abril 26, 2023

MARIA ARCHER NO SEU TEMPO FUTURO Por ocasião dos 40 anos da sua morte 1 - No dia 23 de janeiro, completam-se 40 anos sobre a morte de Maria Archer, grande escritora e jornalista, para quem a escrita começou por ser narrativa acutilante de experiências de vida em muitas partes do mundo da lusofonia e tornou-se, crescentemente, ato de cidadania, denúncia de um modelo opressivo e misógino de família e sociedade. O regime ditatorial não só a perseguiu e forçou ao exílio no Brasil, como, deliberadamente procurou apaga-la da história, no dizer de Maria Teresa Horta, prefaciadora da reedição de um dos seus mais lidos romances (“Ela era apenas mulher”). No ocaso de uma trajetória literário, que a doença encurtou, Maria Archer estava consciente disso e não encontrava em si o ânimo para contrariar o esquecimento a que fora sentenciada, mas sempre acreditou que o futuro lhe faria justiça. Numa quase total invisibilidade voltou a Lisboa, em 1979, e veio a morrer três anos depois. Parecia ter deixado, de uma obra vastísssima obra, apenas um ou outro livro sobrante nas prateleiras de alfarrabistas, e de um imenso talento a recordação prestes a extinguir-se juntamente com os derradeiros leitores da sua geração. 2 – A segunda vida da Maria Archer começou no Brasil (mais do que em Portugal), com o renovado interesse de um pequeno grupo de académicos na sua obra tão polifacetada, que vem sendo objeto de estudo e de divulgação em artigos, publicações, conferências, teses de mestrado e doutoramento. A esperança de Maria Archer num reencontro com o futuro estará em vias de se cumprir! E só pela via do reconhecimento de um indiscutível valor literário, mas também pela via do seu pioneirismo de surpreendentes textos de natureza etnográfica sobre os povos e culturas de África colonial lusófona ou sobre a condição das mulheres portuguesas durante o Estado Novo e pela sua corajosa luta pela liberdade As comemorações do cinquentenário do 25 de Abril, vão, com certeza, lançar em simultâneo, um olhar sobre a evolução de cinco décadas de democracia e de cinco décadas de resistência à ditadura e aqui Maria Archer não pode ser esquecida! Não o é num projeto que está em investigação na Universidade Nova, como não foi numa iniciativa com que, nesta linha, o jornal Público se antecipou, homenageando, há alguns meses, mulheres cujos livros foram proibidos pela Censura. Nessa seleção, entre dez publicações, duas são de Maria Archer. Está em formação uma vaga de fundo que trará a público a memória da sua vida, como a comemoração do centenário da República trouxe a de Carolina Ângela ou Ana de Castro Osório. E nem terá de esperar até então. A efeméride que neste mês de janeiro celebramos vai coloca-la em foco nos meios académicos. O Porto receberá o ato inaugural, como ela, por certo, gostaria. Tinha orgulho na sua ascendência irlandesa, e, afinal, esta foi a cidade para onde imigrou, no ano de 1720, o seu primeiro ascendente, um aristocrata oriundo de Kilkeny, Lancaster. Entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, o Circulo de Culturas Lusófonas Maria Archer , esperamos levar a bom termo uma agenda em que abordaremos, sucessivamente, as temáticas da criação literária e artística das mulheres portuguesas, das migrações, da cidadania e da Diáspora, do diálogo no universo da lusofonia. A 22 de janeiro no Porto, pelas 16.00, abrimos a programação, inaugurando na Galeria da Biodiversidade, a exposição “Vivências”, comissariada por Ester de Sousa e Sá, antecedida por uma mesa redonda com os pintores que, na tela, procuraram deixar a sua interpretação da personalidade, do espírito, do mundo de Maria Archer. Seguir-se-á, em fevereiro e março, um colóquio sobre “Maria Archer e outras Mulheres de referência e de (Ir) reverência”, e um ciclo de conferências com periodicidade quinzenal. 40 anos depois da sua partida, Maria Archer, regressa, intemporal para ficar na História das Letras e do Jornalismo, da Literatura Colonial, do Feminismo e da Democracia

