maio 06, 2020

ARTES ENTRE AS LETRAS EM ESPINHO 2010

O diálogo entre as Artes e as Letras é agora relançado em Espinho, de uma forma original e criativa, por Nassalete Miranda, nesta fórmula pensada para comemorar o segundo aniversário da sua audaciosa empresa jornalística - uma aventura feita de sucessivas incursões no mundo da “Nação- Cultura” portuguesa, desvendada e reflectida, a partir do norte do País.
Aqui se nos oferece a Arte eterna, num encontro efémero, pelo tempo de vida de uma fascinante exposição, que fica, todavia, a fazer parte tanto da história do Jornal, quanto da do próprio Museu Municipal de Espinho.
Agradecemos a escolha com que, uma vez mais, Nassalete Miranda distingue e privilegia esta cidade com a marca de qualidade das suas iniciativas culturais, sabendo que o gesto tem maior significado numa data tão especial.
Este espaço ímpar do FACE, onde duas enormes galerias de exposições se alongam, lado a lado, em linhas rectilíneas e se abrem, em simultâneo, numa mesma vista ampla para o mar português, “o mar sem fim”, exige, sempre, a capacidade de sonhar, de ousar, de surpreender, de criar magia. Tudo o que nesta mostra se alcançou!
E se, como cremos, é, sobretudo, na Cultura que sobrevive, renascendo, o espírito de um povo em cada nova Idade, então bem podemos achar nas presenças, nos testemunhos, nas obras reunidos para esta ocasião festiva, fundadas razões de esperança no futuro.


Maria Manuela Aguia

Recordando 1974, 25 de Abril

ABRIL ABRIL 2010

Abril: o dia.
Portugal estava parado no tempo, décadas atrás do tempo real... Um anacronismo assente numa ditadura asfixiante, ultramontana, misógina, enredada numa guerra colonial, isolada na Europa e no mundo. Nada acontecia, nada mudava. E nesse dia 25, assim, de súbito, todas as utopias, todas as mutações pareciam ao nosso alcance...

Abril: o processo dinâmico

uma época vertiginosa, fantástica, de refundação do Estado, de reconstrução da democracia. Vieram para a política os melhores - e com eles, com um povo corajoso e de espírito aberto, se atingiram tantas metas, uma a uma (se cumpriram os sonhos).
Sá Carneiro foi, para mim, a expressão máxima de uma nova visão de Portugal e dos meios de lutar por ela. Era, mais do que os outros, o anti-Salazar, o oposto mais oposto. Salazar desconfiava dos portugueses, da sua capacidade de viver em democracia, sem o paternalismo de uma tutela. Sá Carneiro confiava nos portugueses e, por isso, exigia democracia plena, sem tutelas, fossem elas civis ou militares, nacionais ou internacionais. Onde muitos, dentro e fora do partido que criara, preconizavam, por temor e calculismo, a cedência a uma transição gradual, ele queria o povo a decidir, de imediato, e a fazer futuro, como os povos seus iguais na Europa.

Abril: 2010

A história feita nas três primeiras décadas comprova que que uma democracia, modelo europeu, pode florescer entre nós, convivial e fraterna. O povo respondeu às dúvidas que tantos levantavam
Ma até que ponto o descalabro económico, fruto do mau governo minou, em poucos anos, a soberania do Estado e o estado da democracia? É ainda possível afastar a sombra de novas tutelas, agora impostas do exterior?
A resposta à dúvida só pode ser dada, uma vez mais, pelos Portugueses - políticos e sociedade civil.


Maria Manuela Aguiar

MULHERES EM MOVIMENTO em ESPINHO 2010

Mulheres em movimento no desporto, no direito, na cidadania e política e nas letras. Foi o que aconteceu no passado sábado à noite (16 de Abril), em pleno Museu Municipal de Espinho. No meio das obras exclusivamente femininas da primeira Bienal de Mulheres, realizou um debate intitulado “Mulheres em Movimento”.

Graça Guedes foi a primeira oradora da noite. Coube-lhe falar de uma área que bem conhece, o desporto, propondo-se mais concretamente discursar sobre o papel da mulher da diáspora portuguesa no diálogo intercultural. A espinhense começou por abordar a temática do desporto na escola, onde defende, é necessário “respeitar e implementar a equidade, proporcionado a prática de actividade física”.

Falando da desigualdade entre géneros, Graça Guedes mencionou que isso acontecia nos media, que dão uma cobertura inferior ao desporto feminino do que ao masculino e deu o exemplo de Espinho, já que, quando Sílvia Saiote foi campeã mundial, essa conquista não veio nos jornais locais. A espinhense passou depois à parte da diáspora portuguesa e à importância da dança tradicional portuguesa, dançada pelo mundo fora pelos nossos emigrantes. “A dança é, também, actividade física, é uma forma de agir do corpo”, disse.

Do desporto, passou-se para o direito, especificamente direito das mulheres. Segundo a advogada Clara Ribeiro, este ramo é relativamente recente, com cerca de 20 anos, e nasceu nos EUA. No fundo, o Direito das Mulheres pretende lutar contra as desigualdades de género, como salários mais baixos para as trabalhadoras ou os crimes contra o sexo feminino, exigindo “a plena igualdade de direitos e deveres para homens e mulheres”. Segundo Clara Ribeiro, foi o direito comunitário que mais contribuiu para essa igualdade.

