março 01, 2010

Entrevista - Defesa de Espinho

- A deslocalização da vereação da Cultura para o Fórum de arte e cultura é presumivelmente um sinal de descentralização (de gestão e de actividade) autárquica?

Há, é claro, uma "deslocalização" da vereadora, mas sem que isso signifique “descentralização no relacionamento com o presidente do executivo, que é quem delega competências nos restantes membros da sua equipa. Assim é no plano formal, e assim é de facto também. Tenho gostado de colaborar com o Dr. Pinto Moreira e, neste aspecto, haverá, naturalmente, uma manutenção do "status quo". Nada de importante vai em frente sem o seu conhecimento. Mas é fácil chegar a acordo com ele: é directo, percebe rapidamente o que está em causa e não receia tomar decisões, qualidades que, para mim, são fundamentais no ambiente de trabalho. Não tenho paciência para políticos hesitantes...
2 - E é também um acto de valorização do Fórum de arte e Cultura de Espinho?
Sem dúvida! É um acto de muito apreço por aquele magnífico pólo cultural, e de vontade de contribuir para lhe dar a visibilidade e a vivência, que ainda lhe faltam. E é, também, uma forma de dizer aos espinhenses que o Fórum fica perto do centro da cidade - eu tenciono ir a pé da Rua 7, a norte, até ao gabinete, vir a casa, para o almoço em família, e regressar. Quatro pequenos passeios saudáveis, por bom caminho, com o mar à vista. De agora em diante, reuniões, contactos de serviço, recepções a visitantes, e, igualmente, muitos eventos vão passar para lá. No Fórum, funcionam já os serviços do Museu e do Arquivo, e espero que, em breve, se lhes junte a DAC, a divisão de assuntos culturais. Ora esta proximidade geográfica vai facilitar muito o trabalho quotidiano, em conjunto, que eu privilegio sempre.

3 - E é Igualmente uma maneira de dar face...ao FACE
Tem toda a razão - é isso mesmo, dar face ao FACE e dar-lhe destino. Aquele imenso Fórum, muito maior do que parece, visto do exterior, está, ainda à procura de vocação, de identidade - de gente, de público, que possa admirar a sua beleza arquitectónica e sentir ali presente o espírito da cidade, a sua história, o seu património.

4 -Respeitada, como se impunha, a relíquia arquitectónica da antiga fábrica Brandão Gomes, o rosto... do FACE deslumbrantemente colorido... e o espaço físico adequadamente apetrechado? Funcionalidade das divisões caracterizada pela polivalência ou cada espaço em função da utilidade inicialmente projectada?
Neste momento, eu diria que o FACE é muito mais potencialidade do que realidade já firmada. Há espaços definidos - e bem - como os do Museu, o da Arte Xávega e o da própria Fábrica Brandão Gomes, ou como a galeria de exposições temporárias, que deslumbra qualquer visitante, mesmo que venha, por exemplo, do Museu de Serralves, um dos parceiros possíveis, que nos propõe a sua dinamização.
Falo no singular, quando, em boa verdade, deveria falar de “galerias”, no plural, porque são duas, geminadas, com uma área de 1,100 metros quadrados. Infelizmente, uma delas está ainda ocupada por uma empresa à qual pudemos oferecer outra área adequada e convenientemente livre. O bom senso prevaleceu, a troca foi rapidamente proposta por este executivo, e logo aceite. Em breve irá concretizar-se, promete o colega que tem o assunto em mãos. Nesse dia, Espinho passará a dispor de um espaço de galerias de arte dificilmente igualável em qualquer grande cidade de Portugal! Tanto aí, como nas amplas zonas de transição, nos pátios interiores, nos salões, no auditório, não falta lugar convidativo para “happenings” do mais variado género.
Todavia, há limitações na multifuncionalidade de alguns sectores, a começar pelo auditório, pensado apenas para conferências, e com lacunas no que respeita a tudo o resto - projecção de cinema, teatro, concertos. Mesmo para simples palestras ainda falta equipamento de som, de luz... Não por culpa do arquitecto, evidentemente. Terá feito o que lhe foi pedido. Algumas dessas omissões podem ser supridas - a de equipamentos, obviamente - outras são irremediáveis... De qualquer modo, eu prefiro olhar tudo positivamente. Partir do que existe. Vamos aproveitar algumas das imensas paredes interiores, os seus longos corredores, para exposições fotográficas permanentes sobre Espinho: sobre os antigos e míticos cafés da cidade, sobre o caminho de ferro, sobre os filmes que passaram nos cinemas no Teatro São Pedro, no Casino ( e a quantos eu mesma assisti!), sobre festas que marcaram a cidade, como as "batalhas de flores", ou competições como as divertidas gincanas. Nas paredes do Fórum se fará a marcha do tempo, nesta terra pioneira. Os visitantes serão convidados a seguir, lá dentro, um extenso, roteiro de mostras e exibições, de uma ponta à outra do edifício. E há ainda, em preparação, um novo acervo museológico, que representará uma outra esplêndida face de Espinho. Mais não posso dizer por agora, porque correm conversações com os mecenas, que o vão oferecer. É um sonho, quase a tornar-se realidade!
Entretanto, como é sabido, faltam coisas simples e elementares: a loja do museu (que já só aguarda a entrega de mobiliário), as cafetarias, a abertura do "parking"... E, também, o arrendamento de lojas, interiores ou com vista para o mar, parece já despertar interesse. Espero que o ritmo de concretização destas fases de crescimento acelere, ao longo deste ano.