março 05, 2023

Grande entrevista - Maria Manuela Aguiar OBSERVA Magazine 2 > > Quem é Manuela Aguiar? Uma Senhora ainda recordada como exemplo de vida na notoriedade que conferiu à Diáspora portuguesa. Assumiu a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, no VII Governo Constitucional liderado por Pinto Balsemão, em 1981. Encontrava-se a assumir a pasta do Ministério dos negócios estrangeiros, André Gonçalves Pereira. > > OM: Muito agradecidos por nos conceder a honra desta entrevista > > M A: Eu é que tenho de agradecer a possibilidade de partilhar com todos os leitores de Observa Magazine recordações de tempos e acontecimentos que que vivi, há tantos anos. > > Assumi a SEECP, a convite do Dr Francisco Sá Carneiro, nos primeiros dias de janeiro de 1980. Era Ministro dos Negócios Estrangeiros o Prof Freitas do Amaral. Não os conhecia pessoalmente até esse dia em que que com eles reuni, na Rua Gomes Teixeira, na altura em que preparavam a formação do VI Governo Constitucional. Conversámos como amigos de longa data, de um modo informal e descontraído. Foi o início de uma caminhada vertiginosa, em que Sá Carneiro impunha o ritmo e todos dávamos o máximo, num ambiente de coesão de equipa e de solidariedade, que nunca mais reencontrei no cumprimento de um projeto de intervenção na vida pública. Até 4 de dezembro, 1980 seria o meu melhor ano de sempre, até então - e até hoje! > > Intervir na política, não estava no meu horizonte. Sentia-me bem em trabalho de gabinete, como assessora do Provedor de Justiça. Antes tinha sido assistente de um Centro de Estudo e de várias Universidades. E fizera, em 1978/79 uma passagem por um governo de independentes presidido pelo Prof Mota Pinto - na pasta do Trabalho. Tinha quadrante ideológico - era "social-democrata à sueca" - mas não filiação partidária. Não fui pressionada a inscrever-me no partido, mas fi-lo, impulsivamente, e devido à minha entusiástica sintonia com as posições de Sá Carneiro . E com isso, me tornei a primeira mulher do PSD a ocupar um cargo governamental. Depois, acabei por perfazer o total de 5 governos, e por ficar na Assembleia da República quase duas décadas e na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa cerca de 14 anos. > > OM: Estando interessados em tentar escrever a história e as histórias desta importante e nobre função de quem assume uma secretaria que permite e fomenta o contacto com as comunidades portuguesas espalhadas pela Diáspora portuguesa, conte-nos qual o primeiro impacto com essa realidade. > > M A - Foi, antes de mais, a verdadeira descoberta de um "outro Portugal", que os portugueses recriam no estrangeiro e que é largamente ignorado, dentro do País. Tive, a preocupação de fazer viagens em que circulava, de cidade em cidade, entre comunidades, com o objetivo de conseguir, mais depressa e melhor, uma perspetiva ampla do universo da emigração, estabelecendo comparações, e podendo transmitir experiências de umas para as outras. Queria encontrar as constantes, no que respeitava a realizações e a carências, e à definição de prioridades, e de de apoios e parcerias viáveis . > > Na primeira visita, em 20 dias, corri os EUA e o Canadá, de costa a costa. Na segunda, o Brasil - da Amazónia, do Pará e de Pernambuco ao Rio Grande do Sul. E, depois, os muitos países onde está a nossa emigração. Como os programa de visitas se centravam nas associações, igrejas, escolas portuguesas - no movimento associativo que atravessava um período aureo , quase não via o mundo circundante, e voltava com a espantosa sensação de não ter saído da minha terra, apesar de ter feito tantos milhares de quilómetros. Era como se Portugal fosse imenso! E, de facto, é - se olharmos não o seu território, mas a sua gente. > > O M : o que mais a comoveu nesse contacto direto? > > M A: O genuíno portuguesismo das pessoas! A paixão por manter tudo o que consideram identitário, que lhes permite unirem-se e criarem espaços culturais de presença portuguesa, com os seus modos de estar, as suas tradições de convivialidade. > > Encantou-me, desde esses primeiros contactos, a hospitalidade com que era recebida, quer em salas modestas, quer em grandes salões, que pareciam. todas, todos, transplantados das várias regiões de Portugal - com o seu ambiente de tertúlia, a sua gastronomia, dança, música, celebrações religiosas... Ver isto com os meus próprios olhos foi uma revelação poderosa, inspiradora. O que eles fazem pelo país é infinitamente mais do que o que País jamais fez por eles, como JF Kennedy quereria. Assim pensei e, décadas depois, assim continuo a pensar. > > OM: Como definiria um traço ou uma característica inerente (de todas as comunidades espalhadas por todos os continentes) à vontade/ necessidade de emigrar no período em que exerceu funções? > > MA: Julgo que mais a necessidade do que a vontade. O êxodo migratório do século XX deveu-se, sobretudo, à pobreza, ao desemprego, aos baixos salários. Foi, em percentagens muito elevadas, clandestino - sobretudo na segunda metade do século, quando de dirigiu para a Europa mais do que para destinos longínquos. (a emigração "ilegal" passou a média de um terço, que vinha já de épocas recuadas e chegou a ultrapassar os 50%) A melhoria das condições de vida dos que haviam partido contribuía poderosamente para familiares e vizinhos verem na fuga para o estrangeiro a única solução de futuro. Como hoje, os que atravessam o mediterrâneo, arriscando a vida! A situação não é tão diferente como poderá parecer. É apenas ainda mais difícil, porque, no pós guerra mundial, o ciclo de desenvolvimento económico permitia melhor integração. Os Portugueses, depois de um início difícil, ganharam, quase todos, a aposta na aventura da emigração. Eduardo Lourenço disse dos protagonistas do "salto", nas décadas de 50 e 60, que foram "uma geração de triunfadores". É uma citação que uso, muitas vezes, porque, globalmente, é verdadeira e, além disso, tem uma faceta de homenagem, que o país se esquece frequentemente de lhes prestar . > > OM: Qual a faixa etária que emigrava? Quais as suas qualificações académicas e profissionais? > > M A: Jovens do sexo masculino, pouco qualificados. É esse o perfil da nossa emigração tradicional. Mas não a dos governos a que pertenci. Quando, a partir de 1974, as leis e a Constituição Portuguesas vieram, enfim, consagrar plenamente o direito à emigrar, os outros países fecharam as fronteiras, após a crise petrolífera.... Na década de oitenta, registámos os mais baixos números de saídas de todo o século XX. Os países desenvolvidos praticamente só permitiam a entrada para reunificação familiar às mulheres e filhos dos trabalhadores. Falava-se, e bem, de "feminização da emigração". Foi, por sinal, um movimento da maior importante, porque quase todas as portuguesas conseguiram aceder ao mercado de trabalho, ganharam uma autonomia profissional, que não tinham nos meios rurais de onde provinham, e deram um impulso fundamental aos projetos migratórios, do ponto de vista económico (pois contribuíam com um segundo salário) e social, (porque se converteram, de facto, com inesperado êxito, em mediadoras da inserção do núcleo familiar. Estavam, maioritariamente, integradas, no setor dos serviços, com contactos mais próximos na sociedade local e isso deu-lhes a compreensão da necessidade de darem aos filhos as vantagens da educação e formação, que os pais não tinham. A emigração feminina influenciou, assim, decisivamente,a reconversão cultural e o sucesso económico dos projetos migratórios. Na altura, ninguém o podia prever. Hoje essa avaliação está cientificamente demonstrado (veja-se os trabalhos pioneiros da ProFª Engrácia Leandro, na década de noventa, na região de Paris. > > OM : quais eram os países eleitos pelos portugueses para se emigrar? > > MA: A Suiça foi, a partir de 80/81, uma exceção no panorama europeu. Nesses e nos anos seguintes, recrutou dezenas de milhares de trabalhadores portugueses ,maioritariamente, homens, para a agricultura, construção civil, a hotelaria... Novos destinos, que criaram expetativas, (depois não confirmadas), foram alguns países do sul do Mediterrâneo e do Médio Oriente. Os números nunca seriam muito elevados e corresponderam a contratos bem remunerados, mas temporários. > > Outra situação inesperada, com que me vi confrontada, e a que foi preciso responder com novas políticas, foi o enorme afluxo de regressos, em média 30.000 a 40.000 por ano. O retorno dramático dos portugueses de Angola e de outras colónias estava ainda bem presente na memória coletiva e este segundo retorno provocava nos "media",na opinião pública, e até na classe política um temor indisfarçável. Vi-me muitas vezes isolada, e mal compreendida, ao explicar que se tratava de um processo radicalmente diferente, um movimento voluntário, planeado pelos próprios emigrantes, dirigido, sobretudo, para as regiões de origem e, por isso, desejável, essencial mesmo, para o repovoamento e progresso do interior (desertificado pelo êxodo migratório das décadas anteriores). Os apoios à reinserção foram bem aproveitados, (medidas fiscais, isenções, empréstimos a juro bonificado), e o País ganhou muito com os que vieram (mais de meio milhão só nessa década de que tratámos) e, também ganhou com os que fixaram lá fora, formando as comunidades extra-territoriais, que constituem a nossa "Diáspora". > > um O M: No seu entender quais foram os países que mais se esforçaram por justamente atribuírem a lusodescendentes cargos decisores, nomeadamente de responsabilidade política? > > MA: O Brasil, sem dúvida. É um país tão próximo, que os portugueses, integrados na sociedade brasileira são tratados como nacionais. Desde 1971, o Tratado de Igualdade de Direitos e Deveres entre Portuguese e Brasileiros dá direitos políticos aos imigrantes do outro País. a nível nacional, enquanto, por exemplo, o estatuto de cidadania europeia, ainda hoje, se limita ao nível local. Em 1989, os Constituintes brasileiros foram ainda mais longe, concedendo aos portugueses, sob condição dereciprocidade, todos os direitos da nacionalidade brasileira, equiparando-os a brasileiros por naturalização. A luta pela dação da reciprocidade por parte de Portugal foi a minha " causa maior", enquanto deputada e prolongou-se por cerca de 13 anos. Foi conseguida numa revisão extraordinária da Constituição em 2001 - e graças ao apoio de Políticos sensíveis às singularidades do universo da lusofonia, como Durão Barroso e, sobretudo, Mário Soares. Desde essa data, o estatuto de cidadania luso-brasileira consolidou-se como o mais avançado, atualmente, nível universal! E, se, entre nós, ainda não vemos os imigrantes brasileiros em lugares políticos de destaque, no Brasil são muitos os Portugueses que ocupam altos cargos na Magistratura judicial e na política, a todos os níveis, local, estadual e nacional. Uma ascensão que vem de trás e em que as mulheres fizeram história. No século XX, a médica Manuela Santos foi a primeira Secretária de Estado no Rio de Janeiro e a atriz Ruth Escobar a primeira mulher eleita à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e a primeira representante do Brasil nas Nações Unidas para o acompanhamento de Convenção contra todas as formas de discriminação das Mulheres. Uma e outra, ao abrigo do "Tratado". Isto é, apenas com a nacionalidade portuguesa. > > OM: Que actividades económicas e que tipos de trabalho procuravam os portugueses que emigravam? > > Com o mesmo (baixo) nível de formação, os portugueses que emigravam para países economicamente desenvolvidos encontravam trabalho não qualificado em setores como a construção civil, a agricultura , os serviços (nomeadamente, no caso das mulheres), enquanto nos países "em desenvolvimento" muitos se transformavam, rapidamente, em pequenos empresários, quando não, no fim do percurso, em investidores de topo. No século XX, são inúmeros os que atingiram esse estatuto- no Brasil, obviamente, mas também na Venezuela ou em diversos países de África. Nos EUA, no começo do século passado, foi muito mais rápido o enriquecimento dos nossos imigrantes no Hawai ou na Califórnia do que na costa leste, então com índices de industrialização bem mais elevados. Neste contexto, a ascensão é sempre mais lenta, mas não impossível. Veja-se o que aconteceu na França, onde a partir da adesão de Portugal à CCE, com o direito de estabelecimento, se multiplicou, de forma impressionante, o acesso dos nossos compatriotas a segmento do pequeno comércio e da restauração. E, em casos mais invulgares, a grandes negócios e grandes fortunas. > > MA: eram defraudadas relativamente ao que esperavam do país de acolhimento? > > M A: De início, em muitos casos, sim. Eram enganados por redes de engajadores, explorados como trabalhadores indocumentados. moravam nos tristemente célebres bairros dos arredores de Paris. Um quadro assustador. Mas, progressivamente, a sua situação foi mudando. A legalização era facilitada (penso em primeira linha na França, que representava mais de 80% do total), e empregos não faltavam. Eduardo Lourenço, testemunha presencial desse período negro fez, como disse, lapidarmente, balanço final. Nenhuma outra imigração foi tão bem sucedida, em França, como a nossa. > > Desde a crise de 2008 e, mais ainda, nos anos de intervenção externa (da "troyka") , a emigração em massa não só recomeçou, como bateu todos os recordes. Cerca de meio milhão abandonou o País só nesses quatro anos. Fala-se de uma "nova emigração", de jovens altamente qualificados, quadros, cientistas, mulheres e homens. Nunca tal acontecera na nossa história, em números tão significativos, mas, na verdade, no total, são ainda uma minoria (nem por isso a situação de "braindrain" imparável, deixa de ser uma constatação termenda!) Contudo, maioria da nossa emigração continua a ser predominantemente masculina, pouco qualificada e envolvida em contratos temporários. > > Uma questão que agora se coloca é a de saber se haverá mais riscos de insucesso relativo para a "nova emigração"? Creio que em algumas profissões - engenheiros, médicos, enfermeiros - o êxito estará, quase sempre, garantido, em termos de promoção na carreira, de vencimentos. O risco maior, a meu ver, é o de não regressarem. Mas, em outros setores, podem não ver reconhecidos e aproveitados os seus títulos académicos, e acabarem acantonados a empregos precários e mal pagos. Face a expetativas mais ambiciosas, podem ver-se num percurso descendente - o contrário da geração de 60. Espero que não . que sejam poucos os perdedores. E espero, também que sejam muitos os que decidam voltar. Isso, de facto, depende muito do País, das condições que saiba criar para o regresso e para pôr fim às partidas em massa. Até hoje, como tenho dito muitas vezes, Portugal já conseguiu garantir aos cidadãos o direito de emigrar, mas não ainda o "direito de não emigrar"... > > OM: Qual a sua experiência no contacto com associações ou outro tipo de organizações em que os portugueses se uniam e reuniam? > > MA: Há pouco, ao referir primeiro contacto com emigrantes, logo o centrei nas associações, porque foi aí que encontrei os portugueses. Quer se chamem assim, ou não, são verdadeiras "Casas de Portugal". Foram criadas, algumas há mais de 150 anos, para preservação da língua e da cultura e para defesa e proteção dos compatriotas, que se viam completamente abandonados pelo Estado, mal transpunham as fronteiras do país. A única política de emigração portuguesa, ao longo de séculos, foi a regulação dos fluxos de saída, quase sempre no sentido de os limitar! Os próprios emigrantes colmataram as omissões do Estado, por todo o lado, unindo-se em coletividades para a entreajuda (sociedades fraternais, caixas de socorros mútuos, hospitais), para a valorização cultural (Gabinetes de Leitura, grémios literários, centros culturais) e para o convívio (clubes recreativos e desportivos). Até aos fins do século passado, em todos os ciclos migratórios, em todas as latitudes, deparámos com formas de organização semelhantes para atingir os mesmos objetivos (beneficência, cultura, recreio), com notável eficácia, em diferentes contextos e com meios maiores ou menores. O governo de 1980 não foi, certamente, o primeiro a ter em atenção os méritos do associativismo, mas foi pioneiro no enfoque que deu ao desenvolvimento sistemático de novas formas de parceria, de co-participação na definição e execução de medidas e programas para a emigração e as comunidades. O principal instrumento dessa política foi uma assembleia consultiva, formada por representantes eleitos no universo associativo, o Conselho das Comunidades Portuguesas. Entre 1981 e 1987 (data em que deixei definitivamente o governo), o Conselho funcionava a nível de cada país e em reuniões mundiais regiões e regionais. O Conselho procurava ser também um grande "forum" do movimento associativo português, que era muito forte dentro de cada sociedade de acolhimento, mas não tinha uma estrutura internacional, ao contrário de todos os outros países europeus. E ainda hoje não tem! O CCP é atualmente eleito por sufrágio direto, tendo perdido, assim, a sua faceta interassociativa. > > A minha ligação afetiva ao associativismo que dá corpo e alma às comunidades, enquanto comunidades orgânicas, vem dum tempo em que era extraordinariamente pujante. Sempre vi nele a generosa marca do "percurso coletivo" dos portugueses, tão importante para o País como o sucesso individual, a que costuma dar muito mais atenção. E por isso me preocupa o seu futuro num mundo em mudança vertiginosa. > > OM: Existe um número, ainda que aproximado, que nos possa adiantar de portugueses emigrados em 1981? > > M A: As médias de saídas eram baixíssimas, em comparação com as do passado recente e com as do presente. Talvez, uns 8000, (não sei exatamente os números, mas são dessa ordem de grandeza). Atualmente estão acima dos 100.000. Uma diferença abissal, um autêntico recomeço de ciclo, de èxodo. > > OM: A Língua portuguesa significava um entrave à integração dos portugueses nas diferentes comunidades? > > MA: O conhecimento de um idioma, nunca é entrave à aprendizagem de outro. Pelo contrário! Esse é um erro em que caíram alguns pais portugueses, que consideravam necessário que os filhos falassem apenas a língua local, que eles tinham dificuldade em aprender. Não compreendiam que o bilinguismo, para além de manter os laços à cultura pátria é sempre um enriquecimento, e mais ainda numa das línguas mais espalhadas no mundo. Mas esta visão nunca foi predominante. Mesmo os nacionais com baixa escolarização, sabem, em regra, valorizar a preservação da sua fala, ensiná-la aos filhos, em casa, na escola pública, ou a partir do movimento associativo.. > > OM: Quais as medidas que foram implementadas para que os emigrantes e os lusodescendentes, nomeadamente de segunda geração tivessem acesso em contexto escolar ao idioma de Camões? > > MA: Perante a multi-secular indiferença do Estado Português foram as associções e as paróquias católicas que criarem escolas ou cursos de português, com os seus´próprios meios, como acabo de dizer. De facto, a preocupação dos governos com a aprendizagem do português só se manifestou, quando a emigração se passou a dirigir para o nosso continente. Por largas décadas, se manteve a dualidade - uma rede oficial de professores na Europa, com ou sem acordos, com mais ou menos parcerias de governos dos países europeus, em contraste com não concessão de quaisquer apoios às escolas comunitárias da emigração transoceânica. Nunca aceitei esta discriminação, mas tive dificuldade em a combater, porque, nessa época a política do ensino para as comunidades estava sediada no Ministério da Educação e não no MNE, Ministério dos Negócios Estrangeiros. Durante os governo a que pertenci. só na África do Sul foi possível estender, de algum modo, a rede oficial, com aulas extra - curriculares, gratuitas e dadas por professores do ensino oficial > > A transição do Instituto Camões para o MNE é coisa relativamente recente. Hoje há mais equilíbrio, mais rateio de meios entre as comunidades, de "àquém e além mar", mas a situação está longe do ideal e as escolas associativas continuam a desempenhar, em muitos lugares, um papel de primeiro plano. Criar e manter os cursos de língua e cultura, continua a ser o obetivo de um sem número de organizações (e o que mais atrai as mulheres à intervenção na vida coletiva!). É de realçar que em muitos casos tem resultado o esforço do nosso governo junto de outros, para conseguir a integração curricular do português. A meu ver, a multiplicação e a conjugação de várias ofertas de ensino é excelente - e nunca será demais... > > OM: Quais as dificuldades da Lei eleitoral à data se refletiam no voto por parte das comunidades, nas diversas eleições portuguesas? > > M A: Tudo hoje é mais fácil e mais consensual entre partidos da direita à esquerda. Em 80, não. Até a dilatação do período de recenseamento de um para dois meses foi polémica e inviabilizada no parlamento! A votação era limitada à eleição de 4 deputados para a Assembleia da República e o voto por correspondência perdia-se, frequentemente, sobretudo em países onde os correios eram lentos e pouco fiáveis, ao contrário dos nossos. Infelizmente o número de deputados não se alterou, mas o voto alargou-se às eleições presidencial e europeias e a alguns "referenda". E o universo eleitoral, independentemente de recenseamento, passou a abranger todos os emigrantes que possuem cartão de eleitor. > > OM: Tem algum episódio que nos queira contar do contacto com alguma «Mãe ou Pai da Saudade»? > > M A: São tantos os que já partiram! Mulheres e homens com quem aprendi tudo o que sei sobre a emigração, com quem fiz tudo o que me foi possível fazer no terreno da ação política. Verdadeiros amigos! O mundo das comunidades era, então, a nível de dirigentes, de interlocutores, quase 100% masculino, e, por isso , o meu círculo dos amigos e aliados homens é imenso. Mas já havia, entre eles, as "mulheres-exceção" ´É mais fácil falar delas, porque eram raríssimas as que lideravam comunidades ou movimentos cívicos. Matriarcas como a mítica Dona Benvinda Maria, diretora do jornal "Portugal em Foco" do Rio de Janeiro, a Maria Alice Ribeiro, fundadora e diretora do "Correio Português" de Toronto (aí, o mais antigo jornal na nossa língua), a Mary Giglitto, presidente do Festival Cabrilho em São Diego (sem ela, o descobridor da Califórnia, seria hoje considerado castelhano, exemplo de mais uma deturpação histórica), a Fernanda Ramos , de Minas Gerais, a primeira presidente do Elos Clube Internacional, a Manuela da Luz Chaplin, advogada dos indefesos, em Newark... Todas tinham em comum serem vozes fortes, dominantes, arrebatadoras, que mobilizaram os compatriotas e tornaram as comunidades maiores e melhores. Contar episódios passados com elas ou com eles, dava outra grande entrevista... > > OM: Deseja fazer alguma saudação especial dirigida aos milhões que a vão ler? > > MA: Sim, com muito prazer, aproveito para mandar um abraço a todos os emigrantes que deixaram o seu país , mas o levaram consigo, em espírito e , assim, apesar da ausência física, são uma presença cultural. > > OM: A OBSERVA Magazine agradece-lhe novamente a honra desta entrevista