Mulheres têm que levar a bandeira
Ilda Figueiredo foi a oradora seguinte do debate. A eurodeputada começou por dizer que a ideia de que “as discriminações são encaradas como naturais” revela uma falta de educação cívica e que eram necessárias políticas públicas que alterassem a situação. A fazer 35 anos desde que o estatuto de igualdade foi consagrado na lei, Ilda Figueiredo recordou que a quantidade de mulheres que estão nos altos cargos de representação nacional se conta pelos dedos, acontecendo o mesmo cenário no poder económico. Por isso mesmo, a eurodeputada afirma que “as mulheres têm que lutar pelos seus direitos”, já que “se não forem elas a levar a bandeira, ninguém o vai fazer de tal forma”.

Para Nassalete Miranda, as mulheres “quando querem, podem”. A jornalista afirmou que “as mulheres estão em movimento” e, por isso, “têm que querer e têm que fazer”. No início da sua carreira, Nassalete Miranda recordou que só havia três jornalistas femininas no Porto, incluindo ela. Na opinião, as mulheres têm que interiorizar que podem fazer, arregaçar mangas e fazer.

in: Maré Viva
Fotos: Paulo Duarte

maio 01, 2020

TODOS MASCARADOS
1-  O Presidente da Assembleia da República, para além de algumas declarações 
"politicamente incorretas" (em prejuízo das comemorações
 do 25 de abril, que deveriam ter sido consensuais), foi mais longe ainda no campo do
 "cientificamente incorreto", com a sua indignada rejeição do uso de máscaras. Tal como Graça Freitas, ainda não percebeu que o sucesso do "desconfinamento" em segurança, ou com mais segurança, vai depender da insubstituível arma defensiva que é a máscara, cujo uso deverá ser obrigatório no espaço público,  e aconselhado, igualmente, nas visitas a familiares e amigos. Eu fá-lo-ei,
 voluntariamente, consciente de que, com uma simples máscara  protejo os outros. Deles
 espero reciprocidade.  
Sobre a COVID 19, crescem dúvidas e pavores, e as nossas raras certezas remontam, por
 sinal, aos primórdios da pandemia. A primeira é  de que se trata de um vírus altamente 
contagioso, e, na esmagadora maioria de casos, escondido, como camaleão, numa 
ausência de sintomas ou na mansidão de sintomas ligeiros e enganadores.Outra certeza é
 a de que a taxa de contágio desce, substancialmente,  com o uso  de máscaras. A 
invisibilidade do vírus tem de se atacar, usando-as, realizando rastreios maciços, isolando
 os positivos, que os testes  detetam. Não basta adesinfeção das mãos e o afastamento 
dos nossos semelhantes (um metro ou dois, ou mais -  aí já se penetra no terreno
 da incerteza). Por vezes, temos de nos aproximar dos outros, ao menos para  pagar uma 
compra, ou quando nos cruzamos num passeio estreito, e não é o ato de lavar as mãos,
 que nos livra (ou livra os nossos interlocutores) das gotículas potencialmente infeciosas de
 um súbito espirro ou tossidela... A experiência dos países que sempre praticaram o
 confinamento seletivo ou melhor concretizaram o "desconfinamento" global está aí, em
 diversos continentes, para o provar. Negando as evidências, Graça Freitas caiu em 
descrédito, qualquer que tenha sido a  razão da sua luta longa e quixotesca contra as
 máscaras (mera tentativa de encobrir impreparação, e falta de equipamento protetor
 nos hospitais?). O Primeiro-ministro tem dado mostras de estar ciente de que não pode 
avançar para o "desconfinamento", sem, previamente, assegurar a abundância, no 
mercado, de material protetor. Enquanto aguardamos a sua decisão, aqui deixo um apelo:
 na rua, todos mascarados!

