março 29, 2010

Prefácio para um livro de leitura imprescindível: apitos dourados, finais e algo mais...

O Dr.Fernando Sardoeira Pinto pertence a uma estirpe rara enquanto homens do desporto que é também homem de cultura e homem de carácter - sendo, para além disso, nortenho e portuense, dos que citam Sofia de Mello Breyner para evocar a "pátria dentro da pátria". Um "dragão de causas", símbolo do espírito inquebrantável do FC Porto,
voz dos seus adeptos, em quem nos sentimos esplendidamente representados, todos os que somos portistas como ele.
Presidente da Assembleia Geral do FC do Porto a partir de 1982, desde o primeiro mandato de Jorge Nuno Pinto da Costa é, com o amigo e aliado de sempre, obreiro da aventura que levou à transformação de um clube "de província", como era chamado depreciativamente, para o clube de craveira universal que deu ao País os títulos europeus e mundiais de futebol, que a própria selecção nacional não conseguiu ainda alcançar.
Aventura colectiva que começou por aproveitar os ventos de mudança do Portugal democrático para repor a verdade das capacidades e dos talentos de quem era secundarizado por força bruta de um centralismo implável imposto pelo regime e que, da política, extravazava para todos os domínios, como era o caso particular do futebol.
A ascensão do FC Porto deve-se antes de mais, a estes dirigentes que trouxeram a democracia e a igualdade de oportunidades para o rectângulo de jogo, permitindo, então, aos próprios executantes colherem a glória e os louros de uma superioridade real.
Os senhores do velho sistema renderam-se a um fenómeno que julgaram transitório, vendo azuis e brancos somarem, ano após ano, vitórias a nível nacional tanto quanto internacional. Até que parecem ter perdido a esperança de lutar, em campo, com armas iguais e desenharam estratégias que passavam por outros campos e outras armas!
Este livro conta, em português de mestre, em palavras que fluem com o rigor e a simplicidade, que é arte dos grandes jornalistas, a crónica de um tempo do futebol profissional português, o início do século XXI, marcado ou manchado por uma tentativa de abater o gigante em que convertera o maior clube nacional, decapitando-o da sua liderança - à falta de outros meios que lograssem atingir o mesmo fim, dentro de fronteiras...
O livro é, assim, um contributo mais do Dr. Sardoeira Pinto para a causa da justiça, e um subsídio precioso para a reconstituição de um período irrepetível da justiça - ou injustiça - portuguesa, de um processo ramificado em vários outros, que se arrastou pelos tribunais de todas as instâncias, incluindo as desportivas, no país e na Europa - ultrapassando fronteiras com foros de escândalo, deliberadamente provocado ou instigado para a pura e simples destruição de um competidor demasiado forte. Os vários processos dos "apitos", de variadas cores e outros mais episódios e acontecimentos, que ajudam à sua descodificação e plena compreensão são aqui detalhados e sistematizados, com datas, nomes, tomadas de posição e decisões, guardados e patenteados para memória futura.
Para que os vindouros não esqueçam e não tolerem a recorrência de tais expedientes: a volta dos Calabotes, de que nas suas páginas também fala.
E se o conteúdo é, nesta perspectiva uma mais valia extraordinária, também na originalidade da forma e da metodologia o livro se recomenda.
Começa o autor por procurar satisfazer a pergunta que lhe coloca um jornalista sobre qual foi o melhor momento da sua vida. Fiel a si próprio, quer dar uma resposta verdadeira, pensada, definitiva. E, nas primeiras páginas, parte numa demanda, que é uma fascinante "viagem de descoberta", conduzida pelo olhar sobre um mundo de emoções e de vivências, que quer partilhar connosco, e em que revela muito de si, do ser humano excepcional que é, e das suas paixões, entre elas, a "pátria dentro da pátria", e, naturalmente, o FC Porto.
E, consequentemente, não vão os leitores surpreender-se ao verem (perdoem-me se anticipo a conclusão), que o Dr. Sardoeira Pinto inclui no número extrememente restrito dos melhores momentos da sua vida o epílogo dos processos dos "apitos finais, dourados... e outros mais".
Muitos o acompanham, por certo, nesse sentimento. Porque o epílogo fez justiça ao Porto e abriu-lhe caminhos de futuro, que havia quem quisesse barra-lhe a qualquer preço, mesmo o da iniquidade e da vergonha nacional.
Este é o livro que todos os portistas quereriam ter escrito e que todos os desportistas vão gostar muito de ler.

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