5 - E sobrou (ou foi descoberto...) espaço para o pelouro da Cultura
Sim, é o reverso da medalha deste isolamento do Fórum... Sobra, de momento, área desocupada, que vem sendo utilizado, também, em benefício de instituições da terra que aí encontram facilidades para trabalhar, ensaiar, actuar. “Ateliers”, teatro, música, com a presença de prestigiadas e antigas instituições, como a Banda de Música de Espinho, ou de grupos de jovens, como o Quetzal e o Spinuartes, alunos das nossas escolas, têm apreciado as condições que lhes reservamos no Fórum. O Cinanima, que já lá estava, também. É óptimo para eles, é óptimo par nós, porque, em cada um, vamos ganhando aliados e divulgadores. À medida que aumente o grau de ocupação, teremos de assegurar a partilha e a coordenação de agendas. Esse é um problema que queremos enfrentar, como sinal de crescimento e vitalidade do FACE.

6 - Entretanto desponta o sucesso do Museu Municipal...
Sim, do Museu, em si mesmo, e das suas iniciativas voltadas para os munícipes, os turistas, assim como das suas actividades de serviço educativo para crianças e jovens - um novo conceito de Museu. Têm surgido, também, interessantes propostas de parcerias, as últimas das quais, como já disse, com o Museu de Serralves, e, igualmente, com a Cooperativa Árvore. Há condições para atrair o interesse dos melhores, pela qualidade das valências, dos espaços - o único obstáculo é o de um magro orçamento. Isto é o habitual: Há sempre dinheiro para obras grandiosas, que, depois, falta quase em absoluto, para as utilizar como deveria ser... Não é só aqui, é em Portugal inteiro. É preciso uma verdadeira alteração de paradigma - a nível local, a nível nacional (penso em auto-estradas a triplicar, TGV...)

7 - E lá está representada a história de Espinho, fundamentalmente a zona envolvente e da gente ligada ao mar, à pesca e às tradições socio culturais ... locais
Sim, queremos que, nomeadamente, os moradores do bairro piscatório, olhem aquele museu como coisa sua. Queremos que as crianças e os jovens desse lugar, onde nasce Espinho, se habituem a considerar o Museu uma casa acolhedora. Queremos que a centralidade do FACE em Espinho seja uma forma de os colocar, a eles, no centro das atenções.
E queremos que ali se encontrem e se reúnam, harmoniosamente, as várias realidades históricas e actuais da cidade. No desenrolar das fases da programação cultural, nas exposições permanentes.
A concretização do "3º Museu", de que falei, ao lado do da fábrica matricial e da pesca (também matricial), será um passo de gigante nessa direcção.