2 - Ao "estado de emergência", deve suceder o "estado de calamidade". Muda o nome, 
fica praticamente intacto o poder discricionário do executivo, apenas balizado, teoricamente
, pela Constituição. Ao que consta, finda esta inédita ordália do emparedamento, seguir-se-
á uma abertura gradual, privilegiando setores de atividade, e, eventualmente, 
grupos etários, cidades, regiões - segundo o critério do Governo.
 Para já, o debate público tem-se centrado, sobretudo, na necessidade de isolamento, até 
que seja operacionalizada uma vacina  (lá para  2001 ou 2022...) não de todos os "grupos
 de risco", mas apenas dos maiores de 70 anos, muitos deles gozando de boa saúde, 
como o Presidente Marcelo. Está encontrada uma nova "peste grisalha"! Esquecidos 
andam, no debate, os diversos grupos de comprovado risco -  diabéticos, (mais de um 
milhão) , cancerosos,  doentes renais, pulmonares, cardíacos…( que deverão tomar, eles 
próprios, tal como os seniores, as devidas cautelas).
No anos da troika e do governo de Passos Coelho, em cujo partido surgiu a designação de
 "peste grisalha", estava, supostamente, em causa a sustentabilidade do sistema de 
pensões. E, por isso, sobre os reformados foi lançado um aberrante imposto etário, 
denominado "contribuição extraordinária de solidariedade". Era inconstitucional, mas foi 
validado pelo TC, com alguns honrosos votos contra. Agora, para garantir a 
sustentabilidade do sistema de saúde, (debilitado por cortes insensatos), emerge a 
 tentação de sacrificar os mesmos, os mais velhos, que, nos termos da declaração do 
estado de emergência, se viram sujeitos, tal como os cidadão de outros grupos de risco, a 
um "dever especial de confinamento". No futuro, se o governo mantiver esse dever de
 confinamento, estará, de facto, a condená-los a prisão domiciliária, atentando contra 
Liberdades e Direitos Fundamentais. Manuel Alegre, de imediato, levantou a voz para 
protestar. Não há limite de idade para defender a Liberdade!
3 - Traçar a fronteira etária do declínio físico e mental é coisa impossível. Não existe 
categoria mais heterogénea. É inegável que muitos  idosos sofrem de patologias graves, 
e, é por isso e não pela idade cronológica, que estarão em situações de risco, altamente
 agravado no caso dos residentes em lares, legais ou clandestinos. Deles ninguém cuidou
 atempadamente! Aqui, como na Europa, de norte a sul, constituíram grosso das fatalidades da COVID 19. Bom será que os nossos políticos atentem na vergonhosa realidade de tais estatísticas.
 E que encontrem, também, explicação para o facto do enorme acréscimo de mortes 
(mais 3000) ocorridas no país, nestes dois últimos meses, em comparação com o mesmo 
período do ano passado, e atribuídas a outras causas, que não a pandemia. Talvez o medo
 de recorrer a um hospital, o medo de sair de casa...  Medo, solidão, desesperança 
vitimaram mais velhos do que o corona vírus! É a hora de ouvir uma voz que se levantou 
acima do ruído das banalidades, a do Cardeal Tolentino Mendonça: "Que os velhos se 
tenham tornado uma abandonada periferia - e os condicionamentos da pandemia podem 
ainda dramaticamente acentuá-la - diz muito da crise interior que mina o nosso tempo".

abril 17, 2020

Portugal, Camões, as Comunidades

Dia de Portugal, de Camões…

Originalidade nossa, bem portuguesa, a de celebrar o "Dia Nacional" evocando um Poeta.
O maior de todos: Luís de Camões. Homem de grande cultura, de superior engenho, génio que brilha entre os génios da literatura universal, mas igualmente um patriota, um "homem do mundo", que cruzou os mares distantes nas caravelas quinhentistas... Emigrante, como tantos outros Portugueses, antes e depois do seu tempo de vida.

…e das Comunidades

Este é, também, o dia em que o País se revê no espelho da História e no do presente, em tamanho natural - ou seja, na verdadeira dimensão que foi e continua a ser a sua, a de um “Portugal- Nação” que convive dentro e fora de fronteiras.
É excelente lembra-lo no simbolismo da palavra, mas há que ir além da mera comemoração ritual, sempre envolta na nostalgia de uma grandeza perdida há séculos... É preciso, também, saber dar força e dinâmica à realidade da Nação do século XXI, tão cheia de potencialidades em risco de se perderem, por omissão nossa...
Este dia das comunidades portuguesas deve ser o momento de repensar as políticas da emigração, de dar enfoque à sua trave-mestra - ao princípio de igualdade de direitos e deveres entre portugueses dos cinco continentes - para refundação de um espaço de conhecimento, de convivialidade, de cooperação entre nós.
A concepção de um Portugal como "Nação de Comunidades", Nação populacional construída, no tempo presente, pelos cidadãos da Diáspora, a par dos residentes no território nacional, deve muito a Francisco Sá Carneiro. Não é o precursor desta ideia de Pátria, que norteava já, por exemplo, Adriano Moreira na organização dos "Congressos das Comunidades de Língua Portuguesa", nos anos sessenta, ou que refulgia, literariamente, no discurso oficial do 10 de Junho, depois do 25 de Abril (recordo, especialmente, o de Vitorino Magalhães Godinho, logo nos primórdios de mandato do Presidente Eanes).
Porém é, sem dúvida, a Sá Carneiro que se deve a transposição desta ideia de "Nação de Comunidades" para a teorização e cumprimento de um programa político, com novas leis e novas práticas, durante o seu breve Governo, em 1980.
Imenso era o desafio, enormes foram os obstáculos postos pela oposição parlamentar à prossecução, nesse ano e nos que se seguiram, das políticas para a cidadania plena dos emigrantes. Cidadania em sentido lato, abrangendo para além da política (direito de votar nos diversos processos eleitorais, direito a representação específica, o direito à dupla ou múltipla nacionalidade...), outras vertentes, no domínio cultural (apoio ao ensino da língua, da história, à preservação das tradições) e no social, no plano individual ou no colectivo.
 Por isso, o apoio, em qualquer daqueles dois a domínios, começou por ser muito centrado no movimento associativo e nos “media”, aos quais se reconheceu um papel fundamental, bem mais determinante para a existência do admirável mundo das comunidades portuguesas do que o do próprio Estado, quase sempre interessado nas remessas dos emigrantes e pouco preocupado em os defender nas sociedades estrangeiras onde trabalhavam – um posicionamento que só se alteraria a partir do final dos anos sessenta e, sobretudo, com a restauração do regime democrático e com a visão Sá-Carneirista da nossa diáspora e as políticas pioneiras, prosseguidas na década de oitenta: com a criação do Conselho das Comunidades (de raíz associativa), em 1980, aspropostsa de alargamento e facilitação do recenseamento no estrangeiro, a lei da dupla nacionalidade (iniciada em 1980 e concluída em 1981)... Na mesma linha de intervenção jurídica, mais tarde, depois de muita polémica e resistência da esquerda tradicionalista, o voto nos “referenda”, ou para o Presidente da República (1997) e para o Parlamento Europeu (apenas em 2004!), estando ainda por conseguir o sufrágio nas autárquicas e nas regionais.
Tão importante quanto o estatuto de Direitos dos Portugueses do estrangeiro, foram as políticas de aproximação ou proximidade, então chamadas “políticas de reencontro”, isto é, de diálogo entre comunidades e entre elas e o país, para lhes dar voz, visibilidade e reconhecimento, nomeadamente através do Conselho das Comunidades. Aproximação que era ainda mais urgente no caso das comunidades transoceânicas, sempre mais esquecidas pelos governos do que as da Europa.
Três décadas depois, a modernidade destas formas de acção é uma evidência - a realidade exige-as, mais do que nunca.
 Enganaram-se os que julgavam que Portugal deixara de ser um país de emigração. Na verdade, o exôdo hoje traduz-se em números que excedem todas as expectativas e experiências do passado. São os jovens (e os menos jovens, mulheres e homens…) que circulam, livremente, às centenas de milhares dentro das fronteiras da União Europeia, são os empresários, pequenos, médios ou grandes, que demandam países em extraordinário desenvolvimento, como o Brasil ou Angola… Novas comunidades se vão, assim, juntar às antigas. Não necessariamente idênticas, mas, ao que esperamos, movidas pelo mesmo sentimento de pertença à Nação portuguesa.
Neste quadro, não sei se amanhã seremos menos de dez milhões no território, mas tenho a certeza de que seremos mais de quinze milhões na totalidade e que temos de nos saber situar, com grande dinamismo e coesão, dentro e fora do País, no mapa geográfico das comunidades portuguesas.

