julho 01, 2010

BALBINA MENDES Máscaras Rituais

Conheci Balbina Mendes durante uma visita à sua anterior exposição sobre o rio Douro - o Douro esplendorosamente retratado da nascente à foz.
Confesso que gostei tanto da pintura, como da pintora - coisa natural, pois têm muito a ver uma com a outra. Cada uma dessas telas nos fala, em linguagem artística de compreensão imediata, na expressão inimitável do seu traço, das cores e da luminosidade, de uma ligação telúrica às terras nordestinas de Portugal, de uma peregrinação em busca das memórias de que se faz a identidade do povo, que ali se não via, mas se pressentia - nos vinhedos, nas amendoeiras em flor, na pedra dos monumentos e castelos, que são a moldura do rio mítico, agreste e formoso a que Torga chamou “poema geológico” .
Esta nova incursão de Balbina Mendes nas “vivências do lugar”, do espaço geográfico e humano, que lhe pertence e ao qual pertence, plasma uma verdadeira continuação da primeira viagem, agora assinalada pela sequência de encontros com as suas gentes, costumes e ritos ancestrais. São visões assombrosas de folgança, de gáudio, de intangíveis arcanos e mistérios, que se nos oferecem em explosões de cor e de movimento, de exultação feérica - figuras, formas, imagens, símbolos de um certo Portugal antiquíssimo e eterno, que nasceu e cresceu a partir das margens desse rio, espectador e cúmplice.
Esta exposição, que o Forum de Arte e Cultura de Espinho muito se regozija de receber, é um convite irrecusável a entrar no universo mágico de uma trasmontana de Miranda, senhora do raro talento, que crescentemente se afirma, de transmutar em arte pura e arrebatadora, o que os seus olhos vêm e a sua alma sente – seja a singularidade da paisagem, a alegria das festividades, ou os gestos e momices dos personagens, que se escondam, ou se revelam, por trás da máscara, e se quedam em diálogo lúdico connosco, na tela, para sempre.
Maria Manuela Aguiar
Julho 2010

2 comentários:

Maria João Capela disse...

Notem: imagens incluidas na mensagem posterior sobre a exposição.
Só uma observação construtiva: numa próxima iniciativa, mandem o "chamariz" - que, no caso foram as máscaras de Podence, ao vivo, nas ruas - também para o bairro piscatório. Estas coisas são para todos e devem ser para eles em especial

Maria Manuela Aguiar disse...

"Les beaux esprits se rencontrent...". Concordo a 100%!
Já tinha falado dessa hipótese ao Dr. Bouçon.
Há espinhenses das vizinhanças, do bairro piscatório, que são assíduos - ou melhor, assíduas, porque são sobretudo mulheres - mas há que tornar essa ligação mais estreita.
As cafeterias fazem muita falta para "fixar" um público, mas, infelizmente, não têm sido a prioridade. O Doutor Mota Pinto já falava de "custos da interioridade". Aqui há um fenómeno parecido. Se não é interioridade, é periferia ou marginalidade, que vem dar ao mesmo...
Ah! Se o Museu ficasse na bendita "Alameda de todas as preocupações, atenções e verbas" (VERBAS para fazer espectáculo, que tanto nos faltam parta tudo o resto!).