8 - No museu municipal estão patentes, por exemplo, uma cama e outros exemplos de mobiliário de outrora, assim como objectos e vestuários e em lugar de destaque central um barco e a rede de pesca... Mas estará todo o conselho lá exposto? Numa síntese do passado de cada freguesia de Espinho...

O Museu da Arte Xávega é representativo de toda a área costeira e piscatória e tem nessa temática a sua unidade. Não creio que se deva misturar com outros elementos da cultura local.
Mas a proposta implícita na pergunta, que é a de dar visibilidade a outras facetas e singularidades da vida local parece-me uma excelente ideia, e julgo que merece ser trabalhada em conjunto com os munícipes, os responsáveis eleitos e as instituições de cada freguesia. Se houver interesse e vontade, pode organizar-se, por exemplo, um espólio fotográfico e expô-lo no FACE, em permanência. O Dr. Armando Bouçon tem todo o know-how para realizar um projecto nessa linha de actuação.

9 - E o Arquivo Municipal?
É outro serviço que funciona muito bem, com competência reconhecida mesmo fora da terra, com convites dirigidos à Dr.ª Beatriz Matos Fernandes para participar e encabeçar iniciativas de âmbito nacional, que são para nós motivo de orgulho.
Para além do perfil tradicional de um Arquivo, está, igualmente, aberto à colaboração com as escolas, em programas educativos, e ao contacto personalizado com os visitantes, no objectivo de divulgar a nossa riqueza documental. Lembro, por exemplo, a organização dos roteiros da arte nova em Espinho (o que ainda resta!). Este mês, apresenta uma bela exposição: “Scriptorium medieval”, cedida pela Santa Casa de Misericórdia de Coimbra. E no programa do "Centenário da República" em Espinho participa com vários projectos: desde um projecto de investigação sobre a emigração de espinhenses entre 1910 e 1914, com base em documentos de arquivo, à recriação de uma sala de aula de 1910 e à teatralização de cenas da monarquia constitucional e da república, destinada a grupos de alunos das escolas.
Porém, a decisão de transferir a localização do Arquivo das caves do edifício municipal para o FACE, à beira-mar, não foi isenta de alguns riscos. A proximidade do mar não ajuda…
Há necessidade de acautelar o espólio, de investir e despender, quotidianamente, em equipamentos de desumidificação. Ali, mais do que em qualquer outro lugar, é preciso atenção constante a estes aspectos...

10 - A Galeria de exposições já tem agenda em curso…
Propostas e ideias não faltam. Verbas é que não há, para fazer muito mais... Estamos a apostar, sem prejuízo da qualidade, em exposições das menos dispendiosas. Temos em carteira, por exemplo, uma exposição sobre Amadeo, um grande "simpósio" sobre pintura, com participantes com nome já consagrado, cujas obras reverteriam para o Museu... Talvez para 2011...
Este ano posso referir, de memória, algumas: Uma sobre o PREC do repórter fotográfico Valentim, por alturas do 25 de Abril; em Maio, várias mostras sobre a temática da pesca – uma sobre instrumentos da pesca, outra sobre a pesca do bacalhau (cedida pelo Museu de Ílhavo), uma exposição de pintura, presentes no FACE, enquanto decorrem em Espinho as festas do dia nacional do pescador, organizadas em colaboração com o NAPESMAT da Matosinhos; no verão, virá de Barcelona uma exposição de pintor catalão Carles Bros sobre os Caprichos de Paganini, uma outra de Balbina Mendes sobre "Máscaras rituais de Trás-os-Montes", uma mostra de "Humor gráfico". Em Outubro, inauguramos uma exposição fotográfica sobre "Rostos da República", (que, depois, levaremos a França, à cidade geminada de Brunoy e, porventura, a outros países, no contexto da geminação). Durante Março e Abril estarão patentes duas exposições, cedidas pela Cooperativa Árvore - uma de desenhos de Siza Vieira, outras de gravuras, serigrafias e litografias de vários autores, entre os quais Resende, Pomar, Charters de Almeida, Justino Alves...

