agosto 27, 2015

questionário

Bom dia, Senhora Dona Brigitte

Respondo com todo o gosto e tão sinteticamente quanto possível

1 - O êxodo atual, na dimensão assustadora que atinge tem patentemente origem na crise económica e nas políticas de austeridade, no desemprego, na total falta de esperança e de confiança dos portugueses no futuro do país - ao menos no imediato. Há quem saia por outras razões, como sempre houve, mas serão casos raros, sem significado especial

2 - Os números que conhecemos nestes últimos anos colocam estes fluxos acima da média dos anos 60 (embora fiquem ainda aquém dos registados a partir de 68, incluindo a emigração indocumentada, que chegou a superar a legal). Cito de memória estes dados antigos, para responder rapidamente.
A diferença é que agora os portugueses podem sair livremente e só não são mais a sair porque não encontram trabalho em outros países também em crise ou estagnação económica, sobretudo na Europa (enquanto em 60 e até 73 não lhes faltavam oportunidades, em França, sobretudo) , Tenho tomado conhecimento de casos
lamentáveis, em países da UE (e há certamente muitos mais de que não há conhecimento...)
Não há melhoria económica nem clima psicológico que justifique, a meu ver, uma diminuição destes números tremendos. De 2012 para 2013, as saídas aumentaram e vão, muito provavelmente, continuar em crescimento em 2014 e 2015...

3 - Nos anos 60 eram sobretudo portugueses das zonas rurais que migravam - ou para fora ou para o litoral. Trabalhadores pouco qualificados. Em 74 e 75 regressaram ao país vindos de África mais de 800.000 portugueses e encontraram o seu lugar na economia portuguesa, ajudando ao seu desenvolvimento num período em que quase cessara a emigração. Porquê? Julgo que por terem outro perfil, outra experiência de vida
Agora, desde a emigração não é apenas rural é geral. Não é apenas provocada pelas assimetrias internas, mas por uma crise nacional (e, na minha perspetiva, uma crise europeia, uma crise do euro, com o fosso norte/sul , que as medidas de austeridade e a moeda única acentuam dramaticamente).
A maioria doe emigrantes são temporários, maioritariamente homens com pouca qualificações académicas - ou seja, o perfil tradicional, Sendo uma emigração temporária é relativamente menos preocupante.
Mas há, pela 1ª vez, uma emigração nova, altamente qualificada, de mulheres e homens, cientistas, médicos, engenheiros, enfermeiros. Há a perceção de que muitos não voltarão mais. São uma perda irreparável... É, por um lado a compreensão deste fenómeno, da sua diferença, da sua crescente dimensão e, por outro lado, a sua absoluta novidade para nós (o brain drain) que lhe dá um lugar cimeiro, maior do que o que tem como parte da estatística global. São os médicos e enfermeiros recrutados em massa para UK, os engenheiros para a Alemanha, ou para Angola (Angola, um dos grandes polos de atração de quadros portugueses...

4 - Comparando com 60, hoje a dispersão é muito maior, tornando a emigração portuguesa um caso singular em termos europeus (os irlandeses emigram para os EUA, os espanhóis para a América Latina, etc, etc enquanto nós nos espalhamos por todos os continentes) Em 60 fala-se quase exclusivamente de "emigração para a Europa. Também isso não é exato... A maioria foi, de facto, para França (quase um milhão?),e, em muito menor número, para a RFA, Inglaterra, Lux e outros países da Europa. Mas também houve centenas de milhares que procuraram os chamados novos destinos transoceânicos, a partir de 50 (Canadá, Venezuela, África do Su,l Austrália...)
Havia correntes que se orientavam, de preferência, para junto de núcleos de portugueses. Hoje acredito que isso também aconteça, mas outros há que vão individualmente, para destinos como os Emiratos, o Equador. o Extremo Oriente...

Partem todos os que conseguem partir - em qualquer idade, com uma incidência grande nos jovens. Sempre foram sobretudo os jovens que emigraram.... Mas agora eles são os mais atingidos pelo desemprego - incluindo os mais altamente qualificados. Por isso, não têm alternativa...

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