maio 09, 2009

Mil e uma maneiras de fazer política.

A política, definida como "a ciência ou a arte de governar os Povos e as Nações" tende a ser vista como um privilégio ou exclusivo das mulheres e dos homens que ocupam cargos políticos .
Todavia, só assim é em regimes autoritários ou ditaduras, que se caracterizam pela concentração do poder de decisão nas mãos dos chefes e do grupo fechado dos seus seguidores, com exclusão, quando não mesmo perseguição, de quem pensa de maneira diferente.
Em democracia - palavra grega, que significa "poder do povo" - a política é para todos!
Todos são chamados a intervir na discussão de ideias e de projectos e na escolha eleitoral dos seus representantes nos orgãos de poder.
Quem ganha, governa, para levar a cabo o programa apoiado pela maioria, e deve cumpri-lo com a consciência de que presta um serviço aos concidadãos, sendo, simplesmente, alguém que age em nome deles, preparado para renunciar à sua anterior vida de trabalho, em regra, mais tranquilo, e de maior convívio com a família e os amigos.
Quem perde, tem outro papel importante a desempenhar, sobretudo através de críticas inteligentes e construtivas, que levem à reflexão e ao esclarecimento de determinados aspectos da execução dos programas e da feitura das leis. E, evidentemente, à apresentação de proposta alternativas, como forma de preparar a eleição seguinte, com a esperança de ganhar, prometendo e tentando fazer melhor do que os antecessores.
Assim é, idealmente, embora na política, como em quaiquer outras actividades humanas, as pessoas contem muito, com as suas qualidades próprias, para lhe dar seriedade e competência - e umas dão mais do que outras ...
Em qualquer caso, a democracia vai permitindo o julgamento das decisões e actuações concretas, e a renovação dos políticos e das opções, numa incessante procura da "mudança para melhor", em liberdade, em diálogo - com a formação de associações, de correntes de opinião, de movimentos de cidadãos, e dos modernos meios de informação, cada vez mais interactivos e acessiveis à generalidade das populações, mesmo as que se encontram em terras distantes eisoladas ou, até, no estrangeiro ( os emigrantes portugueses têm, hoje, depois de muito o reivindicarem, o direito de voto nas eleições para o Chefe de Estado, para a Assembleia da República, para o Parlamento Europeu e para alguns referendos).
A política é, nesta visão das coisas, o lugar de encontro das pessoas para a acção colectiva, o terreno para o exercício da cidadania, tanto pelos titulares de funções públicas, como para os demais, os independentes, os seus apoiantes ou os opositores, por igual.
Há muitas maneiras de viver a cidadania, muitos objectivos por cumprir, à espera de nós, do nosso particular interesse e conhecimento, desde logo porque a própria acção política se estende e se reparte por uma multiplicidade de domínios. Por exemplo, o das relações internacionais e da paz, o da ajuda a países em desenvolvimento, o da regionalização, o da defesa do ambiente e do mar, o da protecção dos animais, o do desporto, o do ensino, o dos direitos das mulheres e dos imigrantes.
Apesar da sua importância, nem todos nos atraem da mesma maneira, em função das nossas preocupações e experiências pessoais, e, por isso, convém começar pelos que despertam o nosso entusiamo.
Como afirmava um antigo Primeiro Ministro português do séculoXX , a política deve ter uma componente "ética" e uma componente "lúdica," porque, sem valores morais, a política é uma "vergonha", sem alegria e emoção é uma "maçada".
Por palavras que não eram exactamente estas, ensina-nos que a política deve ser feita "por bem e por gosto"!
Nem sempre o foi, e nem sempre o é. Mas é essencial que seja, cada vez mais!
A qualidade da política é, como disse, a consequência directa da qualidade das pessoas que lhe dão rosto.
Quem se acha capaz de conseguir realizar mais do que os que estão, em cada momento, nas chamadas "cadeiras do poder", não deve limitar-se a dizer mal de tudo e de todos - deve, sim, avançar, aderir a movimentos cívicos ou a partidos, e oferecer à comunidade, à terra a que pertence, a sua vontade de trabalhar para elas.
Caberá aos jovens mostrar que a sua geração é melhor do que a anterior: mais exigente, mais culta e, sobretudo, mais humanista. Porventura, também, mais habilitada a utilizar novas tecnologias da informação e da comunicação, como a "net", "sites" e blogues, que são um esplêndido instrumento de democratização do saber e de expressão das idéias e sugestões individuais, ou de iniciativas colectivas, ajudando a expansão do associativismo, de campanhas de opinião e movimentos sociais.
Ter voz é ter poder!
Poder para dar solução aos problemas conctretos da pessoas e da sociedade e para recriar, pelo pensamento, pela acção, um País desenvolvido e justo, com mais oportunidades para todos, mulheres e homens, jovens ou idosos, nacionais ou estrangeiros.
O Poder ao serviço da Política, com letra grande, no seu sentido mais nobre.

maio 07, 2009

Com toda a injustiça...