fevereiro 21, 2023

«Excecional Embaixador da Cultura Portuguesa» Ângelo Viegas é um dos nomes mais ilustres da nossa Diáspora, no século XX. Ao dedicar uma publicação à sua memória, ao seu percurso de vida, estaremos, em simultâneo, a fazer a história da construção e afirmação da presença lusa no sul do Brasil, no progressivo Estado do Paraná, na jovem e moderna cidade de Maringá. Já o conhecia pela fama, pela qualidade da sua intervenção comunitária, antes de o encontrar pessoalmente. E foi por seu intermédio que aceitei o convite para incluir o Estado Paranaense no roteiro de uma deslocação ao Brasil. com a primeira visita a uma cidade, que tinha de idade, menos anos do que eu, e a um novo Centro Cultural, cujo dinamismo revelava a existência de forte liderança. Muitos terão dado importante contributo para a concretização desse ousado projeto, mas não me ficaram dúvidas quanto ao papel fundamental de Ângelo Viegas, apesar da sua postura sempre tão discreta e diplomática. Na verdade, não procurou nunca o reconhecimento individual, mas o coletivo, fazendo sua a missão tão tradicionalmente portuguesa de convivialidade, de partilha de experiências e de afetos 46 com outros povos, de vontade de integração, norteada pelos valores da cultura de origem. Foi essa sua vontade de pertença a duas nações, a realidades culturais que quis e conseguiu tornar mais próximas, mais interativas, através de uma ação notável e constante, que o tornou, ou torna, um exemplo para as gerações futuras, um exemplo intemporal. A Ângelo Viegas não faltava ideias e sonhos fantásticos, e não faltava, sobretudo a capacidade de os levar a bom termo, com entusiasmo e alegria, com esforçado trabalho e brilho inexcedível. Maringá deve-lhe a "época de ouro", em que esteve na vanguarda de todas as comunidades portuguesas de então! Entre as inúmeras iniciativas, que pude acompanhar de perto, estão o esplêndido paradigma que constituiu a geminação de Maringá com Leiria, e a reunião do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), que organizou em 1986. As cimeiras do CCP, em diferentes regiões do mundo, eram bienais e convocadas para cidades com núcleos dinâmicos de portugueses, que se viam convertidas, durante o período da reunião, em autênticas "capitais" da emigração portuguesa. Foi o caso de Toronto, Fortaleza, Capetown, Danbury / Connecticut, Estugarda e Maringá. 47 De todas, a maior foi a de Maringá! Primou pela cooperação das autoridades brasileiras, pela excelente cobertura dos "media", pelo envolvimento comunitário, e culminou num espetacular jantar de despedida, com a participação de mais de um milhar de portugueses e brasileiros. Só alguém como Ele conseguiria tanto. Pelo empenho e competência, naturalmente, mas também pela a facilidade com que fazia aliados, com que abria todas as portas, graças à simpatia, à sua invariável disponibilidade para colaborar, para ajudar quem quer que precisasse do seu apoio. Por isso, aqui deixo o testemunho da minha imensa admiração pelo cidadão, pelo incansável defensor dos direitos dos compatriotas, pelo excecional Embaixador da Cultura Portuguesa, e, igualmente, do sentimento de perda, de saudade por um Amigo verdadeiro, leal e generoso. MARIA MANUELA AGUIAR Ex-Secretária de Estado da Emigração e Comunidades Portuguesa

fevereiro 15, 2023

1ª Reunião Mundial do CCP Representantes África Afonso Henriques Ferreira (S Tomé e Príncipe), Álvaro do Nascimento Chaves (Zaire), Comendador Álvaro, de Campo Amorim, C D Barbosa, Comendador José Bernardo, Gaspar da Silva Cardoso, Comendador Santos Gomes, Dr. Luís Leal, Jaime Margarido, Filipe Marques, Jorge de Sousa (República da África do Sul) América do Norte - Dr. Fernando da Silva, Padre José Alves Cachadinha, Eng.º Lourenço Aguiar, Sebastião Tavares da Silva, Eng.º Victor Cardoso (Estados Unidos da América), Alexandre da Silva, Padre António Pires, Arlindo Frazão Vieira, Fernando Cruz Gomes (Canadá) América do Sul Armando Antunes, Paulino Lopes (Argentina), Dr. Amadeu Pinto da Rocha, Ângelo Viegas, António de Andrade e Moura, Dr. António Gomes da Costa, Carlos Carvalho, Germano Augusto Tomé, Comendador Henrique Dias Ferreira, Dr. Joaquim de Matos Pinheiro. Joaquim Marques dos Reis, João Pereira da Silva, Júlio Portugal Nave Bizarro, Dr. Manuel António Mónica, Manuel Romão dos Santos, Paulino Romeira de Sá Ferreira, Rui Lopes dos Santos (Brasil) J Carlos de Sousa Correia, Dr. Mário Gonçalves Bento, José Costa Castanho (Venezuela) Luís Viriato Caetano Panasco, observador (Uruguai) Europa Luís Peres Ferreira (Bélgica), Fernando Veloso Rodrigues (Espanha), António Manuel Garcia, António Mota Ribeiro, Belmiro Ramos, Carlos Duarte de Morais, Dr. Francisco Ribeirinho, João Paulo da Fonseca, José Bernardino, José Coutinho da Silva, Padre Luís Filipe Rios, Manuel da Silva Fernandes, Manuel Vaz Dias (França), Padre José Salgueiro da Costa (Inglaterra), Carlos Moura Bernardino (Luxemburgo), António Cláudio, José Mendes (República Federal da Alemanha) Oceânia Padre Artur Sardo (Austrália)

janeiro 07, 2023

CINEMA - o paradigma do Trindade - in ETC e TAL

CINEMA EM SALA DE ESPETÁCULO COMO RESISTIR À SUA MORTE ANUNCIADA? 1 - Vivo numa cidade sem cinema. Ou que para lá caminha, a passos largos. Falo de Espinho, terra onde não faltam as tradições cinéfilas, nem os equipamentos. Falta-lhe, não só agora, mas desde há anos, visão e vontade política. É um caso de estudo... Esteve entre as primeiras urbes portuguesas, onde o cinema se exibiu em salas que fizeram história. Quando eu era menina, no final da década de 40 e nas décadas seguintes, o cinema era uma das grandes atrações de Espinho, a par do casino, da maior piscina da península, das esplanadas e cafés- tertúlia, (abertos a senhoras!), da movida da Avenida 8, com o vaivém de gente elegante sob as palmeiras, e, naturalmente, o mar, o seu mar de ondas altas. Nem o Porto, com tantas e tão boas salas de espetáculos, a suplantava, ao menos quantitativamente. O Teatro São Pedro e o Cine Teatro do Grande Casino de Espinho ofereciam-nos sessenta filmes por mês, com renovação quotidiana de um cartaz destinado a todos os gostos, e em instalações de luxo. No início do mês, cumpria-se o ritual de ir às bilheteiras do São Pedro e do Casino pedir o programa (quinzenal ou mensal). Muitas vezes, dois bons filmes coincidiam no mesmo dia e nós, as meninas, passávamos tarde e noite diante do grande ecrã. À noite com os pais, sempre disponíveis para nos acompanharem. Éramos uma família de cinéfilos. Foi com meu avô Manuel que me “viciei”, desde cedo, na sétima arte. Lembro-me de ir pela sua mão, com cinco ou seis anos, ao Batalha recém-inaugurado. Via e apreciava tudo – comédias, dramas, operetas, “westerns” … Tudo exceto filmes infantis! 2 - Guardei, como recordação, alguns desses "Programas" espinhenses, em papel colorido (azul ou rosa pálido, verde, laranja…) - com as suas sintéticas notas sobre cada sessão. Do São Pedro folheei, à sorte, um programa de agosto de 1962 e outro de setembro de 1981. Duas décadas de intervalo, sem alteração do estilo da sinopse de propaganda, ou do horário das sessões (3,30 da tarde e 9,45 da noite)! Porém, talvez por mero acaso, difere bastante o nível da programação. 1962 fica a ganhar com filmes memoráveis como “Esplendor na relva”, “Rocco e os seus irmãos”, “O Desconhecido do Norte Expresso” (do “genial Hitchcock”, diz a propaganda), “O Rosto” (do “mestre Ingmar Bergman”, segundo a nota), “A quimera do Ouro” (“com o incomparável e genial Charlot”) e, em cinemascope, “A Colina da Saudade, “Topaze”, “Austerlitz”. Os realizadores, com a exceção de Hitchcock e de Bergman são omitidos. Até Chaplin é apenas destacado como ator! Na primeira linha estão os intérpretes (Audrey Hepburn, a encantadora “Boneca de luxo”, Vittorio de Sica em “O inimigo de minha mulher” e “O mundo dos milagres”). Compreensível, pois eram, sobretudo, as grandes estrelas que enchiam plateias e balcões. Naquele agosto, a minha assiduidade no S. Pedro terá sido enorme. Não assim em setembro de 81, com “Django”, “Mais forte que Bruce Lee” e similares… Na muito musculosa seleção, terei visto, embora não me recorde, Stuart Granger em “O grande atirador”, Sean Connery em “007 Só se vive duas vezes” e Steve Mc Queen em “Tom Horn”. No Casino, de 1 a 10 de setembro de 1968, talvez não tenha perdido o anunciado “filme dos três óscares”, "Grande Prémio", assim como o Mr Solo “, adjetivado com uma série de pontos de exclamação: Implacável! Atrevido! Eletrizante”. 3 - Hoje, o São Pedro já só existe na nossa memória - foi demolido, barbaramente, na meia década de oitenta - e o Casino, que possui ainda uma das mais belas e confortáveis salas de cinema do país, fechou portas, aparentemente, sem protestos de ninguém. Ergueu-se, entretanto, o “Centro Multimeios”, que, na melhor das hipóteses, propicia à população um filme por semana - quatro por mês. E nem isso, em regra, assegura, porque os hiatos na programação são frequentes e vistos como coisa normal. O interesse dos poderes públicos pelo cinema parece esgotar-se nos festivais – Cinanima, FEST - e no cineclube, que utiliza o magnífico Auditório do Casino. É de saudar e louvar, sem sombra de dúvida, esse esforço de entidades privadas, que mantêm Espinho no mapa cinematográfico . Todavia, isso não substitui, nem compensa a falta de regularidade e de diversidade da oferta, que são os fatores fundamentais de uma política cultural capaz de fomentar o gosto pela frequência das salas de espetáculos, a resistência ao declínio, para muitos fatal, das audiências. Estou entre os que não acreditam nessa fatalidade! Vou bem perto, ao Porto,ao centro da cidade, buscar exemplos que provem o contrário; o do Cinema Trindade e neste final de 2022, o do mítico Cinema Batalha renascido. O futuro do Batalha está apenas a começar, mas não o do Cinema Trindade, que, com duas excelentes salas, de dimensão média, vem apresentando, há anos, uma programação variada e de qualidade. Tomo, para exemplificar, a 5ª feira, 29 de dezembro, com sete filmes em exibição, nas duas salas, em diferentes horários: “Os Fabelmans” de Spielberg, os filmes portugueses “O Natal de Bruno Aleixo”, e “Lobo e cão”, uma longa metragem premiada em Veneza (“Ossos e tudo”), a comédia “Ruído branco”, a evocação da Imperatriz Sissi em “Corsage” e o thriller sul-coreano “Decisão de partir”. Agora que a pandemia o vai permitindo, tenho imenso prazer em voltar ao Trindade, descer a rua do Almada, em direção a Campanhã, e beber um chocolate quente no Guarani. Mas, como munícipe de Espinho, gostaria de alternar as visitas ao Porto com a ida, a pé, aos cinemas da terra. Um terço da programação cotidiana do Trindade já faria de Espinho cidade de cinema com futuro...

