maio 11, 2010

A Santidade de Mandela

Adriano Moreira foi um dos portugueses mais notáveis do século XX - e continua a sê-lo, no presente. Um dos mais cultos, um dos mais lúcidos. Expoente de uma geração, que atravessou dois regimes de forma singularíssima. Demasiado inteligente e não suficientemente acomodado ou "ortodoxo" para ter, na política portuguesa, o sucesso reservado a figuras imensamente menores, que todos sabemos quem são...
Ouvir a sua palavra é sempre um prazer e uma lição.
Como aconteceu hoje, no seu comentário à visita papal, na SIC- Notícias (21.00 h).
Só ele, ao falar de santos do nosso tempo, seria capaz de falar da santidade de Mandela!
Não posso estar mais de acordo!

2 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...

Ainda há pouco, num debate sobre o 25 de Abril, no quadro das comemorações do centenário da República em Espinho, me referi a Mandela como um dos maiores vultos da história universal no século XX.
E, sobretudo, por essa sua faceta de "santidade", embora eu não tenha ousado usar essa palavra.
Em Portugal, estamos por demais habituados a ver os nossos resistentes à ditadura "fazer curriculum" com os meses ou anos de prisão.
Mandela esteve mais de vinte anos enclausurado e, depois da sua libertação, nunca mais falou disso, preocupado essencialmente em democratizar e humanizar a sociedade e a política do seu país.
O que, com essa atitude conseguiu.

Maria Manuela Aguiar disse...

Cumprimentei o Presidente Mandela várias vezes, sem nunca ter tido ocasião de falar com ele.
Mas encontrei, em condições inesperadas, um dos seus companheiros de longo cativeiro.
A libertação de ambos tinha acontecido há pouco tempo. Eu estava de visita a Capetown, a convite da comunidade portuguesa e era vice-presidente da Assembleia da República. O Embaixador Cutileiro foi dos primeiros diplomatas estrangeiros a estabelecer contactos com esses altos dirigentes do ANC (como, aliás, com os de outros partidos) e, conhecendo o meu "feminismo", achou que seria interessante organizar um encontro com uma feminista sul-africana, a Srª Sisulo, mulher de um histórico líder do ANC, Walter Sisulo.
A reunião teve lugar no escritório do advogado de Mandela e Sisulo.
Cutileiro e eu fomos os primeiros a chegar e estivemos uns minutos à conversa com esse anfitrião, um homem de origem indiana, com ar sério e contido. De repente, abre-se a porta e avança um vulto masculino. Vinha com um sorriso imenso e os braços abertos para nos saudar.
Era Walter Sisulo.
Explicou-nos que a mulher estava com gripe, não podia sair de casa, e ele tinha resolvido substitui-la!
Uma simpatia! Extrovertido, alma aberta, alegria de viver bem africana, e um discurso moderado e fraterno. Quem diria que tinha acabado de sair do cárcere do apartheid?
Foi a partir daí que comecei a acreditar no futuro da África do Sul. A partir daquele abraço espontâneo e caloroso a uma portuguesa desconhecida, de quem apenas sabia a nacionalidade e, talvez, a militância feminista.
A empatia foi obviamente mútua, mas, mesmo antes de uma conversa amiga e divertida, já ele vinha predisposto a dar àqueles europeus um abraço africano.