Maria Manuela Aguiar
Junho 2011

Vice Presidente da Assembleia. Como foi?

 VP da AR. Como foi? -

Foi mais uma grande surpresa, porque era cargo para o qual não seria voluntária.
 Não sei ao certo porque me escolheram, mas sempre achei que era justamente para terem, pela 1ª vez, uma mulher a presidir ao plenário da Assembleia.
 Na minha opinião, uma boa aposta do PSD!
Embora o cargo tenha importância protocolar - o 1º Vice-presidente, como era o meu caso, é o segundo na linha de sucessão do Presidente da República, pelo que "en cas de malheur", pode ver-se em Belém - ninguém dá muito pela sua existência. Ora, com uma mulher, coisa inédita, a exerce-lo ganhou bastante visibilidade. E, por isso, depois dos meus 4 anos de mandato (1987-1991), o PSD escolheu outra mulher, Leonor Beleza...

 E como foi a primeira presidência?


Foi muito divertido, nem imagina!
O Prof Victor Crespo, que era o Presidente, poderia ter optado por dar solenidade ao momento histórico, anunciando que se fazia substituir pela VP. Mas não: a meio de uma intervenção de Basílio Horta, fez-me apenas um discreto sinal, para tomar o lugar e saiu. E eu lá subi as escadas, e sentei-me na cadeira presidencial, tentando passar despercebida. Bastante satisfeita, devo dizer, por não ter de discursar de improviso. Mas lá estavam, atentas, a Natália Correia e a Helena Roseta e levantaram-se, de imediato, a bater palmas. De seguida, levantou-se o hemiciclo inteiro, numa "estrondosa" ovação. O mais curioso foi ver a expressão do Basílio, espantado por ter suscitado, com uma mera intervenção técnica, uma semelhante reacção... Até que olhou para cima, viu um vulto feminino na presidência, e apaludiu também.
E eu, sem saber, repeti, quase "ipsis verbis" as palavras de Carolina Beatriz Ângelo, quando se tornou a 1ª Mulher portuguesa a votar em eleições nacionais. Também ela teve um "estrondoso" aplauso dos presentes no acto, e por isso usei o adjectivo!
Como ela, disse que aquela ovação não era para mim, era para uma Mulher, que estava num lugar onde há muito as Mulheres deviam ter estado. Não sei exactamente as palavras, mas a ideia era esta.
Dias depois, houve o caso Cicciolina, cuja entrada na sala eu nem sequer tinha autorizado...

CAFÉ des (conserto) comentário

De: Maria Manuela Aguiar
Data: 5 de Fevereiro de 2011 01:34
Assunto: Re: [bloguiar] Novo comentário sobre Café concerto em Café (des)conserto, 5ª feira, dia....
Para: Cândida


Tentei comentar no blogue, mas o texto perdeu-se num buraco negro do
Google. O problema deve ser meu...