11 - A cultura do concelho não se cinge eventualmente ao Fórum de Arte e Cultura de Espinho.
Pois não! Como espaço aberto que é, o Fórum depende, em absoluto, da capacidade das pessoas, dos actos culturais com que lhe dão vida, com que lhe permitem, afinal, atingir os seus objectivos. Em si, é apenas o equivalente a uma tela em branco, de superior qualidade, onde poderá nascer a obra de arte ou, pelo contrário, uma pintura banal. É, pois, um instrumento esplêndido, ao serviço da cultura em Espinho, isso é! Mas é necessário preenche-lo, usa-lo, fazer, dentro das suas paredes, história da terra, das artes, dos talentos. Um grande desafio colectivo!


12 - O Centro Multimeios não perde visibilidade e ocupação com o FACE também equipado com uma galeria de exposição? Claro que também existe uma galeria de exposições na Junta de Freguesia de Espinho...

São salas de exposição com características diversas, ao serviço de uma multiplicidade de públicos e de artistas ou "agentes culturais". O FACE pode receber exposições de enorme dimensão, com os seus 1.100 metros quadrados. Os outros, não. Mas são óptimos, tanto para exposições de arte, como para mostras didácticas, "work shops" ou outro tipo de organização. Por exemplo, no Multimeios vai estar, em Março, com fins didácticos, uma exposição promovida pela Escola Sá Couto sobre o Padre António Vieira, na galeria da Junta, esteve, antes do Natal, uma colorida feira de artesanato...
São equipamentos a mais? Teria sido preferível apostar em menos construções com mais funcionalidades? O que hei-de responder? Estão feitas, são boas, são atractivas, vamos geri-las, todas, o melhor que nos for possível.



13 - Ainda em esqueleto, a Biblioteca Municipal aguarda... pela oportunidade da sua funcionalidade? Enquanto a actividade da Biblioteca Municipal se confina ao dimensionamento e condicionalismo da área por enquanto reservada da infra-estrutura da Piscina Solário Atlântico?

Como há pouco dizia, o mais importante ainda são as pessoas, na medida em que com criatividade e vontade, conseguem suprir muitas das deficiências ou insuficiências das infra-estruturas. O que se passa com a Biblioteca prova isto mesmo. A Drª Isabel de Sousa, a Drª Andreia Magalhães e os seus colaboradores vêm desenvolvendo, nas improvisadas instalações, na piscina, com grande dinamismo, inúmeras actividades à volta do livro, da literatura, do estudo, do conhecimento e reconhecimento de valores da nossa cultura, de motivação para a leitura e a escrita, envolvendo os mais diversos grupos da sociedade, sem esquecer crianças, jovens, idosos - o "cantinho dos avós", "a hora do conto", lançamento de livros, como, há pouco, o de Richard Zimmler e o de Sérgio Godinho, e, mais recentemente, o de uma jovem autora de Espinho, na sua primeira experiência literária.
Nas novas instalações vão oferecer programas semelhantes, com condições de trabalho para os funcionários e de participação para os destinatários das acções e de frequência para o público, que serão muito melhores.



14 - Os ranchos e as bandas... o folclore e a música... A cultura é do povo?

A meu ver, sim! O que faz a identidade de Espinho, a sua singularidade, é o apego às tradições, o respeito pela herança cultural, a vontade de a lembrar e de a continuar. De procurar transmitir o fio da história, fazendo coisas novas. Sem isso, cairíamos no anonimato, seríamos apenas um lugar, ruas, casas, bairros, dormitórios, e não, como somos, uma autêntica comunidade, feita do sentimento de pertença.

15 - E o povo também vive de eventos culturais...

Claro que sim: neles se revê, se relaciona, se enriquece e se diverte... O que é particularmente verdadeiro em Espinho, não só para os espinhenses, com a sua imensa panóplia de associações e grupos culturais, a sua extraordinária história de tertúlias e de convivialidade em esplanadas e cafés, mas também para os visitantes, que aqui sempre procuraram e encontraram a animação que faz parte de um programa de veraneio, numa estância balnear. Desporto, cinema, música, concertos, multidões em festa são a imagem de marca da cidade, que soube manter, de geração em geração! O que perdemos em tempos recentes, temos de recuperar!


