abril 14, 2019

MULHER MIGRANTE


1 - A "Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade" (AMM), criada em 1993, reuniu no ato de fundação mulheres e homens da emigração e de dentro do país, que partilhavam a preocupação com os Direitos Humanos e os Direitos das Mulheres no quadro específico da expatriação. Gente que tinha a vivência dos problemas e se dedicava à sua investigação ou à intervenção no plano cívico e político. 
A AMM não é uma associação feminina. Não tem a origem nem a sede no estrangeiro, mas em Lisboa. Está aberta a todos os que se dedicam ao estudo do fenómeno migratório ou se propõem combater as desigualdades e a exclusão, que atinge, de forma especial, as mulheres migrantes e as minorias étnicas. O seu objetivo é, assim, aprofundar o conhecimento de realidades variáveis de comunidade para comunidade, aproximar as comunidades entre si, e promover as condições para a participação e a cidadania plena.em cada uma delas.
Outra singularidade que distingue a AMM é ter, antes de uma história própria, a sua "pré-história", que faz questão de reconhecer e destacar. De facto, vai buscar a inspiração à tentativa pioneira de instituir uma organização internacional de mulheres, que aconteceu durante o "1º Encontro de Mulheres Portuguesas no Associativismo e no jornalismo", promovido pela Secretaria de Estado da Emigração, em 1985, na cidade de Viana do Castelo. Foi o 1º encontro desta natureza não só em Portugal mas, tanto quanto se sabe, na Europa e no mundo, antecipando em mais de 10 anos iniciativas das Nações Unidas.
A ideia veio de interior do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), onde tinham assento jornalistas e dirigentes associativos eleitos entre os seus pares, sob a forma de recomendação ao governo, que o governo aceitou e implementou, de imediato. Na altura, as emigrantes eram completamente marginalizadas no associativismo da Diáspora e o "Conselho" refletia essa situação gritante de discriminação. Em 1981, era composto exclusivamente por homens! Após o segundo processo eleitoral, em 1983, apresentava apenas duas conselheiras, uma em Toronto e outra em Paris, ambas na secção de jornalismo. 
Deve-se a Maria Alice Ribeiro, diretora do mais antigo jornal de Toronto em língua portuguesa, a proposta da convocatória do 1º Encontro, que, à semelhança do CCP,  promoveu a audição de jornalistas e mulheres envolvidas no movimentos associativo - uma espécie de "Conselho" no feminino,
Foi um congresso memorável, excedeu as expetativas mais otimistas, e abriu caminho às políticas de género para a emigração, que contudo só viriam a ser desenvolvidas, sistematicamente, duas décadas depois.
Contudo, não conseguiriam, nos anos seguintes, lançar a organização internacional que era, afinal, a mais ambiciosa das suas propostas,

2 - Oito anos depois, perante a total ausência de políticas públicas e de iniciativas das comunidades, algumas das participantes e das organizadoras desse mítico "Encontro de Viana" decidiram instituir um ONG, a Associação Mulher Migrante, destinada a preencher o vazio, a colocar na ordem do dia as questões da emigração feminina, da reflexão sobre o papel das mulheres na Diáspora e expansão da lusofonia e da mobilização para a igualdade. Como começar? Com um grande congresso mundial, evidentemente. E onde? Em 
Espinho! (de onde éramos duas das guardiãs da memória do 1ª Encontro e fundadoras da AMM -  Graça Guedes e eu. Avançamos com a candidatura da nossa cidade, que foi aceite consensualmente. Aqui reunimos cerca de 300 participantes dos cinco continentes. O "Encontro Mundial" de Espinho, sob o lema "Diálogo de Gerações". foi , até hoje, o maior de todos e deu à AMM a credibilidade para se converter em parceira de sucessivos governos, no esforço de promover a mudança do "status quo", pela intervenção das mulheres nas  comunidades do estrangeiro, como agentes da sua expansão 


 - Na emigração portuguesa desde o século XIX o pendor associativo é muito forte e com ele, verdadeiramente, nascem as comunidades organizadas, que se continuam de geração em geração, preservando a língua. a cultura, os costumes. Ou seja, a "Diáspora", de que, neste sentido, se usa falar. À sua frente, nos órgãos sociais, na direção, encontrávamos sempre homens. As mulheres ficavam na sombra ou nos bastidores, destinadas na "casa coletiva" a um papel semelhante ao que desempenhavam na sua casa. Papel vital, mas publicamente invisível!
Vendo-se assim marginalizadas, algumas ousaram criar as suas próprias organizações. As pioneiras surgiram na Califórnia, em finais de oitocentos, dentro do movimento mutualista -  também ele. coisa absurda, exclusivo de beneficiários masculinos. As fraternais femininas cresceram enormemente, quer em número de aderentes (10.000 a 15.000, nas duas mais antigas e maiores, a União Portuguesa Protetora do Estado da Califórnia e a Sociedade Rainha Santa Isabel), quer em volume de negócios, milhões de dólares, sem todavia esquecerem preocupações sociais e culturais. Ambas sobrevivem, de algum modo,  no âmbito de fusões com outras grandes companhias seguradoras, que os novos tempos  impõem.
Ainda hoje são raras as coletividades  exclusivas de mulheres e quase todas se enquadram no campo mais tradicional da sua intervenção: a beneficência.É o caso paradigmático da Beneficência das Damas Portuguesas de Caracas, que, já neste século, conseguiram realizar o sonho de construir e pôr em funcionamento um gigantesco e esplêndido lar de idosos.
Um modelo mais recente, que combina a vocação social com a mobilização para a participação cívica e politica (o "empoderamento", tradução possível da expressiva palavra inglesa "empowerment"...) é aquela em que se enquadram, por exemplo, a "Liga da Mulher Portuguesa" da África do Sul e as "Associações da Mulher Migrante" da Argentina e da Venezuela. E também, numa corrente do "congressismo" feminino renascido, "A vez e a voz da Mulher", que agrega sobretudo investigadoras e académicas e teve a sua primeira reunião na Universidade de Toronto.
O mais jovem dos movimentos femininos foi iniciado na Venezuela, com as "Academias da Espetada", que pretendem ser uma resposta  às Academias do Bacalhau (naquele país. embora não em outros, ainda exclusivamente masculino), nos mesmos moldes - convívio lúdico, con objetivos de solidaried

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