Queria dizer que estou totalmente de acordo com o que tão bem escreveu.
Foram momentos mágicos criados por dois génios da nossa música, por
uma "fraternidade de género, de geração e de raro talento", que
pudemos partilhar. Simplesmente irrepetível!
Um abraço

Manuela

abril 13, 2020

2010 TRIBUTO A MARIA ALICE RIBEIRO Toronto

MARIA ALICE RIBEIRO


Há 30 anos raras eram as portuguesas emigradas que tinham voz na sua
comunidade. Maria Alice foi para mim, desde o dia em que a conheci,
uma revelação do que pode ser a liderança no feminino - e no seu
melhor!
Na verdade, muitos anos de convívio confirmaram o que antevi desde
esse encontro inicial, na primeira "missão de serviço" que me levou à
América do Norte: ali estava alguém que tinha infindas reservas de
energia, de coragem, de dedicação à "res publica" e que delas fazia
uso, apaixonadamente, intensamente, no quotidiano de uma das maiores e
mais dinâmicas comunidades lusas à face da terra (como, com ela e com
outros dos seus dirigentes, aprendi que é a de Toronto).
O que a movia? Julgo que era, claramente, o portuguesismo, o
sentimento patriótico, sempre mais desperto no estrangeiro - na
aventura da emigração - a par do inconformismo com as regras, as
práticas e as tradições que desvalorizam o género feminino e lhe
reservam um papel secundário. E, também, as causas que abraçava, com
entusiasmo, tais como: a defesa dos direitos dos imigrantes, e das
mulheres; a defesa da cultura portuguesa na imensa panóplia de
culturas conviventes no Canadá; o propósito de informar, com rigor,
com verdade, sobre o passado e a actualidade de uma Pátria, distante
mas presente; a vontade de dar corpo e alma a uma comunidade, que para
sempre lhe deve parte da dimensão que alcançou - e que não para de
crescer.
Málice, como os amigos lhe chamavam - e por isso a chamo eu assim -
foi um pioneiro da emigração portuguesa em Toronto. Fundou, com o
marido, António Ribeiro, o primeiro jornal de Toronto, escrito - e
muito bem! - na nossa língua. Tornou-o um semanário "de referência" no
mundo português de além fronteiras, e um espaço de vivência de ideias
e de grandes causas. Envolveu-se em inúmeras realizações importantes e
campanhas de mobilização comunitária, porque vivia para a sua própria
família, como para a família mais extensa, a do associativismo, o
núcleo agregador dos emigrantes, que constrói verdadeiras comunidades.
Foi Conselheira eleita do CCP, desde os anos 80 (quando o "Conselho
das Comunidades" era, quase em exclusivo, masculino) e para o CCP
trabalhou, eficiente e incansavelmente, até ao fim dos seus dias,
vencendo a doença enquanto lhe foi possível. Um grande exemplo para os
jovens, para as gerações que farão o futuro!
Maria Alice Ribeiro tem, para sempre, o seu lugar na história do
jornalismo da diáspora, na história das comunidades portuguesas do
nosso tempo.
E, connosco, os que tivemos o privilégio de ser seus amigos e
admiradores, permanece viva na memória e na saudade.





2010 Elizabeth MENSAGEM A MONSENHOR JOÃO ANTÃO



Mensagem
Monsenhor João Antão é uma das mais notáveis personalidades da nossa
Diáspora, no nosso tempo. Reconhecido, igualmente, pelas duas pátrias
em que dividiu a sua vida – Portugal e os EUA.
A sua obra como pároco - como cristão que mobiliza pelo exemplo de
vida, como português de alma e coração, como Homem de pensamento e de
cultura e como Homem de acção - dá bem a medida da sua estatura moral
e intelectual.
A Igreja que refundou em Elizabeth, um dos sinais visíveis e
simbólicos dessa dimensão humana, é uma das mais fraternas e dinâmicas
comunidades e um dos mais belos e grandiosos templos, que a fé dos
Portugueses sustenta nos cinco continentes do mundo. É, naturalmente,
uma modelar organização colectiva, em que são muitos os que se
envolvem no trabalho quotidiano, tão empenhado quanto eficaz, mas que,
na sua origem e desenvolvimento, se fica a dever à visão e, também, à
capacidade de induzir a cooperação de todos, que Monsenhor João Antão
desde sempre demonstrou. Um projecto de missão e de vivência
comunitária, que tem, hoje, seguidores à altura das responsabilidades
de lhe dar continuidade.
As bodas de ouro sacerdotais de Monsenhor Antão, celebradas nesse
Igreja, em que a memória de décadas de dedicação e de partilha do seu
ideal cristão estará inteira, vão ser repassadas de momentos de
emoção, que eu muito quereria, mas não poderei, compartilhar
presencialmente.
Deixo, assim, em simples, breves e sentidas palavras, a minha
homenagem ao insigne Português, que, ao longo destes 50 anos, foi um
exemplo excepcional de generosidade e de tolerância, de inteligência e
de sabedoria, plenamente postos ao serviço de Deus, dos seus
paroquianos, dos seus semelhantes. E ao Emigrante, com a exacta
compreensão dos problemas que é preciso ajudar a resolver em novas
sociedades e da importância de contribuir para as tornar mais abertas
ao valor das diferentes identidades, tradições e crenças dos povos que
as constituem.
Alguém com quem sempre pude contar, no exercício de funções oficiais
ou de voluntariado na área da emigração, e de quem todos muito ainda
esperamos, como militante de grandes causas humanitárias, como guia
espiritual e como amigo.
Bem-haja!
Com o maior respeito, admiração e estima, as felicitações da