16 - Na qualidade de vereadora da cultura já dá o seu cunho pessoal e confere a sua experiência e sensibilidade sociocultural, por exemplo, assinalando com um programa especial em Espinho a efeméride do centenário da República e ainda com a promoção de um blogue - "O meu Diário da república"...

Este ano o "centenário" é incontornável, mesmo para quem, como eu, entende que, hoje, é mais importante o primado da democracia do que a chamada "questão de regime". Mas temos de situar os factos no seu tempo, e esse foi um acontecimento determinante do futuro português. É um período singular, como são os de grandes mutações, como veio a ser o do 25 de Abril. Tempos de grandes esperanças, nem todas concretizadas. Com contradições e excessos, também, evidentemente. Todavia
vale bem a pena recorda-los, olhando os ensinamentos de um século de vida nacional, e perspectivando o futuro desta república.
A preparação do "centenário" foi obra de equipa, em várias reuniões longas, de "brain storming", eu quase diria "de tertúlia", pelo gosto que nos deu fazê-la. A tal ponto obra colectiva que é difícil dizer a quem pertence a ideia de cada evento, porque a ideia foi, logo de seguida, recriada com sugestões de cada um dos responsáveis pelos serviços que comigo trabalham no pelouro da cultura.
A partir de um projecto inicial, a exposição sobre "Os rostos da República" para o dia 5 de Outubro, pensado para a Galeria do FACE, foi assim nascendo um programa variado e ambicioso (atendendo, sobretudo, ao facto de os serviços da cultuar terem gente de qualidade, mas não gente em quantidade suficiente… ). Irá de Março a Dezembro, e pretende envolver os espinhenses de todas as idades e sensibilidades, com apelo ao espírito cívico e á tolerância - incluindo a tolerância para com as ideias dos nossos antepassados, fossem eles republicanos ou monárquicos. O resultado vai depender muito mais daqueles que são convidados a participar, do que de nós!
Haverá momentos de festa, como a reconstituição de um serão de época, ou de um comício republicano (com centenas de actores e de figurantes, se a Drª Idalina conseguir, e vai conseguir, a adesão que esperamos!), de representações de teatro de rua, de Robertos, durante o verão, de "work shop" sobre graffitis , a exposição sobre humor gráfico, e momentos de reflexão, em conferências e debates sobre temáticas escolhidas, numa visão diacrónica do século.
O concurso de blogues destina-se a incitar os jovens à participação neste projecto do centenário, através de escritos e imagens, de reportagens em estilo jornalístico e de comentários sobre os diversos acontecimentos que vamos promover, de Março a Dezembro de 2010.
17 - E para o 5 de Outubro, no Centro Multimeios, está calendarizada uma conferência subordinada ao tema "As Mulheres na 1ª República". O convite formulado à Drª Maria Barroso confere desde logo dimensão e distinção à inauguração das comemorações do centenário da República em Espinho?
Sim, antes de mais, a dimensão humanista: a do feminismo republicano, que é um humanismo no feminino, tratado por quem melhor o pode fazer, uma grande Senhora, que representou, de uma forma excepcional, a República portuguesa, na qualidade de Primeira Dama. A Drª Maria Barroso é um exemplo de luta pela liberdade, pela democracia, pelos valores da história e da cultura portuguesa. É, por direito próprio, uma figura de relevo da nossa cultura no século XX r no actual. Foi uma jovem e muito talentosa actriz do Teatro Nacional, de onde foi saneada pela ditadura, depois, professora E directora de um grande colégio. É uma figura da nossa vida política, única mulher entre os fundadores do seu partido, deputada à Assembleia, dentro e fora do parlamento, uma voz corajosa e influente na defesa da paz e da dignidade das pessoas.
Para nós, é um privilégio tê-la na abertura do "Centenário", prestando homenagem às mulheres da 1ª república.
A questão da igualdade, da participação cívica, da educação das mulheres foi uma das grandes causas republicanas, é bom lembrá-lo! Não sei se haverá outro Município que dedique a cerimónia inaugural à luta das mulheres pela igualdade, que é condição da própria vida democrática...


