agosto 27, 2015


UM OLHAR (subjectivo) SOBRE FEMINISMO E DIÁSPORA
Longe e perto de 1910...

1- O movimento feminista e republicano do começo de novecentos não teve
um grande impacto nas comunidades do estrangeiro, nem mesmo
globalmente nas colónias portuguesas - embora em
algumas cidades ,como é o caso de Luanda, ou de São Paulo haja
registo de actividades da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas ou
da Associação de Propaganda Feminista (a Liga com estreitas relações
partidárias, a APF aberta a todos os credos e autenticamente sufragista, criada
quando se tornou evidente o incumprimento pelo Partido Republicano das
promessas de voto para as mulheres, em 1911. As conhecidas ligações
da APF ao Brasil devem-se à presença nesse país, entre 1911 e 1914, de Ana de Castro Osório, a grande impulsionadora e ideóloga da Associação, que, todavia,logo depois da sua fundação, "emigrou" para S Paulo, onde deixaria
o seu nome na memória e na toponímia da cidade
Mas a regra foi, naturalmente, a oposta… As singularidades daquele
movimento, a sua matriz republicana, maçónica, revolucionária, anti-clerical,
tornavam-no irrepetível na emigração. Não se poderia esperar uma aproximação entre mulheres separadas não só pela distância, como pelas condições de luta
cívica e política, numa época em que não existia tradição de diálogo com as instituições das comunidades - aliás, círculos masculinos, tanto ou mais fechados do que a sociedade local ,
À absoluta exclusão do movimento associativo, responderam as mulheres com
organizações próprias. A primeira terá sido uma sociedade fraternal na Califórnia, em fins do século XIX – a Sociedade Portuguesa Rainha Santa Isabel, nascida no interior de uma igreja católica, logo seguida da União Portuguesa Protectora do
Estado da Califórnia. Ambas cresceram espantosamente, desenvolvendo, a par da sua vocação mutualista, um papel cimeiro na comunidade portuguesa, sobretudo na área cultural e beneficente. Há registo de mútuas femininas oitocentistas em Portugal, mas sem atingirem a mesma grandiosa dimensão e longevidade...
No domínio social se centram outras grandes organizações da segunda
metade do século, como a Sociedade Beneficente das Damas Portuguesas
de Caracas, a Liga da Mulher da África do Sul ou, já no alvorecer do
século XXI, a Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina.

2 - À primeira vista, são mais evidentes as diferenças do que as sintonias
entre estas organizações que queremos comparar. Falta no nosso associativismo
da Diáspora uma forte reivindicação pública da igualdade – o equivalente actual do sufragismo de então....De facto, a sua expressão nos "fora" do “congressismo” vem sendo mais suscitada do exterior do que de dentro das comunidades: o 1º Encontro Mundial de Mulheres no Associativismo e no Jornalismo, foi convocado pelo Governo. em 1985. Já neste século, os “Encontros para a Cidadania” (2005-2009) e os congressos mundiais de 2011 e 2013 foram iniciativas de ONG's, como a Mulher Migrante, com sede no País, e em parceria com a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas.
As conferências periódicas sobre “A vez e a voz da Mulher”, cuja principal
dinamizadora é Manuela Marujo, professora da Universidade de Toronto, são
uma das excepções que confirmam a regra..
Todavia, há também convergências no associativismo das mulheres portuguesas em diferentes épocas e regiões do mundo:
Um feminismo muito feminino ("feminismo" no preciso sentido em que Ana
de Castro Osório falava de "verdadeiro feminismo" - um humanismo partilhado com o outro sexo, com companheirismo e cumplicidade ).
Um activismo que nasceu, frequentemente, dantes como nos novos tempos, dentro da família, numa cooperação entre cônjuges, mães e filhos, irmãs e irmãos - realidade que se adivinhava nos apelidos comuns de republicanos de ambos os sexos e que é bem visível no associativismo da emigração – são as mulheres de dirigentes que, nos bastidores, com eles colaboram, discretamente. E, quando elas decidem militar nas suas próprias organizações, são eles, em muitos casos, os seus primeiros apoiantes.
Mulheres desenquadradas do grupo familiar activo, também existem, evidentemente, mas são, sobretudo professoras primárias, jornalistas, escritoras… – tanto na República portuguesa de 1910 , como nessass “pequenas repúblicas de homens”, que são os clubes e centros comunitários no estrangeiro.
Proporcionar o ensino da língua, a vivência cultural portuguesa aos
mais jovens são as prioridades que mais atraiem as mulheres à liderança
associativa. ainda hoje. A relembrar a luta pela educação e instrução feminina, que foi o máximo denominador comum, dentro do movimento feminista e republicano, que a reivindicação do sufrágio dividiria irremediavelmente.
De um século ao outro, e mesma mundivisão, a mesma crença de que a mulher se emancipa pelo trabalho, ao lado do homem, e que quer direitos individuais para melhor servir não apenas, restritamente, a família, mas a comunidade e o País..
Sobra a busca da paridade em harmonia, onde falta o afrontamento de sexos. Até a APF, a mais sugragista de todas, se envolveu enormemente na vertente humanitária e beneficente do associativismo. Foi assim . É assim... Se mais resultados teria obtido uma postura mais radical é coisa que não saberemos nunca..

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