2009 Elizabeth Homenagem ao Padre José Manuel Ribeiro



"A maioria dos seus 50 anos de sacerdócio passou-os o Padre José Manuel Ribeiro  Fernandes fora do País, junto dos portugueses da "diáspora".
Conheci-o há quase trinta anos em Caracas e depressa aprendi a admirá-lo não só como sacerdote,  mas também como cidadão atento aos problemas sociais e culturais de uma comunidade à procura de integração em terra estrangeira, empenhado nos seus projectos de desenvolvimento e de entreajuda, que, com ele, ganhavam uma dinâmica imparável! Homem de causas, de princípios, Homem de acção muito concreta e eficaz.
Excepcional nessas duas vertentes  em que se constroi uma sociedade mais tolerante, mais capaz de praticar as virtudes cristãs e de com elas tentar a renovação das mentalidades, das políticas e das estruturas de que a emigração tanto necessita.
Penso, por exemplo, no extraordinário papel que desempenhou como representante da Venezuela no Conselho das Comunidades Portuguesas, um importante orgão de consulta e um forum associativo de reflexão e debate sobre as migrações. Foi aí uma das vozes mais esclarecidas e influentes, porque falava, reconhecidamente, com um saber de experiência feito, com um pragmático idealismo, como, ao longo de vários anos, pude testemunhar.
Em contextos e situações tão diversas, nas paróquias de Aveiro ou nas das nossas comunidades da América Latina e da  América do Norte, o Padre José Manuel foi sempre igual a si próprio - revelando a mesma facilidade de comprender as realidades e as pessoas, de lhes dar apoio, de as incitar ao voluntariado, e de assim levar a cabo iniciativas e obras de grande vulto e de grande mérito. A arte de fazer amigos, de criar com eles um círculo de solidariedade e de empreendimento, era revelada já pelo muito jovem pároco de há quatro ou cinco décadas e continua hoje em dia.
A sua simpatia e alegria de viver, indissociáveis do seu sentido de missão como sacerdote, tornam-no um "emigrante entre emigrantes". Um líder natural, próximo do seu próximo.
Bem-haja, Senhor Padre José Manuel, por ser como é, por continuar verdadeiramente jovem de espírito, dinâmico, moderno, bem informado e à vontade neste novo século, adepto declarado das novas tecnologias, da música, do teatro ou do desporto!
São palavras muito sinceras, que aqui deixo, entre muitas mais que ficam por dizer, nesta data tão especial."
Com a maior  estima e admiração,
Manuela Aguiar
2009 29 nov

novembro 28, 2019

HISTORY OF A LIFE - DR CALOS LEMOS

HISTORY OF A LIFE
Preface
Written in a simple, clear, colloquial language, which engages us from the first page to the last,
this first-person narrative never ceases to amaze and delight us, as it recounts a breathtaking
succession of facts, adventures and encounters with people, in a context of diverse socio-
cultural backgrounds, in faraway locations. It is a distinctive, meteoric life-story that we follow
when we accept the author’s invitation to accompany him on a long journey down the years,
across time and continents, from remote areas in Alto Minho, such as Cousso, Cubalhão, Serra
da Peneda (where an underprivileged little boy would seem to be condemned to grow up and
work in insurmountable isolation), to immense open spaces, horizons he opened for himself
with his non-conformism and his insatiable desire for knowledge, moving on, his feet firmly on
the ground, from place to place, indefatigably, going each time a little further – first in a Portugal
which the New State discourse conceptualised as a national, multi-continental unity, stretching,
under the same flag, “from Minho to Timor.” The young Carlos Lemos will indeed go precisely
from Minho to Timor, crossing the seas, helping to clear virgin woodland on the banks of African
rivers, exploring the coasts of the then Portuguese territories from the Indian to the Pacific
Oceans, crossing borders and participating in the very Portuguese destiny of the migrant, in
faraway southern Africa and Oceania.


“Story of a life,” as he entitles it with characteristic modesty, is a fascinating collection of
tales, confidences, instructive observations and comments of great historical,
anthropological and political interest. The first temptation for the reader is to add some
expressive adjectives: “an exceptional life” or maybe “a fantastic life”!


From the very beginning, from childhood, what is most unusual and amazing is that all the
decisions, so judicious in the end, are his and his alone, after leaving school at an early age and
being left responsible for himself, in difficult jobs, jobs meant for adults, which awaken his
precocity and strength of spirit. And thus, through endless difficulties and challenges, he forged
a character that is independent, honest and tenacious, as well as sensitive and gentle.


In one of his first town jobs, in a popular café in Monção, an elderly, perspicacious
doctor, a regular customer there, unexpectedly tells him: “you are a perfect diplomat!”
That prophetic comment in particular has stayed in my mind because, about four decades
later, when Carlos Lemos organised my first visit to Melbourne, Australia, and I began to
know him better, I did not express (but could well have done) a similar appraisal. Here
was a born diplomat, extremely considerate and pragmatic, qualities that are rarely
found together. Here also was a migrant who was passionate about his native country,
who recognised and expounded the history and values of the Portuguese-speaking world
and promoted the interests of his fellow countrymen—even before he was appointed
honorary consul.


His natural gift for getting close to people (irrespective of their social class, academic
status, ideological tendencies, ethnic origin, age etc.), together with his uncommon
intelligence, explains something that he never mentions: the ease with which, as a
solitary young man, coming from a small rural village, he is accepted into the restricted,
selective circles of the elites of the time, or into social gatherings of students, with whom
he undoubtedly learned to reflect upon and debate all manner of questions.