agosto 10, 2022

CCP PREFÁCIO POSFÁCIO

CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS ESPAÇO DE UTOPIA E EXPERIMENTAÇÃO ÍNDICE Prefácio - Daniel Bastos Mensagem –José Cesário Nota Introdutória Origens e Evolução do 1º Conselho das Comunidades Portuguesas O Conselho e o Congresso das Comunidades Portuguesas por caminhos paralelos As minhas memórias do Conselho das Comunidades Posfácio - Carlos Gonçalves PREFÁCIO Em Portugal, desde o início da década de 1980, as políticas da emigração estão acometidas ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, que, hoje, através da Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas (DGACCP) assegura a coordenação e execução da política de apoio a portugueses no estrangeiro e às comunidades portuguesas. Ainda nessa época, durante o VI Governo Constitucional, surgiu a Secretaria de Estado das Comunidades, que atuando em princípio por delegação de competências do Ministro dos Negócios Estrangeiros tem procurado ao longo dos anos um reforço dos laços entre as comunidades portuguesas e a pátria de origem. Este esforço e tomada de consciência sobre o papel dos emigrantes portugueses no desenvolvimento do país, impulsionou ainda no alvorecer dos anos 80, a formação do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Um órgão consultivo do Governo para as políticas relativas às comunidades portuguesas no estrangeiro, a quem está acometido, em geral, a emissão de pareceres, a produção de informações, a formulação de propostas e recomendações sobre as matérias que respeitem aos portugueses residentes no estrangeiro e ao desenvolvimento da presença portuguesa no mundo. Nesse sentido, e enquanto estrutura que ao longo das quatro décadas de democracia, tem funcionado como um elo relevante de ligação entre o Governo e a Diáspora, em boa hora, que uma das grandes obreiras dos direitos dos emigrantes portugueses, Maria Manuela Aguiar, papel que desempenhou de modo dedicado tanto como Secretária do Estado das Comunidades Portuguesas, como deputada pela Emigração, decidiu dar à estampa esta obra sobre a fase primordial do Conselho das Comunidades Portuguesas. Até porque, como já ressaltava a autora num artigo da primeira década do séc. XXI, intitulado “O Conselho das Comunidades e a Representação dos Emigrantes”, publicado na Revista Migrações, o CCP «tem um historial interessante, sobretudo no período em que vamos considerá-lo: o momento do seu nascimento, visto como acto de criação colectiva de uma instituição inteiramente nova, num diálogo entre parceiros, o Governo e os porta-vozes do movimento associativo. Um percurso, aliás, acidentado por bloqueios e hiatos de funcionamento, afrontamentos com o Governo, ou entre os seus próprios membros, processos e recursos judiciais...Em boa verdade, não deverá falar-se de um único “Conselho”, mas de vários, ou de várias “vidas” de uma mesma instituição». É este percurso originário, com as suas vicissitudes e protagonistas, dos quais Maria Manuela Aguiar ocupa um lugar de destaque, que é revisitado nas páginas desta obra que constitui um exemplo de cidadania e de serviço público. Um livro reflexivo assente na noção do dever de memória, porquanto contribui amplamente para um conhecimento mais aprofundado sobre a génese, as etapas, os momentos e os contributos de um órgão que nas palavras abalizadas da autora tem como «vocação originária: ser uma "assembleia" verdadeiramente representativa e influente, o grande fórum da Diáspora e da emigração portuguesas». Um livro que é igualmente um testemunho de compromisso incondicional com os emigrantes portugueses, os mais genuínos embaixadores da pátria de Camões, e concomitantemente de respeito pelo passado, de crença no presente e de esperança no futuro das Comunidades Portuguesas, a mais autêntica e consistente manifestação lusa além-fonteiras. Neste ensejo, uma nota também de reconhecimento à Alma Letra, editora que empresta a sua chancela ao livro, e que ao longo dos anos mais recentes tem sido um espaço privilegiado para a publicação de obras de autores da Diáspora ou sobre temáticas ligadas às Comunidades Portuguesas. E que no caso concreto deste novo livro, tem no mesmo, seguramente, um dos mais importantes contributos literários no campo da linha editorial que tem dinamizado com audácia. Comungando do pensamento do escritor argentino Jorge Luís Borges, “o livro é a grande memória dos séculos... se os livros desaparecessem, desapareceria a história e, seguramente, o homem”, podemos assegurar que a memória e a história do Conselho das Comunidades Portuguesas ficam assim prodigamente enriquecidas e salvaguardas. Fafe, 10 de agosto de 2022 Daniel Bastos MENSAGEM CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS, UM ÓRGÃO ESSENCIAL PARA O PODER POLÍTICO Ao longo das minhas passagens pelo Governo da República e pelo próprio Parlamento, durante os últimos 22 anos, fui consolidando a ideia da imprescindibilidade do Conselho das Comunidades. Não tenho hoje qualquer dúvida acerca da sua importância para quem desempenha funções legislativas ou executivas ligadas à definição das políticas de ligação às nossas numerosas Comunidades. Independentemente de sermos governantes ou deputados, é fundamental dispormos de opiniões objetivas e diversificadas acerca do modo como são executadas as políticas dirigidas aos portugueses no estrangeiro, dos seus resultados e da própria definição prévia das mesmas. A informação que circula através da nossa rede diplomática, sendo indispensável e, normalmente de grande qualidade, está longe de ser suficiente, devendo ser complementada dor outras fontes, tanto quanto possível ligadas diretamente às comunidades, às suas organizações, ao movimento associativo, às escolas, ao universo político local, aos meios culturais, em suma, a toda a constelação em que os portugueses se movem. Claro que dispor de um órgão eleito, o CCP, constituído por dezenas de representantes diretos das mais diversas comunidades, é um privilégio que não podemos desperdiçar. Poder-se-á discutir a essência deste órgão, a sua composição, o seu caráter mais representativo ou meramente consultivo, mas é difícil prescindir do seu papel e da sua ajuda. Aliás, a propósito, não posso esquecer os contactos que tive, enquanto Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, com governantes de vários países, como a Alemanha, França, Cabo Verde, Canadá, entre outros, que sempre procuraram beber na experiência portuguesa os ensinamentos indispensáveis para porem de pé organismos mais ou menos idênticos. Ao fim de todas estas últimas décadas, acho que o CCP ganhou o seu espaço próprio, sendo muito difícil prescindir da sua existência sempre que se pretende desenvolver políticas sérias e com resultados. Claro que a sua organização poderá sempre ser repensada e melhorada, mas isso não deverá pôr em causa o próprio órgão. O nosso desafio futuro é melhorá-lo e, para isso, cumpre discutir o seu caráter consultivo ou representativo, a sua relação com o governo e o parlamento, o estatuto dos seus membros, a sua articulação com a rede diplomática e com os conselhos consultivos das áreas consulares, a sua ligação ao movimento associativo e às redes de cultura, educação, solidariedade social e empresariais. Será esse debate que se segue, num momento em que os níveis de participação política e cívica das nossas Comunidades aumentam de forma bem evidente. José Cesário NOTA INTRODUTÓRIA 1 -Para olhar o nascimento do “Conselho” à distância de 40 anos, privilegiarei a data da sua primeira reunião mundial, realizada em Lisboa, de 6 a 10 de abril de 1981, e não a da promulgação do diploma jurídico pelo qual foi criado (DL 373/80 de 12 de setembro), porque, na minha perspetiva, a lei se pode considerar uma declaração de intenções, uma esperançosa expetativa com futuro incerto, entregue ao poder fático da reunião constituinte. Crucial é o momento de passagem da esfera normativa do Direito à realidade da vida das pessoas ou das instituições, e no caso do CCP, esse trânsito foi muito além da boa aplicação diligente da lei. Singularidade constituiu o facto de ser, à partida, uma lei a rever, para melhor se ajustar à vontade dos destinatários, um convite a que eles próprios a reformulassem, nela vertendo, porventura, outros conteúdos. É nessa procura de reconfiguração, no ponto de equilíbrio de vontades e estratégias que se corporiza o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Este segundo tempo foi, assim, o que contou mais. O Governo, na sua primeira consulta, convidou-os Conselheiros a uma livre ponderação de alternativas às linhas do modelo institucional para que apontava originariamente. Não colocou obstáculos a deslocar o seu centro de gravidade da interlocução da Diáspora para a da emigração recente, dando espaço ao debate dos problemas prementes do quotidiano da emigração mais recente. E com isso entrou o Conselho num domínio que, continuando a ser do reencontro pelo diálogo, não mais escaparia à turbulência e à confrontação, ao menos verbalmente violenta, que marcou, em Portugal, a segunda década de setenta e os primeiros anos de oitenta. Tempos ainda próximos da dinâmica e das contradições da revolução de 1974, que, já então, fazia numa via reformista, apoiada por larga maioria constitucional e popular, mas entre profundos conflitos sociais e choques político-partidários. Saindo da área da dominante cultural (com a sua facilidade de consensos naturais, já que a Cultura é sempre o máximo denominador comum), o CCP avançava em terreno aberto às arrebatadas pulsões, que agitavam a sociedade portuguesa, dentro e fora de fronteiras, por igual - quando não mais ainda em algumas das comunidades do estrangeiro do que no País. Naqueles poucos dias da Reunião Mundial do Palácio Foz, o Conselho mudaria de natureza, de vocação, de estilo, e consequentemente, de destino. 2 – O manifesto eleitoral da Aliança Democrática, em 1979, tratava com o mesmo relevo, mas em rubricas autónomas, a “Emigração”, com referência a políticas públicas de apoio social e jurídico aos emigrantes e seus descendentes, e as "Comunidades Portuguesas no Mundo", com ênfase colocada na preservação dos laços históricos e culturais ao País e na criação de um” Conselho das Comunidades Portuguesas no Mundo, onde estas se farão representar, e conceder-lhe-á um apoio amplo e constante". No que concerne às políticas públicas para as migrações de saída e regresso apostava-se na continuação de esforços iniciados em 1974, visando, sobretudo, a melhoria de meios e a sua eficiência. No que respeita às "Comunidades" a principal promessa eleitoral era inovadora, encarava de frente uma das falhas ou lacunas mais extraordinárias que, bem vistas as coisas, a sociedades civil partilhava com o Estado (este na sua função supletiva): a inexistência de uma plataforma internacional de união entre os Portugueses do estrangeiro. No panorama europeu, note-se, esta constatação convertia-nos em caso raror entre países de emigração, mesmo entre aqueles cuja tradição migratória se não pode, quantitativa e qualitativamente, comparar com o peso e significado da nossa. Em todos esses países encontramos, desde fins do século XIX, ou inícios do século passado, movimentos federativos das associações atuantes nas diversas regiões do mundo da sua imigração, maioritariamente oriundos da iniciativa privada, nalguns casos apoiados ou enquadrados num organismo de cúpula governamental. A lacuna é tanto mais de estranhar, quanto se sabe que a propensão associativa dos emigrantes portugueses é grande, nas várias latitudes e nas diversas épocas. Da parte do Estado, o descaso não poderá surpreender-nos, sabido que as primeiras medidas de apoio aos emigrantes datavam de meados do século passado e se limitavam ao acompanhamento da viagem de ida, em travessias transoceânicas realizadas em condições de grande risco, ficando, depois, os portugueses entregues a si próprios. Face a essa total e multissecular "ausência do Estado" nas comunidades da emigração, nasceu e cresceu, enraizado em fortes laços de entreajuda e solidariedades, um impressionante associativismo, no domínio social e cultural, que reflete formas de relação afetiva com a terra originária, de integração no país de acolhimento. Poucos foram, no passado, os governantes ou os académicos que se aperceberam da dimensão do fenómeno associativo, gerador de comunidades perenes. Os que se apontam como exceção (é o caso de Afonso Costa), atribuem-lhe um caráter fugaz ou transitório, identificando-o como forma de combater o sentimento de isolamento, a saudade por parte de uma emigração temporária. Porém, ao contrário do que previa (e queria) o Estado, grande número de indivíduos e famílias escolheram o não retorno, mantendo, de formas variáveis e tantas vezes duradouras, a vontade de pertença coletivamente expressa, dentro e no exterior do grupo nacional. Neste contexto, que apresenta traços comuns a outras emigrações, cumpre indagar quais os motivos, as circunstâncias, as eventuais especificidades que contiveram, então e ainda hoje, o nosso associativismo dentro dos limites de cada um dos países de destino, como que desconhecedores ou desinteressados da existência dos demais. Poderemos, certamente, esperar de futuras investigações o aprofundamento da compreensão das caraterísticas do associativismo português fechado dentro de fronteiras, e das causas que porventura o condicionaram ou acantonaram. A larga predominância, ao longo de séculos, da emigração para o Brasil, (país imenso, um mundo em si, uma sociedade aberta e acolhedora, onde a língua e a cultura tornavam mais fácil as relações sociais e o enraizamento), surge como hipótese de trabalho. No Brasil se situam as mais grandiosas manifestações do espírito associativo português, em número e em dimensão sem paralelo em quaisquer outras comunidades - os "Gabinetes de Leitura", os Hospitais e os Lares das "Beneficências", os clubes sociais, as agremiações desportivas... Aí existe uma importante Federação das Associações Portuguesas e Luso-brasileiras, que representa as maiores instituições portuguesas no mundo. Todavia, nunca terá pretendido transpor as fronteiras do Brasil. 3 – Ao longo dos últimos dois séculos, registamos somente um conseguido ensaio de agregação das comunidades de língua e cultura portuguesas, promovido pela Sociedade de Geografia, sob a presidência do Prof Adriano Moreira, na década de sessenta do século passado. Com a exata compreensão da importância dos laços que a História tecera (não apenas a História do Império, em declínio, mas a do êxodo sem fim dos portugueses que consigo levaram e expandiram a fala e a Cultura em todo o planeta), tornou-se a única personalidade nacional que quis e soube pôr em andamento o ambicioso projeto de reunir em Congresso os representantes das comunidades de língua, cultura e afeto. O primeiro Congresso teve Lisboa como palco, o segundo, Moçambique, o terceiro estava projetado para o Brasil. Seria, porém, adiado "sine die", porque o regime, que, de uma forma mais ou menos neutral, aceitara o avanço deste movimento da sociedade civil, se fechou, em definitivo, após a ascensão de Marcelo Caetano ao poder. As atas, do 1º e do 2º Congresso, publicados pela Sociedade de Geografia, em seis volumes, documentam o espantoso e pioneiro trabalho levado a cabo. Ao lê-los, mais de meio século depois, fica a certeza de que não foram as últimas manifestações de saudosismo colonial, na sua 25ª hora, mas o prenúncio de uma CPLP ainda informe e distante - e não a que mornamente subsiste, no novo século, mas sim a que sonhou José Aparecido de Oliveira. Ao grande político brasileiro, como a Adriano Moreira, os meandros da Política e da História, não deram tempo de levar a obra por diante. E não houve, até hoje, quem a soubesse retomar com a mesma visão da lusofonia policêntrica e universalista. 4 - A revolução de 1974 tardou sete anos a convocar os expatriados ao diálogo e à cooperação global no Conselho da Comunidades Portuguesas. Desta feita, a iniciativa pertenceu ao Estado, e os representantes de organizações da “sociedade civil” foram chamados ao encontro com o Governo, num exercício de democracia, que revestiu a forma de proposta à coparticipação da definição das políticas para as comunidades do estrangeiro. O Conselho foi, desde o início, concebido como instância consultiva do Governo da República e dos Governos Regionais, e como órgão representativo dos seus eleitores, dotado, consequentemente, do direito de iniciativa. Comparando as iniciativas da Sociedade de Geografia e o CCP instituído pelo Governo da Aliança Democrática, poderemos concluir que coincidiam no objetivo fundamental de federalizar o movimento associativo das comunidades do estrangeiro, igualmente se aproximando no propósito de colocar o foco na área da Cultura e nos laços afetivos. Todavia, o momento político em que o diploma jurídico foi trabalhado, durante o VI Governo Constitucional, exigiu atenção a outros aspetos, que viriam a determinar o alargamento do Conselho à vertente sócio laboral das migrações. O facto de o Governo anterior, no último mês do seu mandato, ter posto em marcha a organização de um Congresso das Comunidades Portuguesas (ao abrigo do DL nº 462/79 de 30 de novembro), colocou o Governo da AD perante o dilema de cumprir o seu próprio programa ou de o compatibilizar com os objetivos de projeto alheio. Não foi, pois, surpreendente a decisão de propor à Assembleia da República a ratificação do diploma de 30 de novembro, com o propósito de deslocar o evento da esfera de influência presidencial para a do Executivo. O cancelamento dos preparativos do Congresso das Comunidades provocou fortes reações nas comunidades em áreas onde a oposição partidária ao Governo era mais forte. (caso, sobretudo, da França, onde o movimento associativo estava mais politizado) e terá tido no ambiente conturbado em que se gerou o CCP, e, de algum modo, também no modelo adotado, numa tentativa de conciliar o "Conselho de Diáspora", previsto no Programa Eleitoral da AD, e um "Conselho de Emigrantes" O articulado do Decreto-Lei nº 373/80 de 12 de setembro era suficientemente flexível para abarcar a problemática das migrações antigas e recentes, e o CCP encontraria a sua identidade, servindo ambas as vertentes. O pedido de retificação da legislação do Congresso das Comunidades pelo Governo da AD e o atraso na publicação do diploma, que criava o CCP, por decisão do Presidente da República, implicaram o adiamento de ambos os eventos, no ano de 1980. Seria, assim, VII Governo Constitucional, que, no começo do ano seguinte, dinamizou o processo de constituição das "Comissões de País", por áreas consulares, e, através delas, da eleição dos seus representantes à 1ª Reunião Mundial do CCP. Com base nas suas prioridades foram determinadas as reuniões temáticas (ou Secções, na terminologia adotada pelo CCP), onde seriam debatidos, em profundidade, os pareceres ou recomendações ao Governo, seguidamente submetidos a plenário em votação final. À lista de Secções resultantes dessa consulta, o Governo acrescentou uma Secção destinada à análise do articulado do Decreto-Lei nº 373/80, um espaço de diálogo em que as suas disposições podiam ser repensadas e reajustadas - como foram, e não de uma só vez, mas por consensos alcançados nas sucessivas etapas, em que se foi moldando a instituição. 