março 13, 2014

Ao fazer a história da MM, a partir do ato de constituição jurídica, em 1993, nunca esquecemos a sua história anterior, a vontade de outro coletivo de criar a associação que nós somos, bem expressa nas conclusões do 1º Encontro de Portuguesas da diáspora em 1985. Todavia, no que respeita ao seu universo próprio, escolhemos uma via diferente da inicialmente pensada: não quisemos ser uma associação exclusivamente feminina, mas sim um "fórum" para debater os problemas particulares da emigração no feminino, para promover a participação igualitária, a vivência da cidadania por todos. Nada que os homens não possam e não devam partilhar, na vertente da investigação, como na da  solidariedade.
Outro aspeto que gostaria de salientar, na abordagem dos objetivos que prosseguimos, é a constante preocupação com o todo da emigração, das sociedades em que se integra, e da nossa também - desde logo porque acreditamos que tão importante é ouvir a opinião das mulheres no que respeita às especificidades da sua situação, como conhecer e fazer valer a sua perspetiva sobre as comunidades, as sociedades atuais e o futuro.
Olhando estes vinte anos numa apreciação muito sintética, diacronicamente, eu distinguiria duas fases: uma primeira, que se estende, por coincidência, ao longo dos primeiros dez anos de vida ativa, ou seja, entre o Encontro Mundial organizado em 1995 e o começo, em 2005, do trabalho conjunto com a SECP na realização dos "Encontros para a Cidadania",
Nessa década de 95/05, depois do fulgurante aparecimento em cena da MM com o maior dos Congressos  até à data efetuados - reunindo mais de 400 pessoas, cerca de metade mulheres e homens vindas/os dos cinco continentes -
em termos do que chamamos "congressismo", a atividade da associação esteve centrada em Lisboa, com a organização de um grande colóquio anual, dedicado a temas de emigração e imigração e recebeu o maior apoio, quase sempre, da Comissão para a Igualdade - a revelar um relativo distanciamento da SECP (a meu ver,não tanto em relação à AEMM, pois contámos com a presença de vários titulares da pasta nas nossas iniciativas, mas às questões de género nas comunidades portuguesas). A imigração estava, de facto, em fins de século XX e princípios de Século XXI, no centro da agenda da MM e traduziu-se em algumas iniciativas pioneiras, como as que se desenvolveram em colaboração com municípios e regiões autónomas , chamando a atenção para os graves problemas então sentidos pela nova imigração
A AEMM mantinha uma rede de representantes em muitos países e continentes, núcleos nos EUA (Newark) e no Brasil (RJ), mas a sua ação direta no estrangeiro ficava aquém do que se pretendia e devia-se, essencialmente, à disponibilidade de uma ou outra associada, sem revestir carater sistemático
 A política levava-me então a constantes viagens pelas comunidades transoceânicas e, naturalmente, procurava incitar as Mulheres á intervenção cidadã. Onde havia resposta concreta, colaborava na organização de colóquios e encontros com essa finalidade - caso das Américas, do Canadá à Argentina. E, de um deles veio a resultar, em 1998, a criação da Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina, que "revolucionou" o papel das portuguesas naquele país, com uma ação extraordinária, sobretudo no campo da solidariedade social.
 Nos anos seguintes, a Rita e eu, estivemos, por exemplo, no Brasil, no Uruguai e na Argentina - com Buenos Aires, a chamar-nos, com frequência, para realizações de crescente dimensão, a constituir-se num verdadeiro paradigma de associativismo feminino na atualidade.
A segunda fase é, como sabemos, marcada pelos "Encontros para a Cidadania" e por uma colaboração estreita no que podemos designar como "políticas de emigração com a componente de género"  - na verdade, um "regresso às origens", no caminho aberto pelo Encontro Mundial de 1985, que fora uma pioneira convocatória das mulheres da Diáspora para o reconhecimento do seu papel e para a afirmação da sua cidadania, uma pioneira audição da sua voz pelo governo do País .
Curiosamente este novo ciclo de vida da MM, completamente distinto, que a vai levar aos quatro cantos da terra, ao contacto e colaboração com mulheres do mundo inteiro, surge quase por acaso e, novamente, por força da memória do congressismo de  85. Surge de uma conversa minha com o Dr. António Braga, pouco depois da sua tomada de posse como SECP, em que eu lhe propunha, apenas, que fosse comemorada, com um grande congresso, a efeméride dos vinte anos daquele 1º Encontro. A ideia de ir até às diferentes comunidades, ao longo da legislatura, de Encontro regional em Encontro regional, como preparação de um Encontro mundial, em 2009, foi do próprio SECP. Como foi dele a ideia de envolver a MM na sua organização.
Do SECP Dr José Cesário,  em 2011, recebemos idêntico convite a participar no desenvolvimento de políticas para a igualdade de participação das Mulheres nas comunidades. Logo nesse ano, instou-nos a organizar um Encontro Mundial, depois, foram muitos os que aconteceram em diferentes comunidades, com o seu apoio, o seu incitamento.
Esta atividade incessante, projetada e continuada, redimensionada num tempo de novas vagas migratórias deu-nos novas responsabilidades, ampliou enormemente o nosso campo de intervenção e possibilitou múltiplas parcerias com o movimento associativo no mundo inteiro. O tipo de cooperação ensaiado com as Câmaras municipais no País foi, assim, alargado, no estrangeiro, a instituições e a eventos, tradicionalmente, mais ou menos alheios à presença e relevância da metade feminina. Propusemos a inclusão de temas de género em comemorações do Dia nacional, ou em datas significativas para uma particular comunidade, ou em inúmeros congressos ou festividades que, em regra, esquecem estas temáticas, em escolas públicas, em bibliotecas, em tertúlias. Fazemo-lo sistematicamente, pois temos consciência de que estas são questões perdem em ser acantonadas, como "coisas de mulheres". Esta preocupação está bem patente  no programa deste ano - começamos com o lançamento das nossas últimas publicações, em que homenageamos grande Mulheres da Diáspora, como Maria Archer e maria Lamas, no ambiente de tertúlia cultural do café Guarani do Porto, prosseguimos em Escolas de Espinho (onde hoje todos os alunos conhecem os nomes de Archer e Lamas e o significado das suas vidas de lutadoras pelos direitos Humanos - como seria fantástico dizer o mesmo do resto do país...), introduzimos o tema "Migrações e Artes no Feminino" na Bienal de Espinho e, logo depois,  no espaço da Bienal, em encontro de estudantes da Califórnia, estivemos presentes em iniciativas de outras iniciativas, como as promovidas por "Mulheres em Movimento",  no Porto, a CCPF, em Paris, "A vez e a Voz das Mulheres", nos Açores (através do projeto ASAS -  Academias Séniores de Artes e Saberes), Aqui estamos num "Encontro Mundial" e ainda iremos a Recife  - onde ganha forma uma nova Delegação da AEMM - e a Buenos Aires, para o encerramento do 1º curso da ASAS,  levado a termo pela MM da Argentina em Villa Elisa

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