Inacreditável o desfecho da meia final da "Champions" que opôs o Barça e o Chelsea!
Primeira observação: no conjunto dos dois jogos, nenhum mereceu ganhar!
O s londrinos, porque em Barcelona tiveram uma atitude de "team" menor, remetidos à defesa no seu meio campo - muito eficaz, é verdade - como fazem no "Dragão"os clubes de terceira categoria, a sonhar com um empate. O mais que se pode dizer, em seu favor, é que realizaram esse sonho, com um "zero a zero", para o qual contribuiu um espantoso Bosingwa, inesperadamente, a mostrar como se "seca" o melhor jogador do mundo (segundo José Mourinho)...
Muito elogiado foi Hiddink, o treinador do Chelsea, pela sua visão táctica. É coisa em que é mestre, sem dúvida, mas matando o espectáculo.
Os catalães, em Londres, embora com a "atitude", que nunca lhes falta, com um avassalador domínio, em percentagem de posse de bola, foram, ainda assim, a viva imagem do fracasso, a provar que as estastíscas podem mentir. A perder desde o início, em 92 minutos, não conseguiram criar um lance de perigo, nem obrigar Cech a uma defesa ! Messi andava por lá, como fosse outro qualquer, apesar de alguns passes preciosos, sempre desperdiçados pelo destinatário, excepto um, ao 92º minuto - que, no futebol é a 25ª hora. Passe magnífico de Messi. Remate imparável de Iniesta e golo!... Empate a 1-1, o bastante para a qualificação.
Pelo meio uma arbitragem , que se esqueceu de marcar mais do que uma grande penalidade contra o Barça. E várias perdidas arrepiantes de Drogba, e companhia, em estonteantes contra-ataques.
Com o Chelsea sempre mais perto de marcar, de novo, quem imaginaria o dramático volte-face? Julgo que nem Guardiola, nem o mais ferrenho adepto catalão. Só mesmo um português, que estava meu lado, na Casa do FCP de Espinho - o presidente da Casa - que nunca perdeu a fé, ou o que quer que fosse... - e dizia, quase provocatoriamente, de vez em quando: "Quem se vai qualificar é o Barcelona!" .
Ainda repetia o vaticínio em pleno prolongamento e não ficou nada surpreendido por ter acertado.
Eu não consegui ficar nem triste, nem contente. Neutralidade total, facto jamais visto.

Cada equipa merecia ter perdido um dos jogos...
E não havia factores sentimentais ou afectivos de peso , a influenciar o julgamento ou a emoção:
Porque não jogam, há muito, pelos "blues" de Guus Hiddink, nem Deco, nem Ricardo Carvalho, e, muito menos, Paulo Ferreira... Nada mais difícil a uma estrela naccional do que triunfar com treinadores "made in Holland", pelo menos no estrangeiro. Foi um holandês que cortou os voos de Vitor Baía à frente da baliza do Barça, e, mais tarde, um outro (e amigo do primeiro), que pôs um prematuro fim à carreira do melhor guarda redes português que vi jogar em toda a minha vida...
Este "Chelsea - Países Baixos" não me motiva...
E este "Barça - Guardiola" já não tem nada de "português". ..Para mim tem, sim , o encanto argentino de Messi.
Mas nesta particular eliminatória, não houve Messi que se visse.

Na outra meia final, tudo normal. Tão fácil foi ao Manchester United dominar, por duas vezes, o Arsenal, quão difícil e injusto fora afastar o FCP no round anterior!...
Olhamos para estas super equipas e achamos que, por verdade desportiva e justiça, quem mais merecia estar na final e vencê-la era o nosso Porto.

maio 03, 2009

Política e cidadania - falar aos jovens

Falar de política aos mais jovens, no início de um ciclo de conferências com o aquele tema, na Escola Domingos Capela não me parecia tarefa fácil.
Nos dias antecedentes, andei a pensar como abordar a questão com um público tão diferente do habitual. Partia do pressuposto reconfortante de que teria pela frente turmas dos últimos anos. Surpresa! Eram as do 5º e 6º ano, na nomenclatura actual. No meu tempo, os que tinham acabado, há pouco, a 4ªclasse!...
Como sempre, monologuei mais do que inicialmente previa, mas ainda houve tempo para perguntas, e muitas perguntas - e bem perspicazes algumas... Mais surpresas!
O que lhes terei dito, exactamente, não sei, mas foi, mais ou menos, isto:

A política como "ciência ou arte de governar os Povos ou as Nações" é, frequentemente, ainda hoje, vista como um exclusivo das mulheres ou homens, que ocupam cargos políticos.
Ao longo da História, política e poder pessoal foram, muitas vezes, considerados uma e a mesma coisa. O poder era conquistado e mantido pela força, pelo medo e pela violência, com parcialidade e com injustiça , favorecendo os amigos e escravizando ou maltratando os inimigos. Ai dos vencidos!...
Mas, no seu sentido mais nobre, a arte - ou ciência - da política é a escolha dos melhores programas de acção e dos meios de os pôr em prática.
E quem deve fazer essa escolha?
Em regimes autoritários, são os chefes, os que , de alto a baixo, conquistaram e mantêm, nas suas mãos, o poder, para si e para uma hierarquia de"fiéis".
Em regimes democráticos, somos todos nós. Democracia significa, precisamente, o "poder do povo"! O poder de intervir e de decidir no campo da política.
As vitórias ganham-se em eleições. A autoridade exerce-se em representação do eleitores e para o interesse geral. Quem decide é a maioria, através do voto, periodicamente, com a possibilidade de pôr, na eleição seguinte, caras novas no lugar de quem se saiu mal, e não cumpriu promessas feitas em campanhas eleitorais.