5 - Houve, pois, a preocupação de delinear um diploma jurídico abrangente e flexível, que pudesse ser a plataforma jurídica onde os representantes das comunidades iriam protagonizar a aventura irrepetível de criar a instituição. Foi complexo e exigente o processo de procura e de consecução de consenso bastantes para a alicerçar, lançando pontes entre posições políticas extremadas e entre geografias e tipos de emigrações muito diversas, que se desconheciam e, por se ignorarem, se antagonizavam - a Europa contra o resto do mundo, migrações recentes contra Diáspora... mais os descontentes com o adiamento do 1º Congresso do Governo Pintasilgo e os simpatizantes do novo Governo Sá Carneiro. Por fim, numa mútua aceitação de opostos se sedimentou uma instituição abrangente e original. O grupo de trabalho que preparou a legislação foi buscar inspiração a um modelo estrangeiro do único país onde funcionava, já com largos anos de existência, um órgão governamental de audição de emigrantes - a França, com o seu "Conseil Supérieur des Français de l' Étranger" (CSFE). Comparemos o CSFE com o CCP: um e o outro estavam sediados no Ministério dos Negócios Estrangeiro e eram presididos pelo Ministro. Neles tinham assente membros natos, membros eleitos por um colégio eleitoral associativo, e membros nomeados, em significativo número. No caso do CCP, estes últimos escolhidos numa lógica bastante mais restritiva dos poderes discricionários do Ministro, visto que os representantes sindicais e patronais eram os indicados pelas respetivas centrais e os peritos escolhidos pelo Governo constituíam um reduzido núcleo. O Decreto-Lei nº 373/80, era, como disse, um documento sintético, assente numa arquitetura minimalista. Não especificava, por exemplo, os diferentes papéis de cada uma das três categorias referidas. Todavia, a sua prática foi invariável e não deu margem a dúvidas: os membros natos - Governo da República, Governos das Regiões Autónomas, Deputados - promoviam a audição dos eleitos. Face a face, em diálogo, estavam os detentores do poder público e os eleitos da “sociedade civil”, os delegados das Associações e os "Observadores" da Comunicação Social", (aceites como iguais, na sua veste representativa e consultiva). Mais difícil de definir, antes de tudo por ser menos óbvia, numa leitura literal do diploma, era a função dos "membros nomeados" - representantes dos sindicatos e do patronato e especialistas convidados pelo governo. A chamada de centrais sindicais e associações patronais de cúpula, tanto podia significar a aposta numa instância tripartida de concertação, porventura inspirada na CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e Emprego, criada no ano anterior), ou num segundo patamar interno de auscultação, somando-se à vertente exterior e principal (a da Emigração e Diáspora), como remeter-se a uma função coadjuvante no debate (de suporte técnico e jurídico à formulação de Recomendações e Pareceres). Na realidade, foi este último perfil. mais discreto, o que prevaleceu. Os "delegados" dos parceiros sociais, (que o eram, na realidade, apesar do despacho de nomeação caber ao MNE), fizeram-se ouvir mais a esse nível, nos bastidores e nos "media" que lhes eram afetos - caso da CGTP/Intersindical, perante a mais discreta atuação da UGT e a invisibilidade quase total dos representantes das associações patronais. "Conselheiros" eram, pois, os dirigentes associativos que integravam as "Comissões de País", e os "Observadores" da Comunicação Social. A presença dos "membros natos", não só nas sessões solenes de abertura e de encerramento, como em muitas das reuniões de trabalho, foi garantia de acessibilidade a parceiros de diálogo. E, por isso, paradoxalmente, o primeiro Conselho, seria, mais do que o segundo (1996/2021) um espaço de interlocução direta entre os Conselheiros e os responsáveis políticos. E quer o CCP "associativo", quer o "CCP refundado em 1996 se erguem sobre uma legitimidade democrática - naquele alicerçada no voto de um colégio eleitoral, formado por representantes do movimento associativo, neste em processo de sufrágio direto, secreto e universal dos portugueses pertencentes a um determinado universo, cuja dimensão foi variando - de princípio, coincidia com os cadernos de inscrição consular (mais de 2.000.000 de cidadãos nacionais), depois, viu-se circunscrito aos cadernos eleitorais dos círculos de emigração (então com pouco mais de 170.000 recenseados), e, em data mais recente, cresceu, de novo, enormemente, pela via do recenseamento automático dos expatriados detentores do cartão de cidadão (para cerca de 1.500.000 eleitores). 6 - Do ponto de vista de funcionamento do Conselho, comparando os dois modelos que se sucederam - o que constituía um fórum presidido pelo Ministro dos Negócios e o que atualmente forma um coletivo com presidência eletiva - constatamos que nas sessões em que o Governo está presente, continua a assumir protocolarmente a sua direção. A diferença reside no facto de essa presença quase se limitar às solenidades de abertura e encerramento dos trabalhos. A presença do Governo no 1º CCP responsabilizava-o na dação de respostas e justificações. No Conselho atual, converteu-se em ritual de boas-vindas e de despedida, libertando os governantes da pressão exercida numa relação direta, e, como temos visto, em alguns casos, até da necessidade de abordar a problemática contida nas Recomendações, que caem em semi- esquecimento. Para isso, também terá contribuído outro fator importante: uma menor mediatização, face àquela de que gozou o Conselho associativo. Nos meios de comunicação social, são menos as notícias sobre as reuniões, as propostas, a vida do CCP. Não se sabe se isso obedeceu, ao menos inicialmente, a uma estratégia governamental de acantonar o Conselho no mundo mediático da emigração, (menos incómoda, porque mais distante para o Poder), ou se é simples consequência do descaso dos próprios “media”. Certo é que o CCP há muito deixou de ser um cenário privilegiado de confrontação, imagem de marca dos seus primeiros anos, que o prejudicou a ponto de ser a causa mais provável da sua extinção em 1990. Na sua segunda vida, o “Conselho” resultante da Lei nº 101/90 funcionou, essencialmente, a nível local. Seis anos depois, o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas José Lello relançou o Conselho, dando continuidade ao que tinham sido as suas formas de cooperação iniciais. Embora eleito por sufrágio direto e universal, o atual CCP acolhe uma plêiade de dirigentes associativos – e estranho seria que assim não fosse, pois é, em regra, através da atividade cívica e do voluntariado no interior das comunidades que os cidadãos ganham prestígio e notoriedade entre os seus pares. Esse é um dos fatores, que lhe permite manter o seu perfil e espírito original. 7 - No balanço de 40 anos de vida desta instituição, tão sólida na vontade coletiva de existir e nas solidariedades que dela emergiram, avulta, no lado mais negativo, uma certa desvalorização do seu trabalho pela falta de resposta, assaz frequente, das Recomendações, assim como a frequente omissão da consulta do Órgão nas matérias de relevo para os cidadãos emigrados e o futuro da Diáspora. Matérias que transcendem. largamente, o âmbito de uma Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas hoje, desprovida dos meios de que dispunha até à década de noventa do século passado: o Instituto de Apoio à Emigração e às Comunidades Portuguesas, (organismo dotado de autonomia administrativa e financeira, e de um escol de técnicos e especialistas, de dirigentes) e a Comissão Interministerial para a Emigração. à qual eram levadas as Recomendações dirigidas pelo Conselho a cada um dos departamentos da Administração Pública competentes na matéria. Que futuro para o CCP? Autonomia face ao Executivo, e ligação preferencial ao Parlamento? Constitucionalização? O poder discricionário do Governo no relacionamento com uma instituição dele dependente, marcou várias fases do seu percurso, chegando a impor-lhe uma quase “neutralização” entre 1988 e 1996, nos quase dez anos decorridos entre a última reunião do "Conselho associativo", em fins de 1987, e a primeira reunião do Conselho renascido no ano de 1997. Este longo hiato de constante invisibilidade, a nível global, não correspondeu, é certo, a inexistência jurídica da instituição, mas a incumprimento da legislação em vigor, (caso da não convocação das reuniões anuais, entre 1988 e 1991), ou uma nova arquitetura (a da Lei nº 101 /90), que se revelou, em larga medida, inexequível, num organismo fragmentado em colégios eleitorais. No 40º ano da acidentada vida do Conselho das Comunidades Portuguesas, é hora de repensar as condições jurídicas e fáticas para o pleno aproveitamento do seu imenso potencial e de o reconhecer como a instituição que levou a democracia, ressurgida em 1974, às comunidades portuguesas no estrangeiro. Nesta coletânea de alguns escritos sobre estes temas, deixamos factos e reflexões sobre a origem e a evolução dos mecanismos de representação de emigrantes em espaços transnacionais, o nosso e o de outros países, a par de uma visão pessoal ancorada no acompanhamento das suas vivências e metamorfoses, (como Presidente do CCP, na sua primeira fase e como Deputada da emigração, entre 1997 e 2005), à qual subjaz sempre a crença nas virtualidades da instituição, a par de algum ceticismo, que o passado justifica, quanto à capacidade de as projetar inteiramente no atual quadro da dependência governamental. Foi esse moderado ceticismo que me levou a dar, na Assembleia da República um último contributo para a valorização do CCP, através da convocação pela Subcomissão das Comunidades Portuguesas, a que presidia, de uma audição em que foi aventada, por alguns dos mais prestigiados juristas portugueses, a consagração constitucional do CCP, a fim de garantir a sua autonomia, (com ou sem uma eventual transição para o órbita da Assembleia da República ou, em alternativa, para a Presidência do Conselho de Ministros). Um passo em frente no trajeto para cumprir a sua vocação originária: ser uma assembleia verdadeiramente representativa e influente, o grande fórum da Diáspora e da emigração portuguesas Maria Manuela Aguiar Abril de 2021 --------------------------- textos sem alteração: Origens e Evolução do 1º Conselho das Comunidades Portuguesas 1981 Conselho e Congresso das Comunidades Portuguesas As minhas memórias do Conselho das Comunidades Portuguesas -------------------------------------------------------------------- POSFÁCIO É, para todos, inquestionável que as Comunidades Portuguesas têm assumido um papel relevantíssimo na afirmação externa de Portugal tendo o seu contributo sido decisivo para a economia do país e dos seus territórios ao longo das últimas décadas. De facto, é perfeitamente claro que as nossas comunidades residentes no estrangeiro, representam um capital humano, político, económico, social e cultural que importa, face aos enormes desafios da mundialização, valorizar, preservar e potenciar para bem de Portugal e dos portugueses. Para isso, é determinante que estas assumam um papel mais ativo no plano dos direitos de cidadania e da participação política em Portugal, ganhando mais peso político na defesa daqueles que são os seus direitos legítimos. Ou seja, as Comunidades Portuguesas precisam de ter voz. Mas, uma voz audível e influente, que consiga fazer-se ouvir nos diversos órgãos de soberania em Portugal, com tradução na definição de verdadeiras políticas para as Comunidades. Ora, uma das vozes mais importantes desta parte de Portugal que se encontra repartida pelo Mundo, tem sido ao longo de várias décadas, o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Como sabemos, o CCP é o órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à emigração e às comunidades portuguesas no estrangeiro e, ao longo da sua história, demonstrou ser fundamental na representação e na defesa das nossas comunidades, na definição de políticas para o sector e, no fundo, na relação entre Portugal e as suas gentes da diáspora. Trata-se igualmente de um parceiro essencial para a identificação de problemas locais que afetam os portugueses no estrangeiro, fruto da proximidade dos nossos conselheiros às comunidades, completando, de forma perfeita, a informação que chega aos diversos organismos oficiais e ao Governo. Contudo, ao longo das suas quatro décadas de existência, o CCP, apesar de ter já conhecido vários modelos de organização e de representação, aspira ainda que seja aprovada uma formulação legislativa que o torne mais atuante e ainda mais próximo das comunidades. Mesmo assim, temos de concordar que a legislação que regula o seu funcionamento foi até evoluindo de forma positiva. Neste contexto, é importante lembrar que a base da sua representação passou do âmbito associativo para uma eleição por sufrágio universal e, hoje o CCP, no seguimento das propostas por mim apresentadas na Assembleia da República, indica para o Conselho Económico e Social, para o Conselho Nacional de Educação e para o Conselho de Opinião da RTP, os representantes das Comunidades Portuguesas. Ao mesmo tempo, penso ser também oportuno relevar que, nas sucessivas alterações da legislação discutidas na Assembleia da República, houve sempre a necessidade de acrescentar propostas no sentido de reforçar a dignidade e a representatividade do órgão. Infelizmente, apesar destas alterações, o CCP tem ainda um evidente défice de reconhecimento por parte das instituições políticas que com ele devem colaborar, tal como previsto pela própria legislação. Face a esta realidade, o CCP tem, dentro daquilo que lhe tem sido possível realizar, desempenhado um papel muito importante junto das Comunidades Portuguesas, trabalho que nem sempre tem sido convenientemente aproveitado por quem governa o nosso país. Todavia, não posso deixar de afirmar que as opiniões e sugestões expressas pelo CCP, sempre foram muito relevantes para todos aqueles que se interessam verdadeiramente pelos temas da emigração. Na verdade, o caracter consultivo deste órgão, não o impediu, sempre que foi chamado a colaborar, de ganhar um espaço próprio sem chocar com as competências dos órgãos de soberania e com o Governo a quem compete decidir em última instância sobre as políticas de emigração. Tenho acompanhado desde a sua criação o CCP. Ao longo da sua existência tive a oportunidade de ser eleitor, de apoiar candidaturas, de contribuir para programas eleitorais e, mais tarde, já como Deputado à Assembleia da República ter subscrito várias propostas legislativas relativas ao CCP. Tive também oportunidade na qualidade de Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas de trabalhar muito de perto com os Conselheiros. Por esta razão, entendo que tenho alguma legitimidade para afirmar que o balanço do trabalho realizado é muito positivo. Esta minha opinião é, naturalmente, sustentada pelo facto do CCP ter assumido um papel determinante na discussão de temas cruciais para os portugueses que vivem no estrangeiro, como é o caso do ensino de português, a participação cívica e política ou as questões relativas à qualidade e funcionamento da nossa rede Consular. Convém também referir que os Conselheiros das Comunidades Portuguesas são os eleitos de proximidade desse Portugal espalhado pelo mundo. Eles são a voz de muitas das nossas comunidades e lideram muitas das iniciativas de expressão local quer seja por país ou por área Consular. São eles, através do conhecimento que possuem da realidade de vida destes portugueses, que dão consequência ao que entendo ser o principal propósito da ação política, que é o de resolver os problemas das pessoas. Num momento histórico para o CCP, que está a celebrar quatro décadas de trabalho, importa agora pensar no futuro e garantir que, este órgão essencial para Portugal, possa ter condições para melhorar a sua organização, para garantir a prossecução dos seus objetivos e para que seja devidamente reconhecido pelos organismos com os quais deve articular a sua ação. É para mim claro que devemos todos trabalhar para que este órgão possa assumir em Portugal, o mesmo plano de intervenção que órgãos similares já conquistaram noutros países. A criação do CCP foi no fundo o reconhecimento oficial de que havia um outro Portugal composto por gentes que emigraram para as várias regiões do mundo. O reconhecimento também que era necessário dar voz a essas comunidades no sentido de acolher sugestões, propostas ou reivindicações e permitir-lhes assim a sua participação na definição das políticas para esta área da governação. Na minha opinião, foi o reconhecimento da verdadeira realidade do país. Uma realidade que o Conselho das Comunidades Portuguesas representa. Paris, 1 de agosto de 2022 Carlos Gonçalves

