julho 18, 2010

Impossível em 2010!


Olhem esta fotografia de grupo de "Study Course on Economic Development", organizada, em Genebra, no ano de 1968, pelo Instituto Internacional de Trabalho da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e digam-me se ela seria possível, com uma determinada componente, aí bem ostensiva, nos dias de hoje.
Não me refiro à forma como vestem, ou como posam para a câmara, para futuramente recordar. Ainda hoje a postura seria semelhante. Não é isso que torna o retrato "datado".
O que é então?
A resposta é elementar, my dear Watson.
É a composição de género, evidentemente.
Lá estou eu, ainda na casa dos 20 anos, no meio de tantos colegas - homens de vários continentes e países do mundo, sem faltar, por exemplo, a URSS, a Austrália, a Índia e o Paquistão, as Ilhas Seychelles e a Libéria (e lá estou no centro, como convem, por cerimónia, para com a única mulher participante no curso...).
Qual das grandes organizações internacionais ousaria, no ano da graça de 2010, escolher assim, do mesmo modo, com o mesmo "desplante", um "plantel" académico quase "unisex"?
Ainda por cima a OIT, que preconiza a igualdade de tratamento dos trabalhadores e trabalhadoras nas suas convenções...
Foi apenas há uns 40 anos!

2 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...

Estou, evidentemente, à direita do director do curso. À minha esquerda, o Vice-Ministro do Trabalho do Paquistão, que se chamava Rahman, e era uma simpatia. Precisamente atrás dele, o então deputado Jimmy Mancham, que viria a ser, poucos anos depois, Primeiro Ministro das Ilhas Seychelles!

Maria Manuela Aguiar disse...

À esquerda de Jimmy Mancham, meio escondido entre o japonês Maeda (professor universitário) e um dos professores do curso (irlandês) está o russo Yuri Yemelianov (professor de um Instituto de Relações Internacionais em Moscovo), que era o meu colega do lado, na bancada das aulas. Eu não compreendia o porquê daquela estranha colocação na geografia da sala... Porquê o soviético?
Ele chegou com dois ou três dias de atraso e eu olhava todos os homens gordos e arrogantes e dizia para mim mesma: "Deve ser este..."
Mas não!
O russo era magro, bonito, com uns sorridentes olhos azuis, comunicativo e divertido! E, logo percebi a razão de sermos os vizinhos de bancada: Yuri falava português!
De princípio, com pronúncia brasileira, por fim, à portuguesa como eu, porque o treino foi muito!
Ninguém nos entendia. E todos, ou quase todos ficaram convencidos que eu falava russo e ainda hoje vivem nessa convicção... Achavam mais provável! Nem o Yuri nem eu os desenganamos.