comemoração do 10º aniversário da "Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina ".
Esta Associação é um caso absolutamente singular no panorama actual das organizações das nossas comunidades do estrangeiro, ou, se preferirem, das nossas comunidades organizadas, no seu sentido social, dinâmico, gregário - isto é, portador de futuro colectivo... e muito português.

Em primeiro lugar, porque surgiu de um reconhecimento da quase completa ausência de participação das mulheres no dirigismo associativo português daquele país (semelhante à que se verifica em tantos outros, na maioria deles, da Europa à Oceania...) e de uma intenção, claramente afirmada, de abrir um espaço à actuação da "metade feminina".
O objectivo matricial foi mesmo esse. Tendo estsdo presente na 1ª reunião, realizada em Novembro de 1998, em Villa Elisa, lembro-me bem dos animados debates e das diferentes sugestões para a elaboração de um programa de acção, que traduzisse uma linha de rumo. Então, era ainda preciso encontrar as causas em que se iria concretizar a "causa" de oferecer oportunidades a quem as não tinha, para trabalhar em favor da colectividade!

Em segundo lugar, porque as oportunidades foram, de facto, aproveitadas de uma forma superlativa e a "Associação" veio mostrar muito mais talento, dedicação e eficácia, num rol extenso e impressionante de actividades, do que qualquer das fundadoras teria podido sonhar no momento de um difícil e humilde arranque.

Em terceiro lugar é de mencionar a conjuntura excepcional que, pouco tempo depois, a Argentina iria atravessar - uma dramática crise social e política , com uma crescente pauperização, a atingir todos, e a sentir-se, fortemente, no meio da nossa comunidade. A adversidade pôs à prova as capacidades de resposta da nova associação, nessa altura, já particularmente vocacionada para a área assistencial, preenchendo, de algum modo, a lacuna deixada em aberto pelo lamentável desaparecimento do hospital da Beneficência Portuguesa. Essa "prova de fogo" foi ultrapassada, de uma forma admirável. A partir daí, não havia mais dúvidas, nem da parte de homens, nem de mulheres. A reputação e o prestígio da organização estavam estabelecidos, num ambiente consensual. A nível da comunidade, do movimento associativo, mas não só. Também perante a Embaixada de Portugal, perante o Governo, e, finalmente, até no universo de todas as comunidades portuguesas.
Em Junho deste ano, a Associação Mulher Migrante da Argentina foi uma das três associações ditinguidas com os "Prémios Talento", da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas.

Por último, há um outro aspecto fora do comum, que merece destaque: numa altura em que tanto se fala da necessidade de concentrar esforços, de promover até a fusão de instituições, em declínio, em plano inclinado, ou em número excessivo, vem esta mostrar que uma nova organização pode não ser sinónimo de dispersão de forças, mas, pelo contrário, de maior união entre todos.
Para isso, foi essencial não ter implicado duplicação de acções, mas, antes, suprido uma enorme omissão (e logo no campo do apoio social...). E não ter criado uma sede de cimento e betão - funcionando, alternadamente, nas instalações dos centros comunitários pré-existentes, para as suas actividades sociais e de "fund-raising". O que, evidentemente, ainda mais reforça os laços de colaboração e bom entendimento com todas eles.
Por isso, no dia 11 de Novembro, em Villa Elisa, este ano, lá estavam o deputado do Círculo da Emigração, Dr. Carlos Páscoa, o Conselheiro da Embaixada, Dr. Bruno Moreira, o Conselheiro das Comunidades, António Canas, assim como o Presidente do "Conselho das Comunidades da Argentina", e os presidentes dos mais importantes clubes portugueses. E um enorme salão cheio de admiradores da obra destas notáveis portuguesas, quase todas, há 10 anos, simplesmente passivas frequentadoras das festas comunitárias.

As três presidentes, que se sucederam, neste período, e são os rostos mais visíveis do "êxito" alcançado, a Maria Alice de Matos, a Natália Renda Correia, e a Maria Violante Martins, têm sabido ser o elo de ligação de uma fantástica "rede" de colaboradoras: quando surge um problema grave na comunidade, acidente, doença, já todos sabem que podem recorrer à responsável ou delegada da "Associação" mais próxima da sua morada. Elas procuram ajudar, de imediato, e com todos os meios disponíveis.

Esta meteórica ascensão de uma ONG invulgar começou, afinal, na vontade eficaz de responder a um apelo de cariz muito "Kennedista": "o que podemos nós fazer pelo nosso país, pela nosssa comunidade".
Uma resposta no feminino.
Um exemplo a seguir.
Um sinal de esperança.

Num tempo em que tanto se fala na dificuldade de encontrar novas lideranças: as mulheres aí estão, capazes de duplicar o campo de recrutamento dos voluntários, que se diz escassearem...


Centro Pátria 2005

6 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...

Férias na Emigração: É verdade! Não sei há quanto tempo deixei de fazer férias em paraísos tropicais,em praias de água mais quente do que o ar...(foi em Alagoas há mais de 15 anos, ou na Madeira, por essa mesma altura?).Agora, praia é em Espinho, onde vivo e onde há que aproveitar as vantagens que nos oferece. E prefiro encontrar, no estrangeiro, amigos do que ver paisagens. Quando muito, aproveito as duas coisas, do mesmo passo. Assim, nesta viagem longa de poucos dias, não só revi amigos, como a incomparável cidade de Buenos Aires. Ao 10º aniversário da "Mulher Migrante não podia faltar. O resto, vem por acréscimo!