junho 09, 2022

D E S C E N D Ê N C I A S M A G A Z I N E Artigo está em destaque nas redes sociais: https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:6895650789080010752 https://www.facebook.com/descendenciasmagazine/posts/333167808698035 https://www.instagram.com/p/CZlvVaxsmUZ/?utm_source=ig_web_copy_link

maio 11, 2022

CÍRCULO DE CULTURAS LUSÓFONAS MARIA ARCHER O lançamento do Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer se deu, efetivamente, na sessão de apresentação do livro: “Sem o Direito Fundamental de Voltar pra casa” – MARIA ARCHER Uma Jornalista Portuguesa no Exílio, de autoria de Elisabeth Battista, dia 11 de outubro de 2019. O anúncio da sua criação se deu durante nas comemorações Luso Brasileiras, no tradicional Clube dos Fenianos Portuenses, a 10 de maio de 2019. O CÍRCULO DE CULTURAS LUSÓFONAS MARIA ARCHER A MODERNIDADE DE MARIA ARCHER Maria Manuela Aguiar O “Círculo Maria Archer” participa, juntamente com a Associação Mulher Migrante - AMM, numa primeira jornada de homenagem à Drª Rita Gomes, neste mês de outubro, mês do seu nascimento, em que, todos os anos, procuraremos lembrá-la, de forma especial. Faz todo o sentido associá-la à evocação de Maria Emília Archer Eyrolles Baltazar Moreira, de quem era prima, com quem conviveu desde a infância, e a quem tanto admirava. Temos a certeza de que, se hoje estivesse entre nós, participaria, ativamente, com o maior entusiasmo, no lançamento deste Círculo e, tal como outros membros da família, veria na sua expansão uma caminhada para o futuro em que as crenças e as causas, o nome e a memória de Maria Archer estarão sempre presentes. Nos últimos anos da presidência de Rita Gomes na AMM, foram diversas as iniciativas focadas em Maria Archer. Gostaria de as recordar como acções que lhe foram, ou, se me permitem falar no plural, nos foram, especialmente gratas: uma primeira no contexto do Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas da Diáspora, em Novembro de 2011, congresso em que pretendemos reavaliar a realidade da emigração no feminino, traçando, por um lado, as linhas de evolução de mais de um século de êxodo migratório, com significativa componente feminina, e particular enfoque numa área em que têm estado, pelo menos, tão atuantes como os homens: o domínio da Cultura e do ensino da Língua. Maria Archer foi, então, homenageada, a par de Maria Lamas, em intervenções do Reitor Salvato Trigo, da Dr.ª Olga Archer Moreira, da Dra. Dina Botelho e da Profa. Elisabeth Battista. Voltou a ser figura de cartaz na comemoração do Dia Internacional da Mulher, em março de 2012, na Biblioteca José Marmelo e Silva, em Espinho, onde a principal oradora foi Olga Archer Moreira, sua sobrinha neta. O programa incluiu uma “entrevista imaginária” com a grande escritora e cidadã, representada por jovens das Escolas da cidade, que deu ao evento um toque afetivo e pedagógico. A “entrevista imaginária” seria posteriormente encenada em diversas escolas, para levar a públicos jovens o exemplo de vida de uma grande Mulher de Letras, capaz, igualmente, de ação concreta. Nesse ano, em Lisboa, no Teatro Nacional da Trindade, a força das suas convicções e ideais foi, novamente, saudada em sucessivas intervenções sobre o seu trajeto e a sua obra, por muitas pessoas que com ela conviveram de perto, como seu sobrinho dileto, o Prof. Fernando de Pádua, que encerrou a sessão, prestando-lhe um vibrante tributo, e o Presidente Mário Soares, símbolo da luta vitoriosa pelo Portugal em liberdade, em que ela se empenhou, de alma e coração. Os múltiplos contributos estão publicados, numa das mais belas edições da AMM, coordenada por Rita Gomes e Olga Archer Moreira. Em 2013, foi relembrada, numa apresentação das publicações da “Mulher Migrante”, realizada no Palácio das Necessidades e, em 2014, a Associação organizou juntamente com a Fundação Prof. Fernando de Pádua, um colóquio, a anteceder o lançamento da publicação de Elisabeth Battista “O legado de uma escritora viajante”. E tem permanecido, nos últimos anos, na agenda da “Mulher Migrante” - no Dia Internacional da Mulher, nos colóquios de Monção, (com repetidas encenações da “Entrevista Imaginária”, sempre protagonizadas por estudantes das Escolas locais), e no Dia da Comunidade Luso-brasileira, desde 2017, tendo este ano sido o Círculo Maria Archer apresentado formalmente, no âmbito dessas comemorações. Hoje, para o lançamento do último livro de Elisabeth Battista: “Sem o direito de voltar a casa” Maria Archer - uma jornalista portuguesa no exílio”, estamos reunidos, na esplêndida da Casa da Beira Alta, nossa muito acolhedora anfitriã, na pessoa do seu presidente, Dr. Afonso Costa. É uma segunda parceria da AMM e do “Círculo”, que, esperamos, se repita muitas vezes, na prossecução dos objetivos comuns, em torno da personalidade inspiradora de Maria Archer, cuja vasta e multifacetada obra convida a estudo e a debate e cujo exemplo de inconformismo convoca à militância cidadã. Temos, entre nós, e devemos sublinhar o facto, a maior especialista no seu percurso literário, a Professora Doutora Elisabeth Battista, que todos queremos ouvir, quanto antes, pelo que direi, agora, apenas umas breves palavras. Primeiramente, para lhe agradecer a esplêndida oportunidade que oferece ao Circulo Maria Archer de dar o melhor dos inícios a um roteiro de reflexão e debate, ao escolhê-lo, para organizar, no Porto, a divulgação de mais um notável trabalho científico sobre a insigne Autora, nomeadamente sobre o seu trilho jornalístico no exílio brasileiro, que, ao contrário dos livros, (ainda que na quase totalidade esgotados) é praticamente desconhecido. A esse agradecimento juntamos um convite, que, sabemos, será aceite, para se tornar associada do Círculo, alargando o seu espaço às fronteiras do Brasil. Limitar-me-ei, pois, a sumariar as principais razões que nos levam a fazer de Maria Archer uma companheira de jornadas, de diálogos sobre as temáticas de género, de valorização da vivência democrática, de defesa da Igualdade e aproximação dos povos, muito em particular os do universo da lusofonia e suas Diásporas. Da Diáspora Portuguesa e do mundo plural da Lusofonia ela é um nome maior, como intelectual, jornalista e romancista, e como precursora na observação e registo, em preciosos textos, sobre os usos e costumes das gentes com as quais, por largas décadas, tanto gostou de conviver, em Moçambique, na Guiné-Bissau, em Angola, (nos anos de juventude acompanhando os pais Anexos 192 e, depois, o marido), e, já sexagenária, no solitário exílio brasileiro de mais de duas décadas. Mulher de imensa cultura e inteligência, sempre atenta ao que acontecia em seu redor, fora como dentro do próprio país, com inteira compreensão das pessoas, dos ambientes, dos meios sociais, traduziu a experiência vivida em inúmeros escritos de incomensurável valor literário e de enorme interesse etnológico, sociológico e político. Assim se converteu em testemunha rara, em memória crítica de um tempo português, opressivo e cinzento, pautado por preconceitos e discriminações, por regras de jogo viciadas, que ela pôs a nu, frontalmente, sem contemplações e sem temor. Ninguém, como ela, retratou o quotidiano desse Portugal do “Estado Novo”, estagnado e anacrónico, avesso a qualquer forma de progresso social, em que as mulheres, em particular, se encontravam dominadas pela força das leis, pelo cerco das mentalidades, pela censura dos costumes, depois de terem sido deformadas pela educação, pela entronização rígida dos papéis de género dentro da famílias, numa sociedade fechada ao curso da História, que ia acontecendo na Europa e por esse mundo fora. A mais feminista das escritoras portuguesas, nascida no último ano de oitocentos, era demasiado jovem para poder ter feito parte dos movimentos revolucionários e feministas do princípio do século XX, mas viria a ser uma das poucas que, no período de declínio desses movimentos (com o desaparecimento de uma geração memorável), prosseguiu a seu jeito, incessante e solitariamente, a mesma luta contra o obscurantismo, que condenava a metade feminina de Portugal à subserviência, ao enclausuramento doméstico e à incultura... A escrita foi para ela uma arma de combate político. Segundo Artur Portela, “a sua pena parece por vezes uma metralhadora de fogo rasante”. Mulher livre num país ainda sem liberdade, pagou pela coragem de ser assim um preço muito alto. Viu os seus livros, que atingiam, recordes de popularidade e de vendas, apreendidos, os jornais onde trabalhava ameaçados de encerramento. Foi obrigada a partir, mas a sanha vingativa da Ditadura não se satisfez com o seu desterro - ela foi “deliberadamente apagada da História”, como escreve Maria Teresa Horta no prefácio da reedição de “Ela era apenas Mulher”. O Círculo Maria Archer surge, em pleno século XXI, para combater esse ato persecutório, consumado há décadas, Tem por assumida finalidade recolocar o nome de Maria Archer no lugar vazio que é seu na história da nossa Literatura e do feminismo português, e, também, na história do pioneirismo na construção de pontes entre as culturas lusófonas. Revisitar a obra desta Mulher de Letras, através da divulgação e do debate dos seus escritos, visa desocultar o passado, lançar luz sobre a realidade insuficientemente analisada e realçada da sociedade portuguesa de 40 e 50, e fazer futuro com a modernidade do seu pensamento e das prioridades da sua luta cívica e cultural. O CMA pretende, afinal, sobretudo, assegurar uma segunda vida a Maria Archer, projecto perfeitamente possível, porque, como dizia Pascoaes, existir não é pensar, é ser lembrado”. Neste projeto todos os presentes estão convidados a participar! 1º CICLO DE COLÓQUIOS MIGRAÇÕES - DO VAIVÉM DE VIDAS FICARAM HISTÓRIAS O “Círculo Maria Archer”, em parceria com a “Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade” (AMM), promove um ciclo de três colóquios sobre a temática das migrações portuguesas, vistas através da Literatura. É um convite à leitura coletiva da obra ímpar de Júlia Nery e à reflexão sobre questões que foram, igualmente, centrais no percurso e na escrita de Maria Archer, na sua visão do mundo lusófono e do espaço que as mulheres nele ocupam, ou devem e podem ocupar. No ciclo de colóquios, por zoom, sobre os livros “Ei-los que partem”, “Pouca terra... pouca terra” e “Da Índia, com Amor”, se começa por abordar a problemática da chamada “nova emigração” – a partida de jovens profissionais altamente qualificados, a perda de “talentos” –, para lançar, seguidamente, um olhar retrospetivo sobre a emigração tradicional – que, ao longo de séculos, despovoou o mundo rural, no continente e nas ilhas do Atlântico – e sobre o fenómeno da Expansão, determinante do êxodo sem fim, que deu origem às comunidades de cultura portuguesa e à “Diáspora”. Todas as sessões contam com a participação da Autora Júlia Néry e constituem, assim, momentos privilegiados de diálogo com ela. Programa do 1º Ciclo de Colóquios Migrações - do Vaivém de Vidas Ficaram Histórias Sábado, 24 de abril, 2021 17.00 -18.00 “EI-LOS QUE PARTEM” Apresentação de Aida Baptista, seguida de debate moderado por Maria Manuela Aguiar Sábado, 22 de maio, 2020 às 17.00-18.00 “POUCA TERRA... POUCA TERRA” Apresentação de José Manuel da Costa Esteves, seguida de debate moderado por Graça Guedes, moderado por Graça Sousa Guedes. Sábado, 12 de junho de 2021, às 17.00 - 18.00 “DA ÍNDIA COM AMOR” Apresentação de Aida Baptista, seguida de debate moderado por Ivone Ferreira Com esta iniciativa, o “Círculo Maria Archer”, coordenado por Maria Manuela Aguiar, se associa às comemorações do 25º aniversário de vida ativa da AMM, presidida por Graça Guedes, e presta homenagem à sua fundadora, Rita Gomes. 