É certo que nem todos contribuem da mesma maneira. Os responsáveis por cargos Estado são os que têm mais visibilidade, os que ocupam a "cena política", mas precisam, por um lado, de uma organização - a administração pública, que é tanto melhor quanto menos dependente fôr dos próprios políticos ou dos seus partidos, para lhes dar pareceres e conselhos, sem o temor de perder o emprego - e, por outro, de um Povo livre, bem informado, que saiba o que quer, fale sem medo e vote bem.
O voto é um instrumento para continuar ou mudar de políticas, mas há muitas outras maneiras de intervir nas grandes decisões: em movimentos cívicos , em associações, em grupos para defesa de interesses. em rádios, jornais, televisões, ou nos novos e fantásticos meios de comunicação, ao alcance de todos, na internet, nos blogues ... Os próprios políticos, procuram agora contactar-nos através desses novos meios - caso de Obama, que soube usar a Net, como ninguém, antes dele, para se aproximar das pessoas.
Mais proximidade, mais acesso aos políticos, mais partilha de sugestões, de ideias, tudo isto são aberturas do nosso tempo para fazer política, mais democraticamente, com mais gente envolvida.
Fazer política é escolher, é ter voz! É ser ouvido!
Eu nunca quis lugares políticos, mas sempre fui lutadora, sempre achei que as mulheres deviam ter o direito de participar activamente, como os homens, na política e, um dia, há muitos anos , um primeiro-ministro disse-me: "Se acha que deve ser assim, venha para o governo, dê o exemplo!".
E eu fui. E não me arrependi.
Quando nos batemos por causas, sentimos a mesma vontade de trabalhar, dentro ou fora de uma instituição pública. Com a certeza de que ,dentro, não nos tornamos mais ou menos do que os outros, os que nos convidaram, ou nos elegeram para os representar. Somos iguais, cidadãos como os outros, mas estamos "de serviço", pondo em prática programas e soluções, como se espera de nós. O resultado, regra geral, depende da capacidade de mobilização e de resposta, em massa, dos cidadãos anónimos.
Há que entender qual é a parte deles e qual é a dos governantes. Todos preparados para trabalhar muito, e em conjunto.
Um Povo mais sensível aos valores da cidadania, e mais culto, prepara-se na Escola.
Ao Povo pertencem tanto os que, em determinado momento, aceitam cargos políticos, mulheres e homens, como os que desempenham quaisquer outras tarefas, nas escolas, nos hospitais, nos campos, nas fábricas e comércios, nos tribunais, nas associações, no desporto, na ciência, na cultura ...
A capacidade de transformar a sociedade em que vivemos, que é a principal finalidade da política, aumenta, sem dúvida, com uma melhor formação escolar, académica e, sobretudo, moral. É da mesma reserva, do mesmo viveiro, que saem os que ocupam, ou não, cargos políticos! Interagindo uns com os outros, com dinamismo, entusiamo, espírito cívico e solidariedade.
A política é, um espaço de encontro entre todos, uma via para caminhar.



Uma mensagem simples.
Com algumas citações à mistura - de Obama e Hillary, ( relembrando movimentos de antiesclavagismo e de feminismo), de Mrs. Pankhurst, de Kennedy, de José Estevão ( para o que a política não deve ser: "O meu programa são os meus amigos. O meu programa é o poder mesmo"...).
Deveria ter acabado, mas não acabei, com Sá Carneiro: "A política sem o lado ético é uma vergonha e sem o lado lúdico é uma maçada".
Mas evitei as citações de políticos portugueses contemporâneos. Estamos demasiadamente próximos de eleições.

abril 29, 2009

Dragão com cinco anos

O Dragão nasceu em 29 de Abril de 2004.
O acontecimento esperava-se a todo o tempo. A gatinha Tita, era demasiado nova - tinha meses... - e é muito pequenina, ainda hoje e em definitivo... Parecia um caso de risco.
O nosso amigo Paulo Tavares, veterinário de vocação, acompanhava-a de perto, e recomendou que o chamassemos, logo que o parto tivesse início.
Por acaso, nessa noite de 29, participavamos na inauguração de uma exposição do Pintor José Tavares, pai do Paulo. Uma bela exposição!
A meio, fomos informados de que chegara a hora. A hora do Dragão!
O Paulo, com a Teresinha e a minha Mâe, como ajudantes, trataram de tudo, na perfeição. Dentro de pouco tempo, podiamos dizer que "mãe e filho se encontravam bem".
A Tita é muito ajuizada. Foi uma progenitora exemplar.
Ainda agora, ao contrário da gata Seta, que odeia toda a descendência - 3 formosos gatões - se dá bem com o seu menino, como uma companheira de brincadeiras.
Este é um gato mais pequeno e magro do que os outros. Mas impõe respeito, manda nos maiores, é um líder e um génio. Bonito, elegante! Parece que anda de fato de cerimónia escuro, com camisa, luvas e polainitos brancos....
Em focinho preto, longuíssimos bigodes brancos!








abril 28, 2009

Um mau momento de um bom caracter

Pepe, viva imagem do desespero, por um momento fora de si, avança chutando em frente bola e adversário, adversário e bola. Sem particular violência, sem lhe provocar lesão ou dano, para além da surpresa e do susto. Uma cena disparatada, incrível, de criança grande, que , dadas certas circunstâncias, todos somos, de vez em quando.
Lembrei-me do Bruno Vale, há alguns anos, quando, numa situação de semelhante descontrolo emocional, pontapeou não um adversário, mas o poste da baliza, que defendia.
Sorte sua ter partido, apenas, os dedos do pé, sem perseguição mediática nem pública condenação, embora isso lhe tenha custado a presença no banco da selecção...
Face ao que aconteceu, seguidamente, a um e a outro, eu preferia, sem hesitação, cair no destempêro de Bruno, e não tanto pela qualidade do acto em si, que, num e noutro caso, revela tudo, menos maldade, mas pela censura desmesurada que se abateu sobre Pepe.
Não entendem esses moralistas, que, rasgam as vestes da indignação, invocando o facto do jogador português do Real Madrid ter dado um mau exemplo a todos os jovens, que são eles próprios os causadores do impacto, estupidadamente ampliado, desse "mau exemplo" ao mostrar, repetindo mil vezes, a despropósito, as imagens do infeliz episódio?
Passa-las em directo, com certeza que sim. Depois, porventura, uma vez mais, à guisa de comentário, ainda se pode aceitar. Mas três, quatro, cinco, dez vezes? Sei lá eu quantas!...
Sensacionalismo sórdido!
Por mim, acho que esses implacáveis juízes , os espanhois primeiro (com uma ponta mal disfarçada de xenofobia, não?) depois muitos portugueses (quiçá, pela mesmíssima razão - porque Pepe é brasileiro de origem e nunca o aceitaram, de bom grado, na equipa nacional...) estão a tentar fazer-lhe coisa muito pior do que ele fez ao Casquero do Getafe.
Violência não física, mas psíquica. Não involuntária - e, por isso, desculpável - mas intencional e, por isso, sem perdão...
E a propósito de intencionalidade, o que não deve admitir-se, e merecia mais de 10 jogos de suspensão, são agressões escandalosas, e a sangue frio, como as que vitimaram jogadores decisivos, pedras-chave das suas equipas, Anderson, Petr Cech , Pedro Mendes ou, há poucos dias, Hulk, entre tantos outros...

