abril 28, 2010

Prioridades!

Foi em 26 de Abril de 2005, que recebi o meu "dragão de ouro", das mãos do Dr. Sardoeira Pinto, no Casino da Póvoa do Varzim.
Foi óptimo, porque, para além da infinita alegria, não precisei mais de desmentir que não era "dragão de ouro" - era portista de nascença, isso sim!
E tinha recebido em nome do Tio David, pouco antes falecido, o seu emblema de ouro do clube.
A Tia Lena escolheu-me entre dezenas de possíveis candidatos, os seus muitos sobrinhos, que partilham de sentimentos de "portismo" absoluto, por ser a mais "fanática" de todos (à imagem e semelhança desse querido Tio).
Um só problema: a entrega na noite de 26 tornava impossível estar na manhã de 27 em Estrasburgo, a defender, no hemiciclo da Assembeia Parlamentar do Conselho da Europa (APCE), o meu último relatório - sobre a discriminação das mulheres no desporto. Para mim, essa apresentação e discussão, em plenário, era da maior importância, porque considerava o relatório "coisa minha", iniciativa tomada perante o cepticismo quase geral, e, depois, convertida num dos temas mais debatidos e participados na Comissão da Igualdade! Quando anunciei que ía abandonar a APCE, houve um grande esforço para ultimar os trabalhos e agendar o relatório, por forma a que eu pudesse ainda intervir, na última sessão plenária em que estaria - pelo menos na qualidade de membro e dirigente daquela Comissão e daquele parlamento internacional.
Entretanto, rebentara em São Bento uma insólita "guerra", herdada por Jaime Gama de Mota Amaral: a de não custear as deslocações dos membros da APCE que fossem deputados da nova Assembleia.
Decisão contrária aos Tratados internacionais subscritos por Portugal, que manda continuar em plenitude de funções os representantes do parlamento nacional à APCE até à aceitação de credenciais da nova delegaçaõ, pelo prazo máximo de 6 meses.
Sempre o País tinha respeitado essa regra, que é comum a qualquer Assembleia, do âmbito mais restrito ao mais vasto, sob pena de poder inviabilizar o seu normal funcionamento... É óbvio!
O presidente da Assembleia não tem o poder de impedir a participação dos representantes eleitos para a APCE, mas, na prática, pode não autorizar o pagamento de despesas de viagem e alojamento. Foi o que fez o dito político, homem que não é de leis, mas tinha obrigação de as conhecer e respeitar, ocupando as altas funções que ocupa - a 2ª figura de Estado...
Isso, a mim, não me desmotivava, porque sempre estive pronta a pagar do meu bolso o que necessário fosse para bem representar o País - e durante meses, entre Março e o início de Junho desse ano, assim fiz, participando em várias comissões, entregando relatórios a sucessores, contribuindo para a sua transiçaõ e o seu andamento, sendo uma voz e uma presença solitária de Portugal (não havia praticamente ninguém da anterior delegação na disposição de proceder deste modo - o que é compreensível, não tendo, como eu tinha, relatórios em mãos).

Neste contexto, não tendo o dom da ubiquidade, o que escolher : O FCP ou a APCE? Venceu o FCP, evidentemente!
Transformei, de qualquer modo, como me cumpria, a não ida a Estrasburgo num instrumento de denúncia da posição do Senhor Jaime Gama: foi um escândalo! Um parlamento nacional a impedir a comparência de um relator na sessão plenária da APCE!!! Era o que ele, Gama, queria mesmo. A censura era, consequentemente, o que ele merecia.
E a minha presença na Póvoa era o que bem merecia o FCP!
Em vez de erguer a voz em Estasburgo, a 27, ergui-a, a 26, na Póvoa, falando em nome de todos os que foram, em 2005, distinguidos com o DRAGÃO.
E lá estive, feliz, ao lado do Maniche, como se vê nas fotos - de Maniche, de quem tanto gosto, como jogador e como pessoa. Tenho em comum com ele, não o geito para a prática do futebol, mas o geito contestário...






3 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...

Foi uma cerimónia magnífica!
Dispensava ter de discursar em palco, com todas aquelas luzes sobre mim, tão intensasm que não me deixavam ver nada em frente, só o escuro... Mas, assim mesmo, disse o que me ía na alma. Falar do FCP, ainda campeão do mundo de futebol, em título, não era tarefa difícil.
Era empolgante. Foi uma noite de ouro sobre azul!
No palco, contei a Maniche onde (não) tinha visto a marcação dos penalties, na final do Japão, e ele ria-se perdidamente!
(estive "escondida" nos vestiários do WC feminino, o único lugar do estádio, onde não tinha imagens do jogo... E só de lá saí, quando os japoneses, os mais apressados, começaram a desfilar, a caminho de casa... Olhei, a medo,um "plackard" de parede e vi-o todo integralmente azul e branco. Que sensação! Que alívio!).

Maria Manuela Aguiar disse...

Enquanto permanecia no meu esconderijo, à porta, olhando o vazio, ouvia, evidentemente, os sons, os aplausos. Mas não dava para perceber a favor de quem, porque os japoneses, embora quase todos trajados e pintados de azul e branco, aplaudiam tudo e todos, generosa e desportivamente...
Entretanto, apareceu uma senhora portuguesa e eu convenci-a a não voltar à bancada até ao epílogo. Fez-me boa companhia- Eu até me sentia tonta, com medo de desfalecer...
Retornamos as duas aos nossos lugares, muito a tempo de festejar!

Maria Manuela Aguiar disse...

O FCP, então treinado pelo espanhol Fernandez, jogou mais do que bem. O árbitro anulou dois golos limpíssimos do FCP. Os nossos brasileiros, que, como todos os sul-americanos, valorizavam a Taça Intercontinental ainda mais do que oe europeus, fizeram maravilhas - até o Luís Fabiano, que nunca foi feliz entre nós... Maniche foi considerado o "homem do jogo", e Pedro Emanuel marcou o decisivo penalty, que eu só vi muito mais tarde, em DVD. Baía pregou-nos um susto, desmaiando a meio da 2ª parte.
Guardo imagens de euforia e felicidade do aeroporto, para onde fomos de seguida! Treinador e jogadores elegantíssimos. O Fernandez mais do que todos os outros. Um gentleman! E um especialista de partidas difíceis!
Nas fáceis é que não teve sorte, num ano em que o FCP vendeu, um a um, praticamente todos os seus campeões do mundo... Mas eu sou das pessoas que acham que, se ele não tivesse sido despedido, o FCP acabaria por ganhar o campeonato nacional perdido...