novembro 03, 2010

Sá Carneiro e os novos biógrafos

Os dois mais recentes, uma jovem e um jovem, deram anteontem uma entrevista na televisão.
Quando tiver um momento livre, vou, evidentemente, a uma livraria comprar as suas publicações. Não tenho a certeza de que me convencerão, mas pode ser que sim. Vamos ver...
Achei muito curioso afirmação enfática do biografo masculino (como quem dá conta de um achado, algo de secreto e inovador) de que o Dr. Sá Carneiro não foi um líder consensual.
Essa é a verdade, que nunca foi uma verdade escondida. As polémicas e cisões do PSD fazem parte do quotidiano da vida deste partido, desde a génese... (consensual, consensual só Cunhal: até rima! E bem mais consensuais, no interior das respectivas estruturas partidárias, ao tempo, no período de 1974-1980, eram Mário Soares ou Freitas do Amaral).
Quem não leu o "Impasse", escrito pelo próprio Sá Carneiro? Quem não sabe como aí ele escreveu, que chegou a ser derrotado na douta Comissão Política por 15-1?
Os "notáveis" do PPD, os de Lisboa e os de Coimbra, estiveram quase sempre do outro lado da barreira. Acalmia, só mesmo quando assumiu as funções de primeiro ministro. Uma acalmia aparente. No fundo, as correntes mantinham a sua força, subterrâneamente, e, não fosse a morte trágica e súbita do chefe de governo, teriam, com toda a certeza, subido à superfície, assim que ele deixasse o cargo, como ameaçava fazer se o General Eanes ganhasse a corrida presidencial.
Depois da sua morte, todos, tanto os que sempre o apoiaram, como os que sempre o combateram tenazmente, quiseram reclamar-se da sua herança. E é por isso que, a quem não viveu o seu tempo, ele pode aparecer como "consensual" . Essa foi a ilusão que os anti-sacarneiristas postumamente conseguiram criar.
Já me habituei, como toda a gente, a ver os piores inimigos históricos de Sá Carneiro a ocupar a primeira linha do palco político para lhe tecerem elogios de circunstância. Mas nem por isso me resigno...
Sá carneiristas verdadeiros eram, por exemplo, Eurico de Melo, Dinah Alhandra, Amãndio e Amélia de Azevedo, Montalvão Machado, Marques Mendes (filho), Alberto João Jardim, Ângelo Correia...
Entre os "anti", que eram, de facto, muitos, citarei apenas Francisco Pinto Balsemão e João Bosco Mota Amaral, que até chegou a ser - ironia do destino... - presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro.

3 comentários:

Maria Manuela Aguiar disse...

Sim, é claro, eu fui uma incondicional Sácarneirista...
Desde 1969, desde os tempos da "ala liberal".
Digo muitas vezes que sou do PPD "avant la lettre", a partir dessa data.
Ainda hoje estou no PSD apenas porque foi o partido de Sá Carneiro.
Não o conhecia pessoalmente até ao dia em que me convidou para Secretária de Estado do seu governo.
Curiosamente, os meus melhores amigos, fundadores do PPD, os de Coimbra, meus queridíssimos professores, e os de Lisboa, eram da facção "anti". Aceitei isso, como aceito qualquer outra democrática divergência de pontos de vista. Não deixei de os estimar e admirar por isso.

Maria Manuela Aguiar disse...

Correcção: não só fui como sou Sácarneirista.

Maria Manuela Aguiar disse...

Ter sido a primeira militante do PPD/PSD escolhida para o Governo, e escolhida por ele, é coisa que especialmente valorizo na minha vida como cidadã...