abril 25, 2009

Quotas contra quotas

I- Muitas são os cidadãos - mulheres e homens - que se manifestam contra a "Lei da Paridade" e o seu instrumento operativo, a previsão de quotas para o sexo subrepresentado nos diversos cargos políticos. São os que ainda acreditam que, no interior dos partidos políticos, as escolhas se fazem, por "mérito" e que basta, por via de regra, o mérito para se ser escolhido, independentemente do sexo...
Foi com argumentos desta ordem que o PR vetou uma mais impositiva versão original da Lei (se bem se lembram, o seu primeiro veto!)
O mérito!
Em anos e anos de militância partidária - coisa do meu passado, definitivamente passado, mas nem por isso esquecido nos seus ensinamentos - não vi ninguém promovido a candidato por puro "mérito" , desacompanhado de outros atributos ou qualidades, tais como a activa militância em facções, a amizade ou fidelidade aos "poderosos" (num mundo, onde o poder é masculino) ou a popularidade alcançada, não raro, em domínios que não qualificam para este tipo de serviço à "res publica" .
O recente processo de selecção para a lista "europeia" do PPD/PSD, que foi mais tardio e mediatizado do que os dos outros partidos, exemplifica particularmente bem a minha tese.
Como se tornou público, no "sobe e desce" na escala dos potencialmente elegíveis, determinante acabou por ser, em toda a linha, a "força das armas" (no sentido das armas adequadas aa combate de que se trata) ou, se preferirem, as afinidades e ligações partidárias de cada um.
Reconhecida competência deu o segundo lugar ao único "sobrevivente" do mandato cessante, Carlos Coelho, mas a verdade é que também não lhe falta suporte das cúpulas do PSD - porque se faltasse não continuaria, de pouco lhe valendo todas as suas iniciativas e dinamismo.
O critério partidário dominante tende a premiar fidelidades (escolhendo "one of us", como diria Thatcher) não a procurar, desinteressadamente, os "melhores". A palavra-chave é "alinhamento" , seja em grupos maioritários ou minoritários , visto que estes também têm a sua"quota", mais ou menos proporcional à dimensão ou peso político estimado.
Não quero com isto dizer que não possam coincidir dois critérios ou duas lógicas, juntando-se, então, o útil ao agradável - ou seja, a excelência ao "companheirismo" . Há gente capaz dentro de todos os partidos, mulheres e homens - com certeza que há ! O problema é que, tanto entre os melhores, como entre os piores, são muito mais os homens do que as mulheres, e não pela boa razão, que só poderia ser o valor individual...


II- Vamos, então, passar ao arriscado exercício de sopesar as questões de "mérito relativo", na hierarquização da lista proposta pelo Partido Social Democrata.
Em primeiro, o nome de Paulo Rangel, a meu ver, não se discute - é muito bom, como o seria Marques Mendes, e, francamente, de momento não vislumbro mulheres com melhor perfil para a missão.
Em segundo, o já referido Carlos Coelho, com provas dadas, embora não o deslustrasse vir atrás da antiga Ministra da Ciência, de Durão Barroso, que ocupa a terceira posição, em obediência aos ditâmes da Lei...
Em quarto, Mário David, com experiência na área internacional (e também, por sinal, muito próximo de Barroso). Aceita-se, nesse ou outro lugar.
E em quinto? Bem, o quinto é a "quota" da poderosa Região Autónoma da Madeira. É, nas palavras do "Correio da Manhã", " o desconhecido Nuno Teixeira". Sem mais comentários...
Em sexto, dupla quota: a quota da paridade e a quota dos Açores.
A acreditar no relato dos jornais (no plural, note-se...), para conseguir um lugar elegível, o PSD-Açores terá substiuido o seu anterior deputado por uma mulher, assim aproveitando uma oportunidade de posicionamento aberta pela nova regulamentação. Maria do Céu Patrão Neves é professora catedrática de Ética, na Universidade dos Açores - uma indigitação prestigiante para o conjunto dos candidatos, que até ficaria bem lá mais acima...
Em sétimo , Regina Bastos, uma antiga deputada da Assembleia da República e, também, antiga deputada do Parlamento Europeu. Com "curriculum" de sobra .. . Não entrou pela regra da paridade, que a relegaria para a nona posição - de duvidosa elegibilidade - mas, como quase todos os colegas do género masculino, pela "quota da distrital" (de Aveiro). É esse o caso dos "representantes" da distrital de Braga, um autarca, colocado em oitavo, e da JSD, em nono...
Indiscutível, felizmente, a qualidade das três senhoras - todas acima da média!
Nem seria preciso tanto :bastava a "igualdade de competências", que, na minha óptica, é, sempre, o pressuposto ético das leis da paridade.
A sua aplicação correcta depende, pois, das escolhas em concreto... Excelentes, porventura a exceder expectativas, as do PSD, neste primeiro teste de aplicação de uma lei mal amada.
Piores, as do PS, paladino da "paridade à portuguesa": entre os nove primeiros titulares, inclui apenas três mulheres, duas das quais já são candidatas à presidência de Câmaras. Se vencerem, terão homens como substitutos. E, assim, veremos o próprio partido-legislador (autor, proponente, votante) defraudar os objectivos da sua lei...
Dos maiores partidos, o único que se limita ao cumprimento dos "mínimos legais" é, precisamente, o PS. Estranho! Ou talvez não, se olharmos a composição tão pouco paritária do Governo Sócrates, que fica, neste aspecto, àquem do de Durão Barroso, para não falar sequer dos governos em perfeito equilíbrio de género de Zapatero ou de Sarkozy.
O PSD, opositor declarado da legislação da paridade, na hora da verdade, não hesitou em demonstrar que, por sinal, não lhe faltam candidatas de mérito para preencher quotas (em conjugação com outras variantes de quotas - as que não são vistas como tal...).
Com isso ,na prática, e contra os argumentos teóricos da esmagadora maioria dos seus dirigentes revela, afinal, que a Lei da Paridade serve a Constituição, a República e a Democracia.

