junho 19, 2016

O tango de Obama

A propósito de um passo de dança do Presidente Obama Correram mundo as imagens do Presidente dos EUA a dançar o tango em Buenos Aires, acompanhado por uma competente bailarina local. Se não era uma primeira tentativa, parecia!. Descobri, assim uma nova afinidade com um dos políticos que mais admiro: dançamos o tango igualmente mal. Falando por experiência própria. atrevo-me a profetizar que. tal como eu, ele não vai conseguir melhorar muito. Ao lado, tendo também por par um virtuoso da modalidade, a Primeira-dama mostrava outra desenvoltura... Mas o que importava. ali, não era a qualidade da exibição, era, sim. a vontade de partilhar saberes, aprendizagens, tradições, em contínuos gestos de empatia e simpatia, que, todos somados, tornaram memoráveis as suas históricas visitas a Cuba e à Argentina (coisa que se pode generalizar a toda a sua presidência). Ao ver Obama, caminhar em frente, na pista de dança ,sem ritmo mas sempre sorridente. lembrei-me não de magnas questões da política internacional, mas de mim mesma, em idêntica atividade lúdica. quarenta anos antes, no solo argentino de uma residência de estudantes da Cidade Universitária de Paris. 2 - Nos dois anos de estudos de pós-graduação em França (68/70), vivi o primeiro na Casa de Portugal, em meio tão português, que mal podia acreditar que tinha deixado a pátria - um meio. politicamente fraturado. agitado portoda a ordem de quesílias , (embora não, felizmente, dentro do círculo de amigos com quem convivia) e passei o último "emigrada"e muito bem integrada na Fundação Argentina (que pertencia ao Estado e era dirigida por um professor de Direito de Buenos Aires, com estatuto de embaixador e um perfil de independência face ao próprio regime do país, onde já havia sinais da ditadura feroz que ía acontecer alguns anos depois). Quando deixava o "campus" universitário, psicologicamente sentia-me como que a atravessar a fronteira para a França. Lá dentro, vivia-se o modo de estar, a cultura do país de cada residência, apesar dos regulamentes da "Cité" exigirem, para evitar essa "guetização", uma determinada quota de estrangeiros. Na Casa de Portugal (então pertença da Fundação Gulbenkian), quase não se sentia a presença dos outros, porque não havia eventos "comunitários" a que fossem chamados, Não se cantava o fado,não se jogava a sueca nem se bailava o vira - via-se televisão francesa e discutia-se, em português. A Fundação Argentina, pelo contrário, era uma festa! Muitos dos estrangeiros eram sul-americanos tão alegres como os próprios argentinos. Havia uma enorme quantidade de músicos que tocavam viola e cantavam bem - todos os dias, ao serão. E ao fim de semana,invariavelmente, com o gira-discos no volume máximo, dançava-se o tango. Todos eram convidados e ninguém assistia sentado. Até eu... Nunca me faltava par, apesar de ir aos solavancos pela sala adiante, sem nunca acertar o passo..

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