18 - A iniciativa aprazada para a primeira sexta-feira de Março também será valorizada com actuações do grupo de percussão da Escola Profissional de Música de Espinho e do coro da Universidade Sénior de Espinho...

Uma das primeiras orientações adoptadas nas reuniões preparatórias da comemoração foi a de tentar motivar os parceiros da Câmara os agentes culturais a colaborarem, integrando a temática nos seus espectáculos, nos guiões, sempre que possível. Isso já aconteceu, no Festival de marionetes, no "Tú cá, tú lá" ...
O coro da Universidade Sénior, que eu já tive o gosto de ver actuar, será justamente uma presença do "Tú cá, tú lá". O grupo de percussão, cuja qualidade é sobejamente reconhecida, vem dar ao evento um toque de juventude, que não poderia faltar.
Quisemos combinar as duas vertentes das comemorações, logo neste 1º acto: a vertente de reflexão e diálogo, com a conferência e o debate e a vertente lúdica, com o concerto.

19 - O Orfeão de Espinho também está na antecâmara do seu centenário... Mas há mais e louváveis registos de instituições que fazem parte da história do concelho... As novas gerações espinhenses estarão cientes dos pergaminhos e dos contributos dos ranchos, das bandas e das associações de cariz cultural? Estarão sintonizadas e motivadas com a identidade social do concelho?

Acho que sim, e espero não estar a ser apenas optimista ou “voluntarista”! Considero que muitas destas instituições antigas têm sabido aliciar os jovens, rejuvenescer com eles... Também neste aspecto são exemplares. Poucas terras da dimensão de Espinho terão uma riqueza comparável. Muitos destes grupos são verdadeiras escolas - de música, de dança, de teatro... Não foi por acaso que o Presidente da República veio a Espinho dar o devido reconhecimento à Academia É em larga medida graças a eles, em colaboração, em parceria, que conseguimos organizar a agenda cultural. Ideal seria que integrassem também outras agendas culturais do país e do estrangeiro, levando com eles o nome de Espinho..

20 - e os emigrantes?

O meu trabalho com a emigração portuguesa começou há precisamente 30 anos, em 1980, e tornou-se parte da minha vida. Tratei da emigração no governo, no parlamento, na assembleia parlamentar do Conselho da Europa, onde presidi à "comissão das migrações e refugiados", e na universidade, onde regi um curso de mestrado sobre "políticas e estratégias para as comunidades portuguesas". É uma paixão, uma causa. Pertenço, hoje, a uma associação de estudo e solidariedade com a "mulher migrante" e sou presidente da assembleia da "Associação dos Portugueses do Estrangeiro". Mantenho, naturalmente, o contacto com muitos amigos e instituições das comunidades.

21 - Já foi Secretária de Estado na vertente da emigração e como tal afigura-se que esteja habilitada a traçar o orgulho dos emigrantes espinhenses no que concerne à identidade colectiva de um concelho geograficamente pequeno, mas disperso no mundo...

Acho que o concelho bem pode rever-se na sua diáspora, na ligação com a cultura e as tradições da terra, que levam consigo na memória e sabem preservar, na importância que, em alguns países, têm também no relacionamento internacional, nas geminações, por exemplo. É o caso de Brunoy, ou do Rio de Janeiro, onde há uma "Casa de Espinho" muito dinâmica. Outro dos países onde encontrei muitos espinhenses ilustres, dirigentes de grandes associações, foi a Venezuela. E não só em Caracas, também em Barquisimeto, em Valência, em Cumaná ... E aqui bem perto, temos algo de muito raro (que eu saiba, caso único!) que é um Centro Cultural criado por emigrantes regressados e inspirado nos que existem na Venezuela. O contrário é que é regra, que consiste na “exportação” de modelos associativos das terras de origem. Mas este vaivémmariamanuelaaguiar de influências, este aproveitamento de experiências de vida comunitária ganhas no estrangeiro, é de saudar e de estimular!.

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