Revolução! - disse a Tia Lola

Ninguém, na família, se levanta mais cedo do que a Tia Lola.
Antes das 8.00, já ela costumava estar, de jornal na mão, a tomar o pequeno almoço, no Café. Pelo puro prazer de madrugar, porque não tinha trabalho fora de casa, e em casa, praticamente, também não.
Imagino a satisfação que lhe deu, nesse dia 25 de Abril de 1974, o facto de ter um bom pretexto para acordar toda a gente.
Não sei se fui das primeiras a ouvir o toque do telefone. Sei que era cedíssimo, e lembro-me da conversa, como se fosse hoje. A Tia estava excitadíssima. Via-se bem que a perspectiva a entusiamava, mesmo antes de saber exactamente onde as coisas iriam parar: "Manela, há uma revolução das Forças Armadas, aqui no Rossio. O melhor é ires já ao supermercado comprar o essencial para os próximos dias, porque deve fechar o comércio todo. E não saias daí - é o que os militares estão a pedir, na rádio".
E eu assim fiz. Muito me arrependo! A Tia estava na "baixa", no centro dos acontecimentos, a dar bons conselhos aos outros. Eu devia era ter ido ter com ela, deixando, tranquilamente, na quietude do meu apartamento, e na companhia das simpáticas vizinhas, a Maria Póvoas, já idosa demais para aventuras de rua, e a Endora, uma jovem e fogosa "Serra de Aire" .
Perdi essa oportunidade histórica, e desperdicei tempo a fazer compras inúteis de conservas, de bolachas, de fruta e de comida de cão - as lojas não fecharam, nunca - e, seguidamente, a ouvir e a gravar as emissões de rádio o dia inteiro. Música que, ainda hoje, me empolga. E, ao fim da noite, o anúncio de que o General Spínola, o do lido e relido "Portugal e o Futuro", estava à frente da Junta de Salvação Nacional. Uma revolução à medida dos meus sonhos. Pelo menos durante uns meses - até fins de Setembro. E, depois de algumas peripécias, com um fim feliz.
Em qualquer caso, achava e acho que teria valido a pena pagar um preço alto - mesmo que tivesse sido muito mais alto do que acabou sendo - para pôr termo à ditatura acabrunhante em que vivíamos.
Tal Tia Lola, tal sobrinha, para mim, qualquer movimento era preferível a águas paradas, que não levavam a lado nenhum...
Nesse 25 de Abril, saí para compras, apenas na Av. Uruguai: de manhã, provisões do ramo alimentar, no supermercado do meu prédio, e, de tarde, um disco grande, uma espécie de "souvenir", na Livraria Ulmeiro - "As cantigas de Maio" de Zeca Afonso. Como não tinha dinheiro vivo, a dona da livraria não só mo vendeu "fiado", como me emprestou uns contos de reis, para sobreviver até à abertura dos bancos - que, por acaso, foi logo no dia seguinte. Lá voltei a pagar a dívida, e a conversar sobre a revolução, que era tema único de conversas.

abril 09, 2009

Mulheres na Emigração - em mudança...

Releio uma declaração política feita num Forum Internacional, em Marselha, há mais de um quarto de século. E já não estou em plena concordância com o seu teor. Muidei eu de perspectiva e de opinião? Mudaram as mulheres, de quem se falava? ou já tinham até mudado, sem que fosse perceptível a verdade inteira das suas situações?
Quanto ao FORUM:
Fomos convidadas, a Teresa Costa Macedo, então Secretária de Estado da Família, a Maria João Sande Lemos, dirigente do PSD - e, provavelmente, o elo de ligação a entidade organizadora, uma "internacional" feminina de uma área centro -direita, e de maioria latino-americana, se a minha lembrança das coisas, já bastante vaga, está correcta... - e eu própria, Secretária de Estado da Emigração e das Comunidades Portuguesas.
Disse as palavras, que abaixo reproduzo, no documento original, tratando a dupla discriminação das mulheres migrantes, como sendo uma regra geral -fenómeno que hoje vejo com outros olhos.... Depende muito das circunstâncias, e até das mulheres!
No caso das portuguesas, a emigração, mesmo com todos os obstáculos e dificuldades, acabou por ser, na maioria dos países e continentes, a começar pela Europa, um verdadeiro "caminho de libertaçâo" (de preconceitos, de dependências familiares...).

Voilà:

março 12, 2009

DOCAS - Falar com as cores

DOCAS é uma reformada exemplar.

Vejam só no que ela gasta o "tempo livre"!
Anda muito ocupada. Trata dos doentes da família Aguiar, quando os há.
Na falta de sinistros, vai a exposições, faz "footing" (pelo menos quando está de visita em Espinho, à beira-mar) , vê "O eixo do mal", etc ,e escreve no blog da nosso "Círculo", com uma graça natural.
Mas, sendo parca (e um pouco disléxica...) a falar, resolveu "falar com os pincéis" e dar-nos quadros em acrílico, que têm sido disputadíssimos entre os seus próximos (é de aproveitar, antes do lançamento num círculo mais alargado...).
Vai criar o seu próprio blog, mas autorizou-me a mostrar aqui, em 1ª mão, a nova "colecção". Ainda sem nome nome... O nome, para já é segredo...






