In his new profession as an assistant surveyor, he happens to have a conversation, in
Cascais, with President Carmona, and he socialises with the President’s grandchildren,
that is, with young people of the upper bourgeoisie. Póvoa de Varzim is his next
destination, a defining moment on the long road that lay ahead of him. He joins groups
of students and graduates. It is then that he decides to resume his studies, completing
five years of high school in one single year!


Later, in Mozambique, he counts among his close friends Paulo Vallada and João Maria
Tudela and, together, they belong to the most exclusive of clubs, the Lourenço Marques
Club. In Johannesburg he is friends with Mary, Henry Oppenheimer’s daughter, and
with Tamara, the ex-bullfighter; in Durban, with Jonathan, Alan Paton’s son, as well as
with Alan Paton himself, who held him in high regard and in whose house he meets
personalities such as Nelson Mandela, Oliver Tambo, Walter Sisulu and Albert Lutuli,
and he has the privilege of being present at countless conversations among them; in
Hong Kong he was friends with Comendador Arnaldo Sales, who, as Mayor of Hong
Kong, was responsible for that city achieving high standards of excellence; in Timor,
with Ruy Cinatti, for whom he had enormous admiration; in Australia, with Kenneth
McIntyre, whose thesis on the Portuguese discovery of that country he defended and
publicised everywhere, from Portugal to Macau, where, thanks to his influence, there is
now a section of the Maritime Museum devoted to that unpublicised discovery and
where McIntyre’s original book on The Secret Discovery of Australia, 250 years before
Captain Cook, has been translated into Portuguese.


These are but a few examples of the many illustrious personalities we become familiar
with in the pages of this book. Among his less common, occasional acquaintances,
Samora Machel stands out (who cared for him as a patient at the Lourenço Marques
Hospital!); there was also, in a troubled Indonesia and during a most improbable
Balinese holiday, his meeting with the celebrity wife of the then Army Chief of Staff,
General Yani. Mrs Yani immediately invited the friendly Lemos couple to interesting
tours around notable sites, to receptions and dinners, and even to a visit to Sukarno’s
summer palace in Bali.


A Portuguese man whom everybody seems to like: Mozambicans, Timorese, Indonesians,
Egyptians, South Africans, Aboriginal people of the Australian desert,  artists, men of
letters and scientists, entrepreneurs, ambassadors, politicians from countless countries.
An impressive, worldwide network of fraternal contacts, who remain friends forever,
whom he cultivates and often meets again during his many travels. How could he possibly
not feel tempted to look back at centuries of history and remember the Portuguese art
of making friends among the peoples of the world? In the twenty-first century, this
Portuguese man assures us that we are still the same people, with the same strong
desire to wander the world which was at the heart of the “golden age” of The Lusiads:
the movement of caravels, men, ideas, and, frequently, also of affections.


In the mid-twentieth century, at little more than 20 years of age, the adventurous Carlos
Lemos, a specialist in topography and hydrography, applied  modern techniques for
surveying land and sea, first in Portugal’s small European rectangle, then in Mozambique,
in the Limpopo Valley on the northern border with South Africa, then in Timor, from
one end of the island to the other, and later, in the Australian desert, where he travelled
34,000 km traversing the Tanami Desert, mapping the territory for subsequent
exploration by the Bureau of Mineral Resources, and inscribing his name as a pioneer in
numerous sparsely populated locations in the central northern parts of Australia. 


As I attempt to write this short preface (no doubt arbitrary and simplified) to his auto
biography, I must add that I consider it a worthy heir in the rich tradition of travel
literature, with a flavour of the sixteenth century, inasmuch as the author goes well
beyond the mere mention of facts and notes on locations of exotic beauty—which also
abound—to give us his appreciation of local customs, social and political conflicts, and
personalities who have left an indelible historical mark. It is the worldview of a cultivated
and cosmopolitan man, a sociologist, an observer of politics, qualities that he displayed
even before completing his university studies in these fields. He had begun those studies
in South Africa, where he met Molly, his future wife, and completed them in Melbourne,
a few years later. Here is an indefatigable “pilgrim in foreign lands” (as Adriano Moreira
would define him), willing to share with his reader a thousand and one vivid
experiences, vicissitudes and sentiments, as well as his sense of humour, which comes
through here and there and is usually aimed at himself as he mentions some
misadventures, chastising himself with great wit.