2º CICLO DE COLÓQUIOS ERA UMA VEZ... O Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer vai organizar, dentro da temática “Literatura e Migrações”, um ciclo de colóquios sobre o conto infantil, em que procura divulgar obras de autores da Lusofonia, de dentro e de fora de Portugal. É uma forma de homenagear Maria Archer, na sua faceta de grande contadora de histórias, oralmente, com sabemos pelo testemunha de sobrinhos e primos, e, também, através de uma ou outra incursão na literatura infantil e juvenil – como tantos outros escritores, Anexos 196 jornalistas e professores, em que se incluem Ana de Castro Osório, Natália Correia, Sophia de Mello Breyner, Érico Veríssimo, Luís Sepúlveda, Rosa Montero ou Vargas Llosa. Em Julho de 2021 realizam-se dois colóquios, no dia 17, a partir da Galiza, com Adela Figueiroa Panisse, professora universitária, escritora e poetisa, e no dia 26 de julho, do Canadá, com Manuela Marujo, Professora da Universidade de Toronto, celebrando “O Dia dos Avós”. ‘ERA UMA VEZ...’ - Ciclo de Colóquios sobre o Conto Infantil Segunda feira, dia 26 de julho 2º Colóquio sobre o Conto Infantil, no dia dedicado aos Avós. Manuela Marujo apresenta o seu livro “A primeira vez que eu vi neve” – um retorno ao mundo das crianças inspirada na sua própria infância. Manuela Marujo é professora emérita da Universidade de Toronto, onde, durante muito anos, dirigiu o Departamento de Espanhol e Português. Para além da sua faceta académica, é uma personalidade marcante na comunidade portuguesa de Toronto e no universo da nossa Diáspora, Co-fundadora dos movimentos internacionais designados por “A vez e a voz das Mulheres” e “A voz dos Avós”, com ela poderemos abordar o significado da sua narrativa, o que a levou a escreve-la, e, também, a sua visão e experiência de diálogo intergeracional num contexto migratório. ERA UMA VEZ... 3º Colóquio sobre o conto infantil., 3 de dezembro, 18.00 19.00 O AVENTUREIRO GANSO-PATOLA DO CABO AFRICANO”.de Ester de Sousa e Sá. A apresentação será feita pelo Dr. José Vaz, historiador, cronista e autor de contos infantis, com muitos dos seus livros incluídos no Plano Nacional de Leitura. . 3º CICLO DE COLÓQUIOS AS LETRAS NA DIÁSPORA 10 de julho de 2021, 18-00-19.00 Homenagem d' Álém mar ao Prof. Mayonne Dias Promovidos pelo CCLMA, com o título As Letras na Diáspora, realizou-se uma 1ª sessão de homenagem a um grande escritor e professor português da Califórnia e um gentleman – o mais britânico dos portugueses. O 1º homem a ser homenageado pelo Círculo... Homenagem ao Professor Eduardo Mayonne Dias (1927-2021), que recentemente nos deixou, silenciando-se uma das mais importantes vozes da Língua Portuguesa na Diáspora Americana. Será oradora a Professora Doutora Rosa Simas, da Universidade dos Açores, cuja vida académica ficou indelevelmente marcada por este docente, quando teve o privilégio de ser sua aluna na Universidade da Califórnia, Los Angeles e Santa Bárbara. COLÓQUIO INTERNACIONAL – MARIA ARCHER: REFLEXOS E REFLEXÕES Biblioteca Nacional, 24 de Janeiro - 09:30 - 17:30 Homenagem a Maria Archer nos 40 anos de sua morte A escritora portuguesa Maria Archer (1899-1982) é homenageada neste Colóquio Internacional que conta com reputadas/os estudiosas/os da sua vida e obra, investigadores de universidades portuguesas, brasileiras, espanholas, francesas e norte-americanas. O encontro com entrada livre, pode ser assistido presencialmente no Auditório da Biblioteca Nacional de Portugal em Lisboa ou via online através da plataforma Zoom. Inscreve-se no projeto internacional Escritoras portuguesas no tempo da Ditadura Militar e do Estado Novo em Portugal, África, Ásia e países de emigração, uma parceria entre o IELT - Instituto de Estudos de Literatura e Tradição, as Faces de Eva (CICS.NOVA) e o Centre de Recherches Interdisciplinaires sur le Monde Lusophone (CRILUS - Études Romanes) da Université Paris Nanterre. SESSÃO DE ABERTURA (09h15 - 10h30) • Inês Cordeiro (Diretora-Geral Biblioteca Nacional – a confirmar) • Teresa Araújo (IELT) • Graça Dos Santos (CRILUS) Anexos 201 • José Manuel da Costa Esteves (Cátedra Lindley Cintra) • Dalila Cerejo (CICS NOVA) • Isabel Henriques de Jesus (FACES DE EVA) • Teresa Sousa de Almeida (IELT) • Maria Manuela Aguiar (CCLMA) PAUSA (10h30 - 10h50) CONFERÊNCIA 1 (10h50 - 11h50) - Moderadora Zamira Assis .Olga Archer Moreira (presencial) Só quero um futuro 2. (11:05/11:20) Márcio Matiassi Cantarin (UTF-PR) (online) Maria Archer: autora e personagens em busca de um quarto só para si 3. (11:20/11:35) Gemma Nadal (I. E.C. Barcelona) (presencial) Estratégias de subversão das personagens femininas de ‘Ela é apenas mulher’ de Maria Archer 4. (11:35/11:50) Maria Izilda Matos (PUC-SP) (presencial/online?) Maria Archer e seus escritos: lutas e resistências no exílio em São Paulo DEBATE (12:05/12:20) ALMOÇO (12h20 - 14h00) CONFERÊNCIA 2 (14h00 - 15h00) Moderadora Zília Osório de Castro 5. (14:00/14:15) Ana Paula Ferreira (UMN) (online) As razões anti-coloniais de Maria Archer (1935-1963) 6. (14:15/14:30) Elisabeth Battista (UNEMAT) (online) Musa entre medusas. Maria Archer e a partilha do sensível. 7. (14:30/14:45) Sílvia Espírito Santo (UAL) (presencial) A paisagem colonial na vida e obra de Maria Archer (1899- 1982) 8. (14:45/15:00) Inocência Mata (FLUL) (presencial) “A pena a serviço da sensibilidade” imperial: o lugar de Maria Archer na literatura colonial (provisório ) DEBATE (15h00/15h20) CONFERÊNCIA 3 (15h20 - 15h50) Moderadora Ana Rosa Mota 9. (15:50/16:05) Helena Pereira de Melo (NOVA.FD) (presencial) A tentativa de alteração do direito civil desigualitário através da literatura em Maria Archer 10.(16:05/16:20) Zamira Assis (NOVA.FCSH) (presencial) (a confirmar) DEBATE (16h20/16h30) INTERVALO (16h30/16h40) APRESENTAÇÃO DO PROJETO “Escritoras portuguesas no tempo da Ditadura Militar e do Estado Novo em Portugal, África, Ásia e países de emigração“ (16h40/17h30) • Teresa Almeida/ Isabel Henriques de Jesus/ Raquel Sabino APRESENTAÇÃO DO LIVRO Women writing portuguese colonialism in Africa, de Ana Paula Ferreira (17H30/18h00) COMISSÃO ORGANIZADORA • Ana Mota • Isabel Henriques de Jesus • Maria do Céu Borrêcho • Mariana Oliveira Rodrigues • Patrícia Anzini • Raquel Sabino • Teresa Sousa de Almeida • Zamira de Assis COMISSÃO CIENTÍFICA • Ana Paiva Morais • Gonçalo Plácido Cordeiro • Graça Dos Santos • Helena Pereira de Melo • Isabel Freire • Isabel Henriques de Jesus • José Manuel da Costa Esteves • Maria Manuela Aguiar • Patrícia Anzini • Teresa Araújo • Teresa Sousa de Almeida • Zamira de Assis • Zília Osório de Castro Promotores: Biblioteca Nacional de Portugal/ Lisboa/ Projeto internacional Escritoras Portuguesas no Tempo da Ditadura e do Estado Novo em Portugal, Brasil, África, Ásia e países de emigração/ IELT - Instituto de Estudos de Literatura e Tradição/ Faces de Eva (CICS.NOVA)/ Centre de Recherches Interdisciplinaires sur le Monde Lusophone (CRILUS - Études Romanes) da Université Paris Nanterre COLÓQUIO INTERNACIONAL, 22 de fevereiro de 2022 MARIA ARCHER E OUTRAS MULHERES DE REFERÊNCIA E DE iRREVERÊNCIA Maria Archer e Outras Mulheres de Referência e (Ir)reverência O Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer & Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa Universidade do Porto Comissão Organizadora Manuela Aguiar Nassalete Miranda Marinela Freitas Lurdes Gonçalves COMEMORAÇÕES DE HOMENAGEM A MARIA ARCHER NO PORTO 2022 SESSÃO DE ABERTURA Conferência da Profª DEOLINDA ADÃO "Sussurro de vozes no silêncio - o caso de Maria Archer.", seguida de debate, moderado por Maria Manuela Aguiar Inauguração da Exposição de pintura em homenagem a Maria Archer, comissariada por ESTER DE SOUSA E SÁ CICLO DE COLÓQUIOS MARIA ARCHER EU E ELAS – MULHERES QUE IRROMPERAM NO MUNDO DOS HOMENS O Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer organizou quinzenalmente, de 2 de fevereiro a 31 de março, um ciclo de colóquios, no Museu de História Natural e da Ciência, da Universidade do Porto - UP, Galeria da Biodiversidade - Centro Ciência Viva Abertura 2 de fevereiro GRAÇA GUEDES - A primeira Mulher Portuguesa doutora e Ciência do Desporto e professora catedrática neste domínio 16 de fevereiro AGUSTINA NA 1ª PESSOA - Agustina Bessa Luís, na veste de primeira Diretora de um grande jornal diário nacional, comunicação de NASSALETE MIRANDA 9 de março Dia Internacional da Mulher, em parceria com a Associação de Antigos Alunos do Liceu Rainha Santa Isabel. AMÉLIA CAVALEIRO DE AZEVEDO – UMA DEMOCRATA ANTES E DEPOIS DE ABRIL Apresentação de NASSALETE MIRANDA e MAXIMINA GIRÃO: Testemunhos AURORA PEREIRA, LEVI GUERRA, RUI AMARAL, AMÂNDIO DE AZEVEDO 16 de março, Em dois colóquios sucessivos, foram lembradas mulheres portuguesas que, no século XX, se destacaram no combate pela liberdade, em tempo de ditadura: Maria Archer e Maria Lamas, e, seguidamente, Ruth Escobar. 16h00 – 17h00 | MARIA ARCHER E MARIA LAMAS, O PERCURSO DE DUAS MULHERES LUTADORAS Maria Archer e Maria Lamas, nascidas em fins do século XIX, eram muito jovens quando a “Liga Republicana das Mulheres Portuguesas” foi criada, nas vésperas da Revolução de 1910, e o movimento feminista português atingiu o seu ponto alto, no período histórico da 1.ª República, mas estavam destinadas a continuá-lo, defendendo os mesmo ideais durante o chamado “Estado Novo”, com sacrifício das suas carreiras e da sua segurança. Eram mulheres independentes, que viviam do jornalismo, da escrita, e da escrita faziam arma de combate pela Liberdade. Ambas se viram forçadas a partir para o exílio, deixando-nos o seu exemplo de coerência e coragem e, também, obras intemporais de enorme valor literário, etnográfico e político. Será oradora a Presidente da Direção do Conselho Português para a Paz e Cooperação, ILDA FIGUEIREDO. 17h00 – 18h00 | TRIBUTO A RUTH ESCOBAR, A PORTUENSE QUE AJUDOU A MUDAR O BRASIL A vida, a obra, a memória da atriz portuense RUTH ESCOBAR serão evocadas em comunicações de JOSÉ CALDAS, encenador/diretor teatral, de DANYEL GUERRA, crítico de cinema e MARIA AMNUELA AGUIAR, antiga Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas. Nascida no Porto (Campanhã), Ruth Escobar (1935-2017) emigrou ainda adolescente para o Brasil, país onde se tornaria uma das grandes referências e protagonistas do teatro brasileiro, no último meio século. Seja como atriz, produtora, empresária, animadora sóciocultural, cidadã civicamente empenhada, Ruth Escobar recolhe o reconhecimento dos meios artísticos, culturais e políticos do Brasil. A realização deste tributo afetivo e afetuoso tem, assim, plena justificação, na sua cidade natal. 31 de março, 17-0019-00 SESSÃO DE ENCERRAMENTO OLGA ARCHER MOREIRA - (Sobrinha neta de Maria Archer) ISABEL HENRIQUES DE JESUS (U Nova- Faces de Eva) “De olhos bem abertos - Nótulas sobre Maria Archer, em Eu e Elas” BLANCHE DE BONNEVAL (amiga de Maria Archer) Moderadora: Maria Manuela Aguiar (CCLMA). Intervenções de Ester de Sousa e Sá e dos artistas plásticos participantes na Exposição