fevereiro 09, 2009

Bye bye, Scolari

Scolari nunca me convenceu.
Perdemos os anos todos que ele esteve à frente da Selecção, do primeiro ao último, sem promover novos valores, sem formar um conjunto ofensivo, corajoso, pronto a bater-se, de igual para igual, com qualquer equipa do mundo.
Aquelas contas de mercearia no apuramento para o "Mundial" só podiam dar em frustração - vamos ganhar em casa, para podermos empatar ou perder fora, porque precisamos de "X" pontos para atingir o objectivo... não é necessário mais... Depois, claro, começámos por empatar a torto e a direito, dentro ou fora, porque não é assim que se geram as chamadas "dinâmicas de vitória". Fomos salvos pela inépcia das outras equipas, que conseguiram perder e empatar mais do que nós! Um grupo desgraçado, mas providencial.
Nenhum verdadeiro Portista suporta a petulância, o paternalismo sonso do Sr Scolari. Temos sobejas razões de queixa, mas não é por isso que o homem nunca me convenceu. É porque não presta mesmo!
Ao contrário da maioria dos altos especialistas do nosso futebol, não esqueci o interregno, que acabou com a chegada de Scolari, e fora preenchido por um modesto treinador português, um tal prof. Oliveira. Durante esse período, ele ensaiou vários esquemas tácticos, ele convocou numerosos jogadores jovens , sem a preocupação essencial de ganhar no imediato, para melhor preparar as vitórias futuras. E que bem jogava a sua equipa (ou as suas sucessivas equipas)!
O último triunfo foi sobre a Suécia, na Suécia (3-1, salvo erro). Portugal entrava em campo como o natural provável vencedor, com confiança, com alegria, e saía com os três pontos. Dando espectáculo. Um português, que acreditava nos portugueses...
Com Scolari foi o que se viu.
As embirrações, as manias, os impasses... E, em pano de fundo, a convicção de que tinha "aterrado" num país terceiro mundista, em termos de futebol.
Começou o Europeu caseiro a perder, e, depois, por puro medo do descalabro prenunciado, aceitou o que todas as cabeças sensatas aconselhavam, e foi buscar, pronto e perfeito, o núcleo da equipa de José Mourinho - com a excepção do guarda redes, erro fatal que lhe custou o título...
(há alguém que acredite num FCP campeão da Europa com um Keeper medíocre, como o "protegé" de Scolari?).
A seguir, foi o plano inclinado... Aquilo que, realmente, previsivelmente, está ao alcance de um "canastrão", de um tipo como ele, preguiçoso e antiquado - até porque todos os preguiçosos tendem a desactualizar-se, não?
O "dream team" de Mourinho dispersou-se, envelheceu...
Ficou o desconcerto de um malabarista que só brilha quando um génio, no apogeu da forma física, como Ronaldinho Gaúcho, pelo Brasil, ou Deco, por Portugal, resolve as coisas por si e pelos outros ...ou, se preferirem , com os outros.
Bom, no Chelsea, durou 7 meses.
Muito mais do que eu esperava.
Em qualquer clube europeu com pretensões, não lhe dava mais do que 7 semanas.
E no Chelsea, ainda menos...

janeiro 28, 2009

janeiro 19, 2009

O alerta do Cardeal

O alerta do Cardeal Patriarca de Lisboa às jovens com quem dialogava, em ambiente descontraído, para que pensassem bem antes de casar com muçulmanos, foi, como é evidente, politicamente incorrecto. Mas, à partida, ser politicamente incorrecto é de bom augúrio.
E é a coisa mais cristã possível, visto que todos os exemplos de vida de Cristo são isso mesmo. Desde a expulsão dos vendilhões do Templo até ao Calvário.

O Cardeal teve de suportar uma grande variedade de críticas, ás quais, que eu saiba, não respondeu - e fez muito bem!
Entre todos, uns , especialmente imbecis, diziam que, para ser justo, também devia ter desaconselhado o casamento dos rapazes com muçulmanas - como se o principal problema não fosse a "capitis diminutio" da mulher perante o homem, e ainda mais, da mulher casada perante o marido - autêntico"dono e senhor" dela e dos filhos nascidos do matrimónio, na ordem jurídica dos países seguidores da lei religiosa (a "sharia"). Para esta escola de pensamento, laicismo, democracia, igualdade de direitos são obrigatórios só no "nosso" mundo. Francamente, acho a complacência, face ao desrespeito daqueles valores em outras culturas, um acabado exemplo de racismo ou coisa semelhante.

Aliás, se o Cardeal tivesse, de facto, combatido, pura e simplesmente a união entre crentes de diferentes religiões, sobretudo entre cristãos e muçulmanos, mostraria, aí, sim, uma faceta nova e menos tolerante da sua personalidade, que nos habituámos a considerar aberta e ecuménica.

Ele estava, na minha óptica, a abordar uma questão actual e pertinente, que os bispos, tal como os políticos portugueses, sempre marginalizaram, e ainda não aprenderam a tratar com a devida seriedade - a questão de "género", na vertente das doutrinas e das práticas religiosas.

Bem mais aceitáveis foram outras linhas de argumentação, entre as quais:

A de que se não deve generalizar, falando, sem mais, de "muçulmanos", como se fossem um todo, coeso e uniforme, quando não são. Nem as pessoas, nem os Países. Há, de facto, no plano individual, muçulmanos que são bons maridos e bons pais, diga o que disser a lei que os rege. E há Estados, como a Síria, a Turquia, ou o Iraque do tempo de Saddam Hussein, que são exemplos de Estados laicos. E há mais!

Ou a de que, também em Portugal, muitas jovens se arriscam a ser vítimas de violência doméstica , até de morrer às mãos dos maridos... (acrescentando que uma generalização apressada levaria uma qualquer autoridade estrangeira a recomendar às raparigas do seu país " muito cuidado antes de casar com um português. "Vejam lá o sarilho em que se metem...". Um português, mais ou menos cristão!
Temos de convir: a probabilidade de uma respeitável esposa ser agredida pelo legítimo cônjuge, em terra de brandos costumes, não é negligenciável!
Esperemos, pois, que, da próxima vez, o nosso simpático Cardeal se não esqueça de lançar um novo alerta às jovens casadoiras, relativo aos seus portuguesíssimos namorados, sabendo, perfeitamente que são católicos, ou cristãos, quase todos. Muçulmanos, neste mercado, é o que mais falta...
Será, com certeza, menos polémico e mais útil para a maioria das interlocutoras.