He married Marion (Molly) Murray, a young woman of British origin with a Masters
degree in psychology, who joined him on the “island at the end of the world”, Timor,
revealing her similar taste for adventure and wandering.  This marriage would, very
soon, lead to the beginning of a “second life” for both of them: the life of migrants, finally
rooted in a new country. Molly’s academic career in Australia would be the stabilising
factor. From then on, this autobiography recounts new career interests pursued by
Carlos Lemos in Melbourne: university lecturer, secondary school teacher, commercial
bank agent, manager. It likewise reveals a new quality: as a leader and the principal
builder of a strong and cohesive community, where before there were only scattered
Portuguese, unknown to their host country. From then on, with his “impetus from
Portugal” (as Fernando Pessoa would say) and his capacity for mobilising people, the
history of the Portuguese in Victoria becomes intimately entwined with his own story,
an example that scholars of the genesis of contemporary migrant communities and of
the Portuguese diaspora should analyse, I would emphasise, as a case study. Indeed,
many Portuguese families were already settled in that Australian state of Victoria, but
they lacked the impetus for coming together. All that changed thanks to the action and
charisma of this “man of causes”. He began with the essentials: he founded a Portuguese
language school (in 1972), a radio program in Portuguese, of which he was the director
and the presenter, a “Committee for Community Activities” (which he chaired between
1976 and 1984), the “Portuguese Community Trust” (in 1983), a cooperative which
aimed to collect funds to establish a worthy community headquarters, a project which,
due to bureaucratic obstacles, was converted into the famous Café Lisboa, a high-quality
Portuguese restaurant in fashionable Fitzroy, near the centre of Melbourne, which
attracted many customers, including academics from the University of Melbourne, and,
as was its initial intent,  provided a space open to community initiatives. Dr Lemos felt
obliged to manage the converted project, making it a great success. This is where he
welcomed many leading figures of the Portuguese-speaking world in their visits to
Australia: Dom Ximenes Belo, Dr Ramos-Horta, Dr Alberto João Jardim, Carlos do Carmo,
writers of the diaspora Vasco Calixto and Marcial Alves, the Secretary of State Correia de
Jesus, Governor Rocha Vieira (through whom a close collaboration with Macau began),
successive ambassadors and consuls from Sydney, and many others. Unforgettable was
the high-profile launch of a CD of music for the children of Timor, personally delivered
by Bishop Hilton Deakin as he stepped out of a helicopter that landed on a plot of land
near Café Lisboa!


Previously, as head of the Committee for Community Activities, Carlos Lemos sponsored
the first festivities of Our Lady of Fátima, with a procession that moved through the
streets of Melbourne and was attended by the Archbishop of the Diocese, Archbishop
Frank Little, the Minister for Immigration, the Consul-General from Sydney and other
leading figures (who naturally had accepted the invitation from a very special friend),
as well as a crowd of thousands of Portuguese who thus gained a profile in Australian
society.


The profile also of his mother country, of its history, its traditions and qualities, which
were very much in evidence in the migrant community, was a major cause that Carlos
Lemos embraced, very actively.  In this connection, we should highlight his promotion of
Australian historian Kenneth McIntyre’s thesis on the unpublicised discovery of
Australia by Portuguese navigators, endorsed in the research of Peter Trickett and
Professor John Moloney (concerning place-names of Portuguese origin shown on
Dutch and French maps, particularly in the Vallard Atlas of 1547). Further, Carlos Lemos
has pursued the search for other links with Australia. First, the fact that Governor
Arthur Phillip, considered the founder of the modern nation, was an officer in the
Portuguese Navy. Second, the fact of the Portuguese nationality of Artur Loureiro, the
great painter from Porto, possibly better remembered nowadays in Melbourne, where
he resided for seventeen years, than in his native country. And third, the Portuguese-
Timorese solidarity extended to Bernard Callinan, an Australian military hero who
commanded the Independent Company during the resistance to the Japanese invaders
of Portuguese Timor during the Second World War, and who was also his friend.


There is, further, one outstanding achievement that I must emphasise, as in itself it would
fully justify the prestigious award that President Sampaio bestowed on him in 2002: his
proposal, eventually realised, to erect a monument on Australian soil commemorating
Portuguese navigators. Many and time-consuming were the negotiations which made
possible the procurement of the perfect location, on a beautiful hilltop against a backdrop
of the vast Southern Ocean, in Warrnambool (where, in the 1800s, numerous eye-witness
es reported sightings of the probable remains of a 16th-century Portuguese caravel), and
subsequently the inauguration of a replica of a Portuguese Padrão in the presence of the
highest representative of the State, the Governor of Victoria, together with other
dignitaries, including the Portuguese Ambassador, Ministers, Members of Parliament,
Kenneth McIntyre, a huge number of onlookers, and, last but not least, an enormous
media contingent. Warrnambool has since become a place of homage to the history
and presence of Portugal. The annual (now biennial) Portuguese Festival attracts
hundreds of Portuguese to the monument, which has been enhanced since the
inauguration of the Padrao by the installation of busts of Henry the Navigator and
Vasco da Gama, both gifts, at Carlos Lemos’ suggestion, from the last Governor of Macau.
This too received very extensive media coverage, which brought Portugal yet again into
the spotlight.


In which other countries or continents, among those we know were, without publicity,
discovered by the Portuguese, has Portuguese diplomacy ever achieved anything similar?
Clearly, nowhere else.


This is, thus, a splendid and unique achievement, crowning a trajectory of advocacy
for Portuguese people and values before governments of one country or another: a
lucid and courageous involvement in the domains of migration and the Portuguese-
speaking world, international politics, with very active participation in forums and world
congresses of the diaspora, with a voice that cries out forthrightly against the negativity
of historians who reject plausible theses proposing Portuguese greatness, against the
mediocrity of politicians and public servants, against injustice and intolerance.


A final word of thanks to Dr Carlos Lemos for his friendship and his precious
collaboration
over the decades in the fight for Portuguese migrants and for the Timorese. I also
declare to him, both as Man and as Portuguese, my admiration for the way in which
he has imbued his ever-dynamic life with a humanistic and fraternal spirit.


[Photo of Manuela Aguiar]


Manuela Aguiar
Ex-Secretary of State for the Portuguese Communities
Ex-Vice President of the Portuguese Parliament

Ex-Member of the Portuguese Parliament