Maria Manuela Aguiar disse...

A viagem começou pelo Porto, que é o meu aeroporto preferido. Menos confusão, mais espaço e a certeza de entrar no avião por uma manga. Para quem, como eu, leva só bagagem de mão, carregar a mala num autocarro superlotado, que serpenteia pelas pistas à procura do avião, é um pesadelo.Outro pesadelo é viajar em classe económica.Pasmo com a capacidade de sofrimento daqueles Deputados da Nação,que, para pouparem uns contitos ou uns euros, trocavam as viagens pagas pela AR, em primeira classe ou executiva,por um apertado lugar na rectaguarda.Eu pago a diferença, se for preciso, para atravessar os oceanos, confortavelmente. Até nisso, sou uma "loner"... Já no que respeita a hotéis, desde que seja limpo, sem baratas nem barulho, qualquer coisa serve. É mesmo só para dormir, que eu não sou adepta de repousos diurnos, sesta ou pausa no programa... Desta vez, fiz o percurso via Rio de Janeiro, mas não quis dar trabalho aos amigos e fiquei no Hotel Luxor, no aeroporto, para seguir viagem no dia seguinte. O quarto não era particularmente simpático, embora o atendimento fosse.Felizmente só na hora da saída, achando os estores muito alinhados demais, fui tocar-lhes e verifiquei que eram pintados na parede! O quarto não tinha janela, mas eu zarpei ,porta fora, sem tempo para sentia a claustrofobia.De qualquer modo, Luxor do Galeão nunca mais!

Maria Manuela Aguiar disse...

Continuação de viagem: os voos internos, esses já foram em classe económica. Com a TAM, que dá milhas para o grupo Star Alliance, mas não acesso ao "lounge" com o cartão TAP gold. Mistérios dos acordos entre companhias... Ainda por cima, o voo JJ 8011, ou coisa parecida não existia. Tive que deduzir e, à cautela, confirmar que era o voo para Assunção, da LAN, companhia paraguaia associada. O avião era TAM, a tripulação paraguaia. Curioso, verificar o preconceito anti-paraguaio dos meus vizinhos brasileiros de fila de espera. Protestavam que tinham pago um bilhete na TAM e era na TAM que exigiam partir. Claro, não era possível. Verdade seja dita, àparte o atraso de uma hora, que ficamos sem saber a quem se deveu, a diferença entre o pessoal das duas companhias é inexistente.

Maria Manuela Aguiar disse...

No aeroporto sai rapidamente, passei depressa a polícia, e logo encontrei os meus queridos amigos, a presidente da Associação, a Maria Violante, e o marido. Pelo caminho, até ao hotel, tempo para ficar informada sobre pormenores da grande festa e sobre a revista comemorativa do 10º aniversário. Mais uma excelente ideia executada, a preceito. Até eu, que procuro acompanhar, de perto, a vida da Associação fiquei impressionada com o número e a importância de tantas iniciativas. Ora aqui está um bom exemplo, a ser seguido pela Mulher Migrante , em Portugal, que faz 15 anos de vida activa em 2009. Já falei nisso à Rita Gomes. Se não fôr uma publicação em papel, ao menos um "e-book"...

Maria Manuela Aguiar disse...

Apenas uma notícia muito triste: a morte do Presidente do Centro Pátria, o verdadeiro patriarca da nossa comunidade. Como esquecer a última conversa, em que me dizia que eu precisava de vir com mais tempo a BA, para fazermos uma visita a La Plata, onde tinha conhecimentos, a nível do Município, ficariam felizes por nos receber. Um casal encantador, que nunca esquecerei. Foi com eles, no Centro Pátria, que me despedi , como deputada da Emigração. Não podia ter tido um melhor "adeus". Considerava-os um exemplo de dedicação às causas comunitárias, e de juventude de espírito, de boa disposição e "savoir faire". Olhando-os pensava: aos 80 ou 90 anos, eu não teria ânimo para fazer tanto! Mas o ideal é, de facto, juntar a experiência, com a capacidade de iniciativa e de entusiasmo, que se julga, erradamente, ser exclusivo da mocidade. Claro, quando há pessoas de excepção, como eles... Foi uma festa lindíssima, no salão, muito bem decorado, com o seu charme "de época" e cheio de amigos, de música, do tango ao fado, e de simpatia.

Maria Manuela Aguiar disse...

A festa do 10º aniversário foi realizada em villa Elisa, naquela grande Associação, onde aconteceu a primeira reunião, que veio a dar origem à "Mulher Migrante" da Argentina, apesar da semelhança de designação, completamente independente da que festeja agora o15º aniversário, em Lisboa. Estive lá, como amiga, mais do que como deputada da Emigração, o mesmo se podendo dizer do único homem presente - o Conselheiro das Comunidades Portguesas Luís Panasco Caetano. A nossa missão, ali, era mobilizar as mulheres para a participação activa, e através de um centro seu, já que não é previsível, no médio prazo, que ganhem acesso, igualitariamente, ao dirigismo do movimento associativo geral. O Conselheiro é um alentejano tranquilo, muito generoso e activo dentro das comunidades "do sul da América do Sul" e não se sentia nada intimidado no meio de tantas senhoras. Mas foi explicando a razão da sua presença,dizendo: Não é preciso ser velho, para tentar resolver problemas da terceira idade. Não é preciso ser jovem para estar atento ás aspirações dos jovens. Não é preciso ser Mulher, para lutar pela igualdade de direitos entre os sexos. Perfeito!