janeiro 19, 2009

Sem Bush

Um mundo sem Bush, muito embora com o seu legado de um "quase caos" económico, é uma esperança de retorno à normalidade (à normalidade das imperfeitas sociedades ou democracias em que vivíamos antes, apesar de tudo norteadas pelos valores que lhes dão, se respeitados, a sua superioridade moral, perante os déspotas, os ditadores, os criminosos, habitualmente actuantes em outras áreas do planeta).

Sem esperança, porém, para um milhão de mortos no Iraque.
Iraque, de berço da nossa civilização, a cemitério das nossas crenças no avanço civilizacional do Ocidente, com os seus Estados de Direito e o primado dos Direitos Humanos.

A "era Bush" tem o seu começo datado ao minuto, ou melhor, ao segundo : àquele momento em que começou a invasão do Iraque. Não, como alguns preferem, à queda das torres gémeas...
Foi nesse preciso momento que o itinerário de todos os males novos e maiores, que acresceram aos velhos. se desencadeou, imparavelmente. E que desapareceu o incipiente movimento universal contra o terrorismo...

Foi matéria em que não tive, nunca, a sombra de uma dúvida...
Todavia, espantosamente, no meu partido, na Assembleia da República, vi-me em situação de total isolamento.E fora da AR, restou pouco mais do que a voz de Ângelo Correia

É verdade, embora pareça incrível, é verdade: no, então, ainda numeroso grupo parlamentar do PSD eram todos grandes, e aparentemente convictos, defensores dessa tese aberrante da "guerra preventiva" !
Tentei, em vão, convencer as lideranças de que lhes prestava o melhor dos serviços ao manifestar, ainda que sozinha, uma posição radicalmente oposta à da quase unanimidade.
Tinha razão, é claro: por um lado, mostrava que havia alguma vivência democrática dentro do grupo; por outro, marcava, ali , no interior, o espaço daqueles, a quem o futuro daria inteira razão (disso, à época, eu não tinha, como disse, a mais pequena dúvida, e nem percebia como é que gente tão conhecedora da cena internacional, e inteligente, podia ter...):

Esta observação refere-se ao chefe, ao líder, ao então primeiro ministro, não aos "Yes-men", que, desses, só se espera que abanem a cabeça, conforme a ordem, que vem de cima.

A diferença entre o líder e os outros, no tratamento da minha divergência. foi, apesar de tudo, notável.
Fazia muita questão que a votação do grupo parlamentar fosse unânime - mas só me pediu que não fosse votar, nesse dia do voto sobre a guerra . E eu não fui... porque tenho este defeito de ser sensível´`as "boas maneiras" do amigo e opositor (ideológico). Já, pelo contrário, em situação de conflito aberto, não cedo "nem morta".
E, em termos de opinão, não cedo mesmo! Sobre esta questão, dei entrevistas , a dizer o que pensava, muito claramente (ao jornal Público, por exemplo, no próprio dia da tal votação...). Escrevi, pelo menos, um artigo, na imprensa nacional.
E, na APCE (Asembleia Parlamentar do Conselho da Europa), em Paris, em Estrasburgo,, onde, por sinal, até presidia , por escolha pessoal do líder do partido, à Delegação Portuguesa, tive e usei, ampla e constantemente, de total liberdade para me manifestar contra a guerra, contra Guantánamo, contra Bush. Em intervenções formais, em recomendações, em reuniões de comissões, ou nos plenários. É material que tenho de procurar, embora hoje, já não seja preciso convencer ninguém... Já fizeram, todos, a sua estrada de Damasco, o mais discretamente possível.

Ora o Senador Obama foi um dos raros políticos americanos a ser, na altura, lucidamente, contra esta insensata, injusta e fatídica campanha bélica...
Nem Hillary, a minha candidata, teve a coragem de o ser... Relevei o erro, porque queria ver uma Mulher altamente inteligente, muito bem preparada, com larga experiência, tornar-se a 1ª presidente dos EUA. Vou vê-la como Secretary of State!
E, a avaliar pela escolha da equipa governamental, com prémios Nobel e muito "Harvard" à mistura.ou muito me engano, ou vou acabar por ser mais Obamista do que os que o eram durante a campanha ...
Ainda é um pouco cedo para ter certezas, mas não para ter esperança.




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