abril 14, 2022

O 10 DE JUNHO DE 1989

EM NY - MINUTO 1.25 https://youtu.be/SOlzrp38mnU

abril 08, 2022

Voto de Congratulação pelos 40 anos do Conselho das Comunidades Portuguesas

  Grupo Parlamentar do PSD apresenta Voto de Congratulação pelos 40 anos do Conselho das Comunidades Portuguesas  PROJETO DE VOTO N.º …. /XIV/1.ª DE CONGRATULAÇÃOPELO 40.º ANIVERSÁRIO DA CRIAÇÃO DO CONSELHO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS Ao longo das últimas quatro décadas, o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) assumiu um papel central no plano da representação e da organização das comunidades portuguesas no estrangeiro. Embora a sua estrutura tenha evoluído profundamente, passando de um órgão representativo do movimento associativo para uma espécie de parlamento, com os seus membros eleitos diretamente pelos cidadãos eleitores, a verdade é que o CCP soube ser absolutamente central no domínio do debate das grandes questões que afetaram as nossas Comunidades.Faz assim pleno sentido, assinalar de forma especial, o momento em que, há 40 anos, por iniciativa de Manuela Aguiar, a então Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas do Governo liderado por Francisco Sá Carneiro, se realizou o Congresso que deu origem a este Conselho.Assim, a Assembleia da República, reunida em Sessão Plenária, assinala os 40 anos do Conselho das Comunidades Portuguesas, felicitando muito especialmente a Dra. Manuela Aguiar e todos os representantes das mais diversas Comunidades, que participaram na sua criação. Palácio de São Bento, 23 de setembro de 2020  Carlos Alberto Gonçalves Deputado GP PSD  - Círculo Eleitoral da Europa Vice-Presidente da Comissão deNegócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas

ENTREVISTA A O MEU VELEIRO (sobre o meu tempo de Liceu)

ANOS DE FREQUÊNCIA DO LICEU - Frequentei o Liceu em 1958/59 e 1959/60, nos últimos anos do ensino secundário, o 6º e o 7º, que  então constituíam o "curso complementar do liceu". Foram dois anos apenas, mas decisivos pelo que aprendi como jovem na transição para a idade adulta, e não só, mas também  como estudante..  O QUE REPRESENTOU PARA SI TER FREQUENTADO ESTE ESTABELECIMENTO DE ENSINO - Depois de sete anos no Colégio do Sardão, a passagem para o ensino público assumiu, no meu caso, um significado muito grande, por se tratar de uma escolha pessoal contra a vontade da família inteira. Uma "ousadia", um desafio! Era aluna de "quadro de honra" num estabelecimento prestigiado pelo nível  pedagógico e pelos resultados globais obtidos, e ninguém parecia admitir que conseguisse manter o mesmo estatuto num liceu, fora daquele mundo fechado e protegido. Não acreditavam em mim e ainda menos acreditavam que pudesse continuar a ter acesso a igual qualidade de aprendizagem. Enganaram-se duplamente... Da minha parte, não havia certezas nem temores. Aos 16 anos, queria experimentar e tomar em mãos o meu futuro, com uma enorme curiosidade face ao desconhecido. Não tinha referências sobre o liceu, chegava, sem contacto prévio com professoras ou colegas, simplesmente, à escola secundária que englobava a área do Marquês de Pombal, onde os pais tinham arrendado um andar.  A opção por aquela área não fora feita ao acaso - o prédio ficava a dois passos do Colégio da Paz, pertencente à mesma Ordem religiosa do Sardão. Aí matricularam minha irmã e esperavam persuadir-me a acompanha-la, mais tarde ou mais cedo...   . Abandonava, assim, um meio onde era positivamente uma veterana, com fama de dinâmica participante nos campos de jogos e nas salas de aulas, deixava, na expressão que se popularizou, em dias recentes, a "zona de conforto" - migrava, embora para perto. geograficamente. O LICEU MARCOU, DE ALGUMA FORMA  A SUA VIDA? Sim, de uma forma evidente e definitiva. Na aventura da descoberta de mim própria naquele novo mundo, acabei por encontrar o que buscava - caminhei pelo meu pé, com a completa responsabilidade pela minha agenda, (a divisão das horas de  estudo e de passeios, cinemas e outras diversões), acentuei o meu interesse por causas sociais, pelo feminismo, por modelos democráticos de progresso, que nos vinham da Europa, da Suécia, em particular. Lembro-me, por exemplo, da minha "cruzada" contra a pena de morte (vesti de luto aquando da execução de Chessman, nos EUA), e de ter trocado a leitura dos romances de George Elliot ou das irmãs Bronte por autores contemporâneos como José Marmelo e Silva, Albert Camus ou Virgil Gheorghiu.    As professoras de Filosofia, de História, de Literatura abriram-me  horizontes, em anos cruciais para a formação, como são os 16/18 anos. Vi-me numa comunidade humana coesa e amável. Estávamos em  pleno Estado Novo, seria de esperar clivagens políticas, autoritarismo e outros tiques do regime. Não senti, de perto, nada disso. O à vontade no relacionamento entre alunas e professoras era a regra.  Poucas vezes vi a Reitora, figura distante, mas serena. Tanto quanto me apercebi,  deixava sempre  avultar a influência e a personalidade das docentes. Nunca me senti objeto  de rigores disciplinares ou de tentativas de manipulação ideológica, nem mesmo nas aulas de "organização política", onde me iniciei na abordagem ao mundo jurídico, ao Direito Constitucional e Administrativo. Era disciplina de que poucas gostavam e que eu apreciava justamente como antecâmara do curso que escolhera - não sem hesitações....  QUAIS AS RECORDAÇÕES MAIS SIGNIFICATIVAS QUE RETÉM? O meu primeiro contacto com o Liceu foi através da secretaria. Estava muito indecisa entre a alínea de Direito e a de Letras (Germânicas). e mudei três vezes antes do início das aulas. Numa normal repartição pública, aparecer repetidamente a alterar a matrícula não me tornaria muito popular. Ali, sim!  A funcionária a quem me dirigia, antes mesmo de eu expor o assunto, com um enorme sorriso cúmplice, exclamava: "Vem mudar de alínea, não é?". Foi ela a primeira imagem da simpatia e compreensão da nova escola, que me abria as portas. Muitas outras se seguiriam, do primeiro ao último dia. ( devo acrescentar que ainda fiz uma última e final mudança de curso, muito saudada na secretaria -  já com mais de três semanas de aulas decorridas...). Nas nostálgicas recordações da adolescência distingo sempre os dois tempos, o do "Sardão" e o do "Rainha Santa". Vivi, também, bons momentos no internato, com estimadas mestras e alegres colegas, mas envolvi-me, não poucas vezes, em conflitos e contestação - do sistema, das suas normas e condicionamentos, sobretudo. Não me dava bem com uma tentacular e rígida regulamentação de cada minuto do dia. Era rebelde em relação a tudo o que julgava errado ou opressivo...O Liceu foi sinónimo de liberdade, de fácil auto-disciplina, como seria, de seguida, a Faculdade de Direito de Coimbra. Todas as minhas expetativas foram excedidas, com  melhores notas, e num clima de perfeita convivialidade. Liceu e cidade do Porto, o "dois em um", no mundo dos meus sonhos feito realidade! Acabei o curso com 18 valores, o que me valeu o "prémio nacional". Estávamos em 1960, ano das Comemorações do Infante D. Henrique (o príncipe nascido na Ribeira), pelo que a distinção me facultou uma viagem ao norte de África, oferecida pelo governo aos jovens premiados, para visitarem um roteiro de cidades históricas, como Ceuta, Tânger. e até a Alcácer Kibir, lugar de tragédia e berço do mito sebastianista. Nessa época, o Liceu estava instalado num casarão antigo, de bela traça, porém, em mau estado de conservação. Faltavam espaços, salas de aulas, até o ginásio fora sacrificado e, com ele, as aulas de educação física. Eu não tinha transportes diretos para as aulas, pelo que o meu exercício físico quotidiano consistia em fazer uns quilómetros em passo de corrida... Até isso era divertido! O ambiente humano compensava, largamente, a falta de condições materiais. E ali, o ensino público era tão bom ou melhor do que o melhor do privado. Penso sempre nas mestras e nas suas aulas com saudades - em especial, nas fascinantes lições de Filosofia da Dr.ª Assunção Carqueja, que eu nunca queria que acabassem, e as da Dr.ª Adelaide Aleixo, que nos levava consigo, através de milénios da História de povos e civilizações, pela força da sua palavra eloquente. Lembro-me, muito em especial, da primeira das suas aulas a que assisti. O ano letivo começara há já semanas, e eu acabava de trocar o Inglês pela História (ou seja, Letras por Direito...). Tinham-me dito que ela era muito severa e que implicava com quem chegasse, assim, extemporaneamente.  Preparei-me para o pior. A Drª Adelaide falava, nessa manhã, da cultura grega, da estatuária, e eu ouvi-a, encantada, ainda que, prudentemente, na última fila... Era a mais idosa das nossas docentes, mas envelhecera bem. Muito bonita, cabelo todo branco, oradora enérgica e carismática. Parecia uma linda e sábia avó!. Como eu era a retardatária, olhou, com desusada frequência, para o meu lado, o que tanto podia ser bom como mau presságio. Na verdade, ali começaria uma verdadeira amizade de  professora/aluna, quase avó/neta, ambas entusiastas das coisas da memória de feitos e de gentes.. .     Amizade fácil de cimentar, também, com as outras professoras e com as companheiras de turma, em longas conversas, sobretudo com a Ana Luísa Janeiro, (com quem fiz um trabalho sobre as Descobertas no período Henriquino), ou com a Adília, que era a mais revolucionária - posição que eu ocupara no colégio e perdia para ela. Nos exames finais, a Ana Luisa como eu tivemos nota 20 a História. Fiquei encantada por nós, tanto como pela Drª Adelaide, a quem muito diretamente devíamos a proeza.A partir dos anos 60, os estudos, primeiro, e a profissão, depois, levaram-me para longe da minha cidade, do meu liceu e de quase todas as pessoas que tão positivamente me influenciaram nesses dois anos. A exceção foi a Drª Assunção Carqueja, que encontrava, às vezes, em Lisboa, acompanhando o marido, também meu amigo. Mantinha o brilho e entusiasmo da juventude, e nunca se esquecia de me oferecer os esplêndidos livros que escrevia em  prosa ou verso!Não tenho fotografias de grupo, dentro do Liceu. Que pena! Mas havia outros pontos de encontro na cidade, um deles o Palácio de Cristal, os seus belos jardins. Aí, sim, foram tiradas fotos de bons momentos passados com as minhas colegas - retratos fieis da nossa alegria de viver e conviver.