Embora não tendo muito a ver com esta história, na medida em que não envolve muçulmanos, nem maridos portugueses agressivos, não pude deixar de me lembrar de uma controvérsia, de natureza religiosa acontecida comigo mesma, no ano de 1965.
O ano do meu casamento católico.
O Padre que era o meu confessor, e me conhecia, desde criança, não estava em Portugal na data escolhida para a cerimónia. Houve que convidar outro.
E aqui começaram insuspeitados problemas!
Quando preveni o primeiro "substituto" da primeira escolha - que até era um excelente professor da Faculdade de Direito de Coimbra e parecia muito moderno - de que não queria ouvir a epístola de São Paulo na missa desse dia especial (aquela epístola que manda a mulher obedecer ao seu marido...) ele recusou, prontamente, a pretensão! Seguiu-se uma discussão mais júridica, talvez, do que teológica, acabada quase aos gritos, de parte a parte, comigo a dizer que ele estava parado dois mil anos atrás, no Direito Romano, e ele absolutamente convicto da verdade eterna desse Direito. Desconvidei-o...
O segundo "substituto" do insubstituível Padre, que me compreendia, passava, então, por ser um grande pedagogo, um especialista de questões de juventude, com obra publicada e nome feito. Aparentemente um homem dos novos tempos, de mentalidade "arejada". Era, até certo ponto, todavia não resistiu, ao teste da epístola..
A discussão durou dias e dias. Nem ele me converteu, nem eu o convenci.
Por fim, decidi que o casamento católico não teria missa, para eliminar o "diktat" misógeno...
Eu não tolerava mentir em plena Igreja! Se eu não ía obedecer ao marido - e não ía,de modo algum! - se o próprio futuro marido concordava e acatava a decisão - uma decisão comum - a que propósito se havia ali, na cerimónia, num sacramento em que o padre é testemunha e não parte contratante, de proclamar o contrário, convencional e hipocritamente?
O padre, que era amigo do noivo, acabou por ceder, e disse a Missa, com a epístola do dia...

Apesar de tudo, um "happy end" - tanto para a recalcitrante "feminista" católica de 20 anos, como para o próprio sacerdote...
E, sinal dos tempos, a dita epístola caíu em desuso, há nem sei quantos anos. Muitos...
Agora, é o próprio Cardeal, quem, de algum modo, põe em causa o "dever de obediência" das mulheres aos maridos, em outras religiões!



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Sem Bush

Um mundo sem Bush, muito embora com o seu legado de um "quase caos" económico, é uma esperança de retorno à normalidade (à normalidade das imperfeitas sociedades ou democracias em que vivíamos antes, apesar de tudo norteadas pelos valores que lhes dão, se respeitados, a sua superioridade moral, perante os déspotas, os ditadores, os criminosos, habitualmente actuantes em outras áreas do planeta).

Sem esperança, porém, para um milhão de mortos no Iraque.
Iraque, de berço da nossa civilização, a cemitério das nossas crenças no avanço civilizacional do Ocidente, com os seus Estados de Direito e o primado dos Direitos Humanos.

A "era Bush" tem o seu começo datado ao minuto, ou melhor, ao segundo : àquele momento em que começou a invasão do Iraque. Não, como alguns preferem, à queda das torres gémeas...
Foi nesse preciso momento que o itinerário de todos os males novos e maiores, que acresceram aos velhos. se desencadeou, imparavelmente. E que desapareceu o incipiente movimento universal contra o terrorismo...

Foi matéria em que não tive, nunca, a sombra de uma dúvida...
Todavia, espantosamente, no meu partido, na Assembleia da República, vi-me em situação de total isolamento.E fora da AR, restou pouco mais do que a voz de Ângelo Correia

É verdade, embora pareça incrível, é verdade: no, então, ainda numeroso grupo parlamentar do PSD eram todos grandes, e aparentemente convictos, defensores dessa tese aberrante da "guerra preventiva" !
Tentei, em vão, convencer as lideranças de que lhes prestava o melhor dos serviços ao manifestar, ainda que sozinha, uma posição radicalmente oposta à da quase unanimidade.
Tinha razão, é claro: por um lado, mostrava que havia alguma vivência democrática dentro do grupo; por outro, marcava, ali , no interior, o espaço daqueles, a quem o futuro daria inteira razão (disso, à época, eu não tinha, como disse, a mais pequena dúvida, e nem percebia como é que gente tão conhecedora da cena internacional, e inteligente, podia ter...):

Esta observação refere-se ao chefe, ao líder, ao então primeiro ministro, não aos "Yes-men", que, desses, só se espera que abanem a cabeça, conforme a ordem, que vem de cima.

A diferença entre o líder e os outros, no tratamento da minha divergência. foi, apesar de tudo, notável.
Fazia muita questão que a votação do grupo parlamentar fosse unânime - mas só me pediu que não fosse votar, nesse dia do voto sobre a guerra . E eu não fui... porque tenho este defeito de ser sensível´`as "boas maneiras" do amigo e opositor (ideológico). Já, pelo contrário, em situação de conflito aberto, não cedo "nem morta".
E, em termos de opinão, não cedo mesmo! Sobre esta questão, dei entrevistas , a dizer o que pensava, muito claramente (ao jornal Público, por exemplo, no próprio dia da tal votação...). Escrevi, pelo menos, um artigo, na imprensa nacional.
E, na APCE (Asembleia Parlamentar do Conselho da Europa), em Paris, em Estrasburgo,, onde, por sinal, até presidia , por escolha pessoal do líder do partido, à Delegação Portuguesa, tive e usei, ampla e constantemente, de total liberdade para me manifestar contra a guerra, contra Guantánamo, contra Bush. Em intervenções formais, em recomendações, em reuniões de comissões, ou nos plenários. É material que tenho de procurar, embora hoje, já não seja preciso convencer ninguém... Já fizeram, todos, a sua estrada de Damasco, o mais discretamente possível.

