abril 13, 2020

2010 TRIBUTO A MARIA ALICE RIBEIRO Toronto

MARIA ALICE RIBEIRO


Há 30 anos raras eram as portuguesas emigradas que tinham voz na sua
comunidade. Maria Alice foi para mim, desde o dia em que a conheci,
uma revelação do que pode ser a liderança no feminino - e no seu
melhor!
Na verdade, muitos anos de convívio confirmaram o que antevi desde
esse encontro inicial, na primeira "missão de serviço" que me levou à
América do Norte: ali estava alguém que tinha infindas reservas de
energia, de coragem, de dedicação à "res publica" e que delas fazia
uso, apaixonadamente, intensamente, no quotidiano de uma das maiores e
mais dinâmicas comunidades lusas à face da terra (como, com ela e com
outros dos seus dirigentes, aprendi que é a de Toronto).
O que a movia? Julgo que era, claramente, o portuguesismo, o
sentimento patriótico, sempre mais desperto no estrangeiro - na
aventura da emigração - a par do inconformismo com as regras, as
práticas e as tradições que desvalorizam o género feminino e lhe
reservam um papel secundário. E, também, as causas que abraçava, com
entusiasmo, tais como: a defesa dos direitos dos imigrantes, e das
mulheres; a defesa da cultura portuguesa na imensa panóplia de
culturas conviventes no Canadá; o propósito de informar, com rigor,
com verdade, sobre o passado e a actualidade de uma Pátria, distante
mas presente; a vontade de dar corpo e alma a uma comunidade, que para
sempre lhe deve parte da dimensão que alcançou - e que não para de
crescer.
Málice, como os amigos lhe chamavam - e por isso a chamo eu assim -
foi um pioneiro da emigração portuguesa em Toronto. Fundou, com o
marido, António Ribeiro, o primeiro jornal de Toronto, escrito - e
muito bem! - na nossa língua. Tornou-o um semanário "de referência" no
mundo português de além fronteiras, e um espaço de vivência de ideias
e de grandes causas. Envolveu-se em inúmeras realizações importantes e
campanhas de mobilização comunitária, porque vivia para a sua própria
família, como para a família mais extensa, a do associativismo, o
núcleo agregador dos emigrantes, que constrói verdadeiras comunidades.
Foi Conselheira eleita do CCP, desde os anos 80 (quando o "Conselho
das Comunidades" era, quase em exclusivo, masculino) e para o CCP
trabalhou, eficiente e incansavelmente, até ao fim dos seus dias,
vencendo a doença enquanto lhe foi possível. Um grande exemplo para os
jovens, para as gerações que farão o futuro!
Maria Alice Ribeiro tem, para sempre, o seu lugar na história do
jornalismo da diáspora, na história das comunidades portuguesas do
nosso tempo.
E, connosco, os que tivemos o privilégio de ser seus amigos e
admiradores, permanece viva na memória e na saudade.





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