Ora o Senador Obama foi um dos raros políticos americanos a ser, na altura, lucidamente, contra esta insensata, injusta e fatídica campanha bélica...
Nem Hillary, a minha candidata, teve a coragem de o ser... Relevei o erro, porque queria ver uma Mulher altamente inteligente, muito bem preparada, com larga experiência, tornar-se a 1ª presidente dos EUA. Vou vê-la como Secretary of State!
E, a avaliar pela escolha da equipa governamental, com prémios Nobel e muito "Harvard" à mistura.ou muito me engano, ou vou acabar por ser mais Obamista do que os que o eram durante a campanha ...
Ainda é um pouco cedo para ter certezas, mas não para ter esperança.




janeiro 03, 2009

AMÁLIA ausente num "soap" vulgar...

Fui ver o filme, sem grandes expectativas.

Uma Mulher tão grande, mais do que grande, genial, e, para além de genial, mítica, uma Mulher que foi o verdadeiro rosto feminino de Portugal no séculoXX, que o mundo inteiro admirava como símbolo da nossa cultura, da nossa diferença , merecia ser retratada nos ecrãs com um máximo de qualidade artística - e, na pior das hipóteses, com um mínimo de centelha e de verosimelhança. Tinha as minhas dúvidas de que este mínimo fosse atingido, e considero que não foi.
Não falo da precisão histórica, porque sobre os mesmos factos e os mesmos gestos ou palavras, há sempre espaço para a interpretação subjectiva. Obviamente, também, sobre os sentimentos e estados de alma.
Por isso, estava preparada para aceitar erros menores, desde que a essência da fascinante individualidade de Amália perpassasse na tela...
Sabia que a voz era mesmo a sua voz - pelo menos o som seria genuino e encantatório. E que a actriz é bonita e até faz, realmente, lembrar, quanto baste, a jovem Amália. A banda sonora, a beleza da intérprete e alguns "maneirismos" em que se sai bem, são tudo o que de positivo se pode dizer sobre o empreendimento ou o atrevimento, de que falamos.

Não encontrei mais nada da Amália, que conheci , por acaso, na altura em que começa a narrativa - ou melhor, logo a seguir, quando já estava recuperada da doença, ainda muito lembrada . E é certo que contava, com enorme franqueza e simplicidade, quanto os musicais de Fred Astaire a tinham ajudado a superar uma das piores fases da sua vida. Mas não estava demasiadamente traumatizada por isso.

O filme principia com as soturnas imagens da vedeta, envelhecidíssima, feíssima, fantasmagórica, sozinha num hotel de Nova York. E com a sua tentativa, não consumada, de suicídio. A acção decorre em "flash back". Ela vai lembrando o seu passado, desde a infância de pobreza e infelicidade até ao tempo dramático que está a viver.
É uma história que toda a gente conhece - ou pode conhecer, lendo o que há escrito... Só vale a pena contá-la, se fôr bem contada.

Este "Amália" é um aproveitamento do nome, de registos sonoros, de factos ou de boatos do domínio público, em estilo puramente "soap". Ainda por cima, com uma selecção pouco criteriosa entre o importante e o acessório, diminuindo, talvez mais por inépcia do que intencionalmente, o percurso profissional, o ascendente cultural, a inteligência, a alma e a capacidade de expressão, a graça e o carisma - para além de uma voz incomparável - de alguém que se tornou muito mais do que uma cantora de renome internacional ( a avaliar pelo que nos é mostrado, limitada ao país, ao Brasil e a Paris de França!...).

A Amália, que eu encontrei, pela primeira vez, como disse, depois do "check out" daquele hotel (em 1984), em que é figurada no ecrã, era, ainda, e foi sempre bonita. Envelheceu bem.


Amália em Agosto de 1987(num jantar no "Clube dos Empresários")















Amália na Assembleia da República (1990?)






E era uma Senhora! Sabia conversar, sabia estar. Tinha imensa vida, imensa graça. Dava resposta pronta e directa, acutilante. Não parecia, porém, uma celebridade. Parecia uma senhora culta e inteligente, e muito simpática. Era espontânea, natural. Eu nem acreditava que estava diante de Amália Rodrigues. Era um jantar de família - da família Seabra - e eu a única "outsider". Mas logo me senti em família. O marido, o Engº Seabra não tinha qualquer sotaque brasileiro e dizem-me os primos (meus amigos há muitos anos), que nunca teve... Entendiam-se bem. Ele era muito tranquilo, muito simpático também. A sua morte, anos mais tarde, deixou Amália irremediavelmente só.
A partir de 1984, encontrei-a, muitas vezes, até no estrangeiro: em Connecticut, em casa dos primos Seabra da Veiga, numa longa viagem transoceânica de Lisboa para o Rio (cidade, onde a vi e ouvi cantar, num espectáculo fabuloso no "Canecão); em Newark, nas festas do 10 de Junho, quando foi "Grand marshall" da Parada. E muitas vezes, em Lisboa. E a última vez, inesperadamente num restaurante da Foz. Estava eu em campanha autárquica, com o General Carlos Azeredo e o Prof. Marcelo Rebelo se Sousa
Era uma espantosa personalidade, como figura pública.
Na convivência pessoal, era uma Senhora.
Dizia Simone de Beauvoir: On ne naît pas femme, on le deviant".
Num sentido um pouco diferente, podemos bem dizer: "Não é o berço, que faz uma Senhora. É a